Por Amanda Kinoshita
Enviado em 25/08/2024
Parágrafo de contexto: A pesquisa foi realizada na disciplina de Estágio Obrigatório de Língua Inglesa I, do curso de Letras, na FAALC/UFMS, sob a orientação do Prof. Dr. Elton Luiz Aliandro Furlanetto. A observação ocorreu em uma turma de 9º ano do ensino fundamental, em uma escola pública da rede estadual de Campo Grande, com uma carga horária de 17 horas destinada à fase de observação. Decidi analisar como o professor aborda a competência oral em sala de aula devido à minha própria experiência com a língua inglesa no ensino fundamental. Naquela época, eu não tive contato com a oralidade e, agora, vendo pelas duas perspectivas — não apenas como aluna — pude identificar muitas nuances e questões mais profundas que se tornam obstáculos para que essa abordagem tenha êxito em sala de aula. O que foi, sem dúvidas, uma experiência enriquecedora.
RESUMO: O presente artigo aborda a importância da oralidade no ensino da língua inglesa, destacando que, apesar de ser fundamental para o desenvolvimento comunicativo dos alunos, a competência oral é frequentemente negligenciada em comparação com as habilidades de leitura e escrita. A prática da oralidade é essencial para a confiança e o desenvolvimento linguístico dos alunos, mas enfrenta desafios significativos como a carga horária reduzida, desmotivação dos alunos, e para uma abordagem multimodal, os recursos são limitados. Nesse contexto, a pesquisa, realizada durante o Estágio Obrigatório de Língua Inglesa I, tem como objetivo analisar a implementação da oralidade nas aulas de inglês em uma escola pública, observando metodologias utilizadas e as dificuldades enfrentadas pelo professor. E para enriquecer a coleta de dados, foram feitas perguntas para o professor docente sobre as dificuldades para se trabalhar com a competência oral e, também, para a abordagem multimodal em sala de aula. Entre os suportes teóricos utilizados, estão Bakhtin (1988), Dias (2002), Lourenço e Silva (2010), Silva (2011, 2013) e Calvo (2013), Gee e Hayes (2011), Rojo (2012), Oliveira (2018), Volóchinov (2018), Gonçalves (2021) e Santos (2021), Marcelino (2023).
PALAVRAS-CHAVE: Oralidade; Língua Inglesa; Interação Discursiva; Multimodalidade; Círculo de Bakhtin ; Metodologias de Ensino; Competência comunicativa.
ABSTRACT: This article addresses the importance of speaking in English language teaching, highlighting that despite being fundamental to students' communicative development, the oral competence is often neglected in comparison to the reading and writing skills. The practice of speaking is essential for students' confidence and linguistic development, but faces significant challenges such as reduced workload, student demotivation, and for a multimodal approach, limited resources. In this context, the research, carried out during the Compulsory Internship in English Language I, aims to analyze the implementation of orality in English classes in a public school, observing the methodologies used and the difficulties faced by the teacher. To enrich the data collection, the teacher was asked questions about the difficulties of working with oral competence and the multimodal approach in the classroom. The theoretical supports used include Bakhtin (1988), Dias (2002), Lourenço and Silva (2010), Silva (2011, 2013) and Calvo (2013), Gee and Hayes (2011), Rojo (2012), Oliveira (2018), Volóchinov (2018), Gonçalves (2021) and Santos (2021), Marcelino (2023).
KEYWORDS: Orality; English Language; Discursive Interaction; Multimodality; Bakhtin Circle; Teaching Methodologies; Communicative Competence.
INTRODUÇÃO
Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008), toda língua é uma construção histórica e cultural em constante transformação, caracterizada por sua natureza social, dinâmica e heterogênea. E, de acordo com Bakhtin (1988), a linguagem é sempre um diálogo entre pelo menos duas vozes, refletindo a interação social e o processo de constituição dos sujeitos. Nesse sentido, o aprendizado de uma língua estrangeira amplia o contato com diferentes formas de conhecimento e interpretações da realidade.
