Por Laianny Carvalho e Vitória Neri
Enviado em 26/08/2024
Parágrafo de contexto: Este artigo fez parte do Estágio Obrigatório de Língua Inglesa I, desenvolvido durante o ano de 2023, no 5° semestre do curso de Letras - Português e Inglês.
RESUMO: O estágio supervisionado de observação é o momento em que verificamos se nas aulas estão sendo realizados os eixos expostos pela BNCC, as particularidades do trabalho docente e a aprendizagem dos estudantes. Assim, percebe-se que o estágio é o momento do futuro professor, investigar e relacionar com o aprendizado da universidade. De acordo com o tema central do artigo, observamos o ensino básico de língua inglesa em uma escola pública de bairro no estado de Mato Grosso do Sul em Campo Grande.
Palavras-chave: ensino; educação pública; língua inglesa; translinguagem.
ABSTRACT: The supervised observation internship is the moment that we verify if the axes set forth by the BNCC are being carried out in classes, the particularities of the teaching work in the student learning. Therefore, it is noticed that the internship is the moment for the future teacher to investigate and relate to the learning from the university. According to the central theme of the article, we can observe the basic teaching of English language in a public school neighborhood in the state of Mato Grosso do Sul in Campo Grande.
Keywords: education; public education; English language; translanguage.
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo relatar as experiências observadas no Estágio Obrigatório Supervisionado de Letras- Inglês I, fazendo parte do currículo da Faculdade de Artes Visuais, Letras e Comunicação (FAALC), especificamente no 5° semestre de Letras-Português e Inglês da Universidade de Mato Grosso do Sul (UFMS). Nesse viés, o foco do estágio foi observar as aulas de língua estrangeira - inglesa - no contexto das escolas públicas. Esse estágio foi realizado no ano de 2023, no primeiro semestre, por 17 horas.
O objetivo do estágio foi observar e pesquisar dentro do contexto de escola pública, as possibilidades e desafios. Na escola, foi necessário problematizar algumas situações vistas em sala de aula e nos demais ambientes escolares. Ainda, durante os momentos que estávamos observando aquele local, pensamos na relação que o ensino de língua inglesa tem com o bairro que a escola está inserida, pois é um bairro pequeno e simples. Os nossos questionamentos feitos durante a observação do ensino de língua inglesa em escola pública é: Como é o desenvolvimento da língua? O que é esperado no ensino-aprendizagem de Língua Inglesa versus o que é alcançado ?
Visualizar a relação entre os três polos (professor, objeto do conhecimento e o aluno) não foi algo tão simples. Porquanto, percebemos que as aulas de inglês são muito desvalorizadas dentro do ensino público, complicando nossa pesquisa e observação do ensino-aprendizagem. Nesse viés, durante o tempo que ficamos observando, tivemos dificuldade para encontrar aulas de língua inglesa o suficiente para o cumprimento da carga horária.
Assim, de acordo com Lima (2011) “os lugares possíveis de se aprender inglês povoam o imaginário, o senso comum, o discurso e as práticas sociais no contexto brasileiro vários autores já mencionaram as crenças comuns que vigoram em nossa sociedade a respeito da aprendizagem de inglês em escolas regulares”. Dessa forma, pode perceber que a comunidade de estudantes e da sociedade em si, desacreditam do ensino de inglês em escola pública, ou seja, como diz o autor citado, há muitas questões para serem pensadas dentro dessa expectativa do aprendizado da língua inglesa em um ensino básico e público.
Ao decorrer deste artigo, alguns pontos serão abordados, como, a infraestrutura da escola pública, relacionando-a com as aulas de língua inglesa e sua influência. Também, outros pontos tratados, serão: os momentos de translinguagens durante as aulas do professor regente, que chamaremos pelo pseudônimo "Denes", a importância da língua inglesa dentro de uma instituição pública e a expectativa X a realidade do ensino-aprendizagem da língua inglesa dentro de uma Escola Estadual na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
O ESPAÇO ESCOLAR
A escola observada tem uma estrutura pequena, há apenas um corredor com sete salas de aulas, o laboratório de tecnologia, cozinha, despensa, três banheiros (feminino, masculino e o acessível), uma sala de leitura e a sala de recursos multifuncionais para Atendimento Educacional Especializado (AEE). Além disso, há uma porta que leva para a sala dos professores, coordenação, diretoria e secretaria, todas essas salas têm o mesmo tamanho, sendo colocado só o necessário dentro de cada uma, por motivo da falta de espaço.
