NOME POPULAR
aroeira-mansa, aroeira-vermelha, aroeira, aroeira-precoce, aroeira-pimenteira, aroeira-da-praia, aroeira-do-brejo, aroeira-negra, aroeira-branca, cambuí, aroeira-do-sertão, fruto-de-raposa, aroeira-do-paraná, fruto de sabiá, coração-de-bugre, aguaraíba, bálsamo, aroeira-do-campo
NOME CIENTÍFICO
Schinus terebinthifolius Raddi
ETIMOLOGIA
O nome genérico Rhamnidium originou-se do gênero Rhamnus Linnaeus: do grego rhamnos, do céltico ram (arbusto) e do sufixo latino idium ou do grego idion; o epíteto específico elaeocarpum vem do grego elaios (óleo ou óleo de oliva) e carpós (fruto), referindo-se às sementes oleosas (CARVALHO, 2010)
FAMÍLIA
Anacardiaceae
DESCRIÇÃO
Características morfológicas - Forma biológica: de arbusto a árvore perenifólia, de porte variado. Comumente com 2 a 10 m de altura e 10 a 30 cm de DAP, podendo atingir até 15 m de altura e 60 cm de DAP, na idade adulta.
Tronco: reto a tortuoso, inclinado e curto. Fuste de até 11 m de comprimento na floresta.
Ramificação: dicotômica, cimosa. Copa baixa, densifoliada a irregular, arredondada, densa e larga quando isolada.
Casca: com espessura de até 15 mm. A casca externa é cinza-escura e muitas vezes preta, áspera, sulcada, escamosa, desprendendo-se em placas irregulares. A casca interna é avermelhada, com textura fibrosa. Tem odor característico, com exsudação de terebintina.
Folhas: compostas imparipinadas, muito variáveis, alternas, com 9 a 11 folíolos. Os folíolos são sésseis, membranáceos, glabros, verdes a verde-escuros, oblongos a lanceolados, de ápice agudo e base obtusa, com margem serreada a lisa. As primeiras folhas são trifolioladas. Apresentam, como característica principal para identificação, a ráquis com ala estreita entre os pares de folíolos. Os brotos jovens são avermelhados.
Flores: branco-amareladas a branco-esverdeadas, pequenas, numerosas, actinomorfas, reunidas em panículas axilares ou terminais, densas, multifloras, de 4 a 10 cm de comprimento, que surgem nos ramos (do ano).
Fruto: drupáceo, globoso, pequeno, com 4 a 5,5 mm de diâmetro, levemente achatado no comprimento. O pericarpo é constituído por exocarpo friável, brilhante, semitransparente, de coloração vermelho-viva a purpúrea ou rosa forte, quando maduro, mesocarpo com grandes cavidades secretoras e endocarpo lignificado e pétreo. O endocarpo contém óleo e, à semelhança do mesocarpo, quando macerado, exala um odor de fruto de manga imaturo.
Semente: reniforme e única por fruto. O envoltório é liso, de coloração amarelo-clara, sendo que a região da calaza e rafe assume uma coloração marrom-escura, com um funículo fibroso aderido ao tegumento de polpa oleosa. A micrópila não é visível e o endosperma é ausente. (CARVALHO, 2010).
Utilidade - A aroeira-pimenteira é usada principalmente como mourões de cerca, já que é madeira de pouco valor comercial.
Energia: produz lenha e carvão de boa qualidade. Poder calorífico da madeira de 4.632 a 4.891 kcal/kg; lignina de 25,21%; poder calorífico do carvão de 8.047 a 8.078 kcal/kg; carbono fixo (% carvão seco) de 85,2.
Celulose e papel: espécie inadequada para este uso.
Matéria tintorial: um pigmento utilizado para tingir e fortalecer redes de pesca é extraído da casca.
Óleo essencial: da semente extrai-se óleo volátil, com propriedade inseticida comprovada em Musca domestica.
Resina: extrai-se, da casca, uma resina terebintácea aromática, conhecida por mástique.
Substâncias tanantes: apresenta até 10% de tanino na casca, utilizado localmente em curtume e para fortalecer redes de pesca.
