FAMÍLIAS CARLOS DE FOUCAULD

A FRATERNIDADE SECULAR CHARLES DE FOUCAULD

(Veja o diretório depois deste texto)

Em 1959, cinco casais da área da saúde e oriundos da Juventude Universitária Católica (JUC), deixaram Rio de Janeiro (RJ) e Curitiba (PR), transferindo-se para Lucélia, interior de São Paulo, para uma experiência de vida partilhada. Desejavam construir outro país, a partir de micro ações de militância cristã.

Buscavam também uma espiritualidade que desse suporte ao trabalho social iniciado. E através do Frei Baruel, religioso dominicano, o grupo foi encontrar a mensagem de Carlos de Foucauld. Assim surgiu a primeira Fraternidade Leiga do Brasil. Aqueles médicos, próximos ao povo, assustaram os donos do poder local, e depois de quatro anos de trabalho, tiveram que deixar a região, transferindo-se para o litoral paulista onde assumiram um hospital desativado. Por longos anos enfrentaram as pressões e perseguições políticas da época da ditadura. Mas não se intimidaram, realizando num trabalho discreto, mas eficiente.

Algum tempo depois, com o apoio dos padres da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas, surgiram outras fraternidades em Petrópolis, no Rio de Janeiro, e na periferia de São Paulo.

Hoje, passados 57 anos, a Fraternidade Secular possui cerca de 160 membros efetivos, articulados em grupos nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pernambuco, Paraíba, Piauí e Distrito Federal, além de 20 pessoas que se consideram membros isolados em Minas Gerais, Santa Catarina, Pará e Amazonas.

Embora a Fraternidade Secular tenha nascido na Igreja Católica, está aberta a todos que comungam das intuições de Irmão Carlos, acolhendo solteiros, casados, os que vivem em segunda união, religiosos, religiosas, sacerdotes e pessoas que tenham outras crenças religiosas ou até quem não as tenham.

São três as características da Fraternidade Secular:

* Forte amizade e acolhida do outro, num desejo de comunhão entre todas as pessoas e grupos sociais diversos, seguindo a mística de Nazaré.

* Dimensão contemplativa da vida cristã, na descoberta da presença libertadora do Filho de Deus vivendo no meio dos homens e das mulheres, presente no Evangelho e na Eucaristia.

* Clara e firme defesa da dignidade do ser humano, apoiando as causas populares na luta por libertação sem impor um compromisso único a seus membros, quer político, eclesial ou ideológico. Procura-se seguir as intuições do Irmão Carlos: "É preciso gritar o Evangelho com a vida."

Com um mínimo de estrutura as pequenas fraternidades organizam-se de forma independente, cada uma com suas particularidades, reunindo-se geralmente uma vez ao mês.

Como elo de comunicação e informação há o Boletim da Fraternidade Leiga, publicado três vezes ao ano, com noticias das fraternidades de base, artigos de espiritualidade, conjuntura política e social.

Dois momentos marcam o ano: o dia de deserto, como oportunidade de silêncio, de encontro e de redimensionamento das opções de vida; e a celebração da morte do Irmão Carlos, em 1º de dezembro.

Próximo à Pascoa há o Retiro de Nazaré, num final de semana, quando se refletem temas ligados à espiritualidade, animados geralmente por membros da Fraternidade Leiga.

Com muita alegria e esperança há jovens que se aproximam da nossa espiritualidade e da pessoa de Irmão Carlos. Isto é sinal de renovação da Fraternidade Secular.

A Fraternidade Secular possui uma articulação continental, com três sub-regiões: Cone Sul, Centro América e América do Norte. Existe também uma Equipe Internacional, com representantes de quatro continentes, eleitos a cada seis anos no Encontro Internacional.

“Me apaixonei por esse Jesus de Nazaré crucificado e passo a vida tentando imitá-lo”


DIRETÓRIO DA FRATERNIDADE SECULAR

É o que tenho, publicado no boletim nº 88, de 1992. Se houver outro mais recente, com algumas modificações, por favor, me enviem.

"Temos que crer na possibilidade de santidade evangélica de filhos de Deus na condição comum do homem pobre e obrigado ao trabalho para sobreviver!" (Pe. René Voillaume)

CAMINHO DE UNIDADE

A Fraternidade Leiga (ou Secular) nasceu em 1946-1854 na França. É caracterizada pela amizade, acolhida, oração, partilha da palavra, gestos, abraços, estar juntos, sorriso, estar presente em quem está precisando de ajuda. A família dos participantes procura estar aberta ao bairro, à comunidade, aos vizinhos. Entre as pastorais, procura as que estão mais dentro do espírito do Irmão Carlos.

Para viver tudo isso, usa reuniões de grupos (uma vez por mês, incluindo a Revisão de Vida, oração e adoração); encontros regionais e nacionais. Aprofundamento do que existe nos regionais. O membros isolados se ligam ao Regional mais próximo.

No Brasil: podemos dizer que se iniciou em 1958, com um grupo em S. Sebastião, no litoral. Em 1968 esse grupo ficou mais concreto. Em 1976, julho/agosto, houve um encontro internacional. Foram enviados dois delegados do Brasil. Foi nomeado o Benedito como secretário internacional por seis anos, junto com um coordenador francês. Em 1982, voltou novamente o Conselho europeu, mas com uma equipe belga. A América Latina, a Europa e a Ásia têm um representante cada um nesse conselho.

I – A FRATERNIDADE SECULAR

A Fraternidade Secular reúne homens e mulheres de todas as raças, de todos os meios sociais, de estados de vida diferentes, que, em seguimento ao Irmão Carlos de Foucauld, desejam ajudar-se para seguir Jesus e viver o Evangelho.

A Fraternidade nasceu na Igreja Católica. Está aberta a todos os que aderem à mensagem do Irmão Carlos.

II – O ESPÍRITO

Segundo a intuição original do Irmão Carlos, os membros da Fraternidade são chamados a viver o mistério de Nazaré, que é, para eles:

a) O acolhimento e a busca constante do Filho de Deus, que se encarnou e se tornou o “filho do carpinteiro” (Mt 13,55).

b) “Gritar o Evangelho por toda a vida”;

c) A solidariedade com os pobres, presença viva do Cristo no meio do mundo;

d)-A busca de comunhão e de amizade universal com todas as Igrejas, religiões e povos da terra.

1- PARA ISTO, DESEJAM CONSTRUIR SUA VIDA SOBRE JESUS CRISTO:

a)- adorando-O e celebrando-O na Eucaristia, presença ativa de Deus entre nós (cada país colocará a expressão que lhe convier);

b)-Acolhendo-o em Sua palavra, especialmente no Evangelho;

c)-Encontrando-o na oração pessoal, nos retiros, e vivendo “tempos de deserto”, num encontro inteiramente gratuito;

d)-Encontrando-o, amando-O e servindo-O em todas as pessoas, principalmente nas que forem mais desprovidas.

2- EM SOLIDARIEDADE COM OS POBRES, PROCURAM:

a)-Levar uma vida simples, tomando consciência dos perigos da sociedade de consumo (no Brasil:”Levar uma vida simples, rejeitando a sociedade de consumo”).

b)-Compartilhar suas angústias, esperanças e lutas em vista de sua verdadeira libertação.

c)-Reconhecer em todos os homens e mulheres, sobretudo naqueles que estão ao nosso lado, um irmão e uma irmã a amar, especialmente os mais abandonados, seja no plano material, seja no plano espiritual ou moral.

3-POR SUA VIDA EM FRATERNIDADE, SÃO CHAMADOS:

a)-A ajudarem-se mutuamente, numa amizade sólida, feita de afeto e de exigências, acolhendo o outro tal como ele é;

b)-A uma verdadeira conversão do coração, sobretudo pela Revisão de Vida, que os interroga à luz do Evangelho sobre seus compromissos familiares, sociais, profissionais, eclesiais e políticos.

c)-A uma verdadeira partilha, que supõe a renúncia aos privilégios, podendo chegar, por exemplo, até a uma gestão mais comunitária dos bens materiais;

4- A FRATERNIDADE DEVE TOMAR UMA POSIÇÃO CLARA

quando o ser humano é atingido na sua dignidade, por qualquer forma de opressão, mas sem impor um compromisso concreto, que seja obrigatoriamente o mesmo para todos os membros.

5- A PESSOA DO IRMÃO CARLOS

deve ser sempre uma fonte de renovação para a Fraternidade. O conhecimento de sua vida, de seus escritos e de seu caminho espiritual, são meios para manter os membros da fraternidade fiéis aos apelos do Senhor e lhes permite viver hoje as exigências do Evangelho.

III – ORGANIZAÇÃO

A Fraternidade é constituída por pequenos grupos que se organizam conforme a realidade local.

1-Para servir de ligação entre as fraternidades de base, cada país constitui uma equipe nacional, incluindo, se possível, um sacerdote da família do Irmão Carlos.

2- Cada país poderá se organizar conforme sua realidade concreta, conservando as intuições fundamentais da Fraternidade e em união com a equipe internacional.

3- A Fraternidade levará em conta a situação particular daqueles que desejam viver seus valores, mas que se encontram na impossibilidade de participar regularmente das reuniões.

4- É importante que as fraternidades de casa continente possam se organizar em regiões, em vista de intercâmbios e de uma ajuda mútua.

5- A cada seis anos, se reúne uma Assembléia Geral.

6- Esta Assembléia Geral tem por finalidade;

a)- permitir o encontro de delegados de cada país;

b)- viver juntos, orar, escutar e partilhar;

c)- discernir o que está ou não em finalidade com o espírito da Fraternidade.

d)- eleger para seis anos a equipe internacional incluindo, se possível, duas ou três pessoas que devem estar presentes na Assembléia. É desejável que um sacerdote participe dessa equipe.

A equipe deve ser um sinal da unidade das fraternidades. Tem o encargo de sustentá-las e de ajudá-las a crescer. Deve assegurar a ligação entre os diversos países.

7-A Fraternidade mantém ligações regulares com os diferentes ramos da família espiritual, especialmente na “Associação Geral das Fraternidades do Irmão Carlos de Jesus”.

(este texto foi discutido e aprovado pela Assembléia Geral da Fraternidade Secular em San-Cugat, Barcelona, Espanha, em 15/08/1982).

Fraternidade Feminina de Tarumã, Diocese de Assis

No retiro anual das fraternidades, realizado no ano de 2014 na cidade de São João Batista, nasceu a fraternidade feminina da Diocese de Assis.

Algumas leigas, entusiasmadas com a participação no retiro, iniciaram a fraternidade que atualmente conta com mais de uma dezena de membros.Desde então, seguindo os passos que pontuam o dia do encontro, os membros se encontram regularmente.

O último aconteceu no centro catequético da Paróquia Santo André de Tarumã, sob a orientação do Pe. Orlando.


Fraternidade Missionária Itinerante

do boletim especial 126

“O vento sopra onde quer, você ouve o barulho, mas não sabe de onde ele vem, nem para onde vai. Acontece a mesma coisa com quem nasceu do Espírito” (Jo 3,8).

Todas as coisas têm a sua origem antes do seu começo; muito bem antes, das iniciativas e dos atos que as introduz no tempo, através de uma data. Assim, antes de ser uma cronologia, uma iniciativa é um Kairós de Deus formado pelas moções do seu Santo Espírito. É desta maneira que compreendemos, a constituição da Fraternidade Missionária Itinierante (FRAMITI).

Entendemos que origem da FRAMITI passa pelo vento e pelo fogo da vivência missionária (Santas Missões Populares) e da espiritualidade de Charles de Foucauld e, teve seu parto em torno da mesa (da Eucaristia e das inúmeras mesas da vida do Povo de Deus) e das águas (do Batismo e dos apelos do Reino de Deus).

Inicialmente éramos três pessoas: Aparecida Dias de Lima (leiga); Fátima Aparecida Bertoli (leiga) e Edivaldo Pereira dos Santos (padre). Mas, por motivos de saúde, Aparecida acabou desistindo.

Não somos uma das novas comunidades, nem um novo instituto. Somos uma equipe missionária aberta à missão, temos:

* Fraternidade: Entrar e permanecer em total comunhão com a vida! A vida é o espaço sagrado do Reino – da Fraternidade Universal.

* Missionária: Jesus viveu sua vida mergulhada na espiritualidade e mística de Nazaré. Sua espiritualidade não foi para possuir o Espírito, mas para deixar-se possuir por Ele. O Espírito sopra onde quer!

* Itinerante: Jesus assume sua vida missionária como um radical e dinâmico peregrino itinerante. Sua missão era com os pobres e aflitos da sociedade. O santuário da vida era onde ele fazia a vontade do Pai.

Depois que a FRAMITI foi constituída como equipe, a atuação foi iniciada no Piauí, na Área Pastoral São Miguel Arcanjo, na Diocese de Oeiras, no dia 22 de fevereiro de 2014 com a perspectiva de ter um lugar concreto de referência e de vivência missionária e, no mesmo dia, consagramos a nossa itinerância, com uma agenda de presença e ação em oito paróquias (na diocese de Oeiras, São Raimundo Nonato e Arquidiocese Palmas); isso por um ano.

Em 2015, continuarem na Área Pastoral São Miguel Arcanjo, mas também aproximaram a itinerância da fraternidade aos apelos mais diocesanos, tanto nas paróquias como nos serviços diocesanos.

Atualmente, além da Área Pastoral São Miguel Arcanjo, a FRAMITI cuida, missionariamente, da Paróquia vizinha de São José, em Paes Landim. A perspectiva de presença em cada lugar-território é de, até quatro anos.


COMUNIDADES JESUS CÁRITAS

11 Congregações Religiosas

8 Associações de Vida Espiritual

Sodalício Carlos de Foucauld

Irmãzinhas de Nazaré

Fraternidade Sacerdotal Jesus+Caritas

Irmãzinhas de Jesus

Irmãzinhas do Sagrado Coração

Irmãozinhos da Cruz Irmãozinhos do Evangelho

Irmãzinhas do Evangelho Instituto de Leigos - AEPS

Comunidade Jesus+Caritas

Fraternidade Secular Carlos de Foucauld

Irmãozinhos da Encarnação Grupos Carlos de Foucauld

Fraternidade Carlos de Foucauld

Irmãzinhas da Encarnação Irmãzinhas do Coração de

Jesus

Comunidade de Jesus

Fraternidade Jesus+Caritas

Irmãozinhos de Jesus

Também somos da família de Foucauuld, Fraternidade

católica Nova Nazaré. fcnn_@hotmail.com 86

32277457

“Se o grão de trigo que cai na terra não morrer

permanecerá só; mas se morrer

produzirá muito fruto”! Jo 12,24


2 comentários:


Anônimo 3 de junho de 2012 11:33

Também somos da família de Foucauuld,Fraternidade católica Nova Nazaré. fcnn_@hotmail.com 86 32277457


A morte da Irmã Genoveva,

a parteira do povo Tapirapé 30/09/2013


Tirado do site

https://leonardoboff.wordpress.com/

No dia 24 de setembro de 2013 morreu na aldeia dos indígenas Tapirapé no Araguaia a Irmãnzinha de Jesus Genoveva. Dentro de poucos dias faria 60 anos de inserção na vida daquela tribo que estava em extinção. Ela e suas companheiras viveram uma experiência que o antropólogo Darcy Ribeiro considerava uma das mais exemplares de toda a história da antropologia: o encontro e convivência de alguém da cultura branca com a cultura indígena.


