VIDA EREMÍTICA PARCIAL

VIVER UMA VIDA EREMÍTICA PARCIAL

Sobre o eremitismo parcial e secular, postado por Irmã Gema da Misericórdia Divina. Ela nos deu permissão para postar a matéria. Nós a reduzimos um pouco. Quem quiser vê-la completa, acesse, por favor, o site dela: http://vidaeremitica.com/


A Igreja Católica Apostólica Romana considera como eremitas apenas aqueles que vivem em solidão, isolamento, assídua oração e penitência, consagrando a vida a Deus e a salvação do mundo (CIC 920). O modo de vida solitária deve ser constante, contínuo e estável. Ou seja, a solidão deve ser permanente, conforme a regra de vida de cada um, na observância dos conselhos evangélicos (castidade celibatária, pobreza e obediência). (Nota nossa: A Irmã Gema admite que se faça o voto de conversão dos costumes, como os monges, em vez dos três votos acima. O voto de pobreza, por exemplo, fica prejudicado se a pessoa tem que se auto sustentar).

Existe, todavia, uma nova corrente na espiritualidade eremítica, de pessoas leigas, solteiras ou casadas, que encontram profunda afinidade com o eremitismo, e sentem grande necessidade de estarem a sós com Deus, e dedicar-se a essa solidão semanalmente ou em parte do dia.


Retiro, solidão e oração, mesmo na vida secular

Geralmente, os solteiros e viúvos trabalham meio período num emprego secular, e no outro se retiram completamente para orar, ler, escrever, estando a sós com Deus, somente. Os casados, devido às obrigações próprias de seu estado, dedicam, às vezes, alguns fins de semana, a um completo retiro, separados da família. Os momentos em que consagram a vida espiritual são de completa solidão.


Um exemplo recente é o da Serva de Deus Elisabeth Leseur (Paris - sec. XX), que mesmo sendo casada, mas sem filhos, se devotava a retiros mensais e anuais, em casas de exercícios espirituais, com a devida permissão de seu cônjuge Félix. Este, quando ficou viúvo, converteu-se por intercessão de sua própria esposa, e ingressou no convento dos dominicanos.


Serva de Deus Elisabeth Leseur- casada- sec. XX , dedicava-se ao recolhimento ocasionalmente.


O eremitismo parcial consiste, portanto, em viver os elementos da vida eremítica, na medida do possível, sem necessariamente ser um eremita em toda sua plenitude. Tal modo de vida não tem um reconhecimento oficial da Igreja, por essas pessoas não estarem de todo livres e desimpedidas numa doação integral a solidão. O correto seria até mesmo não chamá-los de eremitas, e sim contemplativos, pois ainda possuem vínculos com o século.

Algumas correntes atuais do eremitismo (Comunidade Horeb, por exemplo), porém, “adotaram” essas almas, chamando de eremitas parciais ou seculares. Algumas outras correntes chegam a dizer que essas pessoas são eremitas urbanos. Aqu usaremos sempre os parâmetros do Catecismo da Igreja Católica (920-921) e Código de Direito Canônico (cân.3 §1 e 2), e essa modalidade do eremitismo, não consta em ambas as fontes.


“O eremita tal como está escrito no Cân 603 § 2 é um fiel que não pertence a nenhum instituto de vida consagrada, e vive uma vida eremítica com certa estabilidade”. (DICIONÁRIO DE DIREITO CANÔNICO) (...)


Não há mal algum dos leigos viverem como podem a espiritualidade eremítica, porém é arriscado, chamá-los eremitas. O costume de assim chamá-los pode ter sido introduzido com uma comparação às Ordens terceiras. Um membro Franciscano da ordem terceira é considerado Franciscano terceiro. Mas a vida eremítica tem toda uma singularidade no seu carisma, que impede tal liberdade de nomenclatura, pois o eremita só é eremita de fato se está só com Deus, exceto é claro os eremitas que se encontram em mudança ou em enfermidades, e necessitam transitoriamente do cuidado de terceiros.


Aqui se trata, portanto, de pessoas que têm suas vidas totalmente estabelecidas e enraizadas no mundo, sem a menor previsão ou intenção de assumir um eremitismo definitivo, ou seja, estão impedidas, não são livres, seja por estado ou por outras obrigações de honra.


Explicado então quem são as almas que se identificam com a vida eremítica, vamos para segunda parte onde tratamos do eremitismo parcial ou secular na sua prática.


Como participar espiritualmente do carisma eremítico ?


Os leigos também são convidados a viver o carisma eremítico!

Em primeiro lugar, os que querem dedicar-se à solidão de modo secular, deve saber que no momento em que escolherem ficar a sós, devem estar desligados do mundo. Deve- se evitar ao máximo as comunicações, e consagrar-se por inteiro a seus momentos solitários, louvando a Deus.

Alguns que conhecem a Liturgia das horas, dedicam seu tempo livre rezando os salmos e hinos, próprios dessa liturgia. Pode ser também ofícios breves como o Pequeno Ofício de Nossa Senhora, da Imaculada Conceição e outros.

Uma outra parte da jornada convêm à leitura espiritual e também a Lectio Divina (Leitura orante da Bíblia). Seria interessante ler autores que falam da contemplação e solidão.

