TEXTOS NOSSOS

 MOMENTOS DE DESERTO

As fraternidades Jesus-Cáritas, baseadas no carisma do Beato Carlos de Foucauld, têm, em seu diretório, a orientação para que todos os seus membros façam um dia mensal de deserto.

 Muitas vezes não temos condições de fazer o dia todo de deserto. Podemos, então fazer, mais vezes, momentos de deserto, com duração de uma ou duas horas, ou mesmo a metade de um dia. 

 Quanto a fazer o dia todo, das 8 às 16 h poderia ser feito num dia em que pudéssemos, talvez uma ou algumas vezes por ano. 

Quando não conseguimos nos isolar do barulho externo, lembremo-nos de que o próprio Jesus teve que se acostumar a isolar-se mesmo no meio de muitas pessoas e confusão, como lemos em Lucas 9,18: “Estando Jesus orando A SÓS, no MEIO dos discípulos...” Ou seja, ele se isolou apenas mentalmente, mas continuou materialmente no meio da multidão.

 Acredito que seja uma solução para os que não encontram um dia todo para isolar-se no dia de deserto, principalmente porque os momentos de deserto podem ser feitos mais amiúde. 


A POBREZA DO(A) EREMITA AUTÔNOMO(A)

16/10/2022 (revisada em 03/05/24)

Não sou especialista neste assunto, mas tenho me preocupado a vida toda com ele. Na verdade, muitas vezes fico apreensivo. Afinal, como podemos viver a pobreza evangélica num mundo como o nosso atual?


Os eremitas autônomos diferem dos eremitas diocesanos justamente nesse ponto, pois precisam, mais do que estes, de “se virarem” para terem como se sustentar. Não tem sentido, por exemplo, um(a) eremita autônomo(a) fazer voto de pobreza no entendimento comum do que isso implica, pois terá que ter uma fonte de sustento e guardar um pouco para emergência. O que vou dizer aqui se refere apenas aos (às) eremitas autônomos (as). Os eremitas diocesanos têm, sim, todas as condições para fazerem o voto de pobreza.


Talvez devamos pensar num modo diferente de tratar o voto de pobreza, ou seja, que seja um voto de se viver a pobreza, sem, necessariamente, ser pobre de fato. É, pelo menos, o que Mateus diz no capítulo 5, vers. 3: “Felizes os pobres em espírito (veja bem: EM ESPÍRITO) porque deles é o Reino dos Céus”.


A Bíblia de Jerusalém comenta esse “em espírito” dizendo que “embora a fórmula de Mt 5,3 enfatize o espírito de pobreza, tanto no rico como no pobre, o que Cristo quer salientar em geral é pobreza efetiva, particularmente para os seus discípulos” (comentário letra “h”).


Entretanto, há situações impossíveis de se viver uma pobreza radical de fato. Os donos de indústrias, por exemplo, os médicos, que precisam continuamente de cursos e livros e materiais caros...


Acho que é também o caso dos e das eremitas autônomos (as). Temos que pagar aluguel, se já não compramos uma casa ou um apartamentinho. Se já compramos, já não somos assim tão pobres, pois temos um imóvel, que vale dinheiro. Como fazer o voto de pobreza como ele é entendido ainda hoje?


Um frei franciscano, por exemplo, pode viver uma vida pobre, simples, mas de fato ele tem por detrás dele toda uma estrutura econômica forte e bem alicerçada, que lhe garante o sustento, médicos, aposentadoria e tudo o que se imaginar de segurança. Isso é bem diferente dos pobres de verdade, que vivem nas ruas e em casas paupérrimas. Se não for o SUS, estão perdidos. 


Podemos dizer que a Igreja Católica é pobre? Pois vi um artigo, num dia destes, dizendo que nossa Igreja é a que possui mais terras no mundo todo. Nem esses grandes magnatas a superam nisso. Nem por isso podemos dizer que ela não viva a pobreza. O que ela poderia fazer com essas terras? Nada. São terras ocupadas para a comunidade, para as funções religiosas.


Outro exemplo: um amigo meu morava em república, em São Paulo, e trabalhava num Banco. Era o que mais ganhava mensalmente entre os colegas da república. Aos sábados havia a limpeza geral da república. Havia um rodízio em que todos participavam da tal limpeza em seu dia. Se a pessoa não quisesse ou não pudesse fazer a faxina, pagava para quem pudesse ou quisesse fazer. O meu amigo quis dar uma de simples, de humilde, e ele mesmo fazia a tal faxina. 


Num certo dia, um deles resolveu esclarecer meu amigo sobre a bobeira que ele estava fazendo: “Amigo, o problema é o seguinte: eu sei que você quer bancar o pobrezinho de Jesus, o humildezinho, fazendo você mesmo a limpeza do sábado. Mas pense bem: você é o único entre nós que ganha bem, não tem muitas despesas. O mais correto para você viver essa sua pobreza, que não é pobreza nem aqui nem na China, seria pagar pra eu fazer a limpeza no seu dia. Eu ganho pouco, tenho que mandar dinheiro pra casa, e esse dinheirinho a mais iria me ajudar”.


Gente, o meu amigo ficou pasmo com essa sinceridade e essa verdade. Nem sempre viver a pobreza é dar uma de serviçal, mas pagar para alguém fazer aquele serviço. Dessa data em diante, ele começou a pagar para ele fazer a limpeza quando era o seu dia e ficou muito satisfeito com isso.


Isso muda muito, pelo menos no meu ponto de vista, a vivência da pobreza em nossos dias, principalmente para o (a) eremita. Não podemos fazer voto de pobreza de modo absoluto, pois temos que ganhar o suficiente para nossa subsistência e guardar uma pequena reserva para as emergências. Mas podemos, isso sim, viver essa pobreza no dia a dia, numa vida simples, sem exigências, sem luxo, com pequenas penitências. Sobretudo, partilhar. Partilhar o que se tem é mais penoso do que não ter. 


Que saudades daquelas reuniões vicentinas da década de 60, em que se servia café preto, pão e manteiga (a margarina ainda não era popular). Um café simples, mas num clima gostoso de partilha, de gente que se reunia para ver como poderia ajudar melhor seus pobres.


Ademais, uma pessoa que tenha instrução boa, nunca vai viver uma vida tão pobre quanto outras que não têm instrução. Se você, que é instruído, montar um barraco numa favela, tenho certeza de que o seu barraco vai ser um pouco diferente dos outros: por exemplo, vai ter na mesa uma toalha picotada de papel de embrulho, cortinas feitas de tiras de alguma coisa, ou seja, a gente sempre “dá um jeito nas coisas”.


A riqueza de ter recebido uma boa formação só a perdemos se ficarmos com Alzheimer ou Demência ou coisa desse tipo. Caso contrário, sempre a levaremos conosco, por mais pobres que sejamos materialmente.


Jesus Cristo dá-nos o exemplo de uma vida pobre, apesar de ele ser rico. Sim! Ele continuou Deus, mesmo sendo homem. O demônio o tentou para ele fazer aparecer pães para comer, no deserto, mas ele recusou. Entretanto, aceitou e comeu os pães que os Anjos lhe trouxeram. E a prova de que ele poderia ter feito aparecer os pães que o demônio lhe tentava, são os milagres da multiplicação dos pães, sobretudo no capítulo 6 de João. Jesus e os Apóstolos não passavam fome. Tanto assim que eram (embora injustamente) chamados de beberrões e comilões.


