Enviado em 20/11/2024
Parágrafo de contexto: Meu trabalho é um artigo de iniciação cientifica do PIBIC, com o objetivo de estudar a função da personagem Gandalf na obra O Hobbit, de J. R. R. Tolkien, o trabalho foi todo voltado para a pesquisa literária, o processo foi bastante dificil por conta de bloqueios criativos no momento da escrita.
Introdução
O universo ficcional criado por J.R.R. Tolkien na obra O Hobbit (2019 [1937]), obra que será analisada na presente pesquisa, e em outras obras relacionadas ao legendarium [1] de Arda, é vasto e repleto de personagens complexos. Dentre esses personagens, Gandalf se destaca como uma figura central, não apenas por sua influência na trama, mas também por seu simbolismo e profundidade enquanto arquétipo literário. Gandalf, o Cinzento, é mais do que um simples mago em uma narrativa de fantasia; ele é um ser de origem divina, conhecido como um Istari, enviado para a Terra-média com o propósito de combater a crescente ameaça de Sauron.
Tolkien foi um escritor e professor irlandês que viveu na Inglaterra, mais precisamente em Oxford, e lá, na universidade, desenvolveu trabalhos voltados à linguística, o que surpreendentemente dá origem a todo o universo fictício da Terra-média (Middle-earth), a partir do desejo de Tolkien em querer criar uma língua, com fonética, fonemas, letras e regras próprias e únicas surge todo o universo de elfos, magos, hobbits e homens que guerrearam em batalhas épicas entre bem e mal. Porém, para escrever todo esse mundo dicotômico, Tolkien lançou mão de outras coisas além dos estudos da linguagem: houve estudos voltados aos mitos folclóricos ingleses que são regados de magia, seres fantásticos e, por ser bastante religioso, seus escritos podem ser considerados uma analogia a vários conceitos teológicos.
O Hobbit não foi escrito apenas para suprir a necessidade do autor de colocar tudo o que idealizava, mas para entreter seus filhos, sendo o primeiro livro a ser lançado sobre todo esse universo. Ele é considerado por muitos como um livro infantojuvenil, por ter (como primeira impressão) esse teor mais “leve” e cômico, mas aqui neste trabalho vamos fazer uma diferente leitura da obra, observando outros aspectos que não são abarcados por essa categoria de livros, todo o teor que está por detrás da escrita, aquilo que a primeira leitura não nos revela. Por isso, levaremos em consideração que a obra é uma obra de literatura fantástica inglesa, como a obra é categorizada nas páginas de informações editoriais e na ficha catalográfica. O livro foi publicado pela primeira vez em 21 de setembro de 1937, pela editora George Allen & Unwin, e tem como enredo principal a história de um hobbit, que é um ser menor que um anão, e seus pés são grandes e peludos. Os hobbits costumam viver tranquilos em suas tocas, mas Bilbo recebe a visita de um mago, Gandalf, que o tira toda tranquilidade e, assim, ele é convidado a participar de uma aventura que salva a antiga montanha dos anões. No meio do caminho o pequeno hobbit irá enfrentar todo e qualquer tipo de desafio que o tira de sua zona de conforto.
Esta pesquisa tem como objetivo explorar as diversas camadas que compõem o personagem Gandalf: suas origens mitológicas, sua evolução ao longo da narrativa, e o impacto que ele exerce tanto sobre outros personagens quanto sobre a pessoa leitora. Além disso, este estudo busca compreender como Tolkien utilizou Gandalf para expressar temas centrais em sua obra, como o sacrifício, a sabedoria e o papel do poder e da liderança.
O estudo sobre Tolkien e seus escritos se deve à popularidade que toda a trilogia de O Senhor dos Anéis (1954-1955) e O Hobbit têm, mas por uma curiosidade interna, especificamente sobre o personagem objeto de estudo no presente trabalho: como uma mente igual a minha (em anatomia e potencialidades) poderia criar personagens com tamanha complexidade e sabedoria, curiosidade essa que se uniu na dificuldade de encontrar trabalhos acadêmicos brasileiros acerca de Gandalf, um estudo sobre suas ações e construções, sobre a sua importância dentro dos livros e sobre as influências externas que Tolkien teve em desenvolver o personagem. Este trabalho tenta preencher essa lacuna, não só a lacuna acadêmica, mas a lacuna dentro de mim, sobre quem é Gandalf e como ele pode também influenciar a minha vida.
Ao longo do texto, serão discutidos aspectos da construção de Gandalf, desde suas raízes na mitologia nórdica e cristã até as influências literárias que moldaram sua caracterização, tendo como base o estudo da personagem na narrativa literária. A análise será fundamentada em uma revisão de literatura acadêmica existente sobre o tema, bem como em uma interpretação textual das obras de Tolkien. Por fim, vamos considerar o legado de Gandalf na cultura popular e como ele continua a ressoar com novas gerações de pessoas leitoras e espectadoras.
[1] Segundo Ferreira, o legendarium se pretende um conjunto de mitos transmitidos ao longo de uma longuíssima tradição narrativa, que teria se perpetuado do passado remoto de Arda até o século XX (2013, p. 19).
Metodologia
A metodologia desta pesquisa consiste em uma análise aprofundada de livros e artigos acadêmicos, visando um entendimento mais abrangente dos personagens de Tolkien, com foco particular no desenvolvimento de Gandalf. Este estudo considera especialmente o papel de Gandalf em O Hobbit, que é o objeto central desta investigação. Para isso, o livro A Personagem na Narrativa Literária (2021), de Raquel Trentin Oliveira e Gisele Seeger, foi utilizado como base para a compreensão da construção dos personagens. Além disso, foram realizadas leituras de O Hobbit e O Silmarillion (2019 [1977]), obras de Tolkien nas quais Gandalf tem uma presença significativa: em O Hobbit, ele desempenha um papel crucial na narrativa, enquanto em O Silmarillion, compreendemos a origem e a natureza desse personagem, bem como seu propósito. [2]
O primeiro passo consistiu na leitura e análise de O Hobbit e O Silmarillion, ambos fundamentais para entender a construção e a evolução de Gandalf no legendarium de Tolkien. O Hobbit é a obra na qual Gandalf tem sua primeira participação significativa, desempenhando um papel crucial no desenvolvimento da trama e na orientação do protagonista, Bilbo Baggins. Em O Silmarillion, por outro lado, é possível investigar a origem mitológica de Gandalf, seu papel como Istari, e sua missão na Terra-média, o que enriquece a compreensão do personagem além de sua atuação em O Hobbit.
A análise literária do personagem Gandalf será detalhada por meio da identificação e estudo de suas falas e aparições em O Hobbit (2019), com uma investigação complementar de O Silmarillion. A relevância de Gandalf para o enredo será explorada, destacando não apenas suas ações diretas, mas também as percepções e reações dos outros personagens em relação a ele, reveladas através de diálogos e descrições narrativas. A trilogia cinematográfica O Hobbit (2012-2014) será utilizada como uma extensão dessa análise, permitindo uma comparação entre a representação de Gandalf nos textos literários e nas adaptações para o cinema.