A língua é concebida como discurso, “não como estrutura ou código a ser decifrado, constrói significados e não apenas os transmite” (Diretrizes Curriculares da Educação Básica, 2008, p. 53). Assim sendo, todo discurso é influenciado pela história e pelo contexto social, e os indivíduos, ao interagir com o mundo através do discurso, são tanto agentes quanto influenciados por ele. Ensinar e aprender línguas é também formar subjetividades, é permitir que se reconheça no uso da língua os diferentes propósitos comunicativos, independentemente do grau de proficiência atingido (Diretrizes Curriculares da Educação Básica, 2008, p. 53).
À vista disso, partimos para o foco na habilidade oral que, embora seja fundamental para o desenvolvimento comunicativo dos alunos, costuma ser relegada a segundo plano em relação às habilidades de leitura e escrita. A integração da oralidade no currículo escolar é comprometida pela ênfase predominante em avaliações e conteúdos que priorizam essas outras habilidades, como a escrita, principalmente. A escassez de oportunidades para a prática regular e variada da comunicação oral acaba por restringir o progresso dos alunos em termos de fluência e confiança na expressão verbal.
Portanto, o presente artigo que foi realizado na disciplina de Estágio Obrigatório de LI I, do curso de Letras da Universidade Federal de Mato Grosso do sul, tem como objetivo analisar como a prática de oralidade é implementada nas aulas de língua inglesa, identificando metodologias utilizadas pelo professor e a interação dos alunos diantes das abordagens. Como também, observar as dificuldades e desafios enfrentados pelo professor no desenvolvimento da habilidade oral, considerando fatores como: falta de recursos, tamanho das turmas, desmotivação dos alunos e entre outros.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Primeiramente, partimos da concepção de James Paul Gee e Elisabeth R. Hayes sobre a língua, que pode ser visto como “um conjunto de ‘regras’ em nossas mentes ou cérebros que nos diz como falar ‘gramaticalmente’, ou seja, como um fenômeno cognitivo” (Gee; Hayes, 2011, p. 6), e também como “um conjunto de convenções sociais, compartilhado por um grupo de pessoas, sobre como comunicar” (Gee; Hayes, 2011, p. 6). Dado isso, Marcelino (2023) constata que a língua pode ser tanto social (determinada por padrões linguísticos gramaticais) quanto individual (adquirida e adaptada pelo indivíduo) (Marcelino, 2023, p. 14). Assim, há uma subjetividade no modo como cada pessoa se comunica.
Agora, quando nos referimos à capacidade oral dos alunos no contexto de uma língua estrangeira, ela é essencial para a prática, incentivando a confiança dos alunos e ajudando no desenvolvimento de suas habilidades linguísticas. No entanto, a dificuldade de trabalhar a oralidade em escolas públicas é crescente, principalmente devido à falta de recursos e ao tamanho excessivo das turmas, como demonstrado no artigo “Dificuldades no ensino da oralidade em aulas de língua inglesa”, escrito por Andrea Barbosa Lourenço e Maria do Socorro Silva. As autoras apontam as principais dificuldades expressadas por profissionais de ensino abordados em turmas de 9º ano na rede estadual:
Professor A: “Em primeiro lugar, a maioria dos alunos das escolas pública, não estão interessados em falar inglês ou outras línguas diferentes principalmente se são alunos de escolas localizados nas periferias, a timidez deles é um fator crucial na dificuldade do ensino da oralidade em sala de aula e em segundo lugar os alunos são numerosos, o que impossibilita o desenvolvimento das atividades de interação, em terceiro lugar a falta de estrutura e de material didático” (Lourenço; Silva, Web Artigos, 2010).
Silva e Calvo (2013) afirmam que a habilidade oral é um dos principais desafios enfrentados pelos professores de Língua Inglesa, e que o preconceito, os fatores econômicos e sociais contribuem para a baixa proficiência dos alunos. As escolas regulares alimentam a ideia de que o ensino da oralidade não é relevante devido às dificuldades espaciais, como a falta de ambientes adequados para a prática da oralidade, e à falta de recursos didáticos.