Primeiramente publico o relato-testemunho de Canuto que bem conhecia a vida e a obra da Irmã Genoveva. Depois republicarei um artigo que escrevi ainda em 1992 quando a encontrei na prelazia de São Felix do Araguaia. É uma pequena homenagem a esta extraordinária e santa mulher que se identificou com os Tapirapé a ponto de parecer uma verdadeira Tapirapé: Lboff


**************

Eis o testemunho, de Canuto, que bem sabe da vida e obra da Irmãzinha Genoveva:


Cheguei hoje às 6:00 hs da manhã lá do Urubu Branco, onde estive para os funerais de Irmãzinha Genoveva. Queria partilhar um pouquinho com vocês do que vi e vivi.


Primeiro, as informações de como foi a morte dela.


Genoveva na manhã da terça-feira, 24, estava bem disposta. Tinha amassado barro para fazer não sei bem que conserto na casa. Almoçou tranquilamente com a irmãzinha Odile. Estavam descansando quando se queixou de dores no peito. Odile foi logo providenciar um carro para levá-la ao hospital de Confresa. No caminho a respiração foi ficando mais difícil. Morreu antes de chegar ao hospital.


De volta à aldeia, consternação geral. Genoveva viu nascer quase 100% dos Apyãwa (é assim que se autodenominavam os Tapirapé. Assim voltam a se autodenomiar hoje), nestes 61 anos de vida partilhada. Os Apyãwa fizeram questão de sepultá-la, segundo seus costumes, como se mais uma Apyãwa tivesse morrido. Os cantos fúnebres, ritmados com os passos se prolongaram por muito tempo, durante a noite e o dia seguinte. Muitas lamentações e choros se ouviam.


Segundo o ritual Apyãwa, Genoveva foi enterrada dentro da casa onde morava.


A cova foi aberta com todo o cuidado pelos Apyãwa, acompanhada de cânticos rituais. A uma altura de uns 40 centímetro do chão foram colocadas duas travessas, uma em cada ponta da cova. Nestas travessas foi amarrada a rede que ficou na posição de uma rede estendida com quem está dormindo. Por sobre as travessas foram colocadas tábuas. Por sobre as tábuas é que foi colocada a terra. Toda a terra colocada foi peneirada pelas mulheres, como é a tradição. No dia seguinte esta terra foi molhada e moldada de tal forma que fica firme e espessa como a de chão batido. Tudo acompanhado com cânticos rituais.


Em sua rede em que todos os dias dormia, Genoveva continua o sono eterno entre aqueles que escolheu para ser seu povo.


A notícia da morte se espalhou pela região, pelo Brasil e pelo mundo. Agentes de Pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia, os atuais e alguns antigos, amigos e admiradores do trabalho das irmãzinhas foram chegando para a despedida. A vice-presidenta do CIMI, irmã Emilia, com os coordenadores do CIMI, de Cuiabá, chegaram depois de uma viagem de mais de 1.100 kms quando o corpo já estava na cova, ainda coberto só com as tábuas. Os Apyãwa as retiraram para que os que acabavam de chegar a vissem pela última vez em sua rede.


Os membros d equipe pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia, junto com os outros não indígenas, entre os cânticos rituais dos Tapirapé, foram entremeando cânticos e depoimentos da caminhada cristã de Irmãzinha Genoveva.

Ao final, o cacique falou que os Apyãwa estão todos muito tristes com a morte da irmãzinha. Falando em português e tapirapé, ressaltou o respeito como eles sempre foram tratados pelas irmãzinhas, durante estes sessenta anos de convivência. Lembrou de que os Apyãwa devem sua sobrevivência às irmãzinhas, pois quando elas chegaram, eles eram muito poucos e hoje chegam a quase mil pessoas.


Plantada em território Tapirapé está Genoveva, um momunento de coerência, silêncio e humildade, de respeito e reconhecimento do diferente, gritando como é possível, com ações simples e pequenas, salvar a vida de todo um povo.


Valeu a pena ter ido lá nesta oportunidade.

Abraços a todas e todos

Canuto


Morreu a Irmã Genoveva, a parteira do povo Tapirapé


Via de regra, a propagação do cristianismo se fez pela palavra do evangelho no quadro de um projeto civilizatório e de uma forma de ser Igreja que construiu edifícios religiosos e escolas. É o evangelho pelo caminho do poder.


Mas nunca faltou na história outra tendência, vivida outrora por Francisco de Assis e por Bartolomé de las Casas, de acercar-se dos outros pelo caminho da convivência pacífica, sem palavras, fraterna e amorosa.


No mundo contemporâneo foi testemunhada pelo Irmão Carlos de Foucauld que nos inícios do século XX foi ao meio dos muçulmanos no deserto da Algéria, não para anunciar mas para conviver com eles e acolher a diferença de sua cultura e de sua religião. E nos dias atuais está sendo vivida, exemplarmente, pelas seguidoras do Irmão Carlos, as Irmãzinhas de Jesus, entre os índios Tapirapé no noroeste do Mato Grosso, próximo ao rio Araguaia. É o poder do evangelho.


No domingo passado, dia 17 de setembro de 2002 assisti a celebração do cinquentenário da presença delas junto aos Tapirapé. Lá estava ainda a pioneira, a Irmãzinha Genoveva que em outubro de 1952 começou sua convivência com a tribo. De manhã, com o bispo Pedro Casaldáliga, advogado e defensor dos índios, se lançou um livro de extraordinário valor: O renascer do povo Tapirapé: diário das Irmãzinhas de Jesus de Charles de Foucauld, 1952-1953(Editora Salesiana, SP, 2002), belíssimamente ilustrado para estar à altura da refinada estética dos Tapirapé.


Como elas chegaram lá? As Irmãzinhas souberam através dos frades dominicanos franceses que missionavam em terras do Araguaia, que os Tapirapé estavam em extinção. Dos 1500 de antigamente foram reduzidos a 47 por causa incursões dos Kayapó, das enfermidades dos brancos e da falta de mulheres. No espírito do Irmão Carlos, de ir para conviver e não para converter, decidiram unir-se à agonia de um povo.


À sua chegada, a Irmãzinha Genoveva ouviu do cacique Marcos:”Os Tapirapé vão desaparecer. Os brancos vão acabar conosco. Terra vale, caça vale, peixe vale. Só índio não vale nada”. E eles haviam internalizado que não valiam nada mesmo e que estavam condenados inexoravelmente a desaparecer.


Elas foram junto a eles e pediram hospedagem. Começaram viver com eles o evangelho da fraternidade na roça, na luta pela mandioca de cada dia, no aprendizado da língua e no incentivo a tudo o que era deles, inclusive a religião, num percurso solidário e sem retorno. Com o tempo foram incorporadas como membros da tribo.


A autoestima deles voltou. Graças à mediação delas, conseguiram que mulheres Karajá se casassem com homens Tapirapé e assim garantissem a multiplicação do povo. De 47 passaram hoje a 520. Em 50 anos, elas não converteram sequer um membro da tribo. Mas conseguiram muito mais: fizeram-se parteiras de um povo, à luz daquele que entendeu sua missão de “trazer vida e vida em abundância”.


Quando vi o rosto de uma india Tapirapé e o rosto envelhecido da Irmãzinha Genoveva notei: se tivesse tingido de tucum seus cabelos brancos, ela seria tida por uma perfeita mulher Tapirapé. Realizou, de fato, a profecia da Fundadora:”As Irmãzinhas se farão Tapirapé, para daqui, irem aos outros e amá-los, mas serão sempre Tapirapé”. Não é por ai que deverá seguir o Cristianismo, se quiser ter futuro num mundo globalizado? O evangelho sem poder?


SOBRE A IRMÃZINHA GENOVEVA

ARTIGO ANTIGO, DE 2008,

Os 50 anos das Irmãzinhas de Jesus junto ao povo da Tapirapé

(Tirado do blog desativado Boletim da Fraternidade Leiga, do dia

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

( reportagem feita por Liliane Luchin- extraído do site do CMI Brasil - midiaindependente.org)


Falar dos Tapirapé e não falar das Irmãzinhas, ou vice-versa, é omitir parte da história. Há 50 anos as irmãs da Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus, da Congregação de Charles de Foucauld, vivem na aldeia Urubu Branco, próximo de Confresa, em Mato Grosso.


Três Irmãzinhas chegaram ao Brasil, no dia 24 de junho de 1952, com o objetivo de morar junto com os Tapirapé, numa casa como a dos indígenas, passando a ter a mesma alimentação e o mesmo estilo de vida. "Ir aos esquecidos, aos desprezados, aos que ninguém interessa" palavras da Irmãzinha Madalena, fundadora da Fraternidade.


As Irmãs Genoveva, Clara e Denise, quando chegaram à aldeia Tapirapé encontraram um povo com cerca de 50 pessoas, sobreviventes de ataques de seus vizinhos Kayapó. Após estes 50 anos de dedicação e comprometimento com os indígenas, hoje os números são outros: cerca de 500 Tapirapé em sua maioria crianças e jovens, vivem nas aldeias Majtyritãwa, próxima a Santa Terezinha, e Tapi´itãwa, Wiriaotãwa, Akara´ytãwa e Xapi´ikeatãwa, na área indígena Urubu Branco, próxima da cidade de Confresa. O respeito às crenças, ao estilo de vida e aos costumes dos Tapirapé, foi o que fez das Irmãzinhas as principais aliadas deste povo durante todos estes anos.


As lutas foram muitas e a determinação destas mulheres ainda maior. "Queríamos viver no meio deles o amor de Deus que não deseja outra coisa senão que vivam e cresçam como Tapirapé" são palavras da Irmãzinha Genoveva, que ainda vive com os Tapirapé. Desde o inicio, deram atenção especial para a saúde, especialmente porque estavam muito expostos ao contágio de doenças levadas pelos não-índios. Era a primeira vez que iam viver em uma comunidade indígena e esta seria também a primeira "fraternidade" estabelecida por elas em solo brasileiro e sul-americano. Muita coisa aconteceu durante esses 50 anos.


Os Tapirapé, que pareciam estar próximos da extinção, conseguiram se recompor. Para chegar a essa nova situação foi necessário muita dedicação, muita partilha e mútua aprendizagem. Apesar de alguns surtos epidêmicos, com a chegada das Irmãzinhas a mortalidade foi reduzida e quase que erradicada, por conta dos tratamentos curativos e do controle profilático das doenças, sempre respeitando a maneira de ser dos Tapirapé. Uma história de lutas e conquistas.


O quase extermínio dos Tapirapé se dá a partir de 1909, quando a população aproximada de 2000 índios foi exposta às doenças trazidas pelos não-índios. Epidemias de gripe, varíola e febre amarela acabaram com duas aldeias. Outro agravante da diminuição e dispersão expressiva dos Tapirapé, foram as disputas que existiam entre os Kayapó que viviam na região. Em 1935, estavam reduzidos a 130 pessoas, e, em 1947, estavam com apenas 59, segundo o depoimento de Herbert Baldus. Foi nesse ano que ocorreu o grande ataque Kayapó. Aproveitando a ausência dos homens que haviam saído para a caça, a aldeia Tampiitawa foi praticamente destruída e várias mulheres e meninas, raptadas. Os sobreviventes procuraram refúgio na fazenda de Lúcio da Luz e junto a Valentim Gomes, recém contratado pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e que vivia próximo à barra do rio Tapirapé.


Foi junto a ele que a comunidade resolveu construir a nova aldeia, em 1950. Com a chegada das Irmãzinhas, em 1952, a situação começa a ser controlada. Podemos dividir a história Tapirapé em duas etapas – antes e depois das Irmãzinhas. O trabalho intenso e seu compromisso fizeram com que em 1959 houvesse um controle da mortalidade, por conta da assistência à saúde feito por elas. E em 1968, mais fortes e unidos, os Tapirapé dão inicio à primeira picada demarcatória que se fortalece depois de inúmeras viagens feitas a Brasília em 1975.


Não podemos deixar de citar a influência das Irmãzinhas na criação do Cimi, que, em 1974, dois anos depois da fundação, participou ativamente da questão demarcatória das terras Tapirapé. No período de 1976 a 1981 acontece um fato marcante e histórico, o nascimento de 50 crianças. E em 1979 não foi registrada nenhuma morte na aldeia. Mas o processo de demarcação de terras era, e ainda é, muito lento. Desde o inicio, os órgãos do governo responsáveis pela questão indígena se omitiram.


A Funai prometeu demarcar todas as terras Tapirapé até 1981, e ainda hoje 50 por cento destas terras estão ocupadas por não-índios. Atualmente os Tapirapé vivem em duas áreas demarcadas e regularizadas, porém, a Área Urubu Branco tem sérios problemas de invasão. Apesar de oficialmente demarcado, o território Urubu-Branco encontra-se invadido por oito propriedades de não-índios e pequenos posseiros, restando aos indígenas a posse efetiva de 158,000 hectares, apenas 50 por cento de suas terras.


Liderados por Marcos-Xako’iapari, desde 1983 o povo vem desenvolvendo um processo de reconstrução da auto-estima, exercendo o direito à cidadania e de etnia diferenciada, assegurando a herança ancestral. Hoje, a população Tapirapé é de mais de 500 índios. Contam com uma escola estadual de ensino fundamental e estão pleiteando a implantação do ensino médio. Há professores que já terminaram o terceiro grau e outros que estão freqüentando o terceiro grau indígena. Apesar das interferências da língua portuguesa, os Tapirapé conservam a sua própria língua. As crianças até cinco ou seis anos são monolíngües e apenas na quarta série começam a estudar o português na escola.


A saúde é atendida pelo distrito de saúde indígena. Mesmo depois de todas as ações criminosas sofridas por eles, o povo Tapirapé garante: " A luta não vai parar, conclamamos a todos à busca da justiça e o fim da postura arrogante do governo federal pela insistência em manter a política colonizadora, que desrespeita os direitos constitucionais dos povos indígenas" afirma o cacique Xario`i . Os 50 anos com Genoveva Genoveva é a única Irmãzinha que continua vivendo entre os Tapirapé. Desde 1952 quando chegou à aldeia, Veva, como é conhecida, nunca mais saiu de perto dos Tapirapé.


Nascida no dia 19 de agosto de 1923, em Valfraicourt, um lugarejo da França, Génevève Hélenè Baoyé, simplesmente Veva, chegou no Brasil em 1952, para viver com os Tapirapé. Antes de vir para o Brasil Veva teve de suportar os quatro anos de ocupação alemã na França. Vivia numa das regiões mais afetadas pela segunda guerra, na fronteira com a Alemanha. Como os irmãos estavam no front, trabalhava na roça para sustentar a família. Veva, com uma aparência frágil, cabelos brancos, há muitos anos acorda todos os dias antes do sol para cuidar da pequena roça que cultiva atrás das casas de taipa da aldeia Urubu Branco, a maior do povo.


O respeito total à cultura e ao processo histórico deste povo, fez com que os Tapirapé se salvassem e se multiplicassem , tornando-se um povo alegre e seguro. Uma das características destas Irmãs é de optarem por viver sempre entre os mais abandonados e excluídos. Quando foram reagrupados em 1950, os Tapirapé estavam sem ânimo para lutar pela reconstituição do seu povo e começavam a pensar que seu sistema de vida era ruim e deveriam abandoná-lo. As Irmãzinhas queriam devolver àquele povo a vontade de viver, assumindo sua cultura e fazendo tudo o que faziam, sem julgar se aquilo estava certo ou errado.