Além disso, a pesquisa se fundamentará em produções acadêmicas relevantes, tais como as teses Fantasy e Mito em O Silmarillion de J.R.R. Tolkien (2016), de Judith Tonioli Arantes, Em Boa Companhia – A Amizade em O Senhor dos Anéis (2017), de Cristina Casagrande de Figueiredo Semmelmann, e o artigo “Gandalf and Merlin: J.R.R. Tolkien’s Adoption and Transformation of a Literary Tradition” (2008), de Frank P. Riga, O Mundo de Tolkien (2004), de David Day e a dissertação Mitologia na contemporaneidade: O legendarium de J. R. R. Tolkien (2013), de Thiago Destro Rosa Ferreira. Essas análises serão acompanhadas de fichamentos bibliográficos para garantir um desenvolvimento mais robusto da pesquisa. Todos esses recursos servirão de apoio para um conhecimento mais profundo de Gandalf e para uma compreensão mais completa do texto fundamental da análise, O Hobbit.
Além dos textos acadêmicos, a pesquisa se beneficia de recursos audiovisuais como vídeos de análises literárias no canal de YouTube Tolkien Talk e a já mencionada trilogia de filmes O Hobbit (2012-2014), que proporcionam uma visão contemporânea da interpretação de Gandalf, tanto no meio acadêmico quanto popular. Essas fontes audiovisuais são particularmente úteis para compreender como o personagem foi adaptado para o cinema e como ele é percebido pelo público atual.
Todas essas fontes e materiais serão documentados através de seções detalhadas, que facilitarão a organização das informações e o desenvolvimento das discussões ao longo da pesquisa. Essa abordagem multissemiótica permite uma análise rica e abrangente, proporcionando não apenas uma visão detalhada de Gandalf em O Hobbit, mas também uma compreensão mais ampla de seu papel no universo tolkieniano e na literatura fantástica como um todo.
[2] Porque estamos lidando com as duas obras de Tolkien cujas traduções foram publicadas no mesmo ano, 2019, vamos usar a notação S. para as citações de O Silmarillion e H. para as citações de O Hobbit.
Discussão
Durante toda a narrativa de O Hobbit, vemos a história do protagonista Bilbo Bolseiro (Baggins, em inglês), pertencente a uma raça chamada de hobbit, criatura criada por Tolkien dentro do universo da Terra-Média. Como é da natureza de sua espécie, Bilbo gosta de ficar em casa, aproveitar o aconchego do Condado e não ter sua paz perturbada, mas um certo dia ele recebe a visita de um mago amigo, que deixa uma marca em sua porta e isso faz sua vida virar de cabeça para baixo. Conhecemos esse mago pelo nome de Gandalf, da raça dos istaris, magos que viviam na terra com o objetivo de auxiliar os homens e ser conselheiro dos elfos. Além dos hobbits, istaris e elfos, outras raças também existem nesse lugar: anões, ents, orques e homens (seres humanos). Cada um tem sua cultura e línguas próprias, interagindo de forma positiva ou por meio de conflitos, que vão desenhando a geopolítica da Terra-média.
Toda a obra de Tolkien gira em torno da conceito de fantástico, aquilo que parte da imaginação, isso fica ainda mais perceptível quando no prefácio de O Hobbit, Christopher Tolkien escreve relatando que tudo começou com uma roda de história que seu pai fez e a partir dali, um universo foi criado, com as mais diversas criaturas, criaturas essas que até hoje carregamos no nosso imaginário.
Indo além, observamos que a literatura de fantasia possui características parecidas com o maravilhoso. Neste, o sobrenatural também é aceito como tal e atuante. Lembramos, ainda, que o maravilhoso não se refere apenas aos contos de fadas, há diversos outros modos maravilhosos que utilizam esse artifício do sobrenatural aceito sem questionamentos. (Arantes, 2016, p. 82)
Quando nos deparamos com a leitura das obras de Tolkien, nos deparamos com tudo aquilo que há de maravilhoso, deslumbrante e até inimaginável, na mente de um homem.
2.1 Origens mitológicas
Porque a obra O Silmarillion é uma retomada histórica de fatos que antecedem e explicam as outras obras, a primeira aparição de Gandalf se dá em suas páginas, quando na criação de Adar (terra, na língua dos elfos), Eru Ilúvatar cria seres divinos que são servos dos Valar (os Ainur, os primeiros seres criados, que após a criação de melodias celestiais, habitam na Terra para ajudar em sua construção para os Filhos de Ilúvatar),
Com os Valar vieram outros espíritos cuja existência também começou antes do Mundo, e da mesma ordem dos Valar, mas de grau inferior. São os Maiar, o povo dos Valar, seus criados e auxiliares. (...) Pois, embora seja diferente em Aman, na Terra-média os Maiar raramente aparecem em forma visível a elfos e homens. (Tolkien, S., p. 21)
Segue a lenda que Olórin, nome original de Gandalf, era um Maiar muito conhecido como o mais sábio de todos os Maiar, e com a Valier Nienna, foi ensinado a ser compassivo e paciente, quando Sauron começa a querer pegar a Chama Imperecível para dominar e criar o que desejar no mundo defendendo os interesses de Morgoth, a personificação do Mal nesse universo. Os Valar decidiram, então, reunir um grupo de Maiar e enviá-los a Adar com o intuito de ajudar na guerra contra o novo Senhor das Sombras. Esse grupo de Maiar fica conhecido como os Istari (ou como os homens chamam: magos). No total são enviados cinco magos, sobre dois deles não se tem muitos relatos, Saruman se torna um traidor quando tenta roubar o Um Anel para poder governar Arda; Radagast vive em meio às florestas apegado a animais; e Mithrandir (um dos nomes élficos de Gandalf) se torna o maior dos magos no final da trilogia de O Senhor dos Anéis. Durante a narrativa de O Silmarillion, observamos além da criação de Gandalf, o seu desempenho na salvação da Terra-média e no desenvolvimento efetivo do seu objetivo, de proteger e cuidar dos Filhos de Ilúvatar das forças das trevas, afinal, “Exatamente quando as primeiras sombras foram percebidas na Floresta das Trevas, surgiram no oeste da Terra-média os istari, que os homens chamavam de Magos” (Tolkien, S., p. 382) Quando o mal começou a assombrar o mundo, os magos foram enviados pelos Valar para lutarem contra Sauron.
No texto escolhido para objeto de estudo, Mithrandir já é conhecido como Gandalf e após ter passado por algumas guerras, principalmente no final da Segunda Era e no começo da Terceira Era. Todo o tempo nos livros de Tolkien são medido por Eras: elas não tem uma divisão padrão, mudam quando há grandes eventos ou guerras acontecem. A primeira Era é conhecida como a Era das Lâmpadas, onde logo após a criação de todos os seres, os Valar criam duas lâmpadas para iluminar o mundo, Melkor para destruir a luz, caminha com seu exército e destrói as lâmpadas. A partir daí, começa a Segunda Era, que é a Era das Árvores, na qual existem as árvores Laurelin e Telperion, duas árvores que iluminavam a terra, também criada pelos Valar. Essa Era durou cerca de 14 mil anos, um milhar a menos do que a primeira Era. Temos que Melkor ainda quer destruir a luz que havia no mundo e, para isso, faz um acordo com a aranha primitiva, Ungoliant, para que as árvores sejam mortas, porém os Valar conseguem preservá-las levadas ao céu e assim formando o sol (da fruta de Laurelin) e a lua (das folhas de Telperion). Depois da transformação das árvores, inicia-se a Primeira, Segunda e Terceira Era do Sol, onde acontecem o que conhecemos nas histórias relatadas: a derrubada de Melkor, o surgimento de Sauron, a criação dos Anéis de Poder, Sauron tendo sua forma fisica derrotada e se tornando o olho que aparece em O Senhor dos Anéis, a narração do que acontece em O Hobbit, se passa nas décadas finais da Terceira Era. Podemos ter uma pequena ideia do que acontece na Quarta Era com a coroação de Aragorn e a ida de muitos elfos para Aman (lugar onde vivem os Valar, uma espécie de “paraíso”), assim a paz é estabelecida por milhares de anos em Arda.