As salas de aula são de tamanho mediano, porém tornam-se pequenas pela quantidade de alunos matriculados em cada turma. Ainda há, uma quadra para a prática de esportes e os campeonatos de interclasse que acontecem no final de cada bimestre. Por fim, para visualizar toda a infraestrutura da escola observada, há o pátio que seria um corredor de maior largura, com a área coberta.
Durante a pesquisa foi observado que a sala de tecnologia é pouco utilizada, mesmo sendo uma sala bem completa, com 25 computadores, quadro branco e projetores, ainda não é usada com frequência para auxílio nos estudos dos alunos. O Plano Político Pedagógico (PPP) da escola observada cita:
Enriquecer as situações de aprendizagem dos estudantes com a utilização dos recursos tecnológicos e didáticos da escola.
Porém, durante o nosso período na instituição de ensino, as turmas que observamos não utilizavam a sala de informática e era quase inexistente o uso dos projetores pelos professores regentes. Além dessa dificuldade tecnológica, na sala de professores havia a disponibilidade de apenas um computador para todos os docentes, o que dificultava os planejamentos realizados para as aulas.
O ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA NO CONTEXTO DA ESCOLA OBSERVADA
A escola implica formação voltada para a cidadania, para a formação de valores - valorização da vida humana em todas as dimensões. (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI; 2017).
No Plano Político Pedagógico (PPP) foi encontrado sobre as “metodologias” que relataram sobre o contexto da pandemia, que foi um grande desafio para a educação de ensino público. Assim, além dos professores realizarem as atividades necessárias dentro do seu planejamento, ainda é necessário reforçar conteúdos dos anos passados. Consequentemente, as disciplinas de Língua Inglesa foram atingidas de forma intensa, isto é, dentro de um ensino básico em uma escola estadual, encontrada em um bairro de classe baixa, há um grande desprezo dessa matéria, fazendo com que no período pandêmico o aprendizado de inglês torne-se quase nulo.
Durante a pesquisa, relacionamos as aulas de Língua Inglesa com o contexto da escola observada. Isso nos fez pensar em muitos problemas culturais e sociais envolvidos no momento em o professor tenta ensinar sobre uma matéria desvalorizada pela sociedade. Também, vimos que os professores ficam mais tempo tentando organizar a sala de aula e fazer com que os alunos mantenham o silêncio, do que realmente ensinando sobre o conteúdo do dia. A partir disso, percebe-se que os alunos ainda estão vivendo em local que os faz "inconscientemente" ter medo de aprender e vergonha da conversação na língua. Por isso, as aulas do professor regente são usadas da translinguagem para ensiná-los, tornando a aula mais leve e tranquila.
Ainda no PPP, há um diagnóstico e característica sobre o contexto dos estudantes, citando:
são alunos com baixa autoestima, sem estímulos para a vida escolar, dificuldades para aprendizagem, com baixíssimas perspectivas do futuro, muitos com dificuldades para estudar pela necessidade de trabalhar e auxiliar financeiramente.
Nesse trecho é afirmado as diversas complexidades que estão relacionadas com a vivência dos alunos em local excluído pela sociedade de classe alta, periférico e subalterno. Por consequência, percebe-se que o trabalho do professor complica-se, pois ele precisa pensar em como atrair a atenção desse aluno “desestimulado”, ou seja, deve-se empenhar para revolucionar as aulas.Também, caso houver estudantes que queiram desabafar, ou simplesmente conversar e até pedir ajuda para alguma dificuldade que está tendo, o docente deve estar a disposição, alguns desses jovens passam por momentos complicados fora da escola, é provável que o professor cumpra um papel de âncora, para apoia-los.
No contexto da sociedade contemporânea, a educação pública tem tríplice responsabilidade: ser agente de mudanças, capaz de gerar conhecimentos e desenvolver a ciência e a tecnologia; trabalhar a tradição e os valores nacionais ante a pressão mundial de descaracterização da soberania das nações periféricas; preparar cidadãos capazes de entender o mundo, seu país, sua realidade e de transformá-los positivamente.(LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI; 2017)
Então, percebemos que o contexto que essa escola foi inserida torna-se um desafio para o docente de língua inglesa, pois, vai além de ensinar inglês, devendo entender mais do jovem que está ensinando, para saber o que acontece do portão da instituição para fora. Observando por qual motivo o aluno não está se dedicando durante as aulas, se ele entende ou não, se ele escuta ou está pensando em algo não relacionado com as aulas. O professor estando a frente de uma sala, torna-se responsável por todos que estão nela, durante aquele determinado momento, então cabe a ele avaliar seus alunos - de forma minuciosa - para tentar resolver qualquer questão.
