Enviado em 04/07/2023
Parágrafo de contexto: O relatório faz parte da avaliação do estágio de língua inglesa I do curso de Letras Português-Inglês. Escolhi como tema o uso de textos nas aulas de língua inglesa no ensino fundamental da educação básica, pois nutro um grande interesse pela escrita, literatura e também por se relacionar com minhas próprias experiências pessoais durante minha época de estudante do ensino fundamental, quando tive pouco contato com textos em geral. A experiência de escrever esse relatório foi verdadeiramente enriquecedora, contribuindo significativamente para o meu desenvolvimento acadêmico e pessoal. Foi uma oportunidade fantástica de refletir sobre a importância dos textos no ensino de língua inglesa e como eles podem despertar o interesse e o engajamento dos alunos.
1. Introdução
O presente relatório reflexivo aborda a análise do uso de textos nas aulas de língua inglesa no ensino fundamental, com base no estágio de observação realizado na disciplina Estágio Obrigatório de Língua Inglesa I, ministrada e orientada pelo Prof. Dr. Elton Luiz Aliandro Furlanetto, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. A escolha dessa temática revelou-se relevante, pois o ensino de língua inglesa nesse nível educacional tem o objetivo de familiarizar os estudantes com a língua estrangeira, fornecendo as bases necessárias para a continuidade dos estudos no ensino médio e além. Nesse contexto, o uso de textos emerge como uma ferramenta essencial para promover a aprendizagem da língua estrangeira, possibilitando o desenvolvimento de habilidades comunicativas aos alunos, bem como o acesso a diferentes culturas e conhecimentos. Isso também é incentivado em documentos oficiais como os PCNs (1999) e a BNCC (2018). Os antigos PCNs enfatizavam que a diversidade de gêneros textuais utilizados em sala de aula, para além de ampliar o conhecimento intertextual dos alunos, revela de forma explícita a variedade de propósitos que os textos desempenham na sociedade. Já a BNCC também incentiva isso ao ressaltar a relevância do uso de textos de diversos gêneros verbais e híbridos no processo de aprendizagem dos alunos de língua estrangeira, pois permite que eles explorem diferentes modos de leitura para realizar pesquisas, rever a própria escrita e expressar ideias e argumentos de forma oral. Além disso, incentiva o desenvolvimento da capacidade de agir no mundo de maneira crítica. Observar como esses textos são trabalhados é de suma importância para a formação docente, pois proporciona uma visão ampliada das possibilidades de ensino e aprendizagem nessa área.
Durante o estágio de observação, tive a oportunidade de analisar a abordagem dos textos no 6º ano e no 8º ano, devido a intercorrências que impossibilitaram a análise exclusiva de uma única turma. No entanto, essa diversidade de turmas forneceu-me uma gama maior de dados comparativos, permitindo uma compreensão mais abrangente do tema em questão. A observação dessa temática se mostrou especialmente significativa, uma vez que busquei investigar se houve mudanças e transformações em relação à minha própria experiência no ensino fundamental. Nessa época, os textos eram pouco trabalhados e não muito utilizados como ferramentas para desenvolver competências de leitura e escrita, para além do ensino da gramática e da norma culta.
Por meio dessa análise reflexiva, espera-se uma contribuição para o meu futuro trabalho docente, fornecendo insights sobre o papel crucial dos textos no ensino de língua inglesa no ensino fundamental. Dessa forma, busca-se promover uma abordagem pedagógica mais efetiva, que vá além do ensino de estruturas linguísticas, ampliando o repertório dos alunos e incentivando uma aprendizagem mais significativa e ampliada.
2. Pressupostos teóricos
A análise se fundamenta em duas referências teóricas que abordam o uso do texto no ensino de língua estrangeira. Ambos os artigos refletem sobre a abordagem tradicional e pouco efetiva dos textos, que geralmente são utilizados apenas como pretexto para o ensino de gramática, desconsiderando seus aspectos sociais e culturais.