Como poderia eu terminar este artigo? As ideias fervilham em minha cabeça, mas ele se tornaria muito longo. Na bíblia vemos muito esta oração: “Senhor, não me dês nem riqueza nem pobreza”. É, acredito que atualmente devemos viver uma vida simples, mas não viver na miséria. Nós, eremitas autônomos, não podemos “nos dar ao luxo” de não ter nada, pois precisamos nos sustentar. Mas podemos, sim, renunciar às mordomias e as coisas supérfluas, e vivermos uma vida de pobre, mesmo que não o sejamos de fato. E aprender a partilhar sempre, pois, como já disse acima, partilhar é mais difícil do que não ter nada para dar.


Tudo isso que eu disse se refere ao (à) eremita autônomo (a). Os eremitas diocesanos dependem da diocese inclusive na moradia e podem, sim, fazer o voto de pobreza sem nenhum escrúpulo. 


(Um eremita autônomo)

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COMENTÁRIOS FEITOS NUMA PÁGINA QUE TÍNHAMOS NO FACEBOOK. 

Alguns comentários sobre este artigo, do facebook: 


N.E.B.A. (Chile)

Que bom artigo e um ponto muito bom, o da pobreza, a partilha e a dá do que tens, não do que te sobra, é pobreza e é Caridade, eu não tenho nada, vivo o dia a dia, entregue à Misericórdia de Deus e à Sua providência. Deus tem sido muito generoso para comigo. Sou um eremita autônomo Capuchinho Franciscano. Eu tenho minha própria regra dentro da espiritualidade Capuchinha Franciscana. Já passei aperto mas nada que me tire do caminho, a pobreza é interior e exterior, nada guardo para mim, tudo dou, como disse confio na sua Providência. Não vivo na miséria, isso é outra coisa. Não tenho nada meu. Um abraço fraterno desde a ermida San Conrado de Parzham de Antofagasta a pérola do norte do Chile. Paz e bem.


J.O.M.C. perguntou isto ao eremita N.:


N.E.B.A., é preciso algo para ser irmãozinho autônomo? Onde se registra esse tão alto título e ao mesmo tempo símbolo do martírio?


O Ir. N.respondeu: 

J.O.M.C., Irmão, não se trata de títulos mas sim de um chamado pessoal que Deus te faz de forma muito pessoal imerecido claro, eu já tenho muitos anos, antes fui religioso Capuchinho Franciscano é um chamado como disse antes e um processo de vida espiritual profundo seguindo em forma radical o Evangelho, vivendo na solidão, contemplação, trabalho, oração, penitência, o eremita vai se transformando com o correr do tempo, não é algo mágico nem de um dia para o outro. Estamos em combate dia e noite com nossas próprias fraquezas. Você deve fazer algum trabalho manual ou agricultura para sua sustentação pessoal ou estar aposentado, viver do que suas mãos produzem. Você alcança um amadurecimento espiritual. Eu aos meus quase 60 anos estou estudando e terminando a Mística Cristã, na Univ. Católica, fui professor de Dogmática no Seminário, Major Metropolitano e Univ. Faculdade católica de Teologia. Além disso, engenheiro em Administração e Finanças entre outras coisas. Também escrevi alguns compêndios sobre a Teologia da Libertação e seu centro cristológico. Etc... Espero em parte ter respondido à sua consulta, caro José. Também esta espiritualidade eremítica pode tê-la leigos vivendo com suas famílias em suas casas, sendo seu quarto sua cela, e sua casa seu mosteiro. Muitos são eremitas urbanos, vivem na cidade. Como você vê a Igreja é rica em diversidades de Carismas e muitas maneiras de servir a Cristo, e Santificar outros. Desejo-lhe que a paz e o Sumo bem estejam sempre na sua vida irmão. Um abraço fraterno do deserto de Antofagasta a pérola do norte do Chile. Paz e bem.


Outra participante, com outra mensagem:

A.L.

Já fui muito martirizada na vida religiosa por não ter dotes altos para oferecer. Agora, como eremita, perdi meus vocacionados. E perdi também a direção a seguir. Pobreza só funciona se for na alma, pois o mundo exige muito.


J.I.M.N.deixou também seu comentário:


Talvez, seja o voto mais complexo para quem quer viver os conselhos evangélicos no meio do mundo! Mas, impossível não é! Por exemplo, se o eremita já é aposentado ou mesmo se trabalha ainda, mas paga aluguel, ele não tem nada de próprio, além da sua aposentadoria ou salário e pode sim perfeitamente fazer uma Consagração porque o mais importante é o desprendimento, a pobreza em espírito. Claro, não poderá ter bens no seu nome, precisa fazer um bom uso do dinheiro, não comprar coisas supérfluas... Precisa direção espiritual boa... Numa Ordem ou Congregação torna - se menos complexo por causa do voto de obediência, mas os três votos andam juntos...


 EREMITAS AUTÔNOMOS: ISOLAMENTO, SIM OU NÃO?

Diz o Pe. Cornélius Wencel, eremita camaldulense, no livro The Eremitic Life”. pág. 96:

“Já mencionamos acima que o motivo básico para escolher a vida solitária num eremitério consiste num desejo existencial de encontrar Deus e conversar com Ele. O (a) eremita escolhe o silêncio para entrar plenamente num diálogo. Ele (ela) escolhe a solidão para encontrar de perto uma presença pessoal. O caminho do deserto não é, portanto um caminho isolado e árido, não conduz à negação de todos os valores do mundo e das outras pessoas. É exatamente o contrário: é o caminho da mútua presença, diálogo e amizade que brilha onde duas liberdades e dois corações, divino e humano, se encontram”.


Essa citação nos mostra que o (a) eremita nunca é uma pessoa solitária de fato, pois sempre está em contato com outro, ou seja, com Deus, com quem mantém um diálogo permanente.


Entretanto, no mundo atual, é muito difícil a uma pessoa se isolar plenamente. E, seguramente, isso não combina com tudo o que Jesus nos ensinou.


Jesus nunca foi uma pessoa isolada. Ele se isolava diariamente para um contato mais pessoal com o Pai, mas nunca totalmente. Eu acredito que, ao fazer isso, ele nos deu um direcionamento em nossa vida.


Eu não concordo em que deixemos de lado os dons recebidos por Deus para nos isolarmos totalmente. Sei que o maior dom que temos é o próprio Deus, mas tudo o que Jesus nos ensinou implica que estejamos em contato com outras pessoas e devemos praticar esses dons recebidos, para o bem da comunidade.


Aliás, muitas vezes o desejo de se isolar vem de um desejo secreto de fugir dos problemas. Nós até conseguimos fugir dos problemas, mas não conseguimos fugir de nós mesmos, e na solidão isso vai pesar uma tonelada.


Penso que o essencial na vida eremítica seja viver uma vida de oração, de simplicidade, de pobreza, de castidade, de trabalho humilde, mas também de amor, muito amor a Deus e ao próximo. O isolamento absoluto acredito não ser recomendável. Veja bem: eu concordo plenamente que o (a) eremita viva sozinho (a). Eu mesmo vivo sozinho, numa quitinete de 29m². Estou alertando os (as) eremitas para que não se isolem completamente. Mantenham certo contato com a comunidade.