Gandalf já tem seu papel bastante desenvolvido durante a obra, pois já havia sido enviado para Arda e já estava lutando contra Sauron por alguns anos, vemos o seu desenvolvimento como mago ao deixar de ser mago cinzento e se tornar um mago branco após a luta contra Balrog, chegando assim na maior hierarquia dos istaris.
2.2 Evolução ao longo da narrativa
A jornada de Gandalf, o Cinzento, em O Hobbit não é apenas uma questão de ação e aventura, mas revela uma transformação mais profunda baseada em simbolismo mitológico e na estrutura literária construída por J.R.R. Tolkien. Para compreender essa evolução, é fundamental analisar as fontes mitológicas que influenciaram a construção de Gandalf, conforme discutido por David Day (2004) em Fontes Mitológicas em Senhor dos Anéis. Esta seção explora como elementos mitológicos moldam o caráter de Gandalf e como sua presença evolui ao longo da narrativa, não apenas como um guia, mas também como um elemento catalisador no desenvolvimento de outros personagens.
Essa apresentação inicial de Gandalf é carregada de uma sensação de mistério, refletindo a ideia mitológica de que magos e sábios estão ligados a segredos do universo, como discutido por David Day. Gandalf não parece revelar tudo o que sabe, o que aumenta seu fascínio e sugere que ele está jogando um jogo maior, além da simples busca dos anões para recuperar a Montanha Solitária e o tesouro guardado pelo dragão Smaug.
Gandalf desempenha um papel fundamental na mobilização de Bilbo para a aventura. Sem a intervenção de Gandalf, Bilbo jamais teria deixado sua confortável vida no Condado. No entanto, a decisão de Gandalf de envolver Bilbo não é arbitrária. Ao contrário, ela reflete sua sabedoria e seu entendimento das forças mais amplas que moldam o destino da Terra-média. Gandalf reconhece em Bilbo um potencial oculto que nem o próprio hobbit consegue perceber. Ele usa sua persuasão não para manipular, mas para abrir portas para o crescimento e a transformação.
Por um curioso acaso, numa manhã distante, na quietude do mundo, quando havia menos barulho e mais verde, e quando os hobbits eram ainda numerosos e prósperos, e Bilbo Bolseiro estava parado à sua porta depois do desjejum, fumando um enorme cachimbo de madeira que chegava quase até os lanudos dedos dos seus pés (cuidadosamente escovados), Gandalf apareceu. Gandalf! Se vocês tivessem ouvido apenas um quarto do que eu já ouvi a respeito dele, e eu ouvi só um pouco de tudo o que existe para ouvir, estariam preparados para qualquer tipo de história surpreendente. (Tolkien, H., p. 10)
A figura de Gandalf como um catalisador conecta-se a tradições mitológicas em que sábios e guias espirituais desencadeiam jornadas heróicas. David Day sugere que a insistência de Gandalf em envolver Bilbo ecoa a tradição de divindades e mentores que levam heróis a confrontar seu destino. Assim, Gandalf assume o papel de um mentor sábio, mas também de alguém que compreende o entrelaçamento de livre-arbítrio e destino, o que é um tema central em muitas mitologias.
A participação de Gandalf na aventura dos anões e de Bilbo é marcada por momentos em que ele se retira da narrativa para permitir que os protagonistas enfrentem seus próprios desafios. No entanto, como aponta Day, essas retiradas estratégicas de Gandalf mostram a prática mítica de guias espirituais que preparam heróis para uma jornada de autossuperação. Semmelmann (2017) também defende essa imagem de que Gandalf é uma figura que influencia e guia outros personagens. É importante observarmos que há uma inspiração para essa característica de guia que serão destacadas abaixo:
O Papel do Mestre e do Manipulador do Destino: Gandalf não força Bilbo a se tornar um herói; em vez disso, ele cria oportunidades para o hobbit descobrir sua própria coragem e habilidade. Essa abordagem pode ser vista como uma representação da crença mitológica de que o destino e o livre-arbítrio coexistem, tema frequentemente abordado nas tradições de onde Tolkien extraiu inspiração.
Gandalf exerce o papel de figura paterna, que ora está próximo dos demais membros da Sociedade (Senhor dos Anéis), auxiliando-os e guiando-os, ora desaparece inesperadamente, deixando-os crescer e caminhar com seus próprios passos- e, depois, reaparece da forma mais inusitada possível, dando-lhes a certeza de que nunca estarão sós. (Semmelmann, 2017, grifo nosso, p. 157)
Paralelos com Outras Figuras Mitológicas: Day argumenta que o papel de Gandalf é comparável a outras figuras sábias que orientam os protagonistas apenas até certo ponto, deixando-os amadurecer por conta própria. Essa técnica narrativa garante que Bilbo evolua de um hobbit caseiro para um herói que empreende uma jornada reconhece sua própria força.
Gandalf em O Hobbit também é um prenúncio de sua evolução espiritual mais completa que seria desenvolvida em O Senhor dos Anéis. Segundo David Day, essa progressão pode ser vista nas nuances de como Gandalf lida com as forças do mal. Ao longo de O Hobbit, há indícios de que Gandalf está envolvido em um combate mais amplo contra as sombras que ameaçam a Terra-média, especialmente em sua batalha contra os Orques e sua preocupação com as movimentações de Sauron.
Prefiguração de Transformações Futuras: Embora O Hobbit seja uma narrativa relativamente simples, a atuação de Gandalf sugere que ele é parte de algo muito maior, o que se alinha com as tradições míticas de seres que renascem ou se transformam para enfrentar males ainda maiores. A sabedoria de Gandalf e sua autoridade moral sugerem que ele carrega um fardo invisível, um elemento que se conecta com suas transformações em obras posteriores.
Ao longo de O Hobbit, fica evidente que Gandalf está envolvido em uma batalha maior do que a simples missão de recuperar a Montanha Solitária. Ele enfrenta criaturas malignas e expressa preocupação com a crescente escuridão que ameaça a Terra-média. Por exemplo, ele menciona sua luta contra o Necromante (Sauron disfarçado) em Dol Guldur (Tolkien, H., p. 317), o que aponta para os eventos mais amplos que serão explorados em O Senhor dos Anéis.