Além disso, os professores de inglês da escola observada verificam os conteúdos passados, pois sabem que muitos alunos não participam ou não conseguem entender o que está sendo transmitido. Assim, percebemos que o professor durante as aulas precisa mediar o conteúdo, devendo ser ensinado de forma mais clara, pois, normalmente, um aluno de escola pública tem grande dificuldade na língua inglesa, e o desinteresse começa na falta de compreensão.
Sobre os conteúdos, percebemos que o local em que a escola está, faz com que mude totalmente a forma de ensinar o inglês, pois ela precisa pensar nos valores que garantem o futuro do aluno.
A formação ética é um dos pontos mais fortes da escola do presente e do futuro. Trata-se deformar valores e atitudes diante do mundo, da política e da economia, do consumismo, do individualismo, do sexo, da droga, de depredação ambiental, da violência e, também, das formas de exploração que se mantém no capitalismo contemporâneo. (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI; 2017).
Nesse trecho, os autores nos informam sobre as consequências que o mundo coloca a disposição dos jovens e, é isso que os professores precisam mostrar aos alunos, informando-os que no contexto que estão, há muitas escolhas que podem destruir o seu futuro, porém a escolhas que o transforma para melhor. A formação ética é o que os professores, a escola e o ensino público em si, necessitam focalizar com os jovens. Mas mesmo durante essa formação podemos ensinar inglês.
A EXPECTATIVA DO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO PÚBLICA
Grande parte da sociedade brasileira acredita em um ideal de ensino e aprendizagem de idiomas, entretanto, presumem que este modelo não seria possível dentro de um ensino público, isto pois, existe a crença de que o ensino de língua inglesa só acontece em escolas específicas para idiomas, e por isso a escola pública não daria conta de atender todas as demandas, bem como um curso privado. Como cita Lima (2011, p. 147), “os lugares possíveis de se aprender inglês povoam o imaginário, o senso comum, o discurso e as práticas sociais no contexto brasileiro”. A expectativa do senso comum do ensino de inglês no contexto da escola pública, é de sua não funcionalidade, ou seja, uma parcela significativa de alunos, pais, e às vezes professores, entram nas escolas acreditando na falácia do “fracasso” do processo de ensino da língua na escola pública. Entretanto, para pensar no processo de ensino uma educação pública e refletir acerca de sua funcionalidade, antes, torna-se necessário conhecer os planejamentos de aula, documentos norteadores e o próprio currículo escolar.
No recorte de uma escola estadual em Campo Grande no Mato Grosso do Sul, foi feita a análise do Regulamento Escolar regente de 2023, o documento abrangia apenas uma pequena parte específica sobre o ensino de línguas, que discorre sobre o objetivo de ensino estar atrelado à formação básica, histórica e cultural do aluno, na seção I dos objetivos do ensino fundamental:
Art. 9° O ensino fundamental, obrigatório e gratuito, tem por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: […] VII – O aprendizado de outra língua para uma nova percepção da comunicação, de forma a corroborar para o estudante se reconheça histórico e culturalmente […]. (REGULAMENTO ESCOLAR, 2023)
Por sua vez, a Base Nacional Comum Curricular tem uma seção separada apenas para o tratamento da língua inglesa, no documento consta habilidades e competências específicas para o inglês, que devem ser desenvolvidas ao longo do ensino fundamental. Voltado grandemente para questões culturais, políticas e sociais, o documento busca propiciar a formação de um aluno inteirado a um mundo globalizado e social:
[…] Assim, o estudo da língua inglesa pode possibilitar a todos o acesso aos saberes linguísticos necessários para engajamento e participação, contribuindo para o agenciamento crítico dos estudantes e para o exercício da cidadania ativa […] esse caráter formativo obriga a rever as relações entre língua, território e cultura, na medida em que os falantes de inglês já não se encontram apenas nos países em que essa é a língua oficial […] BNCC prioriza o foco da função social e política do inglês e, nesse sentido, passa a tratá-la em seu status de língua franca. […] (BRASIL, 2018, p. 241)
Ademais, foram observados dois planejamentos realizados pelo professor Denes, em que foram pensadas em formas de presentificar o conteúdo, desde o momento da chegada do docente na classe, até o último minuto de aula. O professor Denes desenvolveu seu planejamento atrelado aos eixos exigidos pela BNCC, em específico, os eixos da escrita, oralidade e interculturalidade. A elaboração consistiu em selecionar o conteúdo, neste caso, os “modal verbs”, presentes na grade curricular do estado, e planejar a aplicação durante as aulas. O docente não pensou apenas na parte teórica do conteúdo, mas presentificou os “modal verbs” com exemplos, áudios, material didático, o uso da língua e a cultura, isto é, o processo foi além da simples teoria, mas apreendeu toda uma parte interacionista e cultural. Contudo, nota-se que o ensino proposto pelo professor Denes contempla a especificação do objetivo do regulamento escolar, e as propostas da BNCC.