Hoje (ela já faleceu), aos 78 anos e mais de seis malárias no currículo, Veva completa 50 deles vivendo com os Tapirapé. É a única Irmãzinha que permanece na aldeia desde o começo da missão. Vive hoje numa casa como as outras, em companhia de duas Irmãzinhas, Odila e Elizabette. A festa Após 10 anos da não realização da Festa da Cara Grande, os Tapirapé decidiram que a celebração das Irmãzinhas deveria coincidir com esta festividade. Para surpresa de todos, foi convidada Irmãzinha Clara, que atualmente vive na Rússia, para participar dessa comemoração, ela que havia deixado a aldeia há quase 50 anos.


Passamos agora a palavra a ela, reproduzindo seu belo relato, de alguém que conheceu um povo à beira da extinção e que agora encontra uma comunidade cheia de vida e de esperança: " Que emoção! Eis que me encontro no pequeno aeroporto de Confresa, onde nos espera Irmãzinha Odila. Logo reconheço a montanha do Urubu Branco, tão querida dos Tapirapé e que conhecia apenas de foto. Nos dias subsequentes vão voltar com insistência as histórias da retomada da antiga terra, depois de mais de 50 anos... São as cerâmicas encontradas no mato, as pedras dos fogões, as macaubeiras...


O caminhão que tomamos, nos deixa na aldeia, diante da casa das Irmãzinhas e me reencontro com Genoveva, que não havia visto há 40 anos e Elizabeth, há 44 anos! O formato da aldeia é o mesmo da anterior, mas em contrapartida é dez vezes maior. A Fraternidade se encontra no interior desse círculo, que envolve a takãra, a casa dos homens, que é também a casa das festas e dos espíritos. Está construída no sentido Norte-Sul e as portas foram abertas para o nascente e para o poente, segundo a tradição tapirapé.


Rapidamente e sobretudo à medida que o sol vai se pondo, percebo o grande número de moradores. A aldeia fervilha de crianças de todas as idades e me faz lembrar meu último sonho do paraíso, quando, ao cair da tarde, vi sair da mata, dançando, centenas de Tapirapé... Na realidade, não tinha certeza se estava bem desperta ou se aquilo que estava vendo era um sonho... Esta sensação irá me acompanhar em toda minha estadia. Os velhos logo vêm me saudar. Felizmente as Irmãzinhas me ajudam a lembrar seus nomes ou me dizem seus novos nomes, pois os Tapirapé costumam trocar de nome pelo menos três vezes na vida. A gente se abraça! Um deles, Cantídio-Taywi, me diz sem rodeios: "Clara mudou muito."


Eles também mudaram bastante e o principal é que "a gente se reconhece". Como isso é bom! Marcos-Xako’iapari, o antigo cacique, e que deve ter mais de 80 anos, toca nos meus cabelos brancos e me diz: "Clara está velha como eu." E acrescenta: "Minha cabeça não está mais boa e será logo o fim", e dá uma boa gargalhada!... Ele me faz lembrar todos os sábios que encontrei em minha vida... Será que já não me lembrava de que eram tão numerosos? Com freqüência recordava a última cena do filme A Missão, com aquela canoa com mulheres e crianças Guarani, sobreviventes de um massacre, e que me fez chorar, lembrando do que havia ocorrido com os Tapirapé...


Na aldeia de Urubu Branco há cerca de 250 pessoas, a metade com menos de 12 anos. Hoje, por causa da festa, muitos vieram das outras quatro aldeias e a população total deve chegar a um pouco mais de 500 pessoas. Apenas nessas duas semanas que passei com eles, nasceram mais quatro. Que vitalidade! Que beleza! Com algumas exceções, eles transpiram saúde. Os jovens são bem maiores que seus pais e as moças são muito bonitas. Atualmente há mais moças que rapazes e isso deverá criar problemas. Será que a vida deles mudou? Aparentemente parece que o relacionamento entre eles e as Irmãzinhas continua o mesmo. E os encontramos sentados nos troncos de árvore e nas carapaças de tartaruga, como antigamente.


À noite há o mesmo céu com o Cruzeiro do Sul e o mesmo luar... Algumas vezes, quando há gasolina para o gerador de energia, algumas lâmpadas, penduradas no pátio, clareiam o ambiente. Apesar dos botijões de gás que há em várias casas da aldeia, as mulheres continuam cozinhando em seus fogões à lenha, localizados atrás das casas, onde toda família se junta para comer. Mas o que fez mudar o aspecto da aldeia foram as roupas a secar nos varais, amarradas nas árvores. Roupa muito limpa – calções, sutiãs e camisetas –, com as mais variadas marcas, desde Coca-cola até o nome de políticos da região...


A limpeza reina também no interior das casas, com as panelas brilhando pela ação do Bom-Bril. Logo entramos no ritmo das festas, festas que começam no período da estiagem, cujo ponto culminante é a festa da Cara Grande. Geralmente esta festa é por volta do dia 24 de junho. Pela primeira vez, desde 1947, o ciclo completo das festas será realizado na aldeia de seus antepassados, agora retomada. É um ano muito importante para eles (e para nós também!!!).


Durante uma semana os cantos e as danças vão se suceder, muitas vezes durando a noite toda, até o desaparecimento da última estrela. Impossível descrever todas as festas. O que chama a atenção é o ambiente de festa. Durante dias seguidos e o dia todo, em todos os cantos mulheres, agachadas, fazem as pinturas no corpo dos homens, dos rapazes e das moças, com desenhos geométricos, cada um com seu significado, incluindo os xire’i (isto é, adolescentes que se preparam para os rituais de iniciação à vida adulta) com o corpo todo pintado de preto.


As danças são realizadas pelos homens mais novos, preparados pelos mais antigos, que nesse ano fizeram um grande esforço, conscientes de que são os depositários das tradições de seu povo. A dança é feita geralmente pelos homens, que se colocam em fila indiana, perto da entrada do nascente da tãkãra, magnificamente pintados e enfeitados, com seus arcos e flechas, acompanhados pelos "espíritos ancestrais dos Tapirapé", que estão vestidos de uma roupa feita de folha de palmeira verde ou seca, que faz um ruído característico, ao menor movimento. Nos divertimos em contar os participantes homens (jovens e adultos): eram 84. Havia dia em que chegavam a 110! Isso me faz lembrar o ano de 1952, quando eram apenas 47 pessoas!...


Algumas vezes as danças se transformavam em disputas: a eterna luta contra seus inimigos tradicionais, como os Karajá, os tori (os não-índios) e sobretudo os Kayapó. Estes, representados por um grupo de Tapirapé disfarçados, parecem inicialmente vencê-los, mas são dominados e levados como prisioneiros para a casa dos homens. No final há a dança da vitória. Numa das manhãs, ao nascer do sol, houve a festa da liberação dos espíritos, quando estes saem pela aldeia, sendo perseguidos pelas moças, que procuram agarrá-los para dar-lhes o cauim, que irá apaziguá-los. Houve também a refeição ritual, que é um apelo à unidade dos diferentes grupos rituais, cada um com o nome de um pássaro.


Nesse dia, os rapazes levam à tãkãra grandes panelas, bacias e cestos cheios com banana, carne de porco-do-mato, farinha de mandioca e cauim. Quando o grupo é maior, como agora, a festa ocorre no pátio da aldeia. A última noite foi consagrada à festa do kawio, bebida fermentada, ao redor da qual as danças se prolongam por muitas horas, visando espantar os espíritos maléficos, simbolizados por essa bebida ácida. Duas casas são escolhidas para o ritual: uma ao norte e outra ao sul da casa dos homens.


A escolha dessa última recaiu justamente sobre nossa Fraternidade, pois na casa escolhida havia falecido uma mulher há pouco tempo. Dessa vez a roupa dos tori (não-índios), que as mulheres Tapirapé costumam usar, desapareceu completamente. Enfeitadas de maneira tradicional, elas dançam em volta dessas duas casas, enquanto que os homens permanecem no interior das mesmas, em torno das panelas de cauim. Marcos-Xako’iapari parece estar tomado de uma grande força interior, o que nos comove muito. Descobre que ele e Joana-Ataxowoo são os únicos capazes de transmitir a riqueza dessas tradições que estão correndo o risco de desaparecer completamente.


Os jovens procuram segui-los, observando-os com atenção, imitando-os e gravando tudo. Nos dias subsequentes, ouvimos suas vozes por toda parte, seguidas da voz dos jovens que repetem as palavras e as melodias. Foi realmente o triunfo Tapirapé. Mais uma vez, Marcos liderou um último rito, que está quase desaparecendo e que tem por finalidade fazer uma espécie de redistribuição das riquezas. É o encerramento das festas. No dia seguinte ao da dança do kawio, bem cedinho, ele vem com Tokyna, sua mulher, buscar a panela do kawio que ficou em nossa casa e a leva, cantando de casa em casa.


O chefe de cada família bebe um gole de cauim, cuspindo em seguida, enquanto que os demais têm o direito de tomar um pouco do cauim que sobrou e ao mesmo tempo de pedir ao dono da casa tudo o que querem. Marcos dá o exemplo e se vê despojado de muitos de seus bens. Outras lideranças o seguem, mas nem todos têm essa coragem. Como diz Irmã Odila, nesse ritual "há ao mesmo tempo desprendimento e audácia que podem causar admiração ou medo". Cama, colchão, cadeira, fogão a gás, pasta de urucum, arara, galinha mudam de proprietário em apenas uma manhã!


Uma exposição de fotos ampliadas pela Irmã Edith, que infelizmente teve de deixar a aldeia antes da festa que ela tanto se empenhou em preparar, fez muito sucesso e levantou muitos comentários. Evocava a vida desses 50 anos e muitos reconheceram aqueles que já se foram. À noite houve a projeção de dois vídeos históricos, que teve o poder de reunir num minuto toda a aldeia: o filme do Padre Voillaume, que esteve com Irmãzinha Madalena em 1953 e um outro, de 1955. Não conseguia imaginar a quantidade de crianças que estavam à nossa frente, sentadas nos primeiros lugares. No dia seguinte, após as festas, começa a partida... pois é impossível alimentar por muito tempo 500 pessoas! Com todas as coisas novas que estão chegando à aldeia, o futuro parece inquietar as Irmãzinhas. Mas acredito que são eles realmente os construtores de seu futuro juntamente com Deus.

As Irmãzinhas, que encontrei na aldeia, certamente escreverão um outro relato, depois de tantos anos de presença no meio deles. Eu as agradeço por me terem convidado e por terem partilhado comigo tanta coisa que me ajudou a reencontrá-los, ficando no meu coração apenas um canto de ação de graças. "Que beleza!" é a única coisa que consigo repetir o tempo todo." Fonte:Cimi

IRMÃZINHAS DE JESUS NO BRASIL

Correspondência de Irmãzinha Maria Dulcidéa de Jesus

Sementes que germinam!

“Se o grão de trigo não cai na terra e não more, fica sozinho. Mas, se more, produz muito fruto” (Jo 12,24).

Introdução

A Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus foi fundada em 8 de setembro de 1939, em Tougourt (sul da Argélia). No seguimento de Jesus de Nazaré, sob a inspiração do Irmão Carlos de Jesus (Charles de Foucauld), a jovem Madalena Hutin foi viver junto ao povo nômade desse lugar e aí armou sua tenda. Inicialmente destinada aos povos do Islã, abre-se, poucos anos depois, aos povos do mundo inteiro.

A intuição de Irmãzinha Madalena se traduz na vivência concreta do Evangelho, no respeito total pela alteridade. Essa herança haveria de se tornar luz e também semente de caminhos novos e imprevisíveis, nas mais diferentes situações humanas, pelos cinco continentes.

1. O grão de trigo caiu em terras brasileiras

No Brasil, a Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus começou em junho de 1952, aos 13 anos de sua fundação. As primeiras Irmãzinhas (Genoveva, Denise e Clara) chegaram acompanhadas de Irmãzinha Madalena. Chegaram no Rio de Janeiro. Depois de algumas semanas, dirigiram-se para o Mato Grosso, à aldeia dos Tapirapé, às margens do Rio Araguaia, onde aportaram em 24 de junho de 1952. Não sabiam falar português, muito menos a língua dos Tapirapé. A presença compassiva e solidária da Fraternidade junto aos Tapirapé permaneceu por mais de 60 anos.

Outras Fraternidades foram surgindo aos poucos: em Catumbi e no Morro da Mangueira, no Rio de Janeiro; em Roças Novas, Itaobim e Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais; em Fortaleza, Ipaguassumirim e Matriz de São Gonçalo, no Ceará; em Goiânia no estado de Goiás; em Jussiape, na Bahia; em Belém, Ananindeua e Aldeia Assurini, no Pará.

2. O grão de trigo continua germinando na fragilidade e no silêncio.

Dado o momento pelo qual vem passando a Vida Religiosa Consagrada, devido também ao envelhecimento de nosso grupo e à fragilidade da saúde das Irmãzinhas, pouco a pouco o número de Fraternidades foi se reduzindo. Das nove Fraternidades existentes no Brasil, estamos atualmente em apenas uma, em Belo Horizonte, no Bairro Betânia.

Isso nos fez perceber a urgência de tomar algumas decisões: fechamento e venda das casas e partida para o Lar de Idosos São José. As duas Irmãzinhas que ainda permanecemos na Fraternidade de Betânia esperamos concluir todos os trâmites, baixa de papeis e tudo o que diz respeito ao processo de encerramento.

Estamos mudando de paradigma. Esse fato exige atenção, paciência, confiança e muito amor. Faz-se necessário, nesse novo tempo, ressignificar o carisma e a missão. Nossas Constituições, no capitulo 14, n. 87, dizem: “Quando formos levadas a reduzir as atividades, estaremos mais disponíveis para a oração e a escuta”. Ressignificar nossa pertença neste momento em que estamos envelhecendo é “saber envelhecer com graça, em graça e na graça” (Ana Maria Mattos). É nessa atitude que queremos olhar nosso momento atual: processo de envelhecimento se acelerando com consequentes fragilidades de saúde e retorno das não-brasileiras a seus países de origem.

3. O grão de trigo morrerá e fará nascer novo rebento de vida.

Refletindo sobre nosso futuro, uma luz nos orienta e guia: a do grão de trigo. Foi essa passagem do Evangelho que inspirou e acompanhou o Irmão Carlos durante sua vida no deserto do Saara. É morrendo, mergulhando na terra, que a semente germina.

Fechando a Fraternidade de Betânia, a Fraternidade continuará presente através das Irmãzinhas que já estão morando numa casa de cuidados destinada a idosos de baixa renda, no Lar São José, no Bairro Olhos d’Água, em Belo Horizonte. Lá, seremos em número de cinco. Há também duas outras Irmãzinhas morando sozinhas, próximo a suas famílias. Ambas são mineiras e suas famílias vivem em Belo Horizonte. Temos também duas Irmãzinhas em casas de saúde em Belo Horizonte, e as duas nordestinas vivendo no Ceará.