A luta de Gandalf contra o mal simboliza a ideia de que forças sombrias estão sempre tentando dominar o mundo, e os protetores da luz precisam estar sempre vigilantes. Isso conecta Gandalf a figuras mitológicas de guardiões cósmicos ou intermediários que enfrentam as trevas para proteger a humanidade. Day destaca que esse papel é crucial para Gandalf, tornando-o mais do que um mero mago: ele é um defensor do bem em uma batalha espiritual contínua.
2.2.1 Caracterização
Segundo as autoras do livro A Personagem na Narrativa Literária, “São detalhes que nos permitem traçar certo retrato da personagem, mas que, ainda assim, produzem uma imagem bastante limitada se comparada à fisionomia completa de uma criatura humana." (Oliveira; Seeger, 2021, p. 7) Comparando-se a descrição de um personagem com a descrição humana na realidade, a narração descritiva tem a função de fazer com que nos sintamos próximos daquele personagem a ponto de o identificarmos como um ser humano real, que carrega questionamentos e têm camadas em sua personalidade bastante profundas, camadas essas que podem ser reveladas em muitos aspectos dentro da obra, em fluxos de consciência temos uma dimensão maior sobre aquilo que o personagem pensa, seus anseios, medos, desejos, já quando temos um narrador que não favorece esse tipo de olhar para a obra, o leitor é sempre levado a tirar conclusões tendo como ponto de partida aquilo que é narrado. Quando observamos Gandalf, sempre com um ar de mistério, a análise voltada para aquilo que é dito e até alguns pensamentos que são indiretamente citados é necessário, suas intenções são constantemente reveladas em suas ações e principalmente naquilo que ele faz ao influenciar outros personagens na narrativa.
(...) Gandalf exerce a função de líder, incomodando a vida pacata dos hobbits, tirando-os de sua zona de conforto e, aparentemente, lhe trazendo problemas. Mas sabemos que Gandalf está longe de representar mal aos hobbits - não porque não poderia sê-lo, mas porque não escolhe esse caminho - ao contrário, é o único que volta o seu olhar ao imenso valor dos Pequenos e sabe que a grande força contra os poderes malignos que assolam a função de doador, porque sua presença vai trazer muitos benefícios em prol dos povos livres na guerra. (Semmelmann, 2017, p. 158)
David Day identifica Gandalf como uma figura arquetípica semelhante aos sábios e magos das mitologias nórdica e céltica. A imagem de Gandalf lembra especialmente Odin, o deus nórdico da sabedoria, que frequentemente se disfarça de velho viajante com um chapéu de abas largas e um cajado. Em O Hobbit, Gandalf é apresentado inicialmente como um personagem misterioso, mas ao mesmo tempo profundamente ligado à tradição de personagens que guiam e aconselham heróis. Essa associação mitológica, segundo Day, sublinha a função de Gandalf não apenas como mentor de Bilbo, mas também como um guardião do equilíbrio moral no mundo da Terra-média.
Antigos escritores e anotadores gregos e romanos que tiveram contato pessoal com tribos germânicas e nórdicas eram unânimes em sua crença de que Odin era idêntico ao seu deus Hermes (Mercúrio na denominação romana). Isso se mostra verdadeiro nas manifestações de ambas as deidades nos aspectos de Andarilho Cinzento do deus-mago. (Day, 2004, p. 126)
Simbolismo de Sabedoria e Sacralidade: Assim como Odin buscava conhecimento e sacrifícios pelo bem maior, Gandalf demonstra sua sabedoria através de escolhas que muitas vezes parecem enigmáticas, mas que são orientadas para um propósito mais elevado. O papel de Gandalf como sábio reflete também a ideia do mago como um intermediário entre o mundo dos homens e o mundo espiritual, um conceito amplamente enraizado nas tradições mitológicas exploradas por Tolkien.
Gandalf é um personagem cuja personalidade é marcada pela dualidade. Ele é ao mesmo tempo sério e brincalhão, austero e compassivo, o que o torna uma figura complexa e multifacetada. Na teoria da narrativa literária, essa profundidade de caráter é essencial para a criação de um personagem convincente e realista. Gandalf não é um mago idealizado, mas alguém que carrega o peso de decisões difíceis e um profundo conhecimento das forças que moldam a Terra-média.
Sua personalidade é moldada pela experiência e sabedoria, mas também por uma compreensão inata da necessidade de esperança e bondade. Ele sabe quando intervir diretamente e quando permitir que outros personagens, como Bilbo, enfrentam seus próprios desafios. Esse equilíbrio reflete a habilidade de Tolkien em criar um personagem que é simultaneamente guia e observador, reforçando a importância de Gandalf como um agente transformador da narrativa.
A caracterização de Gandalf não acontece sem falhas ou ambiguidades. Ele é um personagem moralmente complexo, cujas decisões, embora geralmente visando o bem maior, nem sempre são simples ou isentas de consequências. Na teoria da narrativa literária, essa ambiguidade moral é fundamental para criar personagens que se sentem reais e relacionáveis. Gandalf entende que o caminho para o bem nem sempre é direto e que às vezes é preciso fazer escolhas difíceis.
David Day aponta para as claras influências de Merlin na criação de Gandalf, porém enquanto Merlin, na tradição arturiana, frequentemente age de forma ambígua, com motivações que podem ser tanto benéficas quanto manipuladoras, Gandalf é representado como uma força inabalável do bem. Ele luta incansavelmente contra as trevas, sem ceder a tentações ou ambições egoístas, o que influencia em como eles irão se desenvolver sendo mentores.
Embora as figuras arquetípicas do herói e do mago sejam claramente semelhantes nas sagas pagãs, nas lendas medievais e nas fantasias modernas, o contexto em cada uma é nitidamente diferente. Os princípios morais cristãos do romance arturiano são bem diferentes dos encontrados na tradição nórdica de Odin e Sigurd. Curiosamente, embora o mundo de Tolkien seja pagão e pré-religioso, seu herói, Aragorn, possui uma visão rígida a respeito do bem e do mal absolutos. Aragorn pode ser um herói pagão, mas chega a ser mais íntegro e moral que Arthur, o rei cristão. (Day, 2004 p. 128)
Tolkien transformou o arquétipo de Merlin em Gandalf ao enfatizar o sacrifício constante e a dedicação altruísta do mago. Gandalf está disposto a abrir mão de seu próprio conforto, segurança e, às vezes, até mesmo de seu prestígio entre os povos da Terra-média para assegurar que o bem prevaleça. Essa transformação ressalta a importância da luta de Gandalf como um ato contínuo de resistência ao mal, reforçando seu papel como uma figura essencial na preservação da paz e da harmonia na Terra-média.
2.2.2 O Sacrifício
O sacrifício e a luta pelo bem são temas recorrentes nas obras de J.R.R. Tolkien, e Gandalf, como um dos personagens centrais de O Hobbit, exemplifica esses conceitos de maneira profunda. Gandalf não é apenas um mago poderoso; ele é um agente ativo na batalha contra o mal na Terra-média, disposto a enfrentar perigos e sacrificar seu próprio bem-estar para proteger aqueles que não podem se proteger sozinhos. Assim, torna-se necessário entender o papel de Gandalf como defensor do bem e os sacrifícios que ele faz para manter o equilíbrio na Terra-média.