Alimentação animal: a espécie produz forragem, usada principalmente na alimentação de caprinos, contendo 9,7% a 11,5% de proteína bruta e boa palatabilidade. Pelo valor da digestibilidade in vitro da matéria seca, da ordem de 33%, considera-se a forragem da aroeira como razoável. Tem, como restrição, a presença de mimosina (aminoácido não protéíco), que pode causar perda de peso e aborto nos animais. A presença de 16% a 19% de tanino limita o uso para outros animais, mas parece não ser limitante para cabras, conforme informações dos produtores.
Alimentação humana: os frutos dessa espécie são utilizados como substitutos da pimenta-do-reino (Piper nigrum), na Região do Cerrado de Minas Gerais. Segundo esses autores, através das análises químicas dos frutos dessas espécies, foi constatada grande similaridade entre seus componentes químicos. O sabor suave e levemente apimentado da aroeira-pimenteira, bem como a bonita aparência, de uso decorativo, permite seu emprego em variadas preparações, podendo-se utilizar tanto os grãos inteiros ou moídos. No entanto, a aroeira-pimenteira é especialmente apropriada para a elaboração de molhos que acompanham as carnes brancas (aves e peixes), por não abafar seu gosto suave. Introduzida na cozinha européia, especialmente na França, com o nome de poivre rose (pimenta-rosa) a aroeira-pimenteira acrescentou um gostinho tropical à nouvelle cuisine. Procedentes das ilhas Maurícios, na Alemanha, os frutos da aroeira-pimenteira são comercializados como sucedâneos da pimenta-do-reino. No Mercado Municipal de Piracicaba, SP, sementes dessa espécie são vendidas como pimenta-rosa.
Apícola: as flores apresentam potencial apícola, fornecendo pólen e néctar, que propiciam a produção de mel de boa qualidade.
Medicinal: a todas as partes da aroeira-pimenteira são atribuídas propriedades medicinais, sendo essa espécie antitérmica, muito empregada na medicina doméstica. A casca tem propriedades depurativas, sendo usada contra afecções uterinas em geral. Os ramos são utilizados em tratamentos das doenças respiratórias, como bronquites e doenças das vias urinárias. Devido aos efeitos adstringentes, a casca é empregada no tratamento da diarréia e nas hemoptises.
O chá da casca é usado, em banhos com 25 g/L de água, contra a dor ciática, a gota, reumatismo e infecções bacterianas que se manifestam como edema do tipo erisipela.
Da casca, faz-se também cozimento para banho contra edema das pernas.
As folhas são dotadas de propriedades balsâmicas e usadas em forma de infusão, banhos tônicos e loções, como remédio no tratamento de úlceras, erupções e feridas.
Com a resina, os jesuítas preparavam o famoso “bálsamo das missões”.
Dos folíolos, obtém-se substância cicatrizante e antiblenorrágica, utilizada também contra cólicas intestinais. Aos frutos, atribuem-se propriedades diuréticas.
Os homeopatas aconselham essa planta nos casos de atonia muscular, distensão dos tendões, artrite, reumatismo, fraqueza dos órgãos digestivos e contra tumores.
Os índios de várias etnias do Paraná e de Santa Catarina usam os brotos novos e a casca do caule da aroeira-pimenteira contra odontalgia (dor de dente).
O cozimento das folhas com folhas de batata é bom para gargarejos e afecções das cordas vocais .
Recomenda-se precaução no uso da planta para fins medicinais, devido às suas propriedades tóxicas, apesar de não haver dúvidas quanto às qualidades antinevrálgicas, adstringentes, tônicas e estimulantes.
Em Cuba, onde foi introduzida e recebeu o nome de copal, essa espécie é usada como substituta do copal-verdadeiro (Protium cubense) do qual se extrai uma resina terebintácea, para uso como emplastos em forma de compressas.