Nesta etapa de nossa vida, estar num Lar de Idosos/as pobres é dar continuidade à vivência de nosso carisma – contemplativas inseridas no meio do povo, vivendo à luz de Belém e Nazaré. Aí nossa inserção se fará naturalmente, sendo idosas com os idosos/as. Esse mistério nos fará perceber a presença de Deus na fragilidade, no cotidiano. Essa verdade nos permite viver com confiança, procurando dar cada uma sua medida. O futuro é de Deus!

Apostamos também nas sementes lançadas junto aos leigos e leigas que, nos diferentes lugares em que vivemos, partilharam da vida de nossas Fraternidades. Também eles se fizeram receptivos ao carisma de Irmão Carlos e Irmãzinha Madalena. E, dentro de suas condições, seguirão “gritando o Evangelho com a vida”.

Conclusão

Gostaríamos de terminar citando o que nos disse o Papa Francisco, no final de nosso Capítulo Geral (2017): “Florescer em gestos de amor, fazer-se pequena entre pequenos, ser livres para amar”. Mesmo se, no Brasil, estamos nesse processo do “grão de trigo”, em outros países e continentes, há Fraternidades florescentes, há juventude em busca do mesmo ideal.

******************************

Correspondência de “Cema”. Lar são José, 04/04/2018.

“Javé cuida daqueles que esperam por seu Amor. Nele se alegra o nosso coração e nele confiamos. Seu amor continua sobre nós como nele está nossa esperança”. Sl. 33 (32) 18.21-22.

Queridas irmãzinhas!

Quero partilhar com vocês a vivência deste primeiro mês no Lar São José. A paz, a alegria e a gratidão me habitam. A gratidão pela vivência nas diversas fraternidades do Brasil e o tempo vivido no Peru

Agradecida pela alegria e desafios da vida fraterna na nossa missão própria: vida contemplativa centrada na Eucaristia, vivida no coração do mundo dos empobrecidos: Belém, Nazaré, vida fraterna em comunidade, e em diversos lugares do país, com coração aberto ao universal. Nossa obra da Vida!

Permaneço unida à Coordenação: Edith e Dulcita que vivem a árdua tarefa deste tempo de Fraternidade no Brasil e os encaminhamentos diversos. Permaneço unida na intercessão à Dorinha e Conselho neste serviço amplo da Fraternidade.

E nesta fase de envelhecimento a mesma missão continua aqui no Lar: idosa entre idosos, reconhecendo em cada um/a deles/as a Presença do Senhor e em todos/as colaboradores da limpeza, da cozinha, da fisioterapia, da terapia ocupacional e outros/as que não vemos sempre, e todos incansáveis em nos facilitar uma condição de vida digna. A assistente social me fez uma entrevista e favoreceu a comunicação com a família pela internet. As pessoas são muito humanas aqui... em todos os níveis.

Retomar as Constituições nesta nova e atual etapa me ajuda a viver com gratidão e acolhida o recebido e o vivido nas Fraternidades. E a viver com gratidão este tempo “maior” de cada dia na oração, na intercessão, adoração com possibilidade da Capela ampla e simples com a presença da Eucaristia e Missa semanal. E me sinto convidada nesta etapa a permanecer diante Dele mais longamente.

E que Irmão Carlos e Irmãzinha Madalena possam permanecer guias e a nos ensinar a amar, também nesta etapa, numa imensa gratidão, no ocaso da Vida por tudo o vivido, e a vivenciar idosa entre idosos até o Encontro final.

A vida aqui se passa serena e alegre. Nós estamos no 3º andar em quarto pessoal com banheiro. Há rampas com corrimões e elevadores. O refeitório está no 2º andar depois da sala de televisão. É espaçoso com mesas para 4 pessoas e a alimentação é bem cuidada, saudável e saborosa, também para os lanches. O café da manhã é servido nos quartos, é o último trabalho do turno da noite.

Iniciei no Lar dia 28 de fevereiro acompanhada pela Dulcita e Edith. Agradeço também à cada irmãzinha presente na tarde do Envio: Auxiliadora, Cândida, Elisabeth, Edith e Dulcita. Fui precedida pela Edejanira e Dinorá que me ajudaram introduzindo-me neste novo e “grande” espaço!

Sinto-me acompanhada por cada uma e as carrego na oração e no carinho.

Por ocasião da missa de Ramos preparada com Ivanilde (coordenadora do Lar), Edejanira e Dinorá aqui no Lar, as irmãzinhas vieram acompanhadas pelas vizinhas. A missa foi celebrada pelo Pe Frederico da paróquia da Betânia e Pe Reginaldo que muitas de vocês conhecem. Foi ocasião de profunda alegria para todos/as. Tivemos celebração na sexta-feira Santa e domingo. Na Pascoa fomos almoçar na Ivanilde a convite dela.

Há diversas atividades aqui que nos ajudam:

Fisioterapia com Jacqueline diariamente e Terapia ocupacional com Edmar ou Ana Cristina. Eles são muito bons e humanos que nos acolhem e nos mantém em entrosamento, bem-estar e atividades segundo as nossas possibilidades.

Há presença de hóspedes de outras religiões e há respeito no ambiente e acolhida.

No entorno do Lar há espaço para caminhada. Edejanira tem colaborado para embelezar e alegrar com plantas e num espaço interno com um jardim bem diversificado e um periquito que habita aí: “Tizu”! E ela colabora bastante com Ana Cristina.

Acolhemos algumas visitas que nos deram muita alegria: Idaliana, de Óbidos que veio visitar as irmãzinhas e conhecer o Lar, pensando num projeto para idosos em Óbidos. Alegria mútua pelo reencontro! Pe Alberto com Cristiano e Flávia, Fernando e Aneliza, Maria Auxiliadora vieram nos encontrar em tardes diferentes e foi bom passar um momento juntos.

Na alegria da continuidade da vida, unida a cada uma, com carinho,

PS. Dinorá manda também um grande abraço para todas.

************************************

AS IRMÃZINHAS DE JESUS

AMIGOS DE CARLOS DE FOUCAULD

Seguindo a inspiração do irmão Carlos de Jesus, irmãzinha Madalena de Jesus começou a fraternidade das irmãzinhas de Jesus no dia 8 de setembro de 1939.

Irmãzinha Madalena dizia: “Antes de ser religiosa, seja humana e cristã”.

As irmãzinhas estão presentes nos cinco continentes. São atualmente 1334 irmãzinhas, espalhadas em 68 países. Em 1952 chegaram as primeiras no continente latino-americano para viver com os índios Tapirapé, no Mato Grosso e em outros países.

São mulheres consagradas a Deus e aos irmãos e irmãs, numa vida contemplativa, vivida no meio dos empobrecidos, para juntos caminharem para Deus, num caminho de igualdade, fraternidade e justiça. É uma vida contemplativa mergulhada neste mundo que Deus ama.

O apostolado ou a pastoral das irmãzinhas consiste em fazer a palavra de Deus acontecer, caminhando cada dia com os irmãos e as irmãs, partilhando passo a passo suas vidas, suas histórias, seus clamores e suas lutas por uma vida verdadeiramente digna e humana.

A casa onde moram se chama “fraternidade”. Em pequenos grupos de três ou quatro, a comunidade se constrói, através da acolhida mútua, das fraquezas e dos limites, das riquezas e dos dons. Vale a pena entrar em contato com elas. Você descobre um mundo cheio de novas possibilidades.

Eis alguns endereços para contato:

Caixa postal 404 – 60001-970 – Fortaleza, CE

Casa paroquial – 78657-000 – Confresa, MT

Rua 2 Qd. 2 Lt. 16 – Estrela Dalva – 74.475-294 – Goiânia/Go

SEJAM LIVRES PARA AMAR

Cidade do Vaticano (Segunda-feira, 02-10-2017, Gaudium Press) O Papa Francisco recebeu nesta segunda-feira, no Vaticano, as Irmãzinhas de Jesus, reunidas em Roma para seu Capítulo Geral. Na ocasião, o Pontífice exortou-as recomendando-lhes: "sejam livres para amar".

A Congregação foi fundada na Europa há 80 anos pela seguidora do Beato Charles de Foucauld, Irmãzinha Madalena de Jesus. Atualmente as Irmãzinhas estão presentes também em outros continentes.

Livres para amar

O Papa ressaltou a vocação da Congregação que é de estarem em meio aos mais pobres, não somente para cuidar, educar e catequizar, mas sobretudo para amar: "Não tenham medo de ir avante, levando em seus corações o pequeno Menino Jesus a todos os lugares onde estão os mais pequeninos do nosso mundo. Permaneçam livres de elos com obras e coisas, livres para amar quem encontram, onde quer o Espírito as conduza. "

Para além das fronteiras dos Corações

Ao tratar da superação das dificuldades encontradas na atuação da Congregação, o Papa encorajou as Irmãzinhas: "os seus corações não têm fronteiras. Naturalmente, vocês não podem mudar o mundo sozinhas, mas podem iluminá-lo levando a alegria do Evangelho aos bairros, às ruas, em meio à multidão, sempre próximas ao mais pequeninos", concluiu o Papa.

Brasil

No Brasil, a presença das irmãs fundadas por Irmã Madalena de Jesus vem desde 1952, quando a Fundadora visitou a Aldeia Tapirapé, no Mato Grosso, quando houve uma expansão da Congregação e o surgimento de nove casas entre as regiões Norte-Nordeste, Sudeste e mundo indígena.

Atualmente as atividades das irmãzinhas estão localizadas mais especificamente nas comunidades surgidas em Minas Gerais, nas cidades de Belo Horizonte e Roças Novas. (JSG)

Conteúdo publicado em gaudiumpress.org, no linkhttp://www.gaudiumpress.org/content/90226#ixzz4uPSxt8Z6


IRMÃZINHA MADALENA DE JESUS

(nascimento 26/04/1898)

BREVE ITINERÁRIO ESPIRITUAL DA IRMÃZINHA MADALENA DE JESUS FUNDADORA DAS IRMÃZINHAS DE JESUS, QUE SEGUEM O CARISMA DO BEATO CARLOS DE FOUCAULD.

1898 -1989

Madalena Hutin nasceu a 26 de Abril de 1908 em Paris, mas é originária do leste da França e a sua juventude foi marcada dolorosamente pela primeira guerra mundial: a sua família foi dizimada e a sua pequena cidade destruída. Apesar de todo este sofrimento, conserva um grande amor pela vida e mantém um olhar positivo sobre cada pessoa.

Desde criança deseja dar sua vida à Deus. O seu pai comunicou –lhe o amor pelas populações árabes. Quando em 1921 descobriu a figura de Charles de Foucauld através da biografia escrita por René Bazin, foi como que uma iluminação para ela. Sente-se chamada a esta vida toda centrada em Jesus, amado com toda a paixão e vivida em pleno mundo muçulmano para testemunhar silenciosamente, como Jesus em Nazaré, o amor do Senhor por cada ser humano.

Mas a espera será longa porque ela é doente e não pode abandonar a sua mãe viúva e só.

Quando em 1936 a sua saúde piora e ela corre o risco de ficar paralisada, o médico prescreve-lhe como único remédio ir viver num país onde não caia uma só gota de água… como o Sahara!

Para o padre que a aconselhava, é o sinal esperado e encoraja-a a partir sem tardar, apoiando-se unicamente na força do Senhor.

Parte para a Argélia com a sua mãe e uma companheira, que também tinha uma saúde muito frágil. Vão morar por alguns anos num bairro árabe, numa cidadezinha do planalto Sahariano, onde se esforça por responder às necessidades de uma população pobre e abandonada.

A LUZ DE BELÉM

A sua vocação é centrada na luz de Belém. Numa profunda experiência espiritual, ela recebe o Menino Jesus das mãos da Virgem Maria. Perante este recém nascido sem defesa, a Irmãzinha Madalena fica cativada por mistério da doçura e da humildade de Deus, este Deus que quis ser um de nós e se fez uma criança. Dai em diante a Infância Espiritual segundo o Evangelho será o seu caminho, um caminho de confiança e de abandono nas mãos do Pai por tudo o que Ele quiser: “Deus tomou-me pela mão e cegamente eu segui-o.”

Deus condu-la aos mais pobres e aos que mais sofrem, para com eles compartilhar a sua vida, ser para eles um pequeno sinal da ternura de Deus.

A 8 de Setembro de 1939, Madalena Hutin, agora Irmãzinha Madalena de Jesus funda neste espírito, a Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus, consagrada nos primeiros tempos exclusivamente aos povos muçulmanos.

É em Touggourt, um oásis do Sahara Argeliano, que nasce a primeira Fraternidade. Na fronteira deste oásis vivem algumas centenas de nómadas cuja pobreza os obriga a agrupar-se. Instala-se no meio deles, numa velha casa em ruínas, que com a ajuda de alguns deles consegue reconstruir.

A Irmãzinha Madalena trabalha com eles de manhã a noite. Interessa-se por eles e por tudo o que diz respeito às suas vidas, conhece cada um pelo seu nome, nascendo entre eles uma profunda e recíproca amizade. Pouco tempo depois, porque a sua companheira parte, fica sozinha, completamente imersa neste mundo muçulmano. Evocando esta experiência, escreve:

“Vivi com eles um período extraordinário da minha vida , constatando que um amor de amizade pode coexistir apesar das diferenças de raças, de cultura, de condição social. Eles estavam entre os mais pobres dos nômades, aqueles que não têm nada e que se instalam junto dos oásis para serem socorridos. E Comigo foram de uma bondade , de uma delicadeza impressionantes.”

A Fraternidade é construída sobre esta pedra de amizade e de confiança recíproca com os pobres, vivida em cada dia numa partilha de vida e num profundo respeito.

Trata-se na verdade de uma nova forma de vida religiosa, e para estar segura de agir segunda a vontade de Deus, a Irmãzinha Madalena quer submeter à mediação da Igreja esta sua intuição

Quando em 1944, a congregação conta apenas com uma dezenas de membros e não tem ainda nenhuma existência oficial, ela consegue, em plena guerra, ir à Roma encontrar-se com o Santo Padre para lhe confiar tudo o que tem na alma referente a esta fundação. Pio XII recebe-a e ouve-a com grande bondade. Encontra-se também com Monsenhor Montini, futuro Papa Paulo VI, que lhe manifesta imediatamente uma calorosa simpatia. Ao longo da sua vida, a Irmãzinha Madalena guardará um grande amor pela Igreja, sabendo defender com vigor e perseverança os pontos essenciais desta nova vocação.

NO BRASIL, COM OS ÍNDIOS TAPIRAPÉS

ATÉ O FIM DO MUNDO

A Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus cresceu. A força evangélica das palavras da Irmãzinha Madalena fala ao coração de muitas jovens. Dirigindo-se à cada uma num tom pessoal, ela escreve:

“Como Jesus durante a sua vida humana, faz-te toda para todas-/os: árabe entre os árabes, nomada entre os nomadas, operaria no meio dos operarias… mas acima de tudo humana entre os humanos.