Em O Hobbit, Gandalf é caracterizado como um guardião que assume a responsabilidade de proteger a Terra-média das forças do mal. Ele não é meramente um guia para Bilbo e os anões; seu papel é muito mais abrangente, envolvendo a proteção de toda a civilização contra ameaças iminentes. A decisão de Gandalf de ajudar o anão Thorin e sua companhia a recuperar a Montanha Solitária não é apenas uma missão pessoal ou motivada por uma amizade; é uma estratégia para prevenir que forças do mal, tais como Sauron, utilizem o poder do dragão Smaug para espalhar destruição pela Terra-média.
Frank P. Riga destaca igualmente a importância desse papel protetor em sua obra, sugerindo que Gandalf compartilha semelhanças fundamentais com Merlin, o sábio conselheiro das lendas arturianas. Ambos os personagens são conhecidos por seus sacrifícios em prol de um bem maior, usando seus poderes não para ganho pessoal, mas para preservar a ordem e o bem-estar das terras que juraram proteger. Essa comparação lança luz sobre como Tolkien transformou o arquétipo do mago sábio, adotando elementos literários tradicionais e adaptando-os para criar um personagem com um profundo senso de dever moral.
O sacrifício no caso de Gandalf é uma escolha deliberada e consciente. Ele entende os riscos envolvidos em suas ações, mas acredita que proteger a Terra-média é um dever que não pode ser ignorado. Um exemplo claro disso é, conforme já dissemos, quando ele decide enfrentar o Necromante em Dol Guldur, mesmo sabendo que a tarefa é perigosa e que sua ausência deixará a companhia de Thorin mais vulnerável. Gandalf sacrifica sua própria segurança e confortos pessoais para combater uma ameaça maior, um tema que Riga argumenta ser central para a sua caracterização.
Essa disposição de Gandalf para o sacrifício também reflete sua compreensão de que o bem às vezes exige que indivíduos assumam riscos pessoais. Ele age como uma figura de resistência contra as forças das trevas, usando sua sabedoria e poder para proteger aqueles que não podem lutar por si mesmos. Ao fazer isso, Gandalf encarna o ideal de um herói altruísta, cujas ações são guiadas por um senso de dever e justiça.
Gandalf não age por ambição pessoal ou desejo de poder; seus motivos são genuinamente altruístas. Ele dedica sua vida a lutar contra o mal e garantir a segurança da Terra-média. Em O Hobbit, essa luta se manifesta em várias instâncias, como quando ele salva Bilbo e os anões dos trolls e, mais tarde, intervém na Batalha dos Cinco Exércitos para impedir que forças do mal prevaleçam. Suas ações são guiadas por um compromisso com a justiça e o bem comum, valores que Riga argumenta serem característicos dos magos arquetípicos, como Merlin, mas que são apresentados com uma nova profundidade na obra de Tolkien.
Foi dessa maneira que ele descobriu para onde Gandalf tinha ido; pois acabou ouvindo as palavras do mago a Elrond. Parece que Gandalf havia ido a um grande conselho de mago brancos, mestres do saber e da magia boa; e que eles tinham afinal expulsado o Necromante de seu forte sombrio, no sul de Trevamata. levantou-se da porta de uma tenda, onde estava sentado, e veio na direção dele. (Tolkien, H., p. 317)
Riga explora como Tolkien transforma o arquétipo do mago em algo mais próximo de uma figura cristã de sacrifício, comparando as ações de Gandalf com temas de renúncia e entrega pelo bem maior. Essa imagem sacrificial cristã do mago, destaca a maneira como Tolkien reinterpreta tradições literárias para criar um personagem que personifica a luta pelo bem em sua forma mais pura e altruísta.
Outro aspecto importante da luta de Gandalf pelo bem é o conceito de missão sagrada. Ele é um emissário dos Valar, enviado para ajudar a guiar as pessoas da Terra-média na luta contra Sauron e outras forças malignas. Essa missão confere a Gandalf uma autoridade espiritual e moral que o separa dos outros personagens. Ele não está apenas cumprindo um papel de conselheiro ou guerreiro; ele é um emissário de uma força maior, lutando por uma causa divina.
Riga argumenta que essa missão sagrada de Gandalf o conecta a figuras míticas que transcendem o mundo físico, reforçando a ideia de que seu sacrifício é tanto espiritual quanto físico. A luta de Gandalf não é apenas contra criaturas tangíveis como orques e dragões, mas também contra a escuridão espiritual que ameaça corromper o mundo. Sua missão é uma extensão dessa responsabilidade divina, tornando seu sacrifício ainda mais significativo dentro da narrativa, sacrifício que podemos ver de maneira mais efetiva, quando em O Senhor dos Anéis, Gandalf luta contra um Balrog [3] para conseguir salvar o resto da companhia, se sacrifica e passa muito tempo nas profundezas até derrotar o demônio e conseguir retornar como mago branco.
[3] Balrogs são Maiar que foram corrompidos por Morgoth, vivem nas profundezas e ganham a forma como a de um demônio.
2.2.3 A Sabedoria
A sabedoria de Gandalf não se limita a um simples acúmulo de conhecimento; ela é caracterizada por sua habilidade de julgar corretamente e tomar decisões que levam ao bem maior. Gandalf possui uma compreensão inata da natureza humana (e hobbit), uma qualidade que lhe permite agir como um guia eficaz. Ele não usa sua sabedoria para impressionar ou dominar, mas sim para inspirar e capacitar outros a alcançar seu potencial máximo. Frank P. Riga argumenta que essa qualidade distingue Gandalf de Merlin, que às vezes emprega suas habilidades de forma mais manipulativa.
No início de O Hobbit, Gandalf é aquele que vê o potencial em Bilbo Bolseiro, mesmo quando o próprio Bilbo e seus companheiros anões duvidam.
“Ele tem dado mais trabalho do que sido útil até agora”, disse um deles. “Se tivermos de voltar agora para aqueles túneis abomináveis para procurá-lo, então ele que se dane, é o que eu digo.” Gandalf respondeu com raiva: “Eu o trouxe, e não trago coisas que não são úteis. Ou vocês me ajudam a procurá-lo ou vou deixar vocês aqui para saírem deste aperto do melhor jeito que puderem. Se conseguirmos achá-lo de novo, vocês vão me agradecer antes de tudo acabar. Por que raios você foi deixá-lo cair, Dori? (Tolkien, H., 2019, p. 117)
Sua sabedoria está em sua capacidade de enxergar além das aparências e compreender as forças ocultas que moldam o destino. Ao convidar Bilbo para a aventura, Gandalf não apenas inicia a jornada, mas também planta a semente para o crescimento pessoal do hobbit. Essa visão sobre o potencial dos outros é um aspecto fundamental da sabedoria de Gandalf, que Riga analisa como um traço que ressoa com os mentores sábios das tradições mitológicas, mas que também é adaptado por Tolkien para atender às necessidades de sua narrativa única.