Paisagístico: pela beleza da folhagem, floração prolongada e frutificação persistente, a aroeira é utilizada, com freqüência, como planta ornamental em praças e parques. Para essa finalidade tem, como restrição, o fato de apresentar — principalmente nas folhas —, propriedades alergênicas em pessoas sensíveis, ocasionando intoxicações e alergias, mesmo não havendo contato direto. Não fosse essa restrição, essa espécie poderia ser plantada mesmo sob redes de distribuição de energia elétrica, pelo fato de não crescer ao ponto de tocar na fiação (Lorenzi, 1992). Entretanto, essa espécie é utilizada na arborização de várias cidades brasileiras, entre as quais, Santa Maria, RS (Santos & Teixeira, 1990).
Reflorestamento para recuperação ambiental: a aroeira-pimenteira é uma das espécies mais procuradas pela avifauna, o seu maior disseminador em nosso meio. Todavia, na Flórida, nos Estados Unidos, onde foi introduzida, os frutos são tidos como tóxicos para duas espécies de pássaros (Sanchotene, 1985). A espécie é recomendada para recuperação de solos pouco férteis (como rasos, rochosos, hidromórficos ou salinos), devido ao seu caráter de rusticidade, pioneirismo e agressividade (Carvalho, 1988). Em restauração de mata ciliar, ela pode ser utilizada em áreas com inundações periódicas de curta duração e com períodos de encharcamento moderado (Salvador & Oliveira, 1989; Durigan & Nogueira, 1990; Kageyama, 1992). Todavia, essa espécie é sensível a encharcamentos prolongados (Kageyama et al., 1991). Na costa atlântica do Brasil, ela é plantada para estabilização de dunas (Flinta, 1960).(CARVALHO, 2010).
Informações ecológicas - Planta perenifólia e pioneira, comum em beira de rios, córregos e em várzeas úmidas de formações secundárias; contudo, cresce também em terrenos secos e pobres. É amplamente disseminada por pássaros, o que explica sua boa regeneração natural. Sua dispersão é ampla, ocorrendo desde a restinga até as florestas pluvial e semidecídua de altitude (LORENZI, 1992).
OCORRÊNCIA
Pernambuco até Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, em várias formações vegetais (LORENZI, 1992).
SUCESSÃO ECOLÓGICA
Pioneira (CARVALHO, 2010)
FRUTO COMESTÍVEL?
Sim
ÉPOCA DE FRUTIFICAÇÃO
Os frutos amadurecem de janeiro a fevereiro, no Estado do Rio de Janeiro; de janeiro a maio, no Paraná; em março, no Espírito Santo; de março a outubro, no Estado de São Paulo; de maio a junho, no Rio Grande do Sul e em julho, em Sergipe. (CARVALHO, 2010).
ÉPOCA DE FLORAÇÃO
Às vezes, irregularmente ou duas vezes no ano, de julho a setembro, em Minas Gerais; de agosto a março, no Estado de São Paulo; de outubro a março, no Paraná; de novembro a março, no Rio Grande do Sul; de março a junho, no Estado do Rio de Janeiro, em abril, em Alagoas, e de maio a junho, na Bahia. (CARVALHO, 2010).
DISPERSÃO DE FRUTOS E SEMENTES
Espécie amplamente disseminada por zoocoria, principalmente por aves. Todavia, Kuniyoshi (1983) observou mirmecoria (formigas) no chão. (CARVALHO, 2010)
VETOR DE POLINIZAÇÃO
Principalmente as abelhas das famílias Meliponiae-Apidae, destacando-se Apis mellifera (abelha-européia ou abelha-africanizada), Tetragonisca angustula (abelha-jataí), Nannotrigona testaceicomis (abelha-iraí), Paratrigona subnuda (jataí-da-terra) Plebeia remota (mirins) e Friesella schrottkyi (mirim-preguiça), além de Halictidae (CARVALHO, 2010).
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
LORENZI, Harri. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil, volume 1. Nova Odessa, SP: Editora Plantarum, 1992. 352 p.
CARVALHO, Paulo Ernani Ramalho. Espécies arbóreas brasileiras, volume 1. Colombo, PR: Embrapa Florestas, 2003. 1.039 p.
Mapa de ocorrência natural da espécie (CARVALHO, 2003)
Mapa de localização da espécie no campus da Unicamp / Campinas-SP (CAVALHERI, 2025)