Amar o próximo significa, antes, deixar-se amar. Deixar-se amar é muito mais difícil do que simplesmente amar. Quando nos deixamos amar, damos a chave para a outra pessoa, para que ela possa “abrir” a porta da comunicação conosco quando ela quiser, ou mesmo quando ela precisar. E isso vai nos tirar da tal “solidão”.


Diz um santo, acho que São Francisco de Sales, que, quando estivermos orando e alguém nos interromper porque precisa de nós, podemos, sem problema de consciência, deixar a oração e ir ajudar a pessoa.


Jesus nos deu esse exemplo ao contar a história do bom samaritano. Sabem por que o sacerdote e o levita não o atenderam? Porque estavam indo para a igreja rezar. Se eles tocassem o homem caído e machucado ficariam impuros, segundo a lei deles, e não poderiam ir à igreja rezar. Sabem por que o samaritano o atendeu livremente? Porque seu povo não seguia essa lei absurda e não ia ao templo dos judeus. Eles adoravam Deus em outro lugar.


É certo deixar de atender alguém porque temos que rezar?


É certo deixarmos todas as pessoas falando sozinha porque temos que nos isolar?


Jesus nunca deixou ninguém falando sozinho. Ele e os apóstolos não tinham tempo nem de comer. Esse foi o exemplo que eles nos deixaram. Mas, o mais importante, mantinham uma vida de oração contínua e profunda.


Acredito que é isso que o (a) eremita autônomo deve buscar: nunca deixar o clima de oração, mesmo que tenha que estar em contato com outras pessoas. Precisamos fazer como Jesus em Lucas 9,18: “Certo dia ele (Jesus) orava em particular, cercado dos discípulos, aos quais perguntou:”.


Percebam que Jesus não estava sozinho: estava cercado pelos discípulos. Mas estava orando em particular, ou seja, fazendo uma oração pessoal. Ele nunca deixava de orar, mesmo no meio da multidão. Isso se consegue quando temos uma vida de oração: conseguimos ajudar as pessoas sem deixarmos de estar unidos a Deus, quando oferecemos esse trabalho para louvor a Deus.


Portanto, você, que está vivendo uma vida de eremita na cidade, sozinho (a), mas sem isolamento, não se preocupe: esmere-se na oração, nesse contato íntimo com Deus, viva as virtudes plenamente, e saiba que está agradando a Deus com sua vida de oração e praticando os seus dons em benefício ao próximo.


Quem não pensa assim, me desculpe. Diz São João, em sua carta, que mostramos que amamos a Deus se amamos o próximo. Como amar o próximo se eu me isolar? Longe de nós sermos eremitas rabugentos e insociáveis!


Ficar sozinho facilita muito a vida, é bom, pois fazemos o que bem entendemos. Mas... será que isolar-se de tudo e de todos agrada a Deus, que na Pessoa de Jesus quis nascer numa família pobre, viveu a vida toda rodeado de gente, e ao morrer pediu para São João levar sua mãe para morar com ele e não ficar sozinha? Minha mensagem é esta: viva sozinho(a), se esta for sua vocação, esmere-se na simplicidade, na pobreza, na oração contínua, como diz S. Paulo, na humildade, no trabalho diário, mas não se isole do mundo. Aliás, seria bom fazer-se esta pergunta: “Qual é o verdadeiro motivo pelo qual eu quero me isolar de tudo”?


   OPÇÃO FUNDAMENTAL E PECADO MORTAL


14/12/2022


Há uma corrente teológica que tem feito estrago na Igreja. Em palavras simples e rápidas, diz que as pessoas que fazem uma opção fundamental por Deus, pela bondade, não fazem pecado grave, mesmo que a matéria seja grave.


O papa São João Paulo II foi muito contra essa ideia, e alertou para o fato do erro que ela pode induzir nas pessoas. Em sua Carta- Encíclica “Veritatis Splendor”, ele afirma que: “A orientação fundamental, pode, pois, ser radicalmente modificada por atos particulares”. Ele faz uma citação de um documento que já havia falado disso, “Reconciliatio et Paenitentia (exortação apostólica pós-sinodal), de 02/12/1984, 17, MS 77 (1985 ), 221.


Diz ainda São João Paulo II que o pecado mortal ocorre, também, quando o homem, “sabendo e querendo, por qualquer motivo escolhe alguma coisa gravemente desordenada. Com efeito, numa escolha assim já está incluído um desprezo do preceito divino, uma rejeição do amor de Deus para com a humanidade e para com a criação: o homem afasta-se a si próprio de Deus e perde a caridade” (Veritatis Splendor, nº 70).


Devemos ter cuidado para não nos enganar no caminho para a vida eterna. O demônio nos engana com uma facilidade incrível. Se amamos de verdade a Deus e queremos realmente nos salvar, precisamos nos conscientizar de que a “opção fundamental” deve ser mantida e cultivada constantemente e sempre, nunca pode ser interrompida e, segundo lemos acima na fala do Papa, é interrompida, sim, com um pecado grave.


As consequências de acharmos que a opção fundamental nos impede de cometermos pecado mortal é funesta: pode levar as pessoas a cometerem pecados horrorosos e acharem que continuam na Graça divina.


É sempre bom lembrarmos que todos temos defeitos e muitas vezes má-formação do caráter, muitos ainda problemas psicológicos sérios, mas, se a partir disso a pessoa praticar pecados mortais, está no caminho errado.


Deus nos dá toda a força de que precisamos para sermos santos e não cometermos nenhum pecado. Mesmo que a pessoa tenha problemas sérios em suas tendências, pode, com a graça de Deus, viver uma vida de santidade, de castidade, de amor, de paciência, de humildade, de caridade.


Eu cheguei à conclusão de que a opção fundamental nos ajuda muito talvez numa coisa: voltarmos ao Pai quando pecamos e nunca desanimarmos no caminho da santidade. Precisamos nos reconhecer fracos e pecadores e sempre nos conscientizar dos pecados que fazemos, lutando muito e sempre para não mais cairmos após confessarmos.


VIDA DE ORAÇÃO: COMO COMEÇAR

Segundo Santa Teresa d’Ávila


19/04/2021


Todos os santos souberam rezar com perfeição. Entretanto, alguns deles precisaram aprender a orar, e com muito sacrifício e persistência. 

São Carlos de Foucauld, por exemplo, que está para ser canonizado, só conseguia fazer esta oração: “Senhor, se existis, fazei com que eu acredite em vós”. E Deus ou ouviu. Ele passou a acreditar em Deus e entregou-se plenamente à vida consagrada. Bem mais tarde, já imerso numa vida santa, ele dizia: “Rezar é olhar para Jesus amando-o”. São João Maria Vianney dizia a mesma coisa: “Rezar é olhar pra Jesus, e ele olhar pra você”.


Santa Teresa fala muito sobre a oração, e vai graduando a intensidade, até uma oração perfeita em que a pessoa se integra com o poder irradiante de Jesus. Num de seus livros, ela fala sobre como iniciar uma vida de oração (Livro da Vida, capítulo XIII, final do bloco 11:


- Devemos nos imaginar diante de Cristo;


- Abandonar um pouco o intelecto, os raciocínios;


- Apresentar ao Senhor nossas necessidades;


- Lembrar-se de inúmeros motivos que Jesus teria para não nos admitir tão junto dele (por exemplo, os pecados que cometemos).


- Alternar entre uma ideia e outra, para que saboreemos com alegria essa nossa conversa com Ele.