A REALIDADE DO PROCESSO DE ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO PÚBLICA
Após a análise das informações acerca da expectativa, torna-se evidente o fato de que o processo de ensino de língua inglesa funciona, mas dentro de uma quebra de expectativa do que socialmente se aceita como ensino de inglês, isto é, não acontece da mesma maneira que um curso privado de idiomas, entretanto, o ensino da língua não deixa de funcionar, mesmo que dentro das limitações e das dificuldades do contexto escolar público, como a falta de recursos, feriados e eventos que atrasam o planejamento, e os momentos de desatenção dos alunos. A construção do processo de ensino do inglês caminha a passos lentos na educação pública, é possível perceber a dificuldade dos alunos com a língua, a falta de estrutura da escola para abranger o ensino ideal, e os desafios enfrentados pelo professor para conseguir completar um planejamento de aula. Desta forma, analisa-se que o resultado não atinge por completo o que os documentos exigem em desenvolvimento, em razão a essas várias de limitações, e considerando tudo o que a BNCC propõe, a carga horária concedida para as aulas são muito curtas, contendo apenas duas aulas de cinquenta minutos por semana, e os recursos são extremamente limitados.
Diante disso, vale reforçar que o ensino de língua inglesa não se pauta apenas no desenvolvimento do “falar inglês”, mas também no conhecimento cultural, social, na formação do cidadão globalizado e inserido em uma sociedade multicultural. Durante o período de observação, percebe-se que o esforço que o professor Denes tem em trabalhar, mesmo com os desafios corriqueiros, o uso do inglês de fato, apresentando novas palavras em todas as aulas, estimulando o uso da língua, treinando a pronúncia, escuta e escrita. Com isto, vale ressaltar a importância do ensino de língua inglesa na educação pública, e também, a relevância de pensar em métodos de ensino que despertem o interesse nos alunos, que neste cenário, foi o uso da translinguagem nas aulas.
A TRANSLINGUAGEM COMO MÉTODO DE ENSINO DE LÍNGUA
Durante o período de observações dentro da sala de aula foi possível perceber um método corriqueiro que o professor Denes utilizava, a translinguagem. Em diversos momentos ao longo da “ministração” da aula, o docente passeava pelas duas línguas, português e inglês, de maneira que fazia com que a língua estrangeira estivesse presente fora do livro didático, atividades e provas, mas em todos os aspectos presentes nos períodos de aulas. Entretanto, este método apresentado pelo professor Denes acontecia de forma “regrada”, isto é, de maneira coerente ao conteúdo de aula e nível de entendimento e conhecimento dos alunos.
A translinguagem ocorria nos seguintes momentos: apresentação do conteúdo, quando o professor lia na forma original em inglês, e depois relacionava com algo do habitual dos alunos, para que ficasse claro o que significava; apresentação de palavras que estavam no livro didático, em inglês, e sem dizer a tradução relacionava com alguma imagem, movimento ou objeto, para exemplificar o que aquela palavra significava; passar e ler os exercícios em inglês, trazendo uma ambientalização da língua para os alunos, e após, explicava em português o que não havia ficado claro; conversas informais durante as aulas usando frases e expressões em inglês.
