Foram milhões e milhões de homens e mulheres que trouxeram cultura, tradição da África. Foi na transição do século XIX para o século XX, já na época pós-abolição, que começou a ter um muito pequeno interesse pelas línguas africanas. Nas cidades, núcleos populacionais com trabalhadores escravizados, trabalhadores libertos (negros livres) utilizavam as línguas veiculares africanas:
“Vai se falar Iorubá na Bahia, vai se falar falares angolanos no Rio de Janeiro (...) , nesses núcleos urbanos, o africano vai confluir, influenciar, de forma significativa, a língua portuguesa e a língua portuguesa popular.
Lélia Gonzalez mostra que a língua do colonizador, do branco europeu, não é a língua que nós falamos, nem a cultura em que vivemos, já que “a batalha discursiva, em termos de cultura brasileira, foi ganha pelo negro” (Gonzalez, 2020, p. 93). O pretuguês já está na boca do povo e denuncia que a nossa cultura não é branca. Somos um país preto-falante, indígena-falante.
Documentário: O Enigma da Energia Escura (2021)
Ao longo de 5 episódios produzidos por diretores e diretoras negras, Emicida apresentará outras possibilidades da realidade sugeridas pela perspectiva não branca da sociedade.
Que outras palavras, no português, também perderam o valor que tinha nas línguas africanas e em outras línguas também?
O Espirito da "Lenga Lenga":
"Lenga-Lenga" era uma expressão usada em diversas tribos de Angola, muito conhecida por "esse mato fora e não só". Era conhecida por se tratar (para quem não conhecia a profundidade do termo) por uma conversa que nunca mais tinha fim. Explicando-me melhor, era e é, uma espécie de sessões continuas do parlamento da Assembleia da República. Os tribunos expressavam-se (e alguns ainda se expressam bem), mas só falam! não querem dizer nada...
Fonte: Estudo Africano