Ela conclui esse raciocínio dizendo: “Se o paladar se acostuma a saboreá-los, trazem consigo grande substância para dar vida à alma, além de muitas outras vantagens”.


No bloco 12 ela continua as orientações de nossa oração:


- Pôr-se a pensar num passo da paixão, como por exemplo o Senhor atado à coluna, e, com o intelecto, buscar razões para avaliar as grandes dores e o sofrimento que Ele teria ali tão só, e, a partir disso, progredir no raciocínio: “por quem as sofreu, quem é e o que padeceu e com que amor as passou”. Mas sempre lembra que não exercite demais o raciocínio, mas antes, deixe-se ficar ali, com Jesus, deixando um pouco de lado o raciocínio. Lembrar-se de que Jesus nos está olhando, fazer-lhe companhia, falar, pedir, humilhar-se, rejubilar-se com ele e lembrar-se de que ele não merecia estar ali.


E a santa conclui: “Este é o modo de oração própria para todos, quer estejam no começo, quer no meio, quer no fim. É caminho excelente e seguro, até que o Senhor os eleve a favores sobrenaturais”.


Lembra também que, embora haja muitas outras meditações além da “sagrada paixão”, como por exemplo considerar-se no inferno, ou meditar sobre o céu, ou pensar na morte, ou sobre a grandeza de Deus nas criaturas, no amor que Ele nos tem e que se manifesta em todas as coisas, mas diz, no final, que embora isso tudo seja maneira admirável de proceder, hão de voltar muitas vezes à paixão e à vida de Cristo, “que é a fonte de onde nos tem vindo e virá sempre todo bem”.


A pessoa que está começando na vida de oração, diz a Santa, deve estar

“atento para conhecer o que lhe traz maior proveito”. Para isso, é necessário que uma pessoa a instrua, e que seja experiente.


No caminho da oração devemos ter sempre a lembrança de que somos pecadores e nos conhecermos profundamente. A humildade em relação à imagem que fazemos de nós próprios é muito importante. Eu, particularmente, acho que o primeiro passo para essa nossa atitude humilde é aceitarmo-nos como somos. Todos os dias eu rezo uma oração que eu mesmo compus: “Senhor, que eu me aceite como sou. Aceitai-me também como sou, mas transformai-me naquilo que desejais que eu seja”. Vi essa ideia num dos escritores antigos, se eu não estiver errado, no Dom Valfredo Tepe.


Santa Teresa lembra que nós pagamos muito pouco a Jesus pelo tanto que lhe devemos.


A santa faz uma observação muito forte em relação à falta de capacidade de muitos diretores espirituais daquele tempo, que davam orientações erradas às pessoas. Ela preferia pessoas doutas em teologia: “Já disse que é necessário mestre espiritual, mas se este não for instruído, haverá grandes inconvenientes. Ajudará muito tratar com homens doutos, desde que sejam virtuosos. Ainda que não estejam muito adiantados na vida espiritual, farão bem”.


É, amigos e amigas, a oração é um caminho árduo e longo. Santa Teresa fala muito das dificuldades que teve em chegar ao ponto em que chegou. Eu acho muito correto dizer que é orando que se aprende a orar. Como disse o Pe. Arturo Paoli num de seus livros, “É caminhando que se abre caminho”. Se não rezarmos, se não iniciarmos uma vida de oração buscando progredir nela e nos aperfeiçoarmos, nunca sairemos do sopé da montanha da vida espiritual. 


VIVER COMO EREMITA

(08/05/2019)

Há pessoas que pleiteiam uma vida ente a ativa e a contemplativa. Uma dessas pessoas é o Pe. Bernardim Schellemberger, que foi monge e saiu, tornando-se pároco de uma aldeia periferia da Alemanha. Eis o que ele diz a respeito:


"A pura vida contemplativa facilmente nos leva demais para a inatividade ou, o que falando nos devidos termos, ainda é pior, a nos absorver com atividades objetivas e relativamente fúteis, ameaçando a perda duma visão acurada. Por outro lado, uma vida puramente ativa nos leva, mais dia menos dia, à superficialidade e à ignorância e, finalmente, a um ativismo estéril". Bernardim Schellemberger, monge trapista alemão exclaustrado e pároco de uma aldeia de periferia da Alemanha. 


E você, amigo(a), o que acha dessa ideia dele? Pode ser verdadeira!


O (a) eremita deve não só ter momentos de oração em sua vida, mas fazer de sua vida uma oração. Sto. Agostinho diz que isso acontece quando nos preocupamos em estar em estado de graça e oferecermos tudo o que fazemos a Deus. Lembre-se o(a) eremita que nesses momentos de oração está ligado a toda a Igreja orante. Não está sozinho(a). 


O (a) eremita deve ter uma regra pessoal que regule sua vida de silêncio com sua vida social, a fim de que nenhuma das duas extrapole o necessário e o desejado para se cumprir o propósito dessa vocação. 


Sem uma vida de silêncio como a de Maria não vai ouvir Deus lhe falando ao coração, como Maria tão bem o soube fazer. Deve buscar em tudo a santidade. A fraternidade, cordialidade, sensatez, sobriedade, caridade evangélica, humildade, misericórdia, paciência, devem estar presentes em todas as suas atitudes para com as pessoas. Os contatos a todos os níveis: cartas, telefone, tevê, saídas, devem ser sempre controlados pela sua sensatez e busca do paraíso, de modo a não quebrar sua vida de contemplação. 


Acredito que o (a) eremita possa participar de algum grupo da comunidade, que não lhe tome muito tempo. Isso o (a) ajudará muito na compreensão da espiritualidade cristã e no relacionamento com os irmãos, evitando que sua solidão se torne algo doentio. Não aconselho a catequese, pois esta envolve muito a pessoa. 


Quanto à presença de pessoas em sua casa, o (a) eremita deve tomar muito cuidado. No judaísmo e no cristianismo primitivo a hospedagem era a estrela maior da vida de alguém que buscasse Deus. No caso do (a) eremita, receber muitas vezes pessoas no eremitério pode ser um fator de dissipação da vida de oração e de silêncio, mas a caridade, como diz o próprio Jesus, é maior do que todas as virtudes. Se for por caridade, não vejo nenhum problema. Entretanto, deve conseguir um modo de ajudar as pessoas sem que elas estejam a todo o momento em sua casa. 


Quanto à penitência, cada um (a) veja o que pode fazer. A Igreja pede que façamos penitência em todas as sextas-feiras do ano. Nossa Senhora, em Medjugorje, pede que jejuemos a pão e água nas quartas e nas sextas, pela conversão dos pecadores. Se você não consegue fazer isso, veja outras penitências que possa fazer e substitua esse jejum por elas. Mas é preciso fazer penitência. Faz parte da vida eremítica. 


A penitência agrada a Deus, ajuda na conversão dos pecadores, nos santifica, nos fortalece para a luta contra as tentações e nos dá um maior preparo para caminharmos na santidade. 


Pobreza: estilo de vida pobre em tudo, simples, limitando-se aos gastos necessários. Não buscar comodidades desnecessárias. Não ficar dependente de companhia. Estar ligado (a) ao famoso lema beneditino: “Ora et Labora”: reze e trabalhe. 


Para isso tudo, fazer um horário pessoal e segui-lo o melhor possível, não dando nenhum espaço para o ócio. 