A forma como a língua inglesa estava sendo usada dentro das aulas, indo além do contato prévio da língua em materiais didáticos, quebraram as barreiras do estranhamento, usando da translinguagem como meio de familiarizar os alunos à língua. Com isto, nota-se como uso da prática de translinguagem contribui para a construção de conhecimentos e formação de sentidos dos alunos, e pode ser muito benéfico dentro desta área educacional no sentido pedagógico.
O termo translinguagem também remete a práticas pedagógicas que utilizam o bilinguismo como recurso possível. Neste sentido, o termo evoca uma concepção de língua não estrutural e fechada em si mesma, mas que valoriza e recupera os saberes dos falantes em suas práticas linguísticas e em prol da construção do conhecimento. […] a translinguagem, por sua vez, não diz respeito apenas a uma mudança de uma língua para outra, mas, à construção de práticas discursivas inter-relacionadas e complexas, em que as línguas e conhecimento se constituem no processo interativo, não podendo, portanto, ser atribuídas e/ou encaixadas em uma definição tradicional de linguagem. (Krause-Lemke, 2020: 2-3)
Estudos e pesquisas mostram que o contato rotineiro com a língua estrangeira, neste caso a língua inglesa, desperta o interesse nos alunos, além de promover práticas, experiências e um acesso maior ao conhecimento, como mostra o estudo recente de professores da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), feito observando o método sendo aplicado em uma escola de ensino médio de Campo Grande – MS:
Durante as aulas procuro falar frases em inglês, como cumprimentos e comandos simples de linguagem de sala de aula e percebo que esta naturalidade tem despertado o interesse de vários estudantes a desenvolveram o diálogo. Nesta percepção, reconheço o potencial por introduzir práticas que valorizem o aluno oferecendo mais espaços em sala para esta transformação. (Costa; Maciel; Barros, 2019: 02)
Quando aplicado a translinguagem durante as aulas, era perceptível a mudança de uma atmosfera de uma simples aula expositiva, para um ambiente de interação, isto pois, notava-se que os alunos sentiam-se confortáveis para interagir, perguntar e tentar a comunicação em inglês com o professor. Esta metodologia tornava as aulas mais dinâmicas, participativas, e alunos mais abertos a expressarem-se na língua. Segundo os autores Costa, Maciel e Barros (2019), a translinguagem tem o poder de gerar ambientes educacionais mais livres para que o aluno consiga se expressar, transformador, além de promover um contexto mais social da língua:
A translinguagem nos convida a repensar o ensino de línguas, pois com um olhar mais humanizado permite ao aluno a liberdade de expressar-se ao buscar, em seu repertório linguístico aquilo que vai além das línguas nomeadas (Makoni; Pennycook, 2007)
A translinguagem promove a justiça social como pedagogia de empoderamento contribuindo para a transformação do estudante que, dentro do contexto social, encontra-se em situação de desigualdade e minoritária oportunizando uma visão mais consciente da realidade cada vez mais multilíngue em um mundo globalizado. (Costa; Maciel; Barros, 2019: 03)
Diante deste enfoque teórico do método “translingue”, torna-se evidente a eficácia de seu uso para as aulas e fins educacionais. Além de gerar interesse em alunos que, anteriormente foram caracterizados como desinteressados, corrobora para um processo de desenvolvimento da língua. Levando em consideração o contexto escolar do ensino público de língua inglesa, este método funciona e ajuda no ensino-aprendizagem proposto pelo docente da sala.
A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO PÚBLICA
A princípio deve-se lembrar que o inglês possui um status de língua franca, já mencionada dentro dos documentos norteadores como a BNCC, por isso, o inglês é pensado em um espaço multilíngue de uma sociedade globalizada, desta forma, ter acesso à construção de conhecimento acerca da língua configura algo indispensável, refletindo no desenvolvimento de cidadania que a educação deve trazer, ademais, o ensino da língua fornece a possibilidade de comunicação, compartilhamento cultural e a formação de pessoas participativas dentro da sociedade, e como cita Rodrigues (2023) “[…] percebe-se que, diante do cenário global, em que a comunicação é a chave do sucesso, faz-se necessária a integração dos conteúdos de língua inglesa dentro das salas como meio de preparar o indivíduo para o mundo cada vez mais conectado.”. A educação pública concede o direito do aluno, durante a fase formadora de ensino fundamental e médio, ter alcance das experiências e conhecimentos adquiridos através do ensino de inglês, como cita o PCN, todos os brasileiros têm o direito da aprendizagem da língua estrangeira em conjunto à língua materna.