Quanto às repercussões econômicas e sociais, Silva (2011) explica que os gastos necessários para um ensino eficaz da oralidade seriam superiores às condições das instituições públicas brasileiras, o que pode causar frustração tanto em docentes quanto em discentes, em caso de fracasso no ensino da oralidade de língua estrangeira (Silva, 2011, p. 97).
Os autores também apontam a desmotivação dos alunos por não dominarem a habilidade oral em língua inglesa, onde vão citar Dias (2002, p. 2) que defende a importância de um acesso igualitário ao ensino de línguas estrangeiras no Brasil:
As lacunas deixadas pela escola pública e a necessidade que a própria sociedade sente de preencher a deficiência na formação do aluno em relação ao domínio de língua(s) estrangeira(s) têm acarretado a proliferação de cursos particulares de idiomas que não podem ser encarados como solução, tendo em vista o seu alto custo, que deixa uma grande parcela dos alunos fora do alcance de seus benefícios. É necessário que seja assegurado a todos, de forma democrática, o acesso ao domínio de língua(s) estrangeira(s) durante o período da educação básica (Dias, 2002, p. 2).
A partir disso, segundo a própria Base Nacional Comum Curricular, doravante BNCC, compreendemos a importância do desenvolvimento da fala, que proporciona o desenvolvimento de uma série de comportamentos e atitudes que influenciam a expressão social do aluno (BNCC, p. 241). Ao estudar uma língua, seja estrangeira ou não, o discente deve reconhecer quem é a partir da diferença, através da observação e interação com os outros. Tendo em vista essa percepção, a prática oral faz-se excepcionalmente relevante, pois essa competência permite a expressão e partilha de informações, experiências, ideias e sentimentos, contribuindo para a construção e reconstrução da própria identidade do aluno.
De acordo com Silva e Calvo (2013), para que ocorram avanços nesta área, é preciso que o professor de língua estrangeira planeje sua prática, oportunizando espaços de comunicação e interação oral. O input: tudo que lemos, ouvimos e escutamos, é crucial para a aprendizagem, sendo necessário utilizar o idioma de formas diversificadas para criar espaços de interação comunicativa, priorizando o uso da língua em diferentes contextos, e não somente com enfoque na estrutura gramatical.
Quando o profissional de ensino não envolve os alunos na língua, a recepção do aluno torna-se prejudicada, pois ele não desenvolverá afinidade com a linguagem trabalhada. Então, futuramente, quando o discente resolver ingressar em cursos ou trabalhos que exijam essa competência oral, sua habilidade será inferior comparada à de outros alunos que tiveram um desenvolvimento particular da língua estrangeira em escolas bilíngues ou cursos especializados. Diante de tudo isso, é fundamental que o profissional de ensino reconheça os métodos e abordagens pedagógicas de ensino para que possa escolher aquele(s) que melhor se adaptem à realidade de sua escola e a subjetividade dos alunos.
No que diz respeito a métodos de ensino, segundo Gonçalves e Santos (2021), a teoria do Círculo de Bakhtin pode contribuir para a educação contemporânea. Isso ocorre porque ele concebe um foco na linguagem enquanto fenômeno de interação discursiva e enfatiza que a prática da língua é inseparável de seu contexto social e ideológico. Também propõe uma distinção clara entre o sistema abstrato de formas linguísticas (gramática, léxico, etc.) e o estudo do enunciado concreto, que é a unidade real do discurso e está voltado para a linguagem em uso “a língua no processo de sua realização prática não pode ser separada do seu conteúdo ideológico ou cotidiano” (Volóchinov, 2018, p. 181).
Segundo as autoras, ao considerar o conteúdo ideológico ou cotidiano do enunciado, o Círculo de Bakhtin sugere que o educador leve em conta as características sociais, culturais e históricas que fazem parte do cotidiano dos estudantes. Com isso, o professor pode adotar uma metodologia de ensino que promova o engajamento dos alunos com esse contexto.