O(a) eremita deve conseguir um(a) diretor(a) espiritual que o(a) auxilie na caminhada e evite que sua vida se torne falsa, só aparente. A vida do (a) eremita deve pautar pela autenticidade e santidade. Ou se é ou não se é eremita. Não deve existir meios termos: “parece que é mas não é”. 


Seria bom fazer algum tempo de experiência em algum mosteiro. Há vários tipos de mosteiro que aceitam hóspedes temporários. 


Estudar sempre a Bíblia e os livros de formação humana e religiosa. Ler sempre leituras espirituais. Sobretudo, refletir diariamente sobre as leituras da Missa. Essa formação deve ser permanente, sem tréguas e sem desânimo. 


A ASCESE ATUAL

06/03/2022

Muitos (as) eremitas talvez se perguntem, como eu, como ficam atualmente aquelas penitências exageradas de antigamente, como flagelo, cilício... Serão ainda agradáveis a Deus?


Muito tenho pensado nisso, até que hoje de manhã, lendo a explicação das leituras de hoje no missal dominical (1º domingo da Quaresma, as tentações de Jesus), deparei com uma explicação da qual gostei muito. Tantas vezes nos últimos 49 anos a li, mas nunca tinha percebido isso. Pode ser que ajude a você também. É de Paulo Evdokimow e está citada no comentário inicial do missal dominical do primeiro domingo da Quaresma ano C:


“A ascese cristã nunca foi fim em si mesma; é apenas um meio, um método a serviço da vida e, como tal, procurará adaptar-se às novas necessidades. Outrora, a ascese dos Padres do deserto impunha jejuns e privações intensas e extenuantes; hoje, a luta é outra. O homem não tem necessidade de sofrimento suplementar. Cilício, cadeias de ferro, flagelações, correriam o risco de extenuá-lo inutilmente. A mortificação da nossa época consistirá na libertação da necessidade de entorpecentes, pressa, ruídos, estimulantes, drogas, álcool sob todas as formas”.


“A ascese consistirá, acima de tudo, no repouso imposto a si mesmo, na disciplina da tranquilidade e do silêncio, onde o homem encontra a possibilidade de concentrar-se para a oração e a contemplação, mesmo em meio a todos os ruídos do mundo, no metrô, entre a multidão, nos cruzamentos de uma cidade. Consistirá principalmente na capacidade de compreender a presença dos outros, dos amigos, em cada encontro. O jejum, ao contrário da maceração imposta, será a renúncia alegre do supérfluo, a sua repartição com os pobres, um equilíbrio espontâneo, tranquilo”.


Depois que li o texto percebi que hoje, realmente, há muitas formas de fazermos penitência e talvez nem percebamos. Uma delas, por exemplo, é sermos mais “mansos e humildes de coração”. Essa frase tem muitos significados. Um desses significados é o “estar sempre à disposição” de quem quer que necessite de nossa atenção. Muitas vezes estamos tão preocupados com nossas orações e penitências que não fazemos a que Jesus mais preza: o amor ao próximo, o atendimento tranquilo e humilde a quem precisar de nós. Eu acho que essa é a maior penitência que existe.


Vejo, por exemplo, que muitos católicos se tornam evangélicos por não se sentirem bem acolhidos nas igrejas católicas que frequentam. Os evangélicos dão 10 a zero em nós nesse item. Diz São Francisco de Sales que o atendimento a quem necessita de nós até substitui a oração que estivermos fazendo no momento em que a paramos para atendê-lo.


Em nossa vida diária podemos prestar mais atenção se estamos cumprindo o amor que Jesus pede de nós em tudo o que fizermos. E se olharmos bem, veremos muitas coisas até fáceis ao nosso redor que não víamos até então, e que são passíveis de serem nossa penitência. Mas se nossa penitência for misturada com impaciência, individualismo, pouco caso, questão de obrigatoriedade, rixas, pensamentos de julgamento dos outros, de intolerância, de vaidade, de vanglória (São padre Pio lutava muito contra a vanglória), de interesses mesquinhos etc., não será agradável a Deus. 


EREMITAS INDIFERENTES

22/06/22

Em Lucas 16, 19-31, a história do rico e de Lázaro nos leva a refletir no fato de que ali não diz que o rico era má pessoa, que fazia o mal, que era criminoso ou coisas desse tipo. 


Ali apenas diz que ele era indiferente aos sofrimentos de Lázaro. Não se preocupava nem em saber se ali na frente de sua casa havia alguém passando fome.

É assim que Antônio Pagola descreve a situação: “O rico não é julgado como explorador. Não se diz que é um ímpio afastado da Aliança. Simplesmente, desfrutou da sua riqueza ignorando o pobre. Tinha-o ali mesmo, mas não o viu. Estava no portal da sua mansão, mas não se aproximou dele. Excluiu-o da sua vida. O seu pecado é a indiferença”. (Antônio Pagola, BH).


Eu me arrepiei quando li esse comentário. Podemos ser pessoas ótimas, não fazermos nenhum pecado, mas estarmos indiferentes à pobreza, aos necessitados.


Como eremitas, digo sempre isso, não podemos nos alienar do mundo, dos problemas que nos cercam. Caso façamos isso, não estaremos sendo verdadeiros eremitas, mas pessoas fugindo das responsabilidades sociais e caritativas. Aliás, não precisamos ficar preocupados em fazer penitências. O cuidado com os pobres já é uma verdadeira penitência mas que, aos poucos, se transforma em alegria e bem-estar.


Quero ainda lembrar Mateus 25, em que mostra o Juízo Final e o que Jesus vai nos perguntar: “Eu estive com fome... com sede... nu... preso...” etc. Não vai perguntar se tomamos banhos frios ou quentes. Não sei se vocês sabem, mas Santo Antão, que morreu perto dos 104 anos de idade, nunca tomou banho e se orgulhava disso. E é santo. Mas uma coisa que ele sempre fazia era ajudar a resolver os conflitos da Igreja do seu tempo. Se quiser saber mais sobre esse santo, veja neste link: Santo Antão.


Por isso, eu lembro a todos (as) os (as) eremitas que vivam sua vida de contemplação, mas não abandonem o serviço aos pobres e necessitados. Ser eremita não significa afastarmo-nos do dever de assisti-los.  


CASTIDADE, SECRETO MARTÍRIO

31/10/2022


Nós admiramos muito os santos mártires, que enfrentaram fogo, animais, espadas, com muita paz e oferecimento de si próprios, por amor a Deus.


Nestes dias, em minhas meditações, algo está martelando a minha cabeça: a castidade pode ser comparada, com toda a certeza, com um martírio! E é um martírio secreto, pois dentre todos os vícios, o que mais se pode esconder são os que vão contra a castidade, a não ser que haja uma gravidez decorrente de algum relacionamento íntimo, ou alguma coisa desse tipo.


Como podem as pessoas saberem se estamos guardando a castidade? Na maioria das vezes, não há como.


Guardar a castidade significa estar constantemente em luta, luta contínua, acirrada. Um pequeno deslize pode ser a causa da ruína total de uma pessoa que esteja lutando contra si mesmo para ser casto(a).


Como eu já disse em outro artigo, a castidade nos traz muita paz e tranquilidade interiores. As pessoas que não a guardam estão sempre ávidas de prazer, de um prazer que nunca se sacia e que nos traz muitos aborrecimentos, angústias, desânimos, falta de interesse pelas outras coisas e assim por diante. Muitos até cometem suicídio, tal o desespero que corrói seu interior.