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, a língua inglesa no campo educacional possui um papel essencial de aprendizagem no âmbito linguístico, desenvolver perspectivas e diversidade social:
A aprendizagem de Língua Estrangeira contribui para o processo educacional como um todo, indo muito além da aquisição de um conjunto de habilidades linguísticas. Leva a uma nova percepção da natureza da linguagem, aumenta a compreensão de como a linguagem funciona e desenvolve maior consciência do funcionamento da própria língua materna. Ao mesmo tempo, ao promover uma apreciação dos costumes e valores de outras culturas, contribui para desenvolver a percepção da própria cultura por meio da compreensão da(s) cultura(s) estrangeira(s) (PCN, 1998: 37).
O ensino de inglês na educação pública faz-se importante, pois leva o direito ao acesso de conhecimento da língua a vários contextos educacionais dentro do país, alcança parte da população que não detêm das mesmas oportunidades econômicas, e atua como meio de inclusão social do cidadão em um mundo moderno que dispõe do inglês como língua franca, e também, segundo Rodrigues (2023) “[…] o ensino de Língua Inglesa e suas literaturas pode contribuir para a formação do aluno nesse contexto globalizado e de constante avanço tecnológico tão presente na atualidade.”.
Dentro do período de observação de uma escola estadual em um bairro de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, notou-se o desenvolvimento de parte dos aspectos mencionados anteriormente. Citando uma fala do professor Denes: “não existe apenas o inglês americano, mas também o inglês britânico, australiano, há falantes de inglês brasileiros, não há só uma maneira de falar inglês. O inglês com sotaque, formas diferentes de pronunciar não deixa de ser inglês.”, percebe-se a exploração das culturas pertencentes à língua inglesa, além disso, a expansão dos conhecimentos linguísticos e a valorização do inglês como instrumento de construção cidadã. Por fim, podendo observar as aulas, no contexto o qual esses alunos estão inseridos, uma escola estadual em um bairro pequeno e de área periférica, provavelmente não haveria outro meio de contato com a língua se não houvesse o ensino na educação pública.
CONCLUSÃO
O estágio observado talvez pareça uma prática rasa, pois não há atuação como docentes e nem auxiliamos os professores em aula, porém tudo o que observado é de grande valor para formação futura e para entendermos a dificuldade de estar à frente de uma sala de aula. Pois, é no Estágio Obrigatório que temos o nosso primeiro contato com a sala de aula, isto é, o nosso momento de entender os alunos, os problemas de um professor de língua inglesa no contexto da escola pública e as complicações dentro do ambiente escolar.
Concluindo esse artigo, vê-se que a infraestrutura da escola observada é pequena, mas acolhedora, tem o necessário para que seus alunos possam aprender os conteúdos, porém ainda há pouco uso dos materiais disponibilizados pelo governo do estado de Mato Grosso do Sul, como, computadores e projetores.
Entende-se também, no contexto que a escola está inserida faz com que as aulas de língua inglesa sejam pensadas para formar a ética nos estudantes garantindo-lhes um futuro melhor. Visto que, um aluno de escola pública tem milhares de escolhas que podem acabar com as suas metas, mas o docente deve inteirar-se sobre esses problemas e evitar a transformação dos valores desses jovens. Assim, o inglês nesse contexto, irá ensinar os alunos subalternos de forma paciente, pois eles são mais introvertidos quando a questão é a conversação na língua inglesa.
Por isso, o professor Denes utilizou a translinguagem para conseguir capturar a atenção dos alunos, com isso, ele ensina palavras aos alunos sem que percebam que, realmente, estão entendendo, pois a mistura de línguas é tão leve que é, praticamente, imperceptível a mudança do português para o inglês. A partir disso, vimos que é importante o ensino da língua inglesa dentro de uma escola invisibilizada pelo seu contexto, mesmo que haja dificuldades no ensino.
Também, foi visto que a sociedade cria expectativas no ensino-aprendizagem de língua inglesa nas escolas públicas, pois, pensam que o jovem sairá das aulas conversando em inglês, mas a realidade é completamente diferente. Por fim, vimos o que um professor precisa lidar dentro e fora da sala de aula, as expectativas de uma sociedade ignorante, os problemas dos alunos que transferem-se durante as aulas e o medo da falta de retorno dos estudantes no momento da explicação do conteúdo.
REFERÊNCIAS
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