AS LEITURAS DO (A) EREMITA


O QUE UM (A) EREMITA DEVERIA LER?

26/01/2021

Encontrei este texto no site dos beneditinos:



LECTIO DIVINA


Não são poucos os que defendem que o lema dos monges deva ser: Ora, legere et labora (ore, leia e trabalhe), tamanha é a importância que a leitura espiritual desempenha na vida monástica. Essa é uma leitura que se faz sozinho, na intimidade. São Bento a encara desta maneira, visto que prescreve dar-se um trabalho leve, não muito cansativo, aos que são incapazes de se consagrar à leitura, e recomenda que “se designem um ou dois dos [irmãos] mais velhos, os quais circulem no mosteiro nas horas em que os irmãos se entregam à leitura e verão se não há, por acaso, algum irmão tomado de acédia (= 1. enfraquecimento da vontade; inércia, tibieza, preguiça. 2. melancolia profunda), que se entrega ao ócio ou às conversas, e não está aplicado à leitura e não somente é inútil a si próprio como também distrai os outros” (RB 48,17-18).


A leitura é uma atividade sagrada, "sacra lectio": tem por finalidade primordial, a aquisição não de uma ciência, mas de uma sabedoria; consiste em concentrar toda a atenção da alma no texto, para lhe saborear a essência e despertar o desejo de Deus, para tentar chegar à compreensão plena da mensagem que o autor aí colocou. A leitura monástica é uma leitura rezada que desemboca na contemplação. Os medievais falaram de “oração meditativa”: o monge fica sozinho com o seu texto diante de Deus; é livre para se deter, quando deseja, numa palavra, num pensamento; retoma a leitura quando o fervor da alma começa a decrescer. Ele é bem mais livre do que nas leituras feitas a toda a comunidade, e a sua oração adquire, por conseguinte, caráter mais espontâneo, enriquecida do que ela própria recebeu pela audição da Bíblia. O monge assimila as palavras da Sagrada Escritura e nela repousa para melhor viver, em seguida, a realidade da própria oração.


Não é suficiente ouvir, ler, saborear a Palavra, mas é preciso pôr em prática na vida o que assim se recebeu. São Bento crê na eficácia da Palavra de Deus. Munido com ela, o monge combate e trabalha a fim de inseri-la na vida, apoiado na força de Deus. Anda em direção à Luz cuja a aurora já se lhe desponta.


Até aqui é o texto do site do mosteiro. Agora sou eu quem comento:


Muitos eremitas ou candidatos a eremitas têm dúvidas do que deve ler.


Para os que são iniciantes, há muita coisa boa para ser lida em nossa língua portuguesa. Talvez para quem deseje se aperfeiçoar, doutorar-se ou coisa parecida, seja importante conhecer outras línguas. Entretanto, para quem está se iniciando, há muita coisa boa em português.


Para quem se está iniciando na vida eremítica autônoma, que é o escopo deste blog, eu diria que deveria ter em mãos uma tradução boa da bíblia, como a de Jerusalém.


A Bíblia de Jerusalém traz estudos profundos sobre todos os livros bíblicos. Entretanto, antes de ler a bíblia seria bom você fazer um pequeno curso de como "entender" a bíblia. Sem isso vai ser difícil compreender os textos, que nem sempre devem ser lidos como estão escritos. Tenha os missais cotidiano e dominical e leia os comentários às leituras. Se for o caso, veja as citações que eles dão durante os comentários, a fim de comparar textos.


Outro livro que você deve ler é o Catecismo da Igreja Católica, a fim de conhecer bem nossa doutrina. Ser eremita sem conhecer o que pensa a Igreja sobre os ensinamentos de Jesus e seu legado, é frustrante e desanimador. É algo descabido. Tenho visto alguns blogs, sites e mesmo vídeos de eremitas dizendo, por exemplo, que não aceitam o Papa Francisco. Isso é um absurdo. O Papa Francisco é o legítimo sucessor de São Pedro. Enfim: instrua-se na Doutrina Católica. Eremita que não conhece a doutrina da Igreja cai em muitos erros doutrinários e isso atrapalha sua vida.


Tenha um livro perene, que você possa ler um trechinho todos os dias. Eu sugiro o livro "Imitação de Cristo". Nos mosteiros, esse livro é lido no café da manhã. Temos no nosso blog VIDA DE NAZARÉ o livro todo. É claro que mesmo esse livro deve ser lido com "óculos" da atualidade, ou seja, eliminando o que é arcaico e fora de uso em nossos dias.


Leia livros de autores santos, como os de Santa Teresa d'Ávila, os de Santa Catarina de Sena (O diálogo, Cartas), Santo Agostinho...


Leia também pelo menos alguns documentos da Igreja, ou algumas encíclicas papais. São João Paulo II escreveu inúmeras cartas e encíclicas. O nosso papa atual, idem!


Mas, sobretudo, tenha em mente que é mais vantajoso ler pouco mas bem lido, meditado, refletido, como diz o texto acima do Mosteiro Beneditino de São Paulo, do que ler muitas coisas sem se aprofundar.


Depois de muitos percalços, eu percebi que bastam poucas leituras, mas bem feitas. Alguns santos antigos nem a bíblia toda conseguiram ler, pois era muito cara, por ser escrita à mão, e só havia exemplares em latim e nas igrejas principais, e eram bem vigiadas. Só pessoas encarregadas podiam tocar nelas. É o que ocorreu, por exemplo, com S. Francisco: ele entrou na igreja e pediu que o padre lesse para ele um texto bíblico.


Se a gente praticasse alguns trechos bíblicos, como por exemplo, o sermão da montanha, de Mateus, já estaria caminhando no caminho da santidade. Uma sugestão: pegue os textos marcados na liturgia para aquele dia e não apenas os leia, mas também os estude na bíblia. Isso já dá um bom começo de integração à vida eremítica.