Outra vantagem da castidade é que perdemos o interesse individualista pelas pessoas, ou seja, deixamos de desejar as pessoas para nosso prazer. Quem não guarda a castidade geralmente faz uma seleção de pessoas de seu convívio: escolhe sempre as que mais o(a) atrai, fazendo pouco caso nos mais idosos, nos menos prendados esteticamente falando etc. Quem guarda a castidade não faz acepção de pessoas: ama a todos e a todas igualmente, sem interesse sexual por nenhuma. É claro que, muitas vezes, as pessoas castas sentem atração por este ou aquele tipo de pessoa, mas como está acostumado(a) a guardar a castidade, sabe como controlar seus instintos.


A convivência das pessoas castas é universal, ou seja, abrange pessoas de todas as idades, tipos, mesmo sendo esteticamente desfavoráveis, porque não olha o corpo e o porte físico delas, mas sim, o interior.


É incrível como passamos a conhecer melhor as pessoas quando excluímos de nossa mente qualquer interesse sexual por elas! Descobrimos o que há por dentro daquela beleza exterior toda, ou por dentro daquela “feiura” exterior toda. E muitas vezes nos espantamos pelo fato de nunca termos antes visto essa beleza interior naquela pessoa.


Isso é tão verdade que certa vez perguntaram a um sacerdote a cor da empregada dele. Ele precisou pensar, porque nunca havia reparado se ela era mais para o negro do que para o branco, ou vice-versa. Sua amizade por ela era acima de qualquer interesse corporal. A sua empregada era morena. E ele só descobriu isso depois de vê-la, após essa pergunta que lhe fora feita.


É maravilhoso ser casto(a). Deus se apresenta a nós com maior intimidade, com maior amizade, e Maria também. Nosso Anjo da Guarda se mostra mais ativo em nossa vida, e uma alegria interior cresce a cada dia. Nós nos sentimos livres, seguros, e as cores do universo se tornam mais coloridas, mais fortes. Começamos a perceber a beleza das pessoas e da natureza de forma diferente do que em nosso tempo talvez de não-castidade.


Há muitos santos e santas que viviam uma vida até devassa, nesse ponto, mas se converteram e se tornaram santos felizes, amigos das pessoas, muito procurados. Um deles é São Carlos de Foucauld. Quando mais jovem, sem fé alguma, ele tinha uma amante francesa chamada “Mimi”. Vejam só! Ele era milionário, participava de festas o tempo todo, mas se enjoou disso. Começou, então, a pedir a Deus: “Meu Deus, se vós existis, fazei-me acreditar em vós!” E a graça foi-lhe concedida. Desde que ele passou novamente a acreditar em Deus, não conseguiu viver outra vida que não fosse uma dedicação plena a Ele. Entrou numa Trapa (mosteiro rigoroso), mas saiu de lá porque queria viver uma pobreza maior, e acabou indo viver no deserto do Saara, em Tamanrasset, com o povo mais atrasado do mundo naquele tempo: os tuaregues. E aí, foi feliz. Casto e pobre. Quando era devasso e rico, era infeliz. Morreu assassinado por um jovem maometano, que disparou sem querer a arma quando o segurava, numa invasão de um grupo à sua casa, no dia 01/12/1916, aos 58 anos.


Nós talvez não morramos mártires, mas podemos, sim, abraçar esse martírio diário da castidade. É um martírio silencioso, ninguém vai ficar sabendo com certeza se somos ou não castos, mas Deus, Maria e nosso Anjo da Guarda vão saber. E vão nos apoiar e nos paparicar. Ô coisa boa! (como diz sempre o dom Angélico, bispo emérito de São Paulo).


 NO SILÊNCIO E NA CONFIANÇA

27/03/2022

Diz Isaías 30, 15: “Na conversão e na calma estava a vossa salvação, na tranquilidade e na confiança estava a vossa força” (bíblia de Jerusalém).


A Liturgia das Horas mostra uma variação nessa tradução: “Sereis salvos, se buscardes a salvação e a paz; no silêncio e na esperança estará a vossa força” (Oração das 15 h do 4º domingo da quaresma).


Logo ao ler hoje às 15 horas essa leitura, veio-me à mente não tanto o silêncio físico, o estar em silêncio, mas o estar atento às palavras do Senhor. Estar em silêncio, aí, mais do que simplesmente estar sem falar ou sem barulho, é estar pronto a ouvir o que Deus tem a nos dizer. Tanto assim, que logo após pedir o silêncio, o texto fala sobre a confiança, a esperança. Quem tem confiança ou esperança em

Deus, ouve o que Ele tem a dizer, e para isso é preciso, é claro, estar em silêncio. No barulho não se entende a voz de Deus. Ela parece misturada com as outras vozes, e não a distinguimos.


A tranquilidade, a calma, a confiança, são frutos desse ouvir Deus e estar interessado em fazer aquilo que Ele quer que façamos. No caso de qualquer vocação que achamos que temos, é preciso perguntar sempre se é aquilo mesmo que Deus quer de nós. De nada adiantam as minhas orações, principalmente a do Pai-nosso, se eu não estiver realmente interessado em saber o que Deus quer de mim. No Pai-nosso eu repito sempre: “Seja feita a Vossa vontade”. Se eu não estiver em silêncio, principalmente no sentido de que estou ouvindo o que Deus quer me dizer, nunca vou fazer realmente a Sua santíssima vontade.


Mesmo entre os(as) eremitas, que se propõem a viver em silêncio, esse silêncio pode ser, muitas vezes, um silêncio no mínimo neutro, que não leva a nada. Além do silêncio físico, é preciso calar nossa autossuficiência em achar que sabemos de tudo, que podemos tudo. Sobretudo, devemos ter cuidado para não deixarmos nos levar por tantas bobagens que estão sendo veiculas por muitos vídeos do YouTube, geralmente contra o Papa, contra a Igreja, contra Jesus Cristo, contra a bíblia... Há coisas absurdas que estão sendo ditas, talvez fruto do maligno.


Estar em silêncio é estar diante de Deus ouvindo o que Ele tem a nos dizer. E geralmente Ele nos fala por meio das Sagradas Escrituras e da própria Igreja. Se as negarmos (a Escritura e a Igreja), como saberemos onde está a vontade de Deus? Se houver algum ensinamento que seja contra a nossa sã doutrina, é claro que deve ser rejeitado. Mas Jesus Cristo prometeu que o Espírito Santo sempre estaria com a Sua Igreja. Acreditamos ou não nessa Sua palavra?


E um ponto principal da vontade de Deus é que nunca esqueçamos o amor pelo próximo. Não façamos de nossa vida uma vida isolada, egocêntrica, em que pensamos apenas em nós mesmos, mas, como diz São João, nossa vida seja baseada no amor a Deus e ao próximo. Mesmo os e as eremitas não podem deixar de lado o próximo. Seria contrariar a vontade Santíssima de Deus, proclamada por Jesus. O capítulo 25 de Mateus mostra o Juízo Final como uma prestação de contas sobre o que fizemos ou deixamos de fazer aos demais que vivem neste mundo.


Por favor, tenha muito cuidado com o que você vê na Mídia. Há mesmo canais que se dizem católicos que estão espalhando a cizânia em aparência de trigo. Se estivermos com a Igreja em que o Papa Francisco é o legítimo sucessor de Pedro, dificilmente erraremos. 