O artigo "A Leitura na Língua Estrangeira: Uma Proposta de Ensino de Leitura e Discurso" (2007) de Enio de Oliveira explora o ensino de leitura em aulas de língua estrangeira, ressaltando a importância de considerar tanto a estrutura gramatical quanto os aspectos discursivos da língua e do texto. O autor utiliza a Análise de Discurso como base teórica e realiza uma análise pré-pedagógica de quatro textos em inglês sobre os rios Colúmbia e Snake nos Estados Unidos, exemplificando como essa visão de ensino da leitura pode ser colocada em prática. O artigo destaca a relevância de trabalhar os conteúdos e contextos socioculturais relacionados às práticas linguageiras-discursivas. Essa abordagem teórica e os exemplos práticos fornecem uma base sólida para o ensino de leitura em língua estrangeira, permitindo que os alunos compreendam não apenas a língua estrangeira em si, mas também as complexidades presentes nos textos.
Embora o texto anterior seja relevante, as transformações tecnológicas e sociais ocorridas nos últimos anos demandam uma abordagem mais atualizada e adaptada à realidade dos alunos. Com base nessa reflexão, explorarei outros dois textos que abordam questões pertinentes ao ensino de leitura em língua inglesa: "O Século XXI já chegou às Salas de Aula de Língua Inglesa? Reflexões sobre tecnologias, gêneros multimodais e estilos de aprendizagem no ensino de leitura em Língua Inglesa" (2014) de Beatriz Gama Rodrigues e Sílvia Mônica Moura Lima e "Ensino de leitura em língua inglesa em perspectiva dialógica" (2021) de Shirley Brito Souza Gonçalves e Eliete Correia dos Santos.
O primeiro texto, de Rodrigues e Lima, levanta questionamentos importantes sobre o impacto das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC) no ensino de línguas estrangeiras, especialmente em relação à leitura. Enquanto a sociedade passa por uma revolução digital, é crucial investigar se as escolas estão acompanhando essas transformações e proporcionando uma aprendizagem sensível aos usos da tecnologia digital. No entanto, o texto aponta que, muitas vezes, as aulas ainda seguem uma abordagem tradicional, com foco no uso de recursos tecnológicos apenas para atividades de "listening". Isso contrasta com os estudos teóricos que destacam a importância de uma abordagem de ensino-aprendizagem mais individualizada. Em relação à leitura em língua inglesa, o texto ressalta a necessidade de ampliar o foco além da leitura das letras e palavras, considerando também outros elementos multimodais, como gráficos, desenhos, ícones e vídeos. Reconhecer e explorar essas diferentes linguagens é fundamental para envolver os alunos de maneira motivadora nas aulas. A teoria da multimodalidade destaca a importância de considerar os diferentes modos de representação presentes nos textos, além dos elementos lexicais. Os alunos devem aprender a compreender os textos multimodais como um todo, integrando todas as formas de expressão utilizadas pelo autor. Além disso, o uso de textos digitais, como músicas e vídeos, pode atender às preferências de aprendizagem de alguns alunos.
Já o segundo texto, de Brito e Santos, aborda a transição do ensino presencial para o ensino remoto de língua inglesa devido à pandemia de COVID-19. A autora destaca a necessidade de os professores se adaptarem e reinventarem suas práticas de ensino nesse novo contexto. A pesquisa investiga o ensino remoto de leitura de língua inglesa na rede pública estadual, com enfoque na modalidade de ensino mediado por portfólios. O texto ressalta a importância do ensino de leitura como ponto de partida para o desenvolvimento de outras habilidades linguísticas e destaca a necessidade de uma leitura crítica que incentive o aluno a se tornar protagonista de sua própria aprendizagem. A autora também enfatiza a importância de considerar o enunciado como unidade real de comunicação discursiva, tanto no texto utilizado para leitura como nos enunciados das atividades e tarefas propostas. O processo de ensino de leitura deve promover a interação, engajamento dos alunos, reflexão, debates e ressignificação constante. Os alunos são considerados sujeitos ativos na construção do conhecimento, e a proposta metodológica deve estimulá-los a formular argumentos, questionar e desenvolver habilidades de leitura crítica e participativa.