A atividade de empregar-se à meditação por meio da oração contemplativa de quietude, com o método teresiano, ou de exercícios espirituais conforme Santo Inácio, é muito perfeita. Mas o mais excelente meio de orar dentro do carisma eremítico é a Oração do coração ou Oração de Jesus (Cliquem nesse link os que não conhecem ainda), em que se invoca incessantemente o santo nome de Jesus, essa é a oração hesicasta, praticada desde os primórdios da vida eremítica e monástica.

Oração e recolhimento, fundamental para os que vivem o eremitismo parcial

Mas, o eremitismo não seria considerado assim, se não houvesse aquele gozo da solidão e silêncio puro, diante e Deus. Sem procurar exercitar-se positivamente em alguma devoção, mas apenas estar só diante de Deus, em simplicidade, sem procurar ser original. Sentir a solidão, estar só, embeber-se da solidão pura na santa presença de Deus.

Uma vez que seus horários já são muito resumidos, convêm administrá-los sabiamente. Sem fazer de todo seu tempo um devocionário sem fim, e sem ser também um enfadonho ócio improdutivo.


O local apropriado

Lugares ermos e solitários, é o ideal.

Aos que vivem a solidão em meio período do dia, convém que tenham ao menos o quarto separado, ou outra dependência da casa em que não passem muitas pessoas. Sem criar essa pequena estrutura, não será possível a solidão efetiva, ainda que temporária. Se você não tem seu espaço e está desprovido de tudo isso, há duas soluções: Ou renunciar a solidão diária e conformar-se em retirar-se apenas aos fins de semana, ou escolher uma Igreja ou convento de adoração perpétua, e se oferecer como adorador cotidiano por um período do dia ou pela noite. Seria interessante todo um período completo, ou até dois.

Ser um adorador permanente pode ser uma boa solução.

Não será uma solidão absoluta, mas terá um bom tempo para estar com Deus. (...)

Os que se dedicam à solidão nos fins de semana e feriados têm mais tempo nesses dias para adentrar na solidão e oração, em todo período do dia. (...)

O desafio de uma perfeita solidão ao menos semanal, é a luta dos que vivem o eremitismo secular (...)

Ficar perfeita e absolutamente só não é assim tão fácil... Pelo menos para os que têm familiares e obrigações que impedem... Alguns têm o seu próprio quarto, mas sempre há parentes o solicitando a todo momento.


Retiros Eremíticos

(Nota nossa: No Brasil há muitos lugares onde se pode fazer retiros eremíticos. Se você estiver interessado(a) nisso, por favor, consulte esta matéria no site da Irmã: : http://vidaeremitica.com/ ou num desses lugares: Convento Santa Maria dos Anjos).

Os eremitas diocesanos, em sua maioria, não recebem hóspedes, para dormir, a não ser se estiverem em eremitérios com a estrutura de uma hospedaria separada. Talvez algum, tenha na regra espírito de acolhimento a hóspedes e peregrinos, e os recebam dentro do eremitério. Deveria nesse caso conhecer o (a) eremita e se na norma de vida dele (a) é viável a hospedagem de terceiros.

(Veja a foto de uma monja eremita da Santa Cruz, acolhendo uma hóspede).

(A seguir a irmã fala sobre a pessoa interessada, se tiver condições financeiras, comprar uma chácara para viver a vida eremítica, ou ainda comprar um trailer. Quem quiser comprar um trailer, veja mais neste link: http://www.motorhome.wiki.br/ ) .

Sobre o trailer: Os profissionais do ramo garantem jamais ter ocorrido qualquer coisa errada, e até afirmam que é mais seguro do que uma chácara! O mais curioso, também, é que as pessoas que aderem a casa portátil, dificilmente se arrependem! Há outros nomes e outros tipos de trailer (motor-home, casa portátil).

Alguns arriscam e inclusive houve até mesmo uma eremita (Sister Wendy) que assim viveu toda sua vida eremítica, foi carmelita e ao deixar o carmelo assumiu o eremitismo sobre as rodas ! Sendo assim não deve ser tão ruim nem tampouco impossível.

Essa Eremita, talvez já seja falecida, o que indica que começou a viver assim há uns 30 anos atrás ou mais, era outra realidade social e ... fora do Brasil (Na América é muito comum o uso dos trailers, tanto que uma a cada doze famílias tem um trailer home -estatísticas do Globo Online-)..(...)


Correntes de Espiritualidade

Alguns têm afinidade especial com uma ordem: Beneditinos, Carmelitas, Taizé, Foucald, dentre muitas outras. Seria interessante agregar-se como terceiro, ou oblato dessas ordens, para pertencerem a uma família espiritual, conhecer mais contatos que tenham as mesmas afinidades e propósitos e assim gerar um leque maior de opções com o acréscimo da experiência de outras pessoas. Uns permitem que seus oblatos façam retiros e passem largas temporadas nas hospedarias ou portarias de seus conventos. É uma forma de estar unido a sua ordem preferida e viver seu carisma.

No Brasil ainda não temos variedade para expandir a espiritualidade eremítica com sua devida estrutura tanto para os consagrados como para os leigos. O que resta é usarmos os meios que estão em nosso alcance.

De um modo geral no que se trata de eremitismo, sempre o eremita terá que valer de suas forças e rendas, para conseguir estar só...

(veja também este site em espanhol, com rádio e tudo: Deus Solus)

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