Como Jesus, penetra profundamente e santifica o teu meio pela identificação da tua vida, pela amizade, pelo amor, por uma vida totalmente entregue, como Jesus entregou a sua ao serviço de todos, por uma vida totalmente misturada com todos para que possas ser um com todos querendo estar no meio deles como o fermento que se perde na massa para fazê-la levedar

Mas para que as Fraternidade possam estar sem perigo, e sobretudo dar frutos, serem abertas e acolhedoras, é necessário que sejam ao mesmo tempo comunidades que irradiem a oração, o amor, a simplicidade e a paz, a doçura e a alegria. É necessário que vivas aí na presença de Jesus, como na santa casa de Nazaré, em recolhimento de amor, com o coração e o espírito tão cheios de Jesus que através de ti Ele irradie e se espalhe à tua volta».

É uma nova forma de vida contemplativa vivida em pleno mundo, em pequenas comunidades, como uma família. No coração de cada Fraternidade uma pequena capela abriga o Santíssimo Sacramento porque a oração das Irmãzinhas é centrada, como a oração do Irmão Carlos, na adoração silenciosa de Jesus presente na Eucaristia e a partir do Evangelho que deve penetrar e transformar a vida de cada Irmãzinha.

Em 1946 a Fraternidade abre-se ao mundo inteiro. A Irmãzinha Magdeleine acaba de reviver com profunda intensidade a Paixão de Jesus e arrasta esta experiência espiritual “como uma ferida no coração”, uma compaixão imensa por todo sofrimento, um amor abrasador que vai arrastá-la até o fim do mundo. As fundações multiplicam – se nos cincos continentes, num ritmo que desafia a prudência humana, mas persuadida que a força de Deus age na fraqueza, a Irmãzinha Madalena escreve:

Quando olho as Irmãzinhas, e as vejo, ainda tão jovens e inexperientes, tenho medo… Mas quando olho para o presépio e vejo o Menino Jesus sobre a palha, os pastores, os apóstolos e todos aqueles que começaram alguma coisa de grande, digo a mim mesma que é esta pobreza e esta fraqueza que o Senhor quer, para que seja Ele e só Ele a agir, e que nós sejamos apenas os seus instrumentos que ele modela sem que oponhamos resistência.”

Em situações de conflitos e de opressão, a Irmãzinha Madalena encoraja as Irmãzinhas a serem solidárias com os mais pobres e a lutar com eles contra a injustiça, mas sem violência e com o olhar fixo no presépio de Belém.

Eu gostaria que as Irmãzinhas de todos os continentes irradiassem à sua volta, até a extremidade da terra, a luz desse pequenino que é doçura, que é ternura, que é esperança. O mundo actual tem tanta necessidade dessa doçura, dessa ternura, dessa luz e dessa esperança.

A PAIXÃO PELA UNIDADE

Desde criança a Irmãzinha Madalena sabia por experiência até onde pode ir o ódio entre as nações e esse sofrimento provocou nela um imenso desejo de unidade.

Durante a sua primeira viagem à África Central, descobrindo as feridas do racismo, escreveu:

Será preciso que até ao fim dos séculos haja grupos humanos que desprezem os outros?! O desprezo, acredito que é pior ainda que o ódio, ou pelo menos conduz ao ódio. E isto quebra a unidade do amor.

Cada vez me apercebo mais que a unidade é o puro espírito do Evangelho, o desejo de Cristo, a sua última mensagem antes de morrer, esta mensagem recolhida de sua boca: “Que eles sejam um como nós somos um, eu neles e tu em mim, para que eles sejam consumados na unidade.”

Ela dizia também:

“ Se alguém me pede para definir numa só palavra a missão da Fraternidade, eu não hesitaria um minuto em gritar: UNIDADE – porque, tudo pode ser resumido na unidade.

Assim que ouvia falar de um país fechado a irmãzinha Madalena sentia-se irresistivelmente atraída e é assim que rapidamente, em pleno período estalinista, sonha partir para a Rússia.

A partir de 1956 organiza todos os anos estadias discretas na maioria dos países da Europa que estão sob o regime marxista. Acompanhada de algumas Irmãzinhas percorre centenas de quilómetros, numa rolote, para levar conforto aos cristãos perseguidos e também para tecer laços de amizade com todos/as aqueles/as que encontra, crentes ou não. Durante as suas estadias na Rússia une-se à oração dos cristãos ortodoxos e vários membros desta Igreja tornam-se grandes amigos. O Ecumenismo é, desde o inicio da Fraternidade, uma de suas prioridades

A 8 de Setembro de 1989, a Fraternidade festejou o seu jubileu (cinquenta anos de fundação). Pouco antes, a Irmãzinha Madalena deu uma queda da qual não se recompõe mais. Vai enfraquecendo progressivamente. Alguns anos antes tinha escrito às Irmãzinhas:

“Pode ser que haja entre nós uma ou outra que se encontre perto do grande encontro com o Senhor. Só Ele sabe. Esperemo-lo com amor “mais que o vigia espera pela aurora (Sl.130)… “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo, quando verei a sua face? Sl.42). Não tenhais medo! Ele é doçura e misericórdia. Ele é amor.

É nesta fé e nesta sede de encontro, que no dia 6 de Novembro de 1989, ela parte ao encontro do seu Senhor.

O que sobressai de uma tal vida? Talvez o que ela mesma disse de si mesma um pouco antes de sua morte:

“Eu só quis fazer uma obra de amor.

E agora cabe a cada uma de vocês que se comprometeu como eu a fazer este mesmo caminho e continuar também a mesma obra de amor, guardando sempre a consciência de que ela não nos pertence, mas que é uma obra da Igreja.”


Bibliografia

Do Sahara au monde entier – Pte. Sr. Magdeleine de Jésus Nouvelle Cité,1986

D ?un bout du monde à l ?autre – Pte. Sr. Magdeleine de Jésus Nouvelle Cité, 1983

Jésus est le maitre d’impossible – Pte. Sr. Magdeleine de Jésus – Le livre Ouvert.

Petite Sœur Magdeleine de Jésus, l’expérience de Bethléem jusqu’aux confins du monde – Pte. Sr. Annie de Jésus

Au-delà des frontières, vie et spiritualité de Pte. Sr. Magdeleine – Angélica Daiker, Cerf, 2005

Prier 15 jours avec petite sœur Magdeleine de Jésus – Michel Lafon et des Petites Sœurs de Jésus. Nouvelle Cité 1998.

FOTOS TIRADAS DE:

http://www.portal.ecclesia.pt/ecclesiaout/irmazinhasdejesus/madalena.htm

Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus Portugal

Categoria: Notícias (tirado do site da diocese de Leiria-Fátima


Fundada pela irmã Madalena de Jesus em 1939, na Argélia, esta congregação apresenta-se também com o nome mais completo de Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus de Carlos de Foucauld, porque foi a partir do exemplo de vida deste Beato que tudo começou.

Viver como Jesus, na partilha de vida com os mais pobres

Madalena Hutin, nascida em Paris em 1898, desde cedo manifestava a vontade de se consagrar a Deus. Aos 23 anos, descobriu a vida e os escritos de Carlos de Foucauld e encontrou o seu ideal de vida: “o Evangelho vivido, a pobreza total e, sobretudo, o amor”. Seguindo as pegadas daquele Beato, rumou à Argélia para viver “como Jesus de Nazaré”, espalhando o Evangelho entre os povos muçulmanos e partilhando com amizade a dureza da vida dos nómadas do Saara.

Foi aí que, em 1939, fez a sua profissão religiosa e deu início à Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus, que sonhava com uma congregação de “nômades e contemplativas”, vivendo o Mistério da Encarnação no meio do mundo. Dizia que cada fraternidade deveria ser “como a gruta de Belém, uma manifestação da presença de Jesus, um sinal da ternura de Deus, um raio de luz e de esperança”. E aconselhava a cada irmãzinha: “Como Jesus, faz parte da massa humana, de tal modo misturada com os outros, que possas ser no meio deles como o fermento na massa; antes de seres religiosa, sê humana e cristã com toda a força e a beleza do termo, pois quanto mais perfeita e totalmente humana, mais serás perfeita e totalmente religiosa”.

Carisma

Contemplativas no meio do mundo, as Irmãzinhas de Jesus têm como lema “Jesus Amor”, assumindo-O como único modelo e centrando a sua espiritualidade no Evangelho e na Eucaristia. Tal como a fundadora, procuram “manter o coração aberto às dimensões do mundo, desejando que todas as barreiras sejam demolidas e uma solidariedade e aproximação se construam, partilhando a vida com os mais pobres para os ajudar a criar condições de vida mais humanas, justas e fraternas”.

Para tal, num mundo marcado pelas injustiças e pela violência, querem que as suas fraternidades surjam como “pequenos oásis onde todos possam encontrar a esperança e o reconforto”, sabendo que o testemunho do amor fraterno entre si e com todos é o melhor testemunho de Jesus.

Nessa linha, assumem como missão na Igreja “levar Jesus fora das suas próprias fronteiras, alargando sempre o horizonte aos lugares de fraturas humanas de marginalidade e exclusão, a tantos lugares onde a falta de amor fraterno e universal faz sofrer uma imensa maioria de seres através do mundo, escondendo assim o verdadeiro rosto de Deus”.

Em Portugal e na Diocese


Presentes em 65 países dos 5 continentes, chegaram também a Portugal, em 1952, integrando-se no Casal Ventoso, bairro lisboeta marcado por uma extrema pobreza e marginalidade.

Se procuram viver como Jesus de Nazaré, é inevitável uma relação permanente e muito íntima com sua mãe. De facto, Madalena sempre cultivou e incentivou as suas religiosas a um grande amor a Nossa Senhora, a quem dedicou a congregação desde a sua fundação. “Peço-te, irmãzinha, que olhes de uma maneira muito particular para Maria, para compreenderes melhor a tua missão de mulher… que conserves sempre para com a tua Mãe do Céu um coração de criança; que ela te ajude a fazer de Jesus o centro da tua vida e a paixão do teu coração”, escreveu.

Por isso, foi ela mesma que tudo fez para conseguir abrir, no ano seguinte, a fraternidade de Fátima. Inicialmente orientada para o noviciado, ao longo dos anos tem servido essencialmente para encontros da congregação e acolhimento a quem deseja encontrar um espaço de “respiração” e de oração mais prolongada, assim como “uma porta aberta a todos os que precisam de encontrar um lugar onde possam partilhar o que trazem no coração, ou aproveitar do silêncio da nossa capela e da natureza que rodeia a nossa casa”, revela a irmã Casimira, superiora local.

A pequena comunidade residente dedica-se, sobretudo, à “oração e difusão da mensagem de Natal através do artesanato, disponibilidade e escuta a quem nos bate à porta”.

Testemunho vocacional

Não fui para a África, mas a África veio até mim


Nasci há 69 anos na aldeiazinha rural de Pedregais, concelho de Vila Verde, Braga. Sou a última de 8 irmãos, 4 raparigas e 4 rapazes, duma família pobre que vivia do trabalho árduo do campo, mas que soube transmitir-me os valores humanos e cristãos. Eu costumo dizer que muita coisa me faltou na minha infância e juventude, mas nunca me faltou o amor da minha família, sobretudo dos meus pais, o que muito contribuiu para o meu equilíbrio afetivo, para a minha realização e mesmo para a minha vocação. Trabalhei e vivi do trabalho do campo, trabalho que ainda hoje me dá vida

Fiz parte da Juventude Agrária Católica (JAC), movimento que me ajudou, não só na parte espiritual, mas a alargar a minha visão do mundo e das realidades concretas. Lia um jornal chamado Acção Missionária, que uma amiga me dava a cada mês, e o desejo de ser missionária, ir para África dar a conhecer Jesus, ia-se desenvolvendo no meu coração. Aos 19 anos fiz o meu primeiro retiro, e o desejo de me entregar a Jesus foi muito forte. No meu segundo retiro, aos 21 anos, a decisão foi tomada. Não podia fazer outra coisa senão, na minha simplicidade, dar-me, viver só para Deus e para os irmãos. Por motivos familiares, só uns anos mais tarde foi realizado este sonho, não na congregação em que sempre pensei entrar, mas na Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus. Vejo aqui a mão do Senhor, que me deu tempo para descobrir esta forma de viver, este belo carisma que tanto amo.

Não fui para a África, mas a África veio até mim. Vivi quase sempre em bairros degradados, o último dos quais na Quinta da Serra, Prior Velho, onde estive 9 anos no meio de bons, sorridentes e simpáticos africanos. Ali pude realizar a missão sonhada, dando a conhecer Jesus, não apenas por palavras, mas através duma amizade dada e recebida.

Agora estou nesta Fraternidade de Fátima, como superiora, há 10 anos, e sinto que o meu dom ao Senhor pode ser vivido em qualquer lugar. Sinto-me feliz e agradecida pelo dom da escolha que Deus me fez e pela graça do “sim” que eu dei.

Se hoje tivesse de recomeçar, faria a mesma escolha e seguiria o mesmo caminho.

Irmãzinha Casimira de Jesus, coordenadora da comunidade de Fátima

Números

No mundo

Fraternidades: 236

Membros: 1220

Em Portugal

Fraternidades: 3

Membros: 12

Na Diocese

Fraternidades: 1

Membros: 5

Mais nova: 69

Mais velha: 84

Média etária: 77

(encontrei por acaso o blog da fraternidade leiga, desativado desde dezembro de 2008. Como eles nunca me enviam notícias, segue esta, que encontrei lá. Se alguém tiver notícias mais recentes, me envie, por favor).

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

COM OS TAPIRAPÉS

Os 50 anos das Irmãzinhas de Jesus junto ao povo da Tapirapé

(reportagem feita por Liliane Luchin- extraído do site do MI Brasil - midiaindependente.org)

VEJAM OS VÍDEOS SOBRE O ASSUNTO:

https://youtu.be/M2mWTgDVphQ

https://youtu.be/rYIIw_wBPMU

Falar dos Tapirapé e não falar das Irmãzinhas, ou vice-versa, é omitir parte da história. Há 50 anos as irmãs da Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus, da Congregação de Charles de Foucauld, vivem na aldeia Urubu Branco, próximo de Confresa, em Mato Grosso. Três Irmãzinhas chegaram ao Brasil, no dia 24 de junho de 1952, com o objetivo de morar junto com os Tapirapé, numa casa como a dos indígenas, passando a ter a mesma alimentação e o mesmo estilo de vida. "Ir aos esquecidos, aos desprezados, aos que ninguém interessa" palavras da Irmãzinha Madalena, fundadora da Fraternidade.

As Irmãs Genoveva, Clara e Denise, quando chegaram à aldeia Tapirapé encontraram um povo com cerca de 50 pessoas, sobreviventes de ataques de seus vizinhos Kayapó. Após estes 50 anos de dedicação e comprometimento com os indígenas, hoje os números são outros: cerca de 500 Tapirapé em sua maioria crianças e jovens, vivem nas aldeias Majtyritãwa, próxima a Santa Terezinha, e Tapi´itãwa, Wiriaotãwa, Akara´ytãwa e Xapi´ikeatãwa, na área indígena Urubu Branco, próxima da cidade de Confresa.

O respeito às crenças, ao estilo de vida e aos costumes dos Tapirapé, foi o que fez das Irmãzinhas as principais aliadas deste povo durante todos estes anos. As lutas foram muitas e a determinação destas mulheres ainda maior. "Queríamos viver no meio deles o amor de Deus que não deseja outra coisa senão que vivam e cresçam como Tapirapé" são palavras da Irmãzinha Genoveva, que ainda vive com os Tapirapé. Desde o inicio, deram atenção especial para a saúde, especialmente porque estavam muito expostos ao contágio de doenças levadas pelos não-índios.