A sabedoria de Gandalf também se manifesta em sua habilidade estratégica. Ele não se deixa levar por impulsos; suas ações são cuidadosamente planejadas com base em uma compreensão profunda das forças do bem e do mal na Terra-média. Em O Hobbit, vemos essa habilidade em vários momentos cruciais, como quando Gandalf percebe a importância de unir diferentes povos contra uma ameaça comum. Ele entende que a recuperação da Montanha Solitária não é apenas uma questão de restaurar a honra dos anões, mas uma estratégia importante para evitar que o poder de Smaug seja usado pelo Necromante (Sauron) para fins nefastos.
Riga destaca como a sabedoria estratégica de Gandalf se assemelha às ações de Merlin na lenda arturiana, especialmente no que diz respeito a preparar e proteger reinos de ameaças externas. No entanto, Tolkien transforma esse arquétipo ao tornar Gandalf um personagem que frequentemente prefere empoderar os outros em vez de agir de forma direta e autoritária. Essa abordagem revela uma sabedoria que valoriza o livre-arbítrio e o crescimento pessoal, promovendo um equilíbrio delicado entre intervenção e observação.
Outro aspecto significativo da sabedoria de Gandalf é sua natureza espiritual e moral. Gandalf é mais do que um líder inteligente; ele é uma figura de autoridade moral, consciente das forças espirituais que regem a Terra-média. Essa dimensão espiritual de sua sabedoria é particularmente importante em O Hobbit, onde ele luta não apenas contra inimigos tangíveis, mas também contra o mal em um sentido mais abrangente. Ele entende que a verdadeira luta na Terra-média é tanto física quanto espiritual, e suas ações refletem essa consciência.
Vemos que no artigo “Gandalf and Merlin: J.R.R. Tolkien’s Adoption and Transformation of a Literary Tradition”, essa dimensão espiritual diferencia Gandalf de Merlin, cuja sabedoria às vezes é mais enraizada no misticismo e na manipulação das artes arcanas. A sabedoria de Gandalf é mais altruísta e conectada a um propósito superior, pois ele age como um agente dos Valar, guiado por uma missão divina para proteger a Terra-média das trevas. Isso dá às suas ações um peso moral que vai além da mera estratégia ou planejamento. Sua sabedoria, assim, se torna um recurso que transcende o tempo e o espaço, ligando-se ao destino e à esperança da Terra-média.
Um aspecto surpreendente da sabedoria de Gandalf é sua humildade. Ele não se coloca acima dos outros, apesar de sua imensa sabedoria e poder. Essa humildade o diferencia de figuras arrogantes ou despóticas, permitindo que ele se relacione com todos os povos da Terra-média, desde os nobres elfos até os humildes hobbits. Em O Hobbit, vemos essa humildade em como ele trata Bilbo com respeito e dignidade, mesmo sabendo que o hobbit ainda não entende sua própria importância.
Essa qualidade de Gandalf reflete a transformação do arquétipo tradicional do mago. Enquanto Merlin, em muitas versões da lenda arturiana, pode parecer distante e misterioso, Gandalf é acessível e engajado, mostrando que a verdadeira sabedoria vem de compreender e valorizar a simplicidade e a coragem que residem em corações comuns. Essa abordagem demonstra que Gandalf não acredita apenas na força ou no intelecto, mas na bondade e na coragem que podem ser encontradas nas ações mais simples, “Há muito mais nele do que vocês acham, e um bocado mais do que ele próprio imagina” (Tolkien, H., 2019, p. 44), nessa fala de Gandalf sobre Bilbo ele expressa a crença no papel de Bilbo, de que ele irá efetuar aquilo que foi chamado a fazer, mesmo o Hobbit sendo uma criatura pequena e pacata, o mago continua defendendo e crendo naquilo que Bilbo pode fazer, na continuidade da narração podemos ver como Bilbo vai evoluindo em sua coragem, quando encontra a espada e em um momento em que está em apuros e Gandalf não está para ajudá-lo, ele toma uma dose de ousadia e escapa das aranhas, “De algum modo, matar a grande aranha, totalmente sozinho e a sós no escuro, sem a ajuda do mago ou dos anões ou de mais ninguém, fez uma grande diferença para o Sr. Bolseiro.” (Tolkien, H., 2019, p. 179), essa tomada de coragem por parte de Bilbo vai se desenvolvendo até o fim do livro.
A jornada de Bilbo é um testemunho da sabedoria de Gandalf, pois o mago consegue prever o potencial de coragem e liderança que existe dentro do hobbit, mesmo quando ninguém mais consegue. Essa habilidade de ver o que está escondido à vista de todos demonstra um tipo de sabedoria que transcende o conhecimento tradicional, refletindo a confiança de Gandalf na bondade inerente dos outros e no poder da transformação pessoal.
Ao longo da narrativa, a sabedoria de Gandalf influencia profundamente a trajetória dos personagens e o destino da Terra-média, tornando-o uma figura crucial na luta contra o mal. Sua sabedoria, assim, é um farol de esperança e um lembrete de que o verdadeiro poder não reside apenas no conhecimento, mas na aplicação ética e compassiva desse conhecimento para o bem comum.
2.2.4 Papel do poder e da liderança
Gandalf demonstra um tipo de liderança que empodera os outros, ao invés de dominá-los. Ele acredita no poder da transformação pessoal e sabe que grandes feitos podem vir de pessoas comuns em circunstâncias extraordinárias: “A aranha evidentemente não estava acostumada a coisas que carregavam tais ferrões a seu lado, ou teria fugido mais rápido. Bilbo veio contra ela antes que pudesse desaparecer e enfiou sua espada bem nos olhos da aranha.” (Tolkien, H., 2019, p. 178), e em “Gandalf olhou para ele. ‘Meu caro Bilbo!’, disse. ‘Alguma coisa aconteceu com você! Não é mais o hobbit que um dia foi.’” (Tolkien, H., 2019, p. 320).
Ao invés de comandar diretamente ou ditar cada passo da aventura, Gandalf oferece orientação e inspiração, permitindo que os personagens descubram sua própria força. Esse método reflete uma compreensão profunda da psicologia e das dinâmicas de grupo, evidenciando que a liderança de Gandalf é construída na confiança e na capacitação.
Além de ser um mentor, Gandalf também é um estrategista astuto. Sua liderança é evidente em sua habilidade de antecipar ameaças e agir de forma proativa para proteger o bem maior da Terra-média. Um exemplo disso é sua decisão de ajudar Thorin a recuperar a Montanha Solitária. Gandalf entende que a missão não é apenas sobre restaurar o reino dos anões, mas também uma medida estratégica para evitar que o dragão Smaug seja usado pelo Necromante (Sauron) como uma arma de destruição.
A liderança de Gandalf se manifesta em sua visão de longo prazo. Ele não se limita a resolver problemas imediatos; ele considera as implicações maiores de cada decisão. Por isso, Gandalf frequentemente se afasta da companhia para lidar com ameaças mais amplas, como quando enfrenta o Necromante em Dol Guldur. Esse equilíbrio entre a missão imediata e a segurança da Terra-média como um todo demonstra sua habilidade de gerenciar prioridades complexas e sua dedicação ao bem maior, por Gandalf não ser uma criatura comum, mas um ser vindo de uma realidade divina, ele carrega essa disposição de resolver qualquer problema que possa aparecer.