Em virtude do fenômeno da interação discursiva, reconhecer a pedagogia dos multiletramentos e das multimodalidades os torna em alternativas valiosas para o processo de ensino-aprendizagem, sempre considerando o acesso dos alunos a essas outras formas metodológicas, bem como as limitações de cada instituição de ensino. Ter em mente que a língua inglesa pode ser trabalhada e desenvolvida de acordo com as novas configurações sociais, culturais e educacionais é importante para aumentar o envolvimento e a motivação dos alunos em sala de aula.
Oliveira (2018) aponta que essas concepções de ensino permitem que os professores ressignifiquem suas práticas de ensino para conduzir a construção da aprendizagem no cotidiano da sala de aula pelo viés do pensamento mais justo, democrático, ético, e crítico (Oliveira, 2018, p. 243). Ela ressalta que a multimodalidade no ensino da língua inglesa, busca proporcionar “práticas sociais em um contexto imerso pela diversidade de culturas (multiculturalidade) e da diversidade da linguagem (multimodalidade)” (Rojo, 2012) (Oliveira, 2018, p. 248).
Diante do exposto, pode-se concluir que a habilidade oral é essencial no contexto da aprendizagem de uma língua estrangeira, pois facilita a comunicação eficaz, promove a confiança e desenvolve habilidades linguísticas fundamentais. Contudo, a implementação desta prática nas escolas públicas enfrenta desafios significativos, como a falta de recursos e turmas grandes. Esses obstáculos dificultam a criação de ambientes adequados para a prática da oralidade, resultando em uma proficiência limitada entre os alunos.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para o processo de realização deste artigo, foram utilizadas as observações anotadas durante o Estágio Obrigatório de Língua Inglesa I, realizado em uma instituição pública da rede estadual de ensino em Campo Grande, MS. Apesar da quantidade limitada de aulas ministradas durante o período de estágio, essas análises foram essenciais para: i) compreender a abordagem de ensino-aprendizagem adotada pelo professor; ii) analisar a presença de práticas interativas em que a oralidade predomina.
As aulas de inglês observadas ocorreram apenas 01 vez por semana, às segundas-feiras. Nesse período, foram realizadas diversas atividades, incluindo uma apresentação em grupo, atividades relacionadas ao conteúdo ensinado, uma atividade prática e multimodal, e uma prova substitutiva. As teorias estudadas serviram de base para a reflexão sobre os resultados das observações. Foram analisados vários artigos teóricos que discutem a importância da oralidade no ensino de línguas estrangeiras, os desafios enfrentados pelos profissionais de ensino na implementação dessa prática, e abordagens pedagógicas alternativas. Por fim, foram feitas perguntas ao professor supervisor para enriquecer a coleta de dados.
RELATO DA OBSERVAÇÃO
A observação do estágio iniciou-se no dia 15 de abril, com uma apresentação sobre os países que têm o inglês como língua nativa. Os alunos podiam consultar o celular ou usar seus roteiros para auxiliar na fala. No entanto, foi perceptível a falta da participação do inglês em todas as apresentações. Além disso, a organização dos grupos estava um tanto confusa, indicando que claramente não haviam ensaiado ou tido um apoio sobre conduta durante um seminário. Muitos alunos apenas ditaram o que haviam escrito no roteiro, enquanto outros leram trechos diretamente do Google.
Na quinta observação, realizada no dia 13 de maio, o professor apresentou um slide sobre “Linking Words”. Como na aula anterior, em que ele havia passado um exercício para completar as sentenças utilizando os conectivos, nesta aula ele explicou o conteúdo. Primeiramente, o professor apresentou as explicações e exemplos no quadro, os aplicando de forma fragmentada e utilizando uma gramática descontextualizada; em seguida, passou a atividade para que os alunos pudessem colocar em prática o que foi ensinado. Nessa aula, ele explicou que as linking words se aplicam de maneira semelhante às conjunções na língua portuguesa. Após discursar o que são e suas classificações, ele passou uma atividade: frases com duas ou três alternativas, para que os alunos marcassem a correta.