Os textos apontam a necessidade de superar abordagens tradicionais de ensino de leitura em língua inglesa nas escolas públicas. É fundamental adotar uma perspectiva que valorize as novas tecnologias, os gêneros multimodais e os estilos de aprendizagem dos alunos. Os projetos pedagógicos devem ser atualizados para promover uma aprendizagem significativa e envolvente, explorando diferentes formas de expressão e relacionando a leitura com situações reais de uso da linguagem. Além disso, reconhecer as potencialidades individuais dos alunos e considerar seus estilos de aprendizagem pode contribuir para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem.
3. Observações
3.1. Estrutura da Escola e Primeiras Impressões
A Escola Estadual sob análise apresenta uma estrutura média, composta por quadra de esportes, biblioteca, laboratório de informática e sala de recursos. As salas de aula possuem dimensões reduzidas, resultando em uma proximidade entre os alunos, especialmente devido ao alto número de estudantes por turma, que chega próximo a 40. No aspecto físico, as salas são equipadas com dois aparelhos de ar-condicionado, ventiladores de teto, quadro branco e prateleiras de ferro utilizadas para guardar os livros didáticos, evitando que os alunos precisem trazê-los diariamente em suas mochilas.
Em um bloco separado e afastado, encontram-se a biblioteca, a sala de informática e a sala de recursos. A biblioteca está localizada na entrada do bloco e dispõe de uma considerável quantidade de livros, tanto de ficção quanto teóricos. O ambiente conta com mesas onde os alunos podem ler as obras que escolherem no próprio local. Os livros são organizados em ordem alfabética e possuem numeração nas abas para facilitar a devolução. A sala de informática possui capacidade para acomodar aproximadamente dois alunos por computador, oferecendo uma conexão rápida à internet e um espaço amplo para evitar aglomerações. A responsabilidade pela biblioteca também engloba a sala de informática, ficando a cargo da mesma professora. Quanto à sala de recursos, não foi possível realizar uma observação, pois ficava fechada quando não estava em uso. A quadra de esportes, localizada ao lado desse bloco, é ampla e coberta, dispondo de cestas de basquete, redes de futebol e vôlei.
Minhas primeiras impressões em relação à escola foram positivas. Fui recebida com simpatia e todas as minhas dúvidas foram prontamente respondidas. Além disso, colocaram-se à disposição para qualquer necessidade que eu pudesse ter. O relacionamento com os professores também foi excelente. Eles me trataram com respeito e acolhimento, explicando previamente o conteúdo de cada aula e mostrando-me os materiais utilizados, como atividades, livros didáticos e provas. A observação das aulas propriamente ditas foi prejudicada devido a feriados, projetos escolares, interclasses e palestras. No entanto, foi possível observar, mesmo em poucas aulas, a forma como os professores abordam diferentes gêneros textuais em seu ensino.
3.2. Observação no 6º ano
A aula observada foi marcada pela agitação da turma, com um episódio logo no início em que um aluno foi encaminhado à coordenação por proferir palavras ofensivas. Durante a aula, os estudantes conversavam e circulavam pela sala, o que levou o professor a repreendê-los de forma severa, resultando em breves silêncios. O tema central dessa aula foi a devolução e correção das provas bimestrais. Um aspecto que chamou minha atenção foi a maneira como o professor abordou os erros cometidos pelos alunos durante a entrega dos exames individuais. Alguns estudantes foram repreendidos por terem cometido erros considerados "ridículos"; no entanto, o professor enfatizou que eles possuem inteligência e potencial para melhorar. Como forma de incentivo para aqueles que alcançaram a nota máxima, uma barra de chocolate foi dada, embora apenas uma aluna tenha alcançado tal feito. Após a devolução das provas, o professor iniciou um discurso sobre a falta de atenção dos alunos durante as aulas, destacando como essa falta de concentração tem prejudicado o desempenho da maioria, que obteve notas baixas. Em seguida, deu-se início à correção das provas.