Uma das características mais marcantes da liderança de Gandalf é sua disposição de liderar pelo exemplo. Ele não pede que outros façam algo que ele próprio não estaria disposto a fazer. Quando os trolls [4] capturam os anões no início da aventura, é Gandalf quem intervém corajosamente para salvá-los, usando sua astúcia e habilidades para virar a situação a favor da companhia. Esse tipo de liderança demonstra seu compromisso com a segurança e o bem-estar daqueles que ele lidera.
Gandalf também exibe coragem e resiliência em momentos críticos, inspirando aqueles ao seu redor. Ele é uma fonte de esperança e motivação, especialmente em situações desesperadoras. Quando as forças do mal ameaçam prevalecer, é o exemplo de Gandalf que impulsiona seus aliados a continuar lutando. Sua presença, mesmo quando não está fisicamente presente, continua a influenciar os membros da companhia, que se lembram de sua sabedoria e coragem.
Essa liderança moral é especialmente importante em O Hobbit, onde as alianças são frequentemente frágeis e a ganância pode corromper até os corações mais nobres. Quando a cobiça começa a dominar Thorin e a Companhia dos Anões, é a voz de Gandalf que serve como um lembrete da importância da honra e da integridade.
(...) levantou-se da porta de uma tenda, onde estava sentado, e veio na direção dele.
“Muito bem Sr. Bolseiro!”, disse, dando tapinhas nas costas de Bilbo. “Sempre há mais a seu respeito do que qualquer um espera!” Era Gandalf.
Pela primeira vez em muitos dias Bilbo ficou realmente encantado. Mas não havia tempo para todas as perguntas que ele desejava fazer imediatamente.
“Tudo a seu tempo!”, disse Gandalf. “As coisas estão se aproximando do fim agora, a menos que eu esteja enganado. Há alguns momentos desagradáveis bem à sua frente; mas mantenha sua coragem! Pode ser que você passe bem por tudo isso. Há novidades acontecendo das quais bem os corvos ficaram sabendo. Boa noite! (Tolkien, H., 2019, p. 294, grifo nosso)
Sua capacidade de ver além das riquezas e de entender o valor da paz e da cooperação é um exemplo de sua liderança ética.
Gandalf também influencia a Companhia dos Anões, mesmo que sua liderança seja menos direta. Sua presença é uma força unificadora, e sua sabedoria muitas vezes ajuda os anões a superar conflitos internos e desafios externos. Mesmo quando não está fisicamente presente, a Companhia sente o peso de sua liderança, sabendo que Gandalf confiou neles para completar a missão. Essa confiança mútua é fundamental para a dinâmica da narrativa e para o sucesso da jornada.
[4] No universo de Tolkien, trolls são criaturas que têm aspectos humanos, porém são enormes e fortes, e não carregam grande intelectualidade.
3. Impactos
Tolkien é amplamente considerado o "pai da fantasia moderna", e seu impacto é evidente em uma vasta gama de autores que seguiram seus passos. Obras como A Roda do Tempo, de Robert Jordan, A Canção de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin e Mistborn, de Brandon Sanderson mostram influências claras de Tolkien em suas construções de mundo e desenvolvimento de tramas épicas. [5] Elementos como raças fictícias (elfos, anões, orques), a jornada do herói, e mundos detalhadamente construídos são heranças diretas do trabalho de Tolkien. Porém, não foi possível localizar algum trabalho acadêmico que buscasse fazer uma comparação minuciosa dos pontos de aproximação entre essas autorias.
A estrutura narrativa da fantasia épica e a ideia de um "mundo secundário" imersivo, conceitos fundamentais fortemente trabalhados por Tolkien, continuam a moldar a maneira como os autores e autoras de fantasia constroem suas histórias. Ele também popularizou temas como a luta do bem contra o mal, a importância da amizade e o impacto do sacrifício, que ainda são comuns em narrativas contemporâneas.
A trilogia de filmes O Senhor dos Anéis, dirigida por Peter Jackson, revolucionou a indústria cinematográfica e ajudou a popularizar o gênero de fantasia para um público global. Esses filmes não só ganharam prêmios importantes, incluindo vários Oscars, como também abriram caminho para a produção de outras adaptações de fantasia, como Harry Potter e Game of Thrones. Eles também ajudaram a consolidar a ascensão da cultura geek, tornando o universo da fantasia mais mainstream e aceito na sociedade.
O impacto visual e técnico desses filmes, como o uso de efeitos especiais e cenários grandiosos, influenciou a forma como os épicos são produzidos até hoje. As adaptações cinematográficas permitiram que um novo público experimentasse a Terra-média, ampliando a base de fãs de Tolkien e gerando uma série de produtos relacionados, de videogames a séries de TV.
A obra de Tolkien é amplamente estudada em círculos acadêmicos, abordando desde suas raízes mitológicas e linguísticas até suas implicações filosóficas e teológicas. Pesquisadoras/es analisam como ele integrou suas crenças religiosas, sua formação em línguas antigas e suas experiências na Primeira Guerra Mundial em suas histórias. O trabalho de Tolkien é visto como um estudo profundo da condição humana, explorando questões de livre arbítrio, a natureza do mal e a importância da misericórdia.
Estudiosas/os continuam a debater as complexidades de sua obra, incluindo suas representações de moralidade, poder e responsabilidade. Isso reflete como as obras de Tolkien transcendem o entretenimento, convidando leitores e acadêmicos a refletir sobre questões existenciais e éticas.
[5] Em diversos âmbitos, como trabalhos acadêmicos, fóruns de fãs na internet, em entrevistas com esses autores citados, é possível identificar que há uma série de aproximações entre Tolkien, que é considerado representante maior da chamada “fantasia clássica”, e diversos autores mais contemporâneos, que vão ser chamados de representantes da “fantasia moderna”. Em entrevistas e comentários críticos, eles afirmam a importância do autor que estudamos. Porém, porque os fãs e a imprensa insistem em dizer que Martin seria “o Tolkien americano”, Sanderson seria “o novo Tolkien”, é possível perceber também certa ênfase que esses autores querem dar para o que apresentam de diferente de Tolkien, seja nas suas particularidades enquanto sujeitos, inseridos em diferentes momentos históricos, geográficos e sociais, ou até mesmo em momentos irônicos de um suposta recusa da tradição, como o famoso ensaio de Sanderson “How Tolkien ruined fantasy” (atualmente indisponível para consultas, com a página fora do ar).
3.1 Sobre outros personagens
Durante a jornada, Gandalf não permanece o tempo todo com a companhia de Thorin e Bilbo. Ele se afasta em momentos-chave, o que parece enfraquecer o grupo, mas, paradoxalmente, é fundamental para o crescimento dos personagens principais, especialmente Bilbo. Esses afastamentos de Gandalf são planejados e servem para permitir que Bilbo se desenvolva como personagem. Sem a presença constante do mago, Bilbo precisa recorrer à sua própria inteligência e coragem.
A ausência de Gandalf também remete a mitos em que o guia deixa o herói no meio de sua jornada, forçando-o a se tornar independente. David Day explora essa ideia, sugerindo que Gandalf simboliza a transição entre a dependência e a autossuficiência. Quando o mago retorna, geralmente é em momentos críticos, quando a sua intervenção é necessária para salvar vidas ou mudar o curso dos acontecimentos, como quando ele ajuda a afastar os trolls ou intervém durante a Batalha dos Cinco Exércitos (p. 65 e p. 301).