Diferente das aulas anteriores, no dia 20 de maio, o professor implementou uma dinâmica mais interativa utilizando o Kahoot. Os alunos se organizaram em grupos e inseriram os nomes dos grupos criados por eles na sala do Kahoot, onde responderiam a questões sobre o conteúdo “Linking Words”. Sendo uma atividade competitiva, era esperado que os alunos ficassem animados e interessados em participar. Surpreendentemente, essa foi a primeira aula observada com uma agitação construtiva, onde os estudantes demonstraram interesse genuíno na atividade. Alguns até consultaram seus cadernos para verificar as anotações das aulas anteriores, ajudando assim nas respostas. Portanto, pode-se concluir que os alunos realmente têm interesse na matéria, mas o que falta é uma abordagem pedagógica que estimule essa participação ativa com a língua inglesa.
Com base nas aulas apresentadas acima, foram realizadas duas perguntas ao professor em questão. Perguntas foram feitas via Whatsapp, resposta não modificada, copiada da integra:
Pergunta 1: Quais são os principais desafios que você, como profissional de ensino, enfrenta ao implementar atividades orais e como você as integra em sala de aula?
Professor (resposta 1): A dificuldade é a falta de vocabulário dos alunos, pois desse modo não é possível implementar uma conversação ou prática um pouco mais avançada, e acaba que a maioria das práticas de oralidade é voltada para adquirir vocabulário. Além disso, a vergonha e a falta de autoestima em falar o inglês atrapalha nesse processo, pois são poucos alunos que realmente se esforçam para aprender. Eu tento implementar e incentivar em ações reais do cotidiano.
Comentário:
De acordo com a resposta do professor, a falta de vocabulário afeta diretamente a participação dos alunos e sua relação com a língua inglesa. Segundo ele, torna-se difícil implementar atividades voltadas para a conversação e estimular a capacidade oral se os estudantes não possuem um vocabulário abrangente na língua estrangeira. Por isso, ele adota uma abordagem voltada a uma tentativa de análise linguística, porém não se distancia de uma gramática descontextualizada. Assim como a baixa horária prejudica a aprendizagem e o desenvolvimento sociolinguístico com a língua inglesa, então professores não veem outra saída senão seguir por um caminho mais sistemático devido às poucas horas semanais disponíveis.
Em contraposição, segundo Lima (2020) e Contiero (2020), atentar-se aos benefícios do ensino de literatura na aprendizagem de línguas estrangeiras cria um espaço de enriquecimento tanto do discurso interno quanto da própria língua em que o texto foi escrito. A literatura no ensino da língua inglesa não é explorada nas escolas, assim como a análise do discurso, o que pode ser uma das causas da falta de vocabulário dos discentes. Focar apenas na gramática prejudica o contato com a língua e sua relação com o ideológico e o cotidiano, ocasionando em bloqueios de comportamento como a vergonha descrita pelo professor entrevistado.
Levaremos em consideração a próxima pergunta.
Pergunta 2: Professor, como você vê a importância da multimodalidade no ensino de inglês e de que maneira você tenta incorporar atividades que envolvam diferentes modalidades (visuais, auditivas, interativas, etc.) em suas aulas? E considerando as limitações de uma instituição pública de ensino, quais são os principais desafios que você enfrenta para implementar essas práticas multimodais?
Professor (resposta 2): Eu particularmente, adoro utilizar esses recursos e sempre digo que o inglês é um idioma audiovisual, e como qualquer outro, precisa ser abordado nesse contexto, principalmente com recursos multimodais. A maneira que trabalhamos com esses recursos facilita o nosso trabalho e entendimento dos estudantes através de música, trechos de áudios, imagens de fáceis interpretações como histórias em quadrinhos, memes, etc. Entretanto, nem sempre a escola possui recursos tecnológicos para o professor, ou quando possui, são limitados e nem sempre está à disposição do professor. Eu por exemplo, comprei todos os recursos possíveis para trabalhar em sala de aula, isso mostra que às vezes é necessário um investimento próprio para usufruir de tais recursos.