Na avaliação, o professor utilizou três pequenos textos nos quais os alunos deveriam responder questões gramaticais e interpretativas. A leitura desempenhou um papel essencial, uma vez que os alunos precisaram analisar minuciosamente cada texto a fim de identificar os diferentes gêneros textuais abordados e compreender sua mensagem. O primeiro texto versava sobre uma reportagem relacionada ao futebol, destacando uma jogadora famosa. Já o segundo texto consistia em uma breve narrativa em primeira pessoa, na qual uma garota compartilhava informações acerca de sua família. O terceiro texto apresentava uma tirinha da Turma da Mônica. Embora as questões gramaticais tenham sido mais numerosas em cada texto, os dois primeiros solicitavam elementos interpretativos em algumas delas. Quanto à tirinha, apenas uma questão era apresentada, na qual os alunos deveriam completar o diálogo entre dois personagens, escolhendo a frase que melhor se encaixasse no contexto dentre as opções fornecidas. Ao final da aula, tornou-se evidente que poucos alunos realmente prestaram atenção, apesar dos apelos do professor.
3.3. Observação no 8º ano
Primeira Aula – Nesse 8º ano, as aulas são ministradas por uma professora diferente, enquanto as outras turmas têm o mesmo professor. A primeira aula foi iniciada com a entrega das provas. A turma é conhecida por comportamentos agitados e, de acordo com os relatos dos professores, demonstram indisciplina com frequência, além de não terem o costume de realizar as atividades propostas. Durante toda a aula, foi perceptível que falavam em voz alta e circulavam pela sala, mesmo após os pedidos da professora para se acalmarem. A correção das provas não foi realizada naquele momento, limitando-se apenas à entrega, o que impossibilitou a identificação do conteúdo abordado.
Devido à proximidade do Dia das Mães, a professora decidiu abordar duas atividades em sala de aula. A primeira consistia na tradução de um poema sobre as mães, enquanto a segunda envolvia a confecção de um cartão a ser entregue às suas respectivas mães. O poema foi apresentado pela professora como uma atividade especial e percebe-se que ele estava desconectado do conteúdo programático regular. Infelizmente, a professora não compartilhou informações sobre o autor do poema ou a fonte em que o encontrou, o que dificulta uma análise mais aprofundada do texto em si. Essas informações adicionais permitiriam aos alunos explorar a obra e entender melhor sua origem, estilo e temática. Além disso, conhecer o suporte em que o poema foi encontrado, como um livro, uma revista ou uma plataforma online, também seria relevante para contextualizar sua publicação e acessibilidade. A professora escreveu o poema na lousa e informou aos alunos que poderiam utilizar o Google Tradutor para auxiliá-los na atividade. Alguns alunos não possuíam celular ou acesso à internet, e a professora permitiu que se unissem a um colega para realizar a atividade em conjunto. A maioria dos alunos iniciou a atividade, porém em um ritmo lento. Eles demonstraram pouco interesse no que estavam fazendo, limitando-se a copiar o poema do quadro e a tradução fornecida pelo Google Tradutor, mesmo que essa apresentasse traduções literais que não transmitiam a mensagem que o poema desejava passar. Esse fato é comum em poemas que utilizam expressões e metáforas que não devem ser interpretadas literalmente. Em determinado momento, a professora tentou alertá-los sobre esse aspecto, porém, devido ao barulho, muitos não a ouviram.
Um aluno decidiu não utilizar o Google Tradutor para fazer a tradução, solicitando ajuda da professora para as palavras desconhecidas. A professora então me pediu para auxiliá-lo, e juntos buscamos opções na língua portuguesa que se encaixassem no contexto do poema. Esse aluno, que anteriormente estava envolvido em conversas com os colegas, mostrou-se dedicado em realizar a tarefa e em aprender palavras e expressões que desconhecia. Ele conseguiu concluir a atividade rapidamente e, após receber o visto da professora, passou a realizar a segunda atividade. Por não ter valor avaliativo, poucos alunos se engajaram na confecção do cartão, optando por continuar conversando. Quanto ao cartão, a professora permitiu que os alunos escrevessem em português o que desejavam expressar para suas mães, sendo poucos os que decidiram tentar escrever algo em inglês, utilizando o Google Tradutor. A aula encerrou se pouco tempo depois, com apenas 10 alunos concluindo a confecção do cartão.
Segunda Aula – Durante a segunda aula observada nessa turma, foi possível acompanhar o conteúdo abordado pela professora para o bimestre, que era sobre o Simple Future. Percebi que o comportamento agitado e a falta de respeito com os professores eram recorrentes, assim como a falta de atenção por parte dos alunos. Apesar do barulho constante das conversas, a professora iniciou a aula introduzindo o conteúdo no quadro, abordando os dois tipos de verbos que podem ser utilizados para formar frases no futuro. O foco principal dessa aula, no entanto, foi o verbo "to be going to". Para exemplificar o seu uso, a professora apresentou frases curtas que eram semelhantes, diferindo apenas na conjugação do verbo "to be". Ela explicou que, para uma tradução adequada, era necessário evitar uma interpretação literal do verbo, a fim de compreendê-lo melhor. Após essa breve explicação e a apresentação de exemplos, a professora propôs exercícios para a prática do conteúdo. O primeiro exercício consistia em completar as lacunas das frases utilizando o verbo "to be going to" de forma adequada. Além disso, ela solicitou aos alunos que traduzissem as frases, reforçando que poderiam usar o Google Tradutor. Alguns alunos começaram a realizar o exercício, porém em número reduzido, e foi possível notar que a maioria não estava prestando atenção ou não havia compreendido o conteúdo.
Pouco tempo depois, a professora prosseguiu com a segunda parte da aula, abordando a forma negativa e interrogativa do verbo "to be going to". Assim como na etapa anterior, ela exemplificou com frases que basicamente seguiam a mesma estrutura, alterando apenas a conjugação do verbo "to be". Em seguida, propôs um exercício em que os alunos deveriam transformar as frases previamente completadas com o verbo "to be going to" para a forma negativa, explicando que bastava adicionar um "not" no início das orações. Nesse momento, ela se aproximou da mesa de alguns alunos para sanar dúvidas, no entanto, assim como na aula anterior, poucos realmente se dedicaram aos exercícios, e alguns limitaram-se a copiar as respostas dos colegas para obter o visto da professora. A aula foi encerrada com a professora mencionando seu cansaço por ter precisado elevar a voz, pois não estava se sentindo bem naquele dia. Mais alunos concluíram as atividades, porém, com uma quantidade significativa de cópias.
Terceira Aula – Na terceira aula, deu-se continuidade ao conteúdo abordado anteriormente, porém, desta vez, com a realização de atividades propostas pelo livro didático. Foram três atividades passadas aos alunos: ler e resumir um breve texto em português sobre o uso do verbo "to be going to"; ordenar frases curtas embaralhadas que utilizam o verbo "to be going to"; e traduzir para o português uma receita de Acarajé. A professora explicou as atividades e ressaltou que os alunos não teriam problemas com os exercícios sobre o verbo e a tradução, uma vez que poderiam contar com o auxílio de um glossário ao final do livro e do Google Tradutor. Além disso, ela destacou que eu e a outra estagiária estávamos disponíveis para ajudar os alunos.