O SANTO ÓCIO

04/03/2022

A Rússia está invadindo a Ucrânia e muitos estão morrendo. Perigo da terceira guerra. O Coronavírus está ainda se infiltrando em muitas pessoas neste momento e algumas ainda estão morrendo.

Muitos estão desempregados, muitos estão passando fome... Minha agenda de hoje está cheia. Preciso ainda preparar o meu almoço. Muitos estão trabalhando... eu já me aposentei. Deixei de certa forma tudo isso e muito mais do que ocorre no mundo, mas também “embrulhei” tudo e me deixei colocar diante do Santíssimo, nesta capela, num santo ócio.


A oração silenciosa é pesada e difícil para mim. Prefiro a oração tipo “bate beiço”, como diz um amigo meu. Mas muitos santos elogiam e aconselham a oração contemplativa silenciosa, como Carlos de Foucauld (dia 15/05/22 será ‘ou foi’ canonizado). Ele diz em “Meditações sobre o Evangelho” (1):


“Oremos a Deus sem muitas palavras, mas com muita fé, humildade, amor, confiança filial: pode-se orar a Ele sem palavra alguma. Um olhar, um desejo, uma elevação humilde e terna para Ele é suficiente”.


Vejo atualmente quão difícil é, para as pessoas, deixarem tudo para como Maria, irmã de Marta, ficar apenas olhando e escutando Jesus por algum tempo.


Toda nossa azáfama diária resultará em nada se não encontrarmos esses tempos de oração e, sobretudo, num determinado período diário.


Eu lhes confesso: para mim é um martírio ficar olhando para Jesus sem “bater beiço”. Mas tento reservar um momento diário para isso. Assim mesmo, há dias em que adormeço sentado e diante dele. Imaginem se você receber uma visita que dorme diante de você enquanto conversa... seria no mínimo cômico. Pois eu devo ter feito Jesus sorrir muitas vezes. Que paciência Jesus deve ter para comigo!


Mas acho que o importante é tentar. Quem não tenta, nunca vai conseguir. Espero que os meus “roncos” diante de Jesus, durante as orações silenciosas, diminuam e, em breve, eu consiga permanecer contemplando-o, na Eucaristia, num “santo ócio”. Como isso faz bem! (aliás, esses cochilos diante do Santíssimo são mais deliciosos que o sono noturno). E, de vez em quando, durante a contemplação, eu “bato o meu beiço” pedindo-lhe que acabe com a guerra da Rússia-Ucrânia, que acabe com a Covid-19, que os desempregados consigam emprego, que ninguém mais morra de fome no mundo, que as pessoas consigam ficar mais tempo ser ver televisão, sobretudo as diabólicas novelas, que tantas ideias erradas colocam nos que não conseguem viver sem elas (conheço uma amiga que mesmo estando num velório dá um jeitinho de não perder a novela), que os jovens sejam orientados a uma vida de sobriedade, de oração e de engajamento em meio às suas conquistas, que os doentes se curem ou, quando isso não for a vontade divina, que aprendam a oferecer suas dores pelas intenções de Maria etc.


(1) -Citado no dia 30 de agosto no livrinho “Um pensamento para cada dia, de Charles de Foucauld, da editora Ave-Maria.  


CANAIS DA MÍDIA EQUIVOCADOS

15/02/2022

Este tema é tão delicado que nem sei como abordar.

Quando me sobra algum tempo, gosto de ver no YouTube alguns vídeos sobre as aparições de Maria ou outras reflexões interessantes e proveitosas para o dia a dia.


Infelizmente tenho deparado com muitos canais, alguns até católicos, que estão caindo na ribanceira, rumo ao erro e à balbúrdia.


Em vez de falar o que eles estão dizendo de errado, escolhi dizer o que nós devemos pensar e fazer de correto:


1- SOBRE A ETERNIDADE DIVINA


Deus é Eterno, ou seja, nunca teve princípio nem terá fim. Não é difícil: é impossível imaginarmos Alguém sem começo. Sem fim é mais fácil entender, pois nós também somos imortais. Não tem sentido, portanto, canais do YouTube ficarem fazendo perguntas como “quem criou Deus”. Nós, católicos, devemos acreditar e pronto. Simples assim.


2- SOBRE O PAPA


Quanto ao Papa, como Bento XVI renunciou (seja qual tenha sido o motivo), o Papa atual, Francisco, é o verdadeiro sucessor de São Pedro. Eu não gosto de dizer “representante de Cristo na terra” porque Jesus continua presente na Eucaristia, nos Sacramentos, e “onde dois ou mais estiverem reunidos” em seu nome. O papa deve ser obedecido, a não ser que falasse algo contra a doutrina católica e que nos levasse a pecar, o que não aconteceu até agora.


Ademais, corremos o risco de cairmos no mesmo erro que os fariseus e doutores da lei, no tempo de Jesus, que se apegaram tanto às suas doutrinas que rejeitaram a novidade trazida por Jesus Cristo. Assim, se o Papa sugerir algumas mudanças que venham a melhorar a caridade, o entendimento, a prática da fé, devemos acatar, desde que não sejam pecados.


Podemos até discordar de algumas atitudes do Papa, mas não podemos dizer que ele não é Papa. Até N. Senhora, nas aparições, o considera o verdadeiro papa. Pelo menos nas aparições de Medjugorje. Ademais, vamos ser julgados pelo que fazemos por obediência. Se não obedecermos a ensinamentos corretos, vamos ser duramente julgados no Juízo após a morte. Um dos pecados que mais desagradam a Deus é a desobediência. Por exemplo, o demônio é demônio por ter desobedecido a Deus. Nós vivemos “num vale de lágrimas” porque nossos primeiros pais desobedeceram a Deus. Jesus foi morto porque os fariseus e doutores da lei desobedeceram a Deus.


3- SOBRE AS APARIÇÕES


Quanto às aparições de Maria, devemos ter muito cuidado com as interpretações que se dão a elas. Muitos se ligam apenas às previsões e aos milagres e não refletem sobre os pedidos incessantes de conversão que Maria nos faz. Alguns canais mostram as previsões que ocorreram, mas nunca dizem com certeza quais ainda vão ocorrer, quando e como. Se uma previsão só é conhecida depois que acontece, para que servem? Eu respondo: servem para nos levar à conversão, sem nos preocuparmos quando e como vão acontecer. Se nós nos preocuparmos em nos converter, mudar radicalmente de vida para uma vida mais santa, agradaremos Maria. Por exemplo, quantas horas você está rezando por dia? Nossa Senhora, em Medjugorje, pede pelo mínimo 3 horas, como, aliás, foi minha intuição quando escrevi as regras para a minha vida eremítica e que podem ser encontradas neste blog (neste site). Muitos sabem de cor os milagres que ela fez em Medjugorje, mas não sabiam dessas 3 horas de oração que ela pediu. Isso acredito ser importante, e não, por exemplo, quando é que os 10 segredos vão acontecer. Se eles acontecerem e me pegarem “desprevenido”, vai ser o meu fim. Mas se desde agora eu me converter, deixar o pecado, caprichar mais na oração, eles vão me encontrar preparado. Simples assim. Outros canais interpretam erroneamente o que o Papa e alguns Cardeais andam dizendo, e os “detonam”, sem antes tentar perguntar a alguém mais entendido no assunto qual é a verdadeira interpretação do que disseram. Isso é perigoso. Antes de qualquer conclusão negativa, é preciso estudar e pesquisar para ver se o que disseram é isto ou aquilo.


