"Mais comumente, as classes escravistas coloniais auto-denominavam-se de “amos”, “senhores” ou “proprietários”. Por sua vez, os trabalhadores escravizados eram chamados de “escravos”, “pretos”, “negros” e “cativos”."
A ideia de que as línguas são neutras e universais destaca uma visão baseada em uma perspectiva sociológica que vê o ser humano como isolado das relações sociais e serve aos interesses das classes dominantes ao legitimar seus valores. A linguagem nunca é neutra, sendo moldada por relações de poder e contexto social, embora os falantes muitas vezes não tenham consciência disso. Nos últimos anos, pesquisas linguísticas e históricas vêm promovendo uma visão da linguagem voltada para a emancipação social.
Referências para pesquisas:
A língua, tradicionalmente, é um espaço de luta social, mesmo que nós não tenhamos consciência desse fato, assim se dá. A história do Brasil se constitui através de uma profunda luta entre classes dominantes e classes dominadas. O vídeo intitulado Nação | TVE - A língua escravizada - Partes 1 e 2 (2016) explora a evolução do português brasileiro, destacando a influência das línguas indígenas e africanas. O português falado no Brasil tem muitas raízes. Apesar da óbvia dominação da língua falada pelo nosso colonizador, a influência indígena e a contribuição africana são bem fortes. Embora o português tenha sido imposto pelos colonizadores, os autores destacam, por exemplo, que cerca de 3.000 palavras do uso cotidiano vêm de raízes africanas.
Vídeos
https://youtu.be/C5sK6HdsUHE?si=kYc0Ghaf-UEiqGzD
https://youtu.be/R5SSR8UwFBU?si=WFtruyYH-Et-xXYh
Livro
"A Linguagem Escravizada – Língua, História, Poder e Luta de Classes" de Mário Maestri e Florence Carboni
Alguns temas tratados na entrevista e sobre os quais podemos refletir:
Como se deu a formação da língua brasileira.
As formas e as línguas dominantes são sempre as formas necessariamente das línguas e as línguas das classes dominantes:
As línguas das populações nativas (povos originários). Prática de destruição dessas línguas;
As línguas das populações escravizadas (povos africanos). Estimativa (“no Brasil se teve contato com mais de 100 línguas / dialetos africanos"). O Afroliterato en X: "Yorubá - Nigéria; Lingala - RD do Congo; Forro, São Tomé e Príncipe; Umbundo - Angola e a diversidade linguística africana".
Diferencia de falares no Brasil (“Como as línguas se formam na prática social, necessariamente cada classe social, cada categoria social, cada povo ou etnia que vive num território como o do Brasil, necessariamente tem sua maneira tendencialmente diferente de falar”).
A família é o grande veículo da reprodução da língua, da língua materna (“Os trabalhadores escravizados vieram de diversas regiões da África e aqui foram silenciados, porque não tinham nem como falar, com quem falar. Eles não tiveram nem mesmo o direito de se organizar em famílias estáveis”).
Nos navios negreiros - tumbeiros - os comerciantes já se preocupavam em não realizar carregamentos com povos da mesma língua porque facilitava a sublevação que ocorreram diversas, mesmo na travessia. Assim, o eito era feito com falantes de diversas línguas. A identidade entre os oprimidos é uma ferramenta para a resistência.
A esperança média de vida da população escravizada “era tão curta, tão reduzida, não permitia nada, nem culturalmente, nem linguisticamente”. Algumas línguas gerais africanas se desenvolveram, por exemplo, em Minas Gerais e na Bahia. “Portanto, esses trabalhadores escravizados contribuíram para falar um português mal falado, entre aspas, e muito desse português mal falado nós falamos ainda hoje”.
Quais são as palavras de origem africana no PB?
Nas cidades, núcleos populacionais com trabalhadores escravizados, trabalhadores libertos (negros livres) utilizavam as línguas veiculares africanas (“Vai se falar Iorubá na Bahia, vai se falar falares angolanos no Rio de Janeiro (...) , nesses núcleos urbanos, o africano vai confluir, influenciar, de forma significativa, a língua portuguesa e a língua portuguesa popular. O exemplo de moleque. Outras palavras no português também perderam o valor que tinha nas línguas africanas (ou em outras línguas)?
Exemplos de pronúncia que vem das classes subalternizadas e são desqualificadas na língua chamada padrão culto.
Quais grandes escritores brasileiros se inspiraram nos falares, nas formas de dizer da população, formas que foram e são, muitas vezes, desqualificadas.
Língua popular ou língua dominante? “A língua dominante é a língua da classe dominante; é ela que faz as gramáticas, os dicionários, enfim, que decide qual palavra vai ser desvalorizada ou não”. Assim, a língua reproduz os conteúdos da classe dominante, que são, muitas vezes, contrários ao que nós queremos dizer, porque a língua é um espaço de luta de classe, de luta social. A língua que nós utilizamos (na mídia, na conversa cotidiana, dando aula, escutando aula, falando, etc) é a língua que nós falamos: “ela é machista, a língua que nós falamos, ela é elitista, a língua que nós falamos, ela é racista, a língua que nós falamos, ela é homofóbica, e é a língua que nós falamos todo dia”.
A importância das palavras? Cativo X escravo; abolição X libertação. Qual a diferença?
300 anos de tradição oral: Pontos de macumba ou pontos cantados das práticas religiosas afro-brasileiras (Macumba, Candomblé, Umbanda, Quimbanda, Jurema Sagrada, Tambor de Mina).
O preconceito com a língua que não é tida como culta segrega. Um exemplo é a obra de Carolina Maria de Jesus, que não é aceita por não usar a linguagem culta do nosso português porque no Brasil há um forte centralismo linguístico.
Português culto X português popular. O prestígio do português culto, e o desprestígio do português popular. Ex: Nas novelas aparece o português popular do Nordeste, relativamente ao sotaque somente.
A sociolinguística e o erro. O portugues desprestigiado é considerado errado. E sobretudo quando ocorrