Enviado em: 25/09/2024
Parágrafo de contexto: O texto é um conto curto que surgiu em uma tarde de estudo na biblioteca.
Marlone chegava na faculdade para o trabalho; era o primeiro dia de concursado. Pronto para começar; rumo ao estágio probatório.
Conheceu Celina, cinquentona alegre e pujante, irradiava hiperatividade, gostava de conversar, obviamente. Os dois se apresentaram, Celina apresentou Marlone aos demais colegas. Ela era a nova chefe do rapaz de vinte e poucos anos.
Logo nos primeiros dias de trabalho, Marlone aprendia o ofício: seus pormenores, suas peculiaridades, sempre com a ajuda de colegas. Celina nunca tinha tempo, algo normal no cargo de chefia.
Um belo dia, Celina chamou Marlone para um trabalho em específico. O rapaz tinha de imprimir algumas provas para o curso de ingresso da pós-graduação. Missão complicada, que exige muita atenção e sigilo. Nisso ficaram próximos um do outro, tinham mais assuntos para conversar. Ele a achava engraçada, ela se tornava ainda mais "palhaça", quando fazia comentários que, ao menos, exalavam inocência e ridicularidade.
Em um dos dias de trabalho, na transcrição do processo seletivo para o computador, vários assuntos surgiram, a separação de Celina, o fato de Marlone nunca ter namorado ninguém na vida, a neta de Celina que havia nascido, viagens que gostariam de fazer, o gosto por música, artes, o que mais fazia cada um rir, se divertir, comidas favoritas no ramo da gastronomia... Tudo muito prazeroso. Parecia que a química no seu estado mais orgânico fluía naquele local. Local de silêncio, sumiço, sinergia, sabor de sátira, celebração. Parecia até ser um pequeno pecado. Local de trabalho é local de respeito, local sagrado para muitos servidores.
Passados alguns dias, o serviço acabara. Então...se despediram. Marlone voltou para sua sala… E Marlone sumiu…
Nos dias subsequentes, como em uma mudança repentina, de uma hora para outra, Marlone sumiu, e continuou sumido. Causou muita preocupação em Celina. A chefe o chamava, mandava recados, exigia a sua presença. Ele não respondia. Ao perguntar aos colegas de sala onde ele estava, se ele aparecia para trabalhar, respondiam que ele foi trabalhar, mas em outra sala distante, sozinho, mal humorado, queria se concentrar somente no serviço. E mais uma ou duas semanas se passaram, a mesma rotina.
A atitude de Marlone estava atrapalhando os andamentos da repartição, o que obrigou Celina a ir na tal sala para chamar, duramente, a atenção dele. Ele modificou o comportamento, mas passou a evitá-la. Com mágoas de um comportamento sem explicação, ela se perguntava por quê? Seria uma palavra mal pronunciada, ou uma atitude mal interpretada? Por quê? Um mal entendido? Por quê? Um problema pessoal? Só com ela? Por quê? De todo modo, ela respeitava o espaço dele. Desde que estivesse tudo certo com o trabalho, estava tudo bem.
Um belo dia estourou um problema, datas não foram cumpridas, prazos foram preclusos, a repartição iria ser multada. O responsável pelo trabalho: Marlone. Em quem recaiu a responsabilidade? Sua chefe, Celina.
Celina chamou Marlone para a sala dela, houve discussões, acusações, xingamentos. Os dois foram armados até os dentes para “lavar a roupa suja”, colocar tudo em pratos limpos. Celina então, no clímax da emoção, com as mãos trêmulas, o rosto vermelho de sua pele branca, calcanhar que não parava de bater contra uma das rodas da sua cadeira giratória, perguntou:
— O que está acontecendo? Por que uma mudança repentina de situação? Por que daquele comportamento? O que está acontecendo na sua vida?
Ela até chegou a perguntar se ele era bipolar ou tinha algum transtorno. A resposta veio como um verdadeiro soco na cara, em forma de energia e palavras:
— ESTOU APAIXONADO POR VOCÊ! Respondeu Marlone.
Ela perguntou o porquê daquilo, ele respondeu que não escolhe de quem vai gostar. Ela disse que iria ficar tudo bem, que tudo iria ficar bem e que era pra ele ficar bem. Ele saiu como uma flecha atirada por um arco da sala de Celina.
Passadas uma semana, o reitor chamou Marlone, queria conversar em particular. Marlone prontamente atendeu ao pedido do reitor, que foi ao encontro, no bloco adjacente ao que trabalhava.
Ao perguntar do que se tratava, o reitor entregou uma carta e disse:
— Aqui Marlone, assina esta carta que é melhor pra você, enquanto você está em estágio probatório. É para não sujar o seu nome. E nunca mais cometa nenhum assédio sexual com ninguém, ou você vai se complicar de vez pelo resto de sua vida. Assine e depois pode ir…
— Boa sorte pra você, meu jovem.