Aproximadamente metade da sala começou a realizar as atividades, entretanto, os demais alunos conversavam e brincavam. Como muitas frases e palavras não constavam no glossário do livro, a professora as escreveu no quadro, explicando seus significados. Ela dedicou-se a responder diversas dúvidas e percorreu as mesas dos alunos para verificar o andamento das atividades. Em um momento incomum durante a aula, quando a conversa estava mais intensa, a coordenadora entrou na sala, causando um rápido silêncio entre os alunos. Ela informou que os alunos teriam como dever de casa pesquisar e traduzir algumas palavras, como respeito, preconceito, caráter, covardia, intolerância, entre outras. A coordenadora enfatizou que a atividade teria valor avaliativo e deveria ser entregue. Ela explicou que a proposta tinha como objetivo lidar com várias reclamações recebidas sobre casos de bullying contra alunos e professores perpetrados pelos próprios estudantes da turma. Apesar de terem ficado em silêncio durante a comunicação da coordenadora, assim que ela saiu da sala, as conversas recomeçaram.
Assim como na primeira aula, um aluno solicitou ajuda à professora, que o orientou a buscar auxílio com as estagiárias. Ele veio até mim e comecei a ajudá-lo. Foi possível perceber que ele apresentava diversas dúvidas gramaticais e de compreensão do conteúdo. Embora tenha conseguido concluir as atividades quase no final da aula, ele pareceu ter compreendido melhor o assunto. A maioria dos alunos concluiu as atividades, porém, de acordo com a professora, os resumos do primeiro exercício foram considerados simples.
4. Encaminhamentos metodológicos
Para analisar os dados e obter as informações desejadas, adotei uma abordagem que envolveu a observação das aulas dos alunos do 6º e 8º ano, apesar de ter sido limitada pela pouca quantidade de aulas ministradas no semestre. Essa observação me permitiu compreender melhor como as leituras eram abordadas, se havia diversidade de gêneros textuais, se as aulas exploravam leituras multimodais e se eram contextualizadas com a realidade dos alunos.
No que diz respeito às teorias estudadas, estas foram utilizadas como fundamentação para refletir sobre a coleta de dados e orientar a análise. Os três textos mencionados anteriormente foram a base de reflexão sobre o uso de textos e leituras em sala de aula que vão além do contexto tradicional e a importância de explorar leituras multimodais, conceituais e contextualizadas, além de enfatizarem a necessidade de não usar o texto apenas como pretexto. Ao aplicar essas perspectivas teóricas à análise dos dados, pude avaliar se as práticas observadas estavam alinhadas com os princípios propostos pelos autores.
5. Resultados da observação
Com base nos dados coletados, foi possível observar algumas tendências e aspectos relevantes relacionados ao uso dos textos nas aulas dos alunos do 6º e 8º ano. No entanto, é importante ressaltar que a quantidade limitada de aulas durante o semestre pode ter influenciado os resultados obtidos.
Ao relacionar os textos estudados com a aula observada no 6º ano, é possível identificar algumas conexões e divergências. O professor utilizou três textos diferentes em sua avaliação, abordando diferentes gêneros textuais, como reportagem, narrativa e tirinha. Foi interessante perceber que, embora aspectos gramaticais tenham sido mais proeminentes nas avaliações, o professor escolheu textos em língua inglesa e elaborou questões que exigiam a leitura dos textos para compreender o que era solicitado e entender o contexto. Esse foco na compreensão do texto foi especialmente importante na atividade da tirinha, o que foi surpreendente para uma turma do 6º ano, considerando que minha experiência pessoal foi totalmente voltada para o ensino básico de elementos gramaticais, fora do contexto dos textos.
Essa abordagem de utilizar diferentes gêneros textuais está alinhada ao que Rodrigues e Lima discutem em seu trabalho. Segundo as autoras:
“É sabido que na educação básica a abordagem de língua inglesa é, em sua
maioria, consagrada por uma tradicionalidade em fazer da leitura um propósito
estrutural, buscando reforçar os tempos verbais que estão sendo abordados no
texto lido. Nos últimos dois anos, as escolas públicas contam com o apoio de
livros didáticos de inglês que são avaliados pelo Programa Nacional para o
Livro Didático (PNLD). Nos livros são apresentadas uma diversidade de
gêneros discursivos como notícias, e-mails, receitas, tirinhas, cartuns etc.,
visando proporcionar uma aprendizagem significativa ao aluno.”