3.2 O legado de Gandalf na cultura popular
Uma das principais contribuições de Gandalf para a cultura popular é sua representação como o arquétipo do mago sábio e mentor bastante trabalhado durante o artigo. Ele se tornou um modelo para muitos personagens de ficção que desempenham papéis semelhantes. Seja Alvo Dumbledore na série Harry Potter, de J.K. Rowling, ou Obi-Wan Kenobi na franquia Star Wars, o arquétipo do mentor sábio, que guia os heróis em suas jornadas, deve muito à caracterização de Gandalf. Sua sabedoria, humor seco e senso de responsabilidade moldaram a forma como outros/as escritores/as e criadores/as de histórias desenvolveram personagens de guia moral e espiritual.
A adaptação cinematográfica de O Senhor dos Anéis, dirigida por Peter Jackson, levou Gandalf para um público ainda maior, consolidando seu status como um ícone cultural. Ian McKellen, que interpretou Gandalf, tornou o personagem inesquecível para uma nova geração, imortalizando suas falas e gestos na memória coletiva. Cenas memoráveis, como “You shall not pass!” (Você não passará!), se tornaram instantaneamente reconhecíveis e foram amplamente referenciadas, parodiadas e homenageadas na cultura popular.
As influências de Gandalf também podem ser vistas em séries de televisão, nas quais personagens com traços semelhantes aparecem com frequência. A presença de figuras sábias que oferecem orientação e liderança, mesmo que de forma indireta, reflete o impacto duradouro de Gandalf. Ele ajudou a redefinir o papel do mago na ficção, inspirando novas gerações de criadores a explorar a complexidade de tais personagens. a produção audiovisual mais recente, é a série produzida pelo streaming da Amazon, Senhor dos Anéis: os anéis de poder que vai retratar mais especificamente da jornada de Galadriel e da construção dos anéis de poder e vemos o surgimento de Gandalf na última temporada lançada, interpretado por Daniel Weyman, vimos como foi sua aparição na Terra Média e seu desenvolvimento até a descoberta de que era o mago.
Gandalf também deixou sua marca no mundo dos jogos e outras mídias interativas. Jogos de mesa como Dungeons & Dragons devem muito a Tolkien, com magos e feiticeiros muitas vezes inspirados na imagem de Gandalf. No universo dos videogames, a influência de Gandalf é visível em personagens que desempenham o papel de guias ou conselheiros sábios, ajudando os jogadores a navegar em mundos de fantasia complexos. Sua figura continua a ser um modelo para personagens de jogos que combinam poder mágico com sabedoria estratégica.
Além disso, o próprio universo da Terra-média tem sido explorado em uma série de jogos, desde jogos de estratégia até aventuras baseadas em ação, em que Gandalf frequentemente aparece como uma figura central. Seu legado nesses contextos é o de um personagem que, embora não seja sempre o protagonista, é fundamental para o desenrolar da narrativa e o sucesso dos heróis.
3.3 Com novas gerações de leitores e espectadores
Com novos projetos audiovisuais sendo produzidos, como o anúncio da produção de novos filmes e a produção de novas temporadas da série na Amazon, podemos esperar ainda mais complexidade do personagem e suas mais diversas camadas, isso significa que deveremos pensar no personagem constantemente, observando como as novas gerações irão interpretar as ações e escolhas do personagem, trabalhos como esse e rodas de compartilhamento, forçando o pensamento sobre Gandalf serão ainda mais necessários.
Nessa, como em outras dinâmicas da ficção, é crucial o papel do leitor, de quem é solicitado o conhecimento dos mundos de origem que as personagens evocam a cada figuração e a disponibilidade de compreender os novos sentidos que passam a projetar. (Oliveira; Seeger, 2021, p. 63),
É papel do leitor, daquele que realmente sabe das origens do personagem, manter a sobrevivência da imagem dele, para que todas as vezes em que houver refiguração da personagem, sua essência não seja alterada, mas possa ganhar novas camadas.
À medida que novas gerações se deparam com as obras de J.R.R. Tolkien, é provável que surjam diferentes interpretações e perspectivas sobre sua literatura. A riqueza de temas, desde a luta entre o bem e o mal até questões de coragem, amizade e sacrifício, continuará a ser relevante, mas poderá ser lida através das lentes de novas preocupações culturais e sociais. Por exemplo, debates sobre diversidade, ecologia e o impacto do colonialismo podem influenciar como as pessoas interpretam o mundo da Terra-média e os temas explorados por Tolkien.
Os leitores e as leitoras jovens podem se interessar por entender como Tolkien utilizou mitologias e histórias antigas para criar algo novo, o que poderia inspirar mais reflexões sobre a interconectividade das narrativas humanas. Além disso, as questões morais e filosóficas presentes nas obras de Tolkien podem ser examinadas à luz das complexidades do mundo moderno, oferecendo novas discussões e análises acadêmicas.
Conclusão
O desenvolvimento de Gandalf como uma personagem complexo, com intenções que não são explícitas, se materializa quando compreendemos o papel fundamental de guia e bondade para os personagens que fazem parte do enredo. O mago não é só um guia para o pequeno hobbit, Bilbo, mas auxilia diversos outros personagens durante toda a saga do encontro à destruição do anel de Sauron.
Muito mais do que apenas um sábio que parece saber mais do que todos os outros, Gandalf, por inúmeras vezes, é quem impede seus companheiros de tomarem decisões desfavoráveis, ou então, aparece em momentos oportunos, como um personagem que irá resgatar todos que estão em perigo. Gandalf não tinha apenas o papel de proteger Bilbo, mas de fazer com que toda a missão de resgatar a terra dos anões fosse concluída com sucesso.
Partimos, portanto, de um recorte de determinado personagem de um romance, e percebemos como sua origem se deu, a partir da mitologia, qual foi seu desenvolvimento na narrativa e quais elementos foram importantes na sua caracterização. Enfocamos em características tais como a ideia de sacrifício, da sabedoria e do papel do poder e liderança.
Por fim, indicamos alguns impactos que o personagem Gandalf tem no âmbito mais geral da cultura, em outras mídias e contextos culturais, justificando a importância de se refletir sobre os significados e valores envolvidos na sua construção e sobrevida. É nosso desejo que este estudo contribua com as reflexões sobre o gênero da fantasia no Brasil, a partir das influências da cultura anglófona, e do que se tem pesquisado dentro e fora do país.
Referências
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FERREIRA, Thiago Destro Rosa. Mitologia na Contemporaneidade: o Legendarium de J.R.R. Tolkien. 2013. 166 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.14393/ufu.di.2013.71. Acesso em: 22/11/2024.
OLIVEIRA. Raquel. T.; SEEGER, Gisele. A personagem na narrativa literária. 1 ed. Santa Maria: Editora UFSM, 2021.
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TOLKIEN, J. R. R. O Hobbit: ou lá e de volta outra vez. Trad. Reinaldo José Lopes.1 ed. Rio de Janeiro: Haper Collins, 2019.
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