Comentário:
Devido ao número limitado de aulas observadas, não foi possível analisar amplamente as práticas multimodais. No entanto, a aula do dia 20 de maio, na qual o professor utilizou a dinâmica do Kahoot, serviu como um exemplo de prática multimodal. Apesar das confusões relacionadas à competitividade, gritaria e bagunça, houve um retorno significativo em termos de interação dos alunos.
Embora a escola onde ocorreu o estágio disponibilizasse recursos como projetores e computadores para incentivar o uso da multimodalidade, a escassez desses recursos ainda é um desafio. Cabe à instituição fornecer os recursos necessários, não ao educador. Mas infelizmente, em muitos casos, o professor não vê outra saída senão utilizar recursos próprios para implementar práticas multimodais em suas aulas.
Em conclusão, as observações realizadas durante o estágio evidenciam diversos aspectos do ensino de inglês e os desafios enfrentados na prática pedagógica. A primeira observação revelou a dificuldade dos alunos em participar ativamente das apresentações devido à falta de vocabulário e à organização confusa dos grupos. A aula sobre “Linking words” demonstrou a importância da prática estruturada, mas implementada de forma normativa e sem contextualização, enquanto a dinâmica com o Kahoot evidenciou como as atividades interativas podem engajar os alunos e estimular o interesse pela língua inglesa.
A análise das respostas do professor revelou que a falta de vocabulário é um desafio significativo para a implementação de atividades orais e a promoção da conversação. A abordagem voltada à gramática descontextualizada e a escassez de recursos também foram destacados como fatores que impactam o ensino. Em contrapartida, a literatura e a multimodalidade são vistas como estratégias valiosas e que podem auxiliar para o enriquecimento do ensino de línguas, embora a limitação de recursos tecnológicos e a necessidade de investimento por parte dos professores, em muitos casos, ainda evidenciam os obstáculos presentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi analisado, conclui-se que, embora a habilidade oral seja fundamental para aprendizagem de uma língua estrangeira, sua implementação em escolas públicas ainda enfrentam obstáculos substanciais. A falta de recursos, o tamanho das turmas e a desmotivação dos alunos são desafios que comprometem a prática e o desenvolvimento dessa competência. No entanto, o reconhecimento da linguagem como um fenômeno social e discursivo, conforme destacado pelas teorias de Bakhtin e pelos princípios dos multiletramentos, oferece caminhos promissores para superar essas dificuldades. Ao adotar abordagens pedagógicas que integrem a multimodalidade e considerem o contexto social e cultural dos alunos, visto que a língua “é uma construção histórica e cultural em constante transformação, caracterizada por sua natureza social, dinâmica e heterogênea” (Diretrizes Curriculares da Educação Básica, 2008, p. 53), será possível promover um ensino mais inclusivo e eficaz, que não só desenvolva a habilidade oral, mas também contribua para a construção de identidade e subjetividades mais ricas e conscientes.
Portanto, ainda há obstáculos presentes que dificultam a integração de práticas orais em sala de aula. A superação desses desafios requer não apenas investimentos em recursos, mas também um esforço contínuo para diversificar as metodologias, e não apenas em reforçar o uso da gramática descontextualizada como forma de ensino, porque este método não só desmotiva os alunos como prejudica a aprendizagem da língua por não desenvolver habilidades linguísticas. Assim, nós, enquanto futuras/os professoras/es, devemos compreender os comportamentos e desafios atuais e nos prepararmos para as nossas futuras práticas educacionais, de forma que possamos contribuir para uma formação consistente e crítica dos estudantes.
REFERÊNCIAS
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