4- SOBRE A VIDA EREMÍTICA


Uma das coisas que tenho notado em alguns canais eremíticos, é a aversão deles pelo Papa Francisco, dizendo que não é papa ou coisas desse tipo. Cada um viva a vida eremítica como puder, como achar que deva viver, e deixe o Papa em paz! O Papa Francisco, agradando ou não, é o legítimo sucessor de São Pedro. Se ele diz algo que contraria o que estamos seguindo, antes de tudo precisamos estudar e refletir se a sugestão dele não é a melhor para seguirmos. Ele tem uma visão mais global da Igreja no mundo e sabe melhor do que nós do que estamos precisando atualmente. Ignorar o Papa é ignorar o próprio Deus, e vamos ser cobrados disso após a nossa morte. Se não quisermos errar, é só obedecer ao Papa. Deixo bem claro que, se ele nos der alguma orientação pecaminosa, o que ainda ele não fez, aí devemos desobedecer. Mas em relação a usos e costumes, por que não o ouvir?


Outra coisa que tenho visto por aí é a obsessão pelo hábito (vestimenta). Os e as eremitas devem ter cuidado para não chamarem a atenção no meio do povo. A evangelização se faz por nosso comportamento, e não tanto por nossas vestes. Achei um tanto ridículo a foto que um padre jovem me enviou, de batina preta, chapéu eclesiástico (eu me esqueci o nome desse chapéu), passeando com o cachorro na rua. Por que isso?


Um amigo leigo me criticou por eu usar um tênis furado e velho. Eu tenho um mais novo, mas gosto do velho. Para evitar outros comentários dele, quando sei que vou vê-lo, uso o tênis mais novo. Por que entrar em discórdia por causa de tão pouca coisa? No Sermão da Montanha, Jesus falou que se nos pedissem a túnica, devemos também dar a capa. Eu acho que essa orientação se aplica também a esses casos. Ou seja: muitos padres que usam batina em casa, usam o clergyman quando saem. Os e as eremitas que usam hábito, devem, a meu ver, também, talvez, ter dois hábitos: o que usam em casa e o outro, mais simples, com o qual saem às ruas e com o qual vão às reuniões.


Não podemos comparar os que vivem enclausurados com os que vivem no meio do povo, como é o nosso caso de eremitas. Precisamos nos adaptar a uma vida mais na sociedade, como é a nossa vida atualmente, sem, é claro, cairmos no relaxamento e, menos ainda, no pecado. Lembremo-nos de que Jesus se vestia como as outras pessoas, tanto assim que foi preciso alguém traí-lo para identificá-lo entre os demais. O que sobressaía em Jesus era sua santidade e não suas vestes. Assim também ocorra conosco.


Em relação ao eremitismo, tenho ainda outro recadinho: vamos nos ater ao que é próprio da vida eremítica, que é o silêncio, o trabalho e a oração. Não nos preocupemos muito com o tipo de casa e lugar em que vivemos. Tenho visto em sites, facebooks e canais muita preocupação por viver em casinhas no meio da floresta, ou em barracos. Acredito que nossa vida de humildade e pobreza não deve ser “medida” pelo ambiente, mas por nossas atitudes. Eu moro numa kitinete, próximo ao centro da cidade, e vivo muito bem. Sou idoso e não posso mais “dar-me ao luxo” de morar numa cabana no meio do mato, onde não haja pelo menos um hospital.


Por mais pobre que seja o lugar onde você for morar, você vai ser diferente dos demais, porque tem a instrução que muitos deles não têm. Sua casa, por mais pobre que seja, vai ser diferente da deles: vai ter uma toalha, mesmo de jornal picotado, uma cortina feita de pano rústico, um altarzinho caprichado, tudo no lugar certo etc. Seus conhecimentos vão levá-lo(a) a viver uma vida superior à dos seus vizinhos. É por isso que eu insisto: viva a vida interior profundamente, mas não dê muita importância para as circunstâncias externas. Seja eremita onde você estiver. A vida eremítica não deve ser “medida” pelo exterior, mas pelo seu interior.


Termino com uma frase de Santa Rosa de Lima: “Sem cruz não há paraíso”.     


O INÍCIO DA CONVERSÃO

23/12/2021

A conversão é uma atitude nossa de toda a vida. Ninguém pode dizer “estou convertido”. A cada dia descobrimos pontos em nossa vida que precisam de uma “reforma”, de um recomeço. Tenho mais de 76 anos e ainda descubro muitos pontos falhos em minha vida...


Mas a conversão tem um ponto inicial, um “pontapé” inicial. Você pode ter, é claro, uma opinião diferente da minha, pois isso não é dogma da Igreja, mas eu acredito que o início de nossa conversão é quando descobrimos que o pecado que fazemos poderia ter sido evitado apenas com um ato de vontade de nossa parte: “NÃO VOU FAZER ISSO”! E, daquela data em diante, aprender a dizer “não” ao pecado.


Durante nossa vida damos muitos conselhos a outras pessoas, mas muitas vezes não estamos conscientes de que os nossos pecados são feitos porque consentimos naquilo. Quando alguém não consente em algum ato, não fez pecado. Para haver pecado é preciso o consentimento. Por exemplo, os maus pensamentos, as fantasias, são inevitáveis, mas só pecaremos se consentirmos neles e nelas. Santa Catarina de Sena costumava dizer que os maus pensamentos são como cachorros latindo, mas acorrentados: não fazem nada se não permitirmos, se não consentirmos.


Pense em como você poderia ter evitado qualquer pecado grave que você tenha feito no passado: Seja sincero (a) na resposta. Não adianta tentar se enganar, pois não enganamos Deus. Seja qual tenha sido seu pecado, a resposta é: “Se eu tivesse dito ‘não’, não teria pecado. Pequei porque não saí da situação em que me encontrava, não tive coragem de dizer ‘não’.”


Esse conhecimento, na verdade, nos dá muita paz e segurança: para não pecar, basta dizer não.


Uma coisa que a gente precisa saber, também, é que esse “não” fica mais fácil à proporção em que rezamos. Quem reza bastante, tem mais força para dizer não. Quem reza pouco ou quase não reza, precisa lutar mais para dizer “não”. Dizer “não” ao pecado é algo que as pessoas que rezam bastante fazem com facilidade e com simplicidade.


Lembro-me de uma entrevista (dá para encontrar no YouTube) de Dom Luciano Mendes de Almeida à Rede Vida, num programa de entrevistas. Com que classe ele se desviava das respostas que não corresponderiam à santidade de vida a que ele se propôs! Mas ele respondeu a todas as perguntas magistralmente, evitando inúmeros pecados ou, no mínimo, mostrando toda a sua humildade. Ele era um homem de oração! E isso faz a diferença.


Agora, se você tiver um tempinho, medite sobre esse assunto. Tente sentir em si mesmo a graça de Deus que nos leva a detestar o pecado e fazer tudo o que pudermos para não pecar. BASTA DIZER “NÃO”! As consequências, é claro, podem ser drásticas: Santa Maria Goretti, por exemplo, morreu por dizer não. Os mártires morreram porque disseram “não” ao convite para adorarem os ídolos. Morreram porque não quiseram pôr uns grãozinhos de incenso na pira sob a estátua de algum deus romano. Só isso. Mas disseram NÃO. Está na hora de fazermos o mesmo.