Era a primeira vez que iam viver em uma comunidade indígena e esta seria também a primeira "fraternidade" estabelecida por elas em solo brasileiro e sul-americano. Muita coisa aconteceu durante esses 50 anos. Os Tapirapé, que pareciam estar próximos da extinção, conseguiram se recompor. Para chegar a essa nova situação foi necessário muita dedicação, muita partilha e mútua aprendizagem. Apesar de alguns surtos epidêmicos, com a chegada das Irmãzinhas a mortalidade foi reduzida e quase que erradicada, por conta dos tratamentos curativos e do controle profilático das doenças, sempre respeitando a maneira de ser dos Tapirapé. Uma história de lutas e conquistas O quase extermínio dos Tapirapé se dá a partir de 1909, quando a população aproximada de 2000 índios foi exposta às doenças trazidas pelos não-índios. Epidemias de gripe, varíola e febre amarela acabaram com duas aldeias.

Outro agravante da diminuição e dispersão expressiva dos Tapirapé, foram as disputas que existiam entre os Kayapó que viviam na região. Em 1935, estavam reduzidos a 130 pessoas, e, em 1947, estavam com apenas 59, segundo o depoimento de Herbert Baldus. Foi nesse ano que ocorreu o grande ataque Kayapó. Aproveitando a ausência dos homens que haviam saído para a caça, a aldeia Tampiitawa foi praticamente destruída e várias mulheres e meninas, raptadas. Os sobreviventes procuraram refúgio na fazenda de Lúcio da Luz e junto a Valentim Gomes, recém contratado pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e que vivia próximo à barra do rio Tapirapé. Foi junto a ele que a comunidade resolveu construir a nova aldeia, em 1950. Com a chegada das Irmãzinhas, em 1952, a situação começa a ser controlada. Podemos dividir a história Tapirapé em duas etapas – antes e depois das Irmãzinhas.

O trabalho intenso e seu compromisso fizeram com que em 1959 houvesse um controle da mortalidade, por conta da assistência à saúde feito por elas. E em 1968, mais fortes e unidos, os Tapirapé dão inicio à primeira picada demarcatória que se fortalece depois de inúmeras viagens feitas a Brasília em 1975. Não podemos deixar de citar a influência das Irmãzinhas na criação do Cimi, que, em 1974, dois anos depois da fundação, participou ativamente da questão demarcatória das terras Tapirapé. No período de 1976 a 1981 acontece um fato marcante e histórico, o nascimento de 50 crianças. E em 1979 não foi registrada nenhuma morte na aldeia. Mas o processo de demarcação de terras era, e ainda é, muito lento.

Desde o inicio, os órgãos do governo responsáveis pela questão indígena se omitiram. A Funai prometeu demarcar todas as terras Tapirapé até 1981, e ainda hoje 50 por cento destas terras estão ocupadas por não-índios. Atualmente os Tapirapé vivem em duas áreas demarcadas e regularizadas, porém, a Área Urubu Branco tem sérios problemas de invasão. Apesar de oficialmente demarcado, o território Urubu-Branco encontra-se invadido por oito propriedades de não-índios e pequenos posseiros, restando aos indígenas a posse efetiva de 158,000 hectares, apenas 50 por cento de suas terras. Liderados por Marcos-Xako’iapari, desde 1983 o povo vem desenvolvendo um processo de reconstrução da auto-estima, exercendo o direito à cidadania e de etnia diferenciada, assegurando a herança ancestral. Hoje, a população Tapirapé é de mais de 500 índios. Contam com uma escola estadual de ensino fundamental e estão pleiteando a implantação do ensino médio.

Há professores que já terminaram o terceiro grau e outros que estão frequentando o terceiro grau indígena. Apesar das interferências da língua portuguesa, os Tapirapé conservam a sua própria língua. As crianças até cinco ou seis anos são monolíngües e apenas na quarta série começam a estudar o português na escola. A saúde é atendida pelo distrito de saúde indígena. Mesmo depois de todas as ações criminosas sofridas por eles, o povo Tapirapé garante: " A luta não vai parar, conclamamos a todos à busca da justiça e o fim da postura arrogante do governo federal pela insistência em manter a política colonizadora, que desrespeita os direitos constitucionais dos povos indígenas" afirma o cacique Xario`i .

Os 50 anos com Genoveva.

Genoveva é a única Irmãzinha que continua vivendo entre os Tapirapé. Desde 1952 quando chegou à aldeia, Veva, como é conhecida, nunca mais saiu de perto dos Tapirapé. Nascida no dia 19 de agosto de 1923, em Valfraicourt, um lugarejo da França, Génevève Hélenè Baoyé, simplesmente Veva, chegou no Brasil em 1952, para viver com os Tapirapé. Antes de vir para o Brasil Veva teve de suportar os quatro anos de ocupação alemã na França. Vivia numa das regiões mais afetadas pela segunda guerra, na fronteira com a Alemanha. Como os irmãos estavam no front, trabalhava na roça para sustentar a família.

Veva, com uma aparência frágil, cabelos brancos, há muitos anos acorda todos os dias antes do sol para cuidar da pequena roça que cultiva atrás das casas de taipa da aldeia Urubu Branco, a maior do povo. O respeito total à cultura e ao processo histórico deste povo, fez com que os Tapirapé se salvassem e se multiplicassem , tornando-se um povo alegre e seguro. Uma das características destas Irmãs é de optarem por viver sempre entre os mais abandonados e excluídos. Quando foram reagrupados em 1950, os Tapirapé estavam sem ânimo para lutar pela reconstituição do seu povo e começavam a pensar que seu sistema de vida era ruim e deveriam abandoná-lo.

As Irmãzinhas queriam devolver àquele povo a vontade de viver, assumindo sua cultura e fazendo tudo o que faziam, sem julgar se aquilo estava certo ou errado. Hoje, aos 78 anos e mais de seis malárias no currículo, Veva completa 50 deles vivendo com os Tapirapé. É a única Irmãzinha que permanece na aldeia desde o começo da missão. Vive hoje numa casa como as outras, em companhia de duas Irmãzinhas, Odila e Elizabette. A festa Após 10 anos da não realização da Festa da Cara Grande, os Tapirapé decidiram que a celebração das Irmãzinhas deveria coincidir com esta festividade. Para surpresa de todos, foi convidada Irmãzinha Clara, que atualmente vive na Rússia, para participar dessa comemoração, ela que havia deixado a aldeia há quase 50 anos. Passamos agora a palavra a ela, reproduzindo seu belo relato, de alguém que conheceu um povo à beira da extinção e que agora encontra uma comunidade cheia de vida e de esperança: "

Que emoção! Eis que me encontro no pequeno aeroporto de Confresa, onde nos espera Irmãzinha Odila. Logo reconheço a montanha do Urubu Branco, tão querida dos Tapirapé e que conhecia apenas de foto. Nos dias subsequentes vão voltar com insistência as histórias da retomada da antiga terra, depois de mais de 50 anos... São as cerâmicas encontradas no mato, as pedras dos fogões, as macaubeiras... O caminhão que tomamos, nos deixa na aldeia, diante da casa das Irmãzinhas e me reencontro com Genoveva, que não havia visto há 40 anos e Elizabeth, há 44 anos! O formato da aldeia é o mesmo da anterior, mas em contrapartida é dez vezes maior. A Fraternidade se encontra no interior desse círculo, que envolve a takãra, a casa dos homens, que é também a casa das festas e dos espíritos.

Está construída no sentido Norte-Sul e as portas foram abertas para o nascente e para o poente, segundo a tradição tapirapé. Rapidamente e sobretudo à medida que o sol vai se pondo, percebo o grande número de moradores. A aldeia fervilha de crianças de todas as idades e me faz lembrar meu último sonho do paraíso, quando, ao cair da tarde, vi sair da mata, dançando, centenas de Tapirapé... Na realidade, não tinha certeza se estava bem desperta ou se aquilo que estava vendo era um sonho... Esta sensação irá me acompanhar em toda minha estadia.

Os velhos logo vêm me saudar. Felizmente as Irmãzinhas me ajudam a lembrar seus nomes ou me dizem seus novos nomes, pois os Tapirapé costumam trocar de nome pelo menos três vezes na vida. A gente se abraça! Um deles, Cantídio-Taywi, me diz sem rodeios: "Clara mudou muito." Eles também mudaram bastante e o principal é que "a gente se reconhece". Como isso é bom! Marcos-Xako’iapari, o antigo cacique, e que deve ter mais de 80 anos, toca nos meus cabelos brancos e me diz: "Clara está velha como eu." E acrescenta: "Minha cabeça não está mais boa e será logo o fim", e dá uma boa gargalhada!... Ele me faz lembrar todos os sábios que encontrei em minha vida... Será que já não me lembrava de que eram tão numerosos?

Com freqüência recordava a última cena do filme A Missão, com aquela canoa com mulheres e crianças Guarani, sobreviventes de um massacre, e que me fez chorar, lembrando do que havia ocorrido com os Tapirapé... Na aldeia de Urubu Branco há cerca de 250 pessoas, a metade com menos de 12 anos. Hoje, por causa da festa, muitos vieram das outras quatro aldeias e a população total deve chegar a um pouco mais de 500 pessoas. Apenas nessas duas semanas que passei com eles, nasceram mais quatro. Que vitalidade! Que beleza! Com algumas exceções, eles transpiram saúde. Os jovens são bem maiores que seus pais e as moças são muito bonitas. Atualmente há mais moças que rapazes e isso deverá criar problemas. Será que a vida deles mudou?

Aparentemente parece que o relacionamento entre eles e as Irmãzinhas continua o mesmo. E os encontramos sentados nos troncos de árvore e nas carapaças de tartaruga, como antigamente. À noite há o mesmo céu com o Cruzeiro do Sul e o mesmo luar... Algumas vezes, quando há gasolina para o gerador de energia, algumas lâmpadas, penduradas no pátio, clareiam o ambiente. Apesar dos botijões de gás que há em várias casas da aldeia, as mulheres continuam cozinhando em seus fogões à lenha, localizados atrás das casas, onde toda família se junta para comer.

Mas o que fez mudar o aspecto da aldeia foram as roupas a secar nos varais, amarradas nas árvores. Roupa muito limpa – calções, sutiãs e camisetas –, com as mais variadas marcas, desde Coca-cola até o nome de políticos da região... A limpeza reina também no interior das casas, com as panelas brilhando pela ação do Bom-Bril. Logo entramos no ritmo das festas, festas que começam no período da estiagem, cujo ponto culminante é a festa da Cara Grande. Geralmente esta festa é por volta do dia 24 de junho. Pela primeira vez, desde 1947, o ciclo completo das festas será realizado na aldeia de seus antepassados, agora retomada. É um ano muito importante para eles (e para nós também!!!). Durante uma semana os cantos e as danças vão se suceder, muitas vezes durando a noite toda, até o desaparecimento da última estrela. Impossível descrever todas as festas.

O que chama a atenção é o ambiente de festa. Durante dias seguidos e o dia todo, em todos os cantos mulheres, agachadas, fazem as pinturas no corpo dos homens, dos rapazes e das moças, com desenhos geométricos, cada um com seu significado, incluindo os xire’i (isto é, adolescentes que se preparam para os rituais de iniciação à vida adulta) com o corpo todo pintado de preto. As danças são realizadas pelos homens mais novos, preparados pelos mais antigos, que nesse ano fizeram um grande esforço, conscientes de que são os depositários das tradições de seu povo.

A dança é feita geralmente pelos homens, que se colocam em fila indiana, perto da entrada do nascente da tãkãra, magnificamente pintados e enfeitados, com seus arcos e flechas, acompanhados pelos "espíritos ancestrais dos Tapirapé", que estão vestidos de uma roupa feita de folha de palmeira verde ou seca, que faz um ruído característico, ao menor movimento. Nos divertimos em contar os participantes homens (jovens e adultos): eram 84. Havia dia em que chegavam a 110! Isso me faz lembrar o ano de 1952, quando eram apenas 47 pessoas!... Algumas vezes as danças se transformavam em disputas: a eterna luta contra seus inimigos tradicionais, como os Karajá, os tori (os não-índios) e sobretudo os Kayapó. Estes, representados por um grupo de Tapirapé disfarçados, parecem inicialmente vencê-los, mas são dominados e levados como prisioneiros para a casa dos homens. No final há a dança da vitória.

Numa das manhãs, ao nascer do sol, houve a festa da liberação dos espíritos, quando estes saem pela aldeia, sendo perseguidos pelas moças, que procuram agarrá-los para dar-lhes o cauim, que irá apaziguá-los. Houve também a refeição ritual, que é um apelo à unidade dos diferentes grupos rituais, cada um com o nome de um pássaro. Nesse dia, os rapazes levam à tãkãra grandes panelas, bacias e cestos cheios com banana, carne de porco-do-mato, farinha de mandioca e cauim. Quando o grupo é maior, como agora, a festa ocorre no pátio da aldeia.

A última noite foi consagrada à festa do kawio, bebida fermentada, ao redor da qual as danças se prolongam por muitas horas, visando espantar os espíritos maléficos, simbolizados por essa bebida ácida. Duas casas são escolhidas para o ritual: uma ao norte e outra ao sul da casa dos homens. A escolha dessa última recaiu justamente sobre nossa Fraternidade, pois na casa escolhida havia falecido uma mulher há pouco tempo. Dessa vez a roupa dos tori (não-índios), que as mulheres Tapirapé costumam usar, desapareceu completamente. Enfeitadas de maneira tradicional, elas dançam em volta dessas duas casas, enquanto que os homens permanecem no interior das mesmas, em torno das panelas de cauim.

Marcos-Xako’iapari parece estar tomado de uma grande força interior, o que nos comove muito. Descobre que ele e Joana-Ataxowoo são os únicos capazes de transmitir a riqueza dessas tradições que estão correndo o risco de desaparecer completamente. Os jovens procuram segui-los, observando-os com atenção, imitando-os e gravando tudo. Nos dias subsequentes, ouvimos suas vozes por toda parte, seguidas da voz dos jovens que repetem as palavras e as melodias. Foi realmente o triunfo Tapirapé. Mais uma vez, Marcos liderou um último rito, que está quase desaparecendo e que tem por finalidade fazer uma espécie de redistribuição das riquezas.

É o encerramento das festas. No dia seguinte ao da dança do kawio, bem cedinho, ele vem com Tokyna, sua mulher, buscar a panela do kawio que ficou em nossa casa e a leva, cantando de casa em casa. O chefe de cada família bebe um gole de cauim, cuspindo em seguida, enquanto que os demais têm o direito de tomar um pouco do cauim que sobrou e ao mesmo tempo de pedir ao dono da casa tudo o que querem. Marcos dá o exemplo e se vê despojado de muitos de seus bens. Outras lideranças o seguem, mas nem todos têm essa coragem.