(RODRIGUES; LIMA, 2014, p. 65).
Apesar de o professor ter dado ênfase à estrutura gramatical nas provas, a utilização de diferentes gêneros discursivos, como mencionado por Rodrigues e Lima, contribui para afastar o ensino da língua inglesa da abordagem tradicional e conteudista, buscando uma aprendizagem mais significativa e contextualizada. No entanto, devido à falta de informações, não foi possível verificar se esses gêneros foram explorados anteriormente, uma vez que, na avaliação, foram utilizados apenas trechos como instrumentos para as questões, sem qualquer tentativa de inserir os textos nos contextos socioculturais aos quais pertencem, o que enriqueceria o ensino da língua inglesa, conforme mencionado também no artigo de Enio Oliveira.
Além disso, o contexto da aula observada apresenta desafios adicionais, como a agitação da turma, a repreensão severa dos alunos e a falta de concentração. Esses elementos podem afetar negativamente o processo de ensino-aprendizagem e a participação ativa dos alunos na leitura e compreensão dos textos. Os textos teóricos enfatizam a importância de criar um ambiente de aprendizagem envolvente, interativo e reflexivo, que estimule os alunos a se tornarem protagonistas de sua própria aprendizagem. No entanto, a relação do professor com os alunos parece ser bastante desestimulante, o que afeta o desenvolvimento da aula, principalmente em uma atividade que envolva a participação ativa dos alunos.
Já na observação do 8º ano, percebe-se que as práticas que envolvem o uso dos textos ainda seguem, em grande parte, uma abordagem tradicional. Na primeira aula, em que a professora abordou atividades relacionadas ao Dia das Mães, podemos fazer uma conexão com o texto de Rodrigues e Lima. As autoras mencionam a importância de utilizar diferentes gêneros discursivos para proporcionar uma aprendizagem significativa ao aluno. No entanto, a falta de informações sobre o autor do poema e a fonte limitaram a exploração do texto pelos alunos. Além disso, a atividade não apresentou muitos aspectos educacionais, sendo a única parte realmente trabalhada a tradução, que, apesar de utilizar recursos tecnológicos, não foi explorada nem analisada pela professora. Isso resultou em traduções feitas pela maioria dos alunos usando o Google Tradutor, sem considerar a adaptação de expressões que, se traduzidas literalmente, perdem o sentido.
Na segunda aula, em que o foco foi no Simple Future, percebe-se a ausência de textos e contexto nas frases utilizadas nos exercícios. Isso vai de encontro à proposta de relacionar a leitura com situações reais de uso da linguagem, como defendido pelos textos teóricos aqui utilizados. Além disso, a tradução do inglês para o português, feita de forma repetitiva ou trabalhar a tradução realizada pelos alunos, não promove uma aprendizagem significativa.
Na terceira aula, em que foram utilizadas atividades propostas pelo livro didático, é possível fazer uma conexão com a importância de considerar os livros didáticos como uma forma de apresentar uma diversidade de gêneros discursivos, como mencionado por Rodrigues e Lima. A utilização do glossário e do Google Tradutor como recursos tecnológicos pode ser considerada positiva em termos de acessibilidade, mas é importante ressaltar que alguns alunos não se engajaram nas atividades, o que aponta para a necessidade de estratégias adicionais para envolver os alunos de forma mais ativa. A agitação e a falta de respeito dos alunos, mencionadas em todas as aulas, podem afetar negativamente o processo de ensino-aprendizagem. É necessário explorar estratégias pedagógicas que incentivem a participação ativa dos alunos, como atividades contextualizadas, utilização de recursos tecnológicos e abordagem comunicativa, como destacado nos textos estudados.