Como diz Irmã Odila, nesse ritual "há ao mesmo tempo desprendimento e audácia que podem causar admiração ou medo". Cama, colchão, cadeira, fogão a gás, pasta de urucum, arara, galinha mudam de proprietário em apenas uma manhã! Uma exposição de fotos ampliadas pela Irmã Edith, que infelizmente teve de deixar a aldeia antes da festa que ela tanto se empenhou em preparar, fez muito sucesso e levantou muitos comentários. Evocava a vida desses 50 anos e muitos reconheceram aqueles que já se foram. À noite houve a projeção de dois vídeos históricos, que teve o poder de reunir num minuto toda a aldeia: o filme do Padre Voillaume, que esteve com Irmãzinha Madalena em 1953 e um outro, de 1955. Não conseguia imaginar a quantidade de crianças que estavam à nossa frente, sentadas nos primeiros lugares. No dia seguinte, após as festas, começa a partida... pois é impossível alimentar por muito tempo 500 pessoas!

Com todas as coisas novas que estão chegando à aldeia, o futuro parece inquietar as Irmãzinhas. Mas acredito que são eles realmente os construtores de seu futuro juntamente com Deus. As Irmãzinhas, que encontrei na aldeia, certamente escreverão um outro relato, depois de tantos anos de presença no meio deles. Eu as agradeço por me terem convidado e por terem partilhado comigo tanta coisa que me ajudou a reencontrá-los, ficando no meu coração apenas um canto de ação de graças. "Que beleza!" é a única coisa que consigo repetir o tempo todo." Fonte:Cimi( na foto aparece Genoveva, com outra irmãzinha e o cacique dos Tapirapés Marcos( já falecido)

Postado por Naldito

LIVRO DA IRMÃZINHA ANNE

Em 19/06/2012 Bizon escreveu:

Caros Membros da Fraternidade! Dias atrás enviei o e-mail informando do lançamento do Livro Irmãzinha Madalena de Jesus, “A experiência de Belém até os confins do mundo”, de Irmãzinha

Annie de Jesus, Ed. Cidade Nova.

Recebi várias solicitações de irmãs e irmãos, mas informo que tenho ainda um bom número de exemplares à disposição para os irmãos e irmãs das Fraternidades e para todos os demais interessados.

Como informei na MSN anterior, o resultado da venda dos livros ficará para a caixa da Fraternidade, para os possíveis gastos. Aguardo sua solicitação.

Força e coragem! Bizon - Casa da Reconciliação (http://www.casadareconciliacao.com.br/)


SODALÍCIO (SODALITÉ) Pe. Carlos de Foucauld

ESTATUTO

Preâmbulo

O Sodalício (Sodalité) tem por origem Carlos de Foucauld que, apesar do seu desejo de fundar fraternidades, viveu só até a sua morte no deserto, levando no coração de uma população estrangeira a fé cristã, uma existência evangélica “ humilde, discreta e velada“ (L. Massignon), “praticando a doce e humilde caridade e fraternidade de Jesus de Nazaré” (Carlos de Foucauld).

O Sodalício (Sodalité) se refere a uma coleção inacabada de “Conselhos evangélicos” escritos por Carlos de Foucauld na intenção daqueles que gostariam de viver esta graça modesta ao alcance de todos” (C. De Foucauld- Coleção publicada sob o título Conseils, Paris, Seuil, 1926).

Assim o Sodalício “oferece a toda pessoa de boa vontade um simples conselho discreto: é apenas um conselho, mas é aquele das Bem-Aventuranças”; ela “é um lugar de vida contemplativa livre” (L. Massignon). O Sodalício quer manifestar uma real participação nos mistérios de Jesus, seja em Nazaré ou no Sábado Santo, quando ele se insere na vida escondida ou nas trevas da morte, a fim de criar a passagem, a “páscoa” para a luz de Deus.

O Sodalício se coloca na linhagem dos Santos que, como Maria na Visitação, Francisco de Assis, Antônio Chevrier (fundador do “Prado”) ou Teresa de Lisieux, viveram em formas diferentes a solidão e a simplicidade, a pobreza e a noite espiritual.

ARTIGO 1 – NATUREZA DA ASSOCIAÇÃO

O Sodalício é uma “associação privada de fiéis”. Ela faz parte da Associação Geral que compreende o conjunto de grupos nascidos do Padre de Foucauld, associação estabelecida em Beni-Abbés em 1955. Ela é, entre esses grupos nascidos do Padre de Foucauld, a única a não ser uma “fraternidade”, mas uma rede de isolados. Ela é “a mais humilde das afiliações foucaulianas” (L. Massignon)

ARTIGO 2 – FINALIDADE

O Sodalício tem por finalidade ajudar aqueles e aquelas que querem se esforçar em marchar neste caminho traçado por Carlos de Foucauld, membros dispersos que são todos igualmente reunidos (quer sejam bispos, padres, religiosos, religiosas, leigos) numa mesma vocação, através da qual eles manifestam especialmente sua adesão viva à comunhão dos santos.

ARTIGO 3 – VIDA DOS MEMBROS

O Sodalício (latim: sodalitas, cenáculo, pequena associação; no francês sodalité; no inglês sodality) é uma “diáspora”, uma “comunhão” invisível de cristãos dispersos através do mundo e vivendo seu engajamento em pleno mundo, sem distinção exterior, um entre os outros.

Estes cristãos se engajam livremente e têm como ponto de honra levar o melhor possível seu engajamento de maneira livre e inventiva, diante deles mesmos e diante de Deus. Cabe a cada membro, ajudado pela oração dos outros membros, discernir, com a ajuda do Espírito Santo, os melhores meios a escolher para viver o melhor possível este engajamento de Sodalício.

Agindo assim de maneira pessoal e responsável, todo membro do Sodalício acompanha invisivelmente, mas realmente, o itinerário espiritual de cada um dos seus irmãos e irmãs do Sodalício: solitários, os membros do Sodalício são ao mesmo tempo profundamente solidários uns com os outros.

ARTIGO 4 – ESTRUTURA

O Sodalício é coordenado, sob a autoridade do bispo responsável, por um dos seus membros, que tem o cargo de discernir as vocações que se apresentam, de as admitir no Sodalício e de estabelecer a ligação (por meios diversos: cartas circulares, encontros informais, cartas pessoais...) entre todos os membros que estão engajados no Sodalício. Desde L. Massignon, o costume é que o coordenador do Sodalício designe ele mesmo o seu sucessor em comum acordo com o bispo responsável. Este coordenador pode ser escolhido entre todos os batizados membros do Sodalício, quer eles sejam padres, leigos homens, mulheres.

ARTIGO 5 – ADMISSÃO

A adesão ao Sodalício se faz pelo acordo com o coordenador. Este deve examinar se o (a) candidato (a) apresenta bem os sinais desta vocação: a fé na comunhão dos santos, uma certa acepção de uma solidão de vida ativa e criativa, a vontade de viver o Evangelho e de querer particularmente conhecer a Jesus “pela amizade e bondade” (C. De Foucauld) para com os outros; a proximidade, por um lado, com aqueles que não partilham a fé cristã e, por outro lado, com os que, no nosso mundo, são particularmente desamparados, esmagados por uma solidão negativa, abandonados, rejeitados.

ARTIGO 6 – ENGAJAMENTO

O engajamento no Sodalício se faz numa data de festa escolhida de comum acordo entre o coordenador e o candidato. Há festas mais particulares do Sodalício: a Visitação, o Natal, a Epifania, a Transfiguração, festas onde Jesus transparece no transcorrer de uma vida escondida. O engajamento se exprime na Eucaristia do dia da festa escolhida: o bispo ou o coordenador apresenta neste dia ao Senhor o novo membro, enquanto ele, por sua vez, promete viver o melhor possível no espírito de Sodalício segundo o carisma do Padre de Foucauld. O engajemento se faz por um ano, renovável tacitamente cada ano à mesma data.

ARTIGO 7 – CARÁTER DO ENGAJAMENTO

O engajamento no Sodalício é um engajamento pessoal e discreto. O bispo ou o coordenador não podem revelar, sem seu consentimento, os nome destes e destas que fazem parte do Sodalício: só os membros podem, por eles mesmos, manifestar a outros esta pertença. Não há, portanto, listas de aderentes. Também não há propaganda para o Sodalício.

ARTIGO 8 – LIGAÇÃO ENTRE OS MEMBROS

Um membro do Sodalício pode pedir ao coordenador poder entrar em relação direta ou por carta com um outro membro do Sodalício (de sua região) ou de uma busca espiritual semelhante etc. O (a) coordenador (a) pode estabelecer esta ligação de acordo com a outra parte, se ele (ela) discernir que não se trata de um desejo que irá contra à vocação própria do Sodalício. O (a) coordenador (a) deve velar para que o Sodalício não se constitua “fraternidades” enquanto tais, mas permaneça fiel à sua vocação de “comunhão” entre membros dispersos.

ARTIGO 9 – SAÍDA

Um membro pode a qualquer momento, se desejar, deixar livremente o Sodalício. Um membro pode ser pedido pelo(a) coordenador (a), de acordo com o bispo, a deixar o Sodalício, se ele manifestar publicamente um comportamento por demais contrário ao seu engajamento. Antes de efetivar essa demissão, o bispo deverá ouvir esse membro.

ARTIGO 10 – COTIZAÇÃO

Nenhuma cotização, nenhuma contribuição é pedida aos membros do Sodalício: eles enviam o que queiram, se eles quiserem, para as despesas das cartas circulares. E se eles fizerem chegar doações ao (à) coordenador (a) para ajudar a outros membros que passam por necessidade, os que receberem ignorarão os nomes dos que dão e, reciprocamente, a oferenda e cada um ficará em segredo (Carlos de Foucauld). Em caso de dissolução do Sodalício, o montante dos recursos que existirem será destinado pelo bispo à Associação Carlos de Foucauld. (Natal de 1996).

Irmã Margareth gretaporanga@yahoo.com.br

IRMÃOZINHOS DE JESUS

(Pe. René Voillaume + 2003, fundador dos Irmãozinhos de Jesus. Veja o livro " Fermento na Massa", sobre eles, neste site).


Relato dos Irmãozinhos de Jesus( Santiago-Chile) (é do ano de 2008. Encontrei no blog, desativado desde 2008, da Fraternidade Leiga).


**** Para conhecimento de todos e todas um lindo relato sobre a vida dos irmãozinhos de Jesus em Santiago Chile.....


Relato dos Irmãozinhos de Jesus

(Benito – Santiago-Chile)


A Fraternidade existe em Santiago desde 1951, fruto de um convite de Santo Alberto Hurtado ao Pe Voillaume. Está situada no norte da cidade, no distrito de Renca. Os três irmãozinhos (Benito, Noel e Elias, que a compõem desde o princípio trabalharam na construção civil. Hoje, os três estão aposentados e, além disso, estão acolhendo ao irmãozinho “peregrino”, Enrique (Henry Bourceret), atualmente muito debilitado de saúde.

“Cada dia, nossa fraternidade busca seu rosto e o forja e o vive de forma inovadora; hoje, todavia, mais que há trinta anos, quando iniciamos neste bairro de Santiago.


Naquela época, mais do que hoje, tínhamos um certo ”marco” de referências objetivas, dos quais o aspecto mais comum vinha do nosso trabalho:este tinha e marcava com ritmos nossos dias. Mas, com a idade avançando cada dia, sem pedir permissão, Elias, Noel e eu, tivemos que deixá-lo pouco a pouco, não sem sentir, para nos organizarmos de outra maneira. Quanto a subsistência, felizmente, temos nossa pequena pensão que asseguramos dos nossos anos de trabalho. Isso tem a vantagem de não perdemos nosso meio social, com o qual guardamos vínculos de amizades forjados ao longo dos nossos anos “ativos”.


Mas, em meio desta transformação progressiva que nos impõe os anos acumulados, temos que voltar a criar cada dia o equilíbrio de nossas vidas, nossa doação a Deus, a causa d’Ele, nossa doação aos homens e mulheres. É mais delicado e temos que inventá-lo a cada dia.


O Senhor também está vivo e presente, nos traz cada dia sinais aos quais temos de estar atentos. E assim, o sinal maior quem nos deu foi Enrique (Henry). Ao longo de seus anos de “peregrino”, várias vezes o acolhemos, com alegria, aqui no Chile, principalmente nos anos 80. Nesta época, uma vez caiu enfermo, enfermidade profissional de peregrino, já que se tratava de uma dor nos pés, mas se curou e voltou a partir. No início dos anos 90, se encontrava no Paraguai e uma sobrinha, que admira muito seu estilo de vida,tomou a decisão de acompanhá-lo na etapa de sua “aposentadoria” que já se aproximava.


Um conjunto de circunstâncias levaram que se escolhesse o Chile para esta nova etapa de vida. E assim, desde 95, Enrique (Henry) e Helena (sua sobrinha) integraram nossa fraternidade. Mais do que ninguém, Elias e Noel, assumiram esta acolhida. Eu, nessa época, estava no Peru, onde em fevereiro de 98 tive uma hemorragia cerebral que me deixou com uma hemiplegia e, depois de vários meses de reeducação, volto pra cá em fevereiro de 99.


Desde então, Enrique e Helena fazem parte da fraternidade. Mas, Enrique se vê afetado da “maior pobreza” cada dia mais: está perdendo a memória e vive em seu universo próprio, bastante distante do universo das pessoas que o rodeia. Essa situação nos levou a organizar nossas forças, no sentido mais profundo da palavra: trata-se não só de organizar nossas disponibilidades para acompanhá-lo, dado que não pode ficar só em nenhum momento, como também de aprender a decifrar os sinais que nos dá o Senhor.


Qualquer um que olha a Enrique, logo se dá conta de sua necessidade de vários cuidados e atenções. Mas, se com isso, ficamos hipnotizados por estas necessidades e desenvolvemos uma atitude assistencialista, corremos o risco de deixar de lado o principal, acentuando sua dependência do outro, sem ajudá-lo a assumir-se, como vivemos normalmente. É um longo e difícil aprendizado para tentar encontrar qual a melhor maneira de ajudar ao outro a ser uma pessoa tão responsável, mesmo quando os recursos pessoais vão se declinando. Nossos próprios limites aparecem constantemente.


Neste conjunto de questionamento, misturado às exigências constantes de atenção às verdadeiras necessidades de Enrique, sem possibilidade de um verdadeiro diálogo com ele, que faz com que seu acompanhamento seja esgotante para quem quer que seja; ainda assim, nos faz refletir a cada dia mais sobre a verdadeira dignidade da pessoa. Além de Helena, são principalmente, Noel e Elias quem assumem esta tarefa, central na caminhada de nossa fraternidade.


Este acompanhamento, como já dizia central em nossa Fraternidade é, no entanto, por suas exigências, muito exaustivo para qualquer um e finalmente para todos, assim como Helena também o sente. Isso a levou a buscar uma casa de repouso, onde acaba de conseguir por estes dias. Tanto ela como Enrique chegaram a convencer-se que tal solução podia ser mais oportuna e segura para os dois.


Por agora, Enrique parece acomodar-se bem a sua nova casa e o pessoal desta casa parece não desanimar-se pelo estado de enfermidade de Enrique. Felizmente, sua irascibilidade se expressa em maior parte em francês, o que tem certas vantagens. Esperamos que isso possa estabilizar-se com o tempo. Tanto Helena, como nós, mantemos contatos com Enrique, seja visitando em sua casa de repouso, seja convidando a vir a fraternidade com certa regularidade para partilhar algum almoço e um tempo com ele. Fica para nós o desafio de construir as modalidades concretas desta situação, que sejam viáveis para todos.


Finalmente nossa fraternidade, ainda vivendo a evolução de seus problemas próprios, busca também não perder sua razão de está presente aqui neste bairro, vivendo com e para a gente que nos rodeia, ficando atento aos seus problemas. Aqui encontramos outro sinal do Senhor: Depois de várias visitas, para nos conhecer um pouco, durante as vésperas de Pentecostes de 2005, nos tocou acolher em nosso meio, Rodolfo Botto, um jovem (33) de Quilpué, ao lado de Valparaíso, que tem esse desejo raro de consagra-se ao Senhor caminhando como pobre entre os pobres, com a ajuda da Fraternidade, no exemplo de Jesus de Nazaré.Viveu conosco pouco mais de dois anos, até agosto de 2007, trabalhando humildemente, segundo seu próprio desejo, em um asilo de idosos, como membro do serviço de manutenção.


Mas, além dos serviços práticos que tem que assegurar, tantas salas ou espaços que tem que limpar ou organizar, etc., ou através destes serviços, logo esteve sensibilizado que seu serviço tinha que manter um ambiente humano onde cada idoso merece ser respeitado e, mais ainda, sentir-se amado e por isso,profundamente respeitado. Depois de experimentar ao longo destes dois anos, como em tal caminho poderia realizar efetivamente sua doação ao Senhor, foi fazer um tempo de noviciado com outros irmãos, na Bolívia, onde está atualmente muito feliz.


Aqui, sentimos com força como o nosso país está triste, padecendo fortemente da ausência de razões para viver, o que vem sendo feito elimina-se o valor da pessoa humana por si mesma. A única coisa que tem importância e valor é a rentabilidade econômica: esta tem sua importância, mas, ao constituir-se como única razão de viver, tira da vida humana a alegria, os sonhos e projetos, vistos e calculados unicamente segundo sua rentabilidade econômica.


A vida das pessoas torna-se um tanto entediada. Uma vez mais estamos convidados a olhar a pessoa humana tal como Deus a olha, capaz de iniciativa, de amor e de aventura; e a testemunhá-lo em nosso cotidiano que não é especialmente marcado pela rentabilidade econômica.Nesta hora difícil do pais, temos que guardar a esperança que um dia novo se aproxima: é para o parto deste dia novo que temos que trabalhar: é um trabalho de sexta-feira santa. Não somos os donos do resultado, só sabemos, com certeza, que ele virá. Que o Espírito do Senhor lhes encha de uma esperança alegre e inquebrantável. (Irmãozinho Benito)


(Extraído da Revista “Boletín Semestral de los Hermanos de Jesus”- I Semestre/2008-Número -5)


Postado por Naldito, da Fraternidade Leiga.


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

IRMÃOZINHO JOÃO CARA, SACERDOTE ITALIANO


VÍTIMA DE VIOLÊNCIA NA NOITE DO NATAL


Uma vez mais a violência urbana nos atinge, e não escolhe quem, nem lugar. Em Salvador, capital baiana, exatamente na noite da maior festa da cristandade, o Natal, que deveria ser de paz e de amor, nosso querido amigo e irmão João Cara, 79 anos, italiano (do sul), religioso e sacerdote da Fraternidade do Evangelho Carlos de Foucauld, foi covardemente agredido em sua moradia, nas dependências da igreja da Trindade, centro da cidade.


Não se sabe até agora se por uma ou mais pessoas, supostamente dependente de droga, que, não conseguindo

dinheiro que queria, passou a agredir o religioso com chutes e socos que o atingiram principalmente a cabeça, particularmente o rosto, tendo fraturado o seu maxilar.


Encontrado praticamente desacordado, João Cara foi conduzido ao Hospital Santa Isabel, onde continua internado, semissedado, e esperando se submeter a cirurgia, logo que se recupere também de uma complicação pulmonar advinda desse incidente.


Tão logo se soube deste doloroso episódio, Rita, amiga do João, comunicou o fato ao amigo velho amigo e padre Gaspar e este ao

provincialato dos Irmãos do Evangelho na América, então o coordenador Hermanito Jose Luiz veio da Bolívia para Salvador, para acompanhar e dar assistência ao João Cara.


Quem também o acompanha e nos prestou informações foi Vera Lazarotto, da fraternidade leiga, que há muitos anos reside em Salvador e acompanha a presença dos irmãozinhos do Evangelho naquela cidade, especialmente nos Alagados, região periférica, onde João morou e trabalhou, entre outros trabalhos, como

sapateiro, depois de ter trabalhando anonimamente como servente faxineiro em um hospital dirigido por religiosas.


João Cara é muito querido e sua vida como religioso desde que ingressou na Fraternidade de Foucauld é admirável. Antes de vir para o Brasil, morou na Argentina, onde participou ativamente da resistência à ditadura militar, tendo sido perseguido e visto muitos de seus companheiros sendo mortos ou desaparecidos.


Particularmente interessante, também, as experiências que viveu como religioso e sacerdote, anonimamente, a confundir as pessoas, especialmente próprios religiosos e religiosas como ele. Certo dia, num encontro de religiosos em Salvador, ele deparou com uma religiosa diretora do hospital onde ele era faxineiro.

Ela, surpresa, lhe perguntou: o que você está fazendo aqui, Sr. João?


Uma vez revelada sua identidade, João lamentou, porque a partir daí o tratamento mudou... Vamos todos nessa hora rezar por nosso querido amigo e irmão João Cara, para que Deus o assista nesse seu calvário em pleno Natal, e ele possa, com a assistência médica, recuperar sua saúde plenamente. Coragem, João, em mais esse desafio e provação que sua vocação lhe pede na busca amorosa de viver como Jesus de Nazaré viveu!


Sobre o Irmãozinho João Cara

(enviada pelo nosso irmão Benedito Prezia )

Antes de mais nada, queria dizer-lhes que quando estava internado tive a grata surpresa de receber a visita de João Cara, irmãozinho do Evangelho, da Fraternidade Religiosa Carlos de Foucauld, que havia retornado da Itália, estando a caminho da Bahia.


Aparentemente estava o mesmo, embora tenha dito que que ficou bem abalado emocionalmente com a agressão. Acho que todos acompanharam o assalto que teve. Contou alguns detalhes do caso: o drogado que o assaltou (levando o relógio e o celular), no começo da noite deu-lhe uma facada no pescoço e felizmente não atingiu a jugular. Apesar dos golpes e da perda de sangue, conseguiu sair da casa para chamar alguém, mas desmaiou, ficando a noite toda no chão. Só no dia seguinte ele foi encontrado, isso o debilitou muito e no hospital teve uma pneumonia.


No Brasil foi operado do maxilar direito e na Itália, do maxilar esquerdo. Mas, como consequência dessa última cirurgia, perdeu a sensibilidade dessa parte do rosto. Mas fala normal, embora esteja comendo comida pastosa.


Ele retornou à comunidade do povo da rua, mas irá agora morar com outra pessoa e num local mais protegido. É um exemplo admirável de vida. Benedito Prezia - 28/08/2012


IRMÃOZINHOS DA VISITAÇÃO

Fraternidade dos Irmãozinhos da Visitação de Charles de Foucauld

do boletim especial 126 de 2016

É uma comunidade composta por leigos, irmãos e irmãs, além de padres. Nasceu pelo desejo ardente dos bispos reunidos em Aparecida com o Papa Bento XVI, para a realização da V conferência Latino Americana e Caribenha.

Após a conclusão desta conferência, um pequeno grupo de jovens rapazes, já vivenciando uma profunda experiência religiosa em uma comunidade nova, tiveram seu primeiro contato com a espiritualidade do Irmão Carlos de Foucauld, através do livro ‘Fermento na massa’.

Naquele momento, também receberam um exemplar das conclusões da V Conferência, e sentiram-se atraídos a trilhar um novo caminho no coração da Igreja, atendendo ao apelo do Papa e dos bispos, reunidos aos pés da Mãe Aparecida.

Os irmãos vivem um apostolado ativo e contemplativo a partir da espiritualidade de Nazaré, do Beato Carlos de Foucauld, imitando a Jesus de Nazaré, fazendo o bem e testemunhando o Evangelho com a vida.

O carisma da comunidade é o da visitação, que é levar o Evangelho de Cristo de Nazaré junto aos pequenos, sendo presença de serviço e transformação, por isso, trabalham em instituições sociais, nas paróquias; ou seja, nos locais onde a Igreja precisa deste serviço.

Além disso, atualmente a comunidade está administrando um lar de Idosos na Cidade de Goiás, que também acolhe pessoas com vulnerabilidade social; e também fazem trabalhos com as crianças pobres no denominado: “Projeto Cajado”, onde oferecem, semanalmente, diversas oficinas às crianças. Ainda colaboram na comunidade paroquial, ao lado do mosteiro.

TIRADO DE OUTRA FONTE:

A oblação constitui, pois, um “caminho de perfeição” oferecido aos que, entre as mais variadas formas de que se pode revestir a perfeição cristã, através da diversidade das Ordens Religiosas, Congregações, Fraternidades e das orientações espirituais que elas concretizam, sentem-se mais atraídos pelo espírito que informa a vida monástica, contemplativa e ativa.

Fazer profissão de Oblato é escolher seriamente um caminho, após madura reflexão. É assumir um compromisso de enorme importância, já que se toma a Deus mesmo como testemunha; é colocá-la entre as coisas mais sérias aos olhos da fé, pois que se refere às coisas de ordem sobrenatural. É firmar um “contrato” com a comunidade religiosa à qual se filia de onde resultará uma comunhão vital, e uma corresponsabilidade espiritual recíproca.

É engajar-se, solenemente, no caminho de uma verdadeira conversão interior; conversão esta que, como se sabe, nunca será inteiramente atingida nesta terra, mas na qual se deve trabalhar dia-a-dia, com perseverança, inspirando-se nos princípios da Regra Foucauldiana.

1. Espiritualidade de Nazaré.

2. Comunhão com toda Igreja.

3. Formação permanente: Encontros e retiros espirituais.

Como ser oblato(a)?

1. Ser um católico praticante.

2. Receber maiores informações sobre os Oblatos Foucauldianos.

3. Conhecer o Bem-aventurado Charles de Foucauld.

4. Escrever uma carta pedindo para entrar nos Oblatos Foucauldianos.

5. Aguardar a reposta e depois receber uma ficha e enviar para o responsável dos Oblatos.

5. Enviar uma carta do pároco para o responsável dos oblatos.

6. Custear todas as despesas dos encontros e retiros.

Frei Inácio José do Vale

Responsável Pelos Oblatos

Caixa Postal, 05

76600-000 Cidade de Goiás-GO

https://irmaozinhosdavisitacao.blogspot.com.br/p/oblatos.ht…

IRMÃOZINHOS DA VISITAÇÃO

DA FRATERNIDADE DE CHARLES DE FOUCAULD

Como nasceu:

A Fraternidade dos Irmãozinhos da Visitação de Charles de Foucauld nasce do desejo ardente dos bispos reunidos em Aparecida com o Santo Padre o Papa Bento XVI, para a realização da V conferência Latino Americana e Caribenha. Após a conclusão desta conferência, um pequeno grupo de jovens rapazes, já vivenciando uma profunda experiência religiosa em uma comunidade nova, tem seu primeiro contato com a Espiritualidade de Charles de Foucauld, através do livro ‘Fermento na massa’. E na mesma oportunidade também recebem um pequeno exemplar das conclusões da V Conferência, e se sentem atraídos a trilhar um novo caminho no coração da Igreja, atendendo o apelo do Papa e dos bispos reunidos aos pés da Mãe Aparecida.

Quem somos:

Assim um pequeno grupo de 2 jovens decidem deixar a comunidade religiosa que pertenciam e formar a primeira fraternidade de vida e oração. Acolhidos por um atencioso padre de uma paróquia no sul de Minas Gerais (Extrema) que após tomar posse como pároco viu o grande desafio missionário que o aguardava, convidou os jovens a fixarem a casa fraterna numa periferia fora da cidade, e que ficassem responsáveis pela animação missionária de 13 comunidades rurais mais uma sede da periferia, hoje paróquia. E foram enviados e acolhidos pelo povo santo de Deus, incansáveis lutadores e batalhadores na vivência de uma comunidade de base que uma fé e vida e uma radicalidade opção preferencial pelos pobres, e sedentos de beber das águas de Aparecida.

Começaram então uma maratona de encontros de animação das lideranças, grupos de reflexão, novenas de natal, campanhas da fraternidade, cursos de batismo nas famílias, incentivo a catequese de iniciação e crisma, animação da vida litúrgica, missões permanentes, animação da juventude, obras sociais diversas, lutas e defesa da vida e direitos humanos.

Com o tempo chegaram mais jovens que queriam fazer aquela experiência, mas muitos ficaram somente na experiência, pois a vida daqueles jovens, já conhecidos e chamados pelo povo de Irmãos Missionários, era uma total contradição a vida religiosa atual. Viviam eles do seu próprio trabalho, e se dedicavam integralmente a vida das comunidades. Participavam ativamente das dores e sofrimentos do povo pobre, partilhavam também as alegrias daquele povo, enfrentavam traficantes, recebiam ameaças de morte, por tentar livrar crianças, adolescentes e jovens da escravidão das drogas, isto quando as mães na madrugada batiam nas portas da casa dos irmãos chorando, pedindo ajuda.

Após viverem 5 anos nesta região, e terem construído com o povo de Deus daquelas comunidades uma igreja viva, e uma liderança participava e comprometida, decidem entregar a missão ao bispo local, e migrarem para a Diocese de Goiás, onde já eram aguardados com entusiasmo pelo Bispo Dom Eugênio Rixem.

A Fraternidade hoje:

Assim que chegamos fomos encarregados de estarmos responsáveis pela chácara de recuperação para jovens dependentes, e pela casa de acolhida ao migrante da diocese. Hoje somos em 5 irmãos, que tentam dar continuidade aos princípios colocados no coração daqueles que iniciaram, renovando sempre, dia após dia o desejo e viverem Aparecida e testemunharem com a vida o evangelho de Jesus Cristo, seguindo a espiritualidade de Charles de Foucauld.

A Fraternidade está aberta a acolher, aqueles (as) que querem viver uma vida religiosa de inserção e testemunho do evangelho, professando os conselhos evangélicos. Também a sacerdotes que querem formar vida fraterna com os irmãos, a casais com sua família, que querem se consagrar a Deus, no serviço aos pobres e necessitados, vivendo em comunidades fraternas.

NOSSAS MISSÕES, PRESENÇA E VISITAÇÃO:

A Fraternidade colabora na pregação de retiros para jovens, catequizando e catequistas, animação da Infância Missionária, Missões Populares, jovens vocacionados, pastoral da juventude e grupos de jovens, pastorais e movimentos, acompanhamentos e implantação de serviços sociais para mulheres marginalizadas, crianças e adolescentes em situação de riscos diversos e frentes de trabalhos, grupos de apoio a dependentes químicos, alcoólatras e seus familiares.

CONHEÇA-NOS, VISITE-NOS!

Frater Geral: Irmão Marcelo de Jesus

Centro de Acolhida Bom Samaritano – Chácara do Bispo

Rua Barreira do Norte, 56 – Alto Santana – Goiás. (GO) Tel.: (62)3371 1436/3371 1570/ 9967 1009.

E-mail: marcelocorima@yahoo.com.br