Em resumo, as aulas observadas apresentaram práticas que seguem uma abordagem tradicional, com limitações em relação aos textos realmente explorados, falta de contextualização, uso repetitivo da tradução mecânica e falta de engajamento dos alunos. Esses pontos não estão alinhados com a proposta de uma abordagem que valoriza a leitura de textos de forma crítica e voltada para o seu conteúdo e a sua relação com o mundo, ou seja, que eles sejam realmente trabalhados e discutidos em sala, pois, segundo Brito e Santos, "Considerar os aspectos sociais, culturais e contextuais na condução da aula de leitura é primordial, para que, a partir da compreensão do texto, o aluno se sinta instigado a estabelecer relações e adotar uma atitude responsiva participativa, de valoração e ressignificação do texto" (BRITO; SANTOS, 2021, p. 99).
Com base nas teorias estudadas, é possível fazer comentários adicionais sobre os dados coletados. As teorias destacam a importância de considerar os diferentes modos de representação na análise dos textos, além dos elementos lexicais. Notamos que, nas aulas observadas, houve uma limitação na exploração desses modos de representação, o que pode impactar negativamente a compreensão e o envolvimento dos alunos com os textos. Além disso, as teorias ressaltam a necessidade de uma abordagem de ensino-aprendizagem mais individualizada, levando em consideração os estilos de aprendizagem dos alunos. Embora não tenha sido possível observar diretamente os estilos de aprendizagem dos alunos durante as aulas, é válido questionar se as práticas de leitura adotadas levam em conta essas diferenças individuais e oferecem suporte adequado para atender às preferências e necessidades dos estudantes.
Considerações finais
A análise dos dados coletados revelou que a abordagem textual adotada nas aulas observadas ainda reflete uma prática tradicional, com uma exploração limitada de gêneros textuais e modos de representação multimodais. Essas constatações estão em consonância com as reflexões teóricas, ressaltando a necessidade de repensar o uso dos textos em sala de aula visando uma aprendizagem mais envolvente e significativa para os alunos. Para alcançar uma aprendizagem significativa, é fundamental considerar a diversidade de linguagens presentes nos textos, explorar as potencialidades dos recursos digitais e incentivar uma leitura crítica e participativa. A experiência vivenciada nesse estágio fortaleceu a percepção da importância de repensar as práticas de ensino da leitura, valorizando uma abordagem crítica, a contextualização dos textos e a participação ativa dos estudantes.
Diante dos resultados obtidos, concluo que persistem práticas de ensino tradicionais, com limitações na exploração dos textos e falta de engajamento por parte dos alunos. Em síntese, a experiência vivenciada neste estágio revelou-se relevante para a minha formação como educadora, proporcionando uma visão mais clara dos desafios que encontrarei no estágio de regência e na futura carreira docente. Essa vivência contribuiu para uma reflexão crítica sobre a minha atuação como professora, reforçando a importância de uma abordagem de ensino mais participativa, contextualizada e voltada para a formação integral dos alunos.
Referências
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2018.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Fundamental e Médio). Brasília: Ministério da Educação, 1999.
BRITO, S.; SANTOS, E. C. dos . Ensino de leitura em língua inglesa em perspectiva dialógica. DISCURSIVIDADES, [S. l.], v. 9, n. 2, p. 78–105, 2021. DOI: 10.29327/256399.9.2-4. Disponível em: https://revista.uepb.edu.br/REDISC/article/view/917.
OLIVEIRA, E. de. A leitura na língua estrangeira: uma proposta de ensino de leitura e discurso. Trabalhos em Linguística Aplicada. v. 46, n. 2, p. 199–218, jul. 2007.
RODRIGUES, Beatriz G., LIMA, Silvia M. M. O Século XXI já chegou às Salas de Aula de Língua Inglesa? Reflexões sobre tecnologias, gêneros multimodais e estilos de aprendizagem no ensino de leitura em Língua Inglesa. Revista Educação e Linguagens, Campo Mourão, v.3, n. 5, jul./dez. 2014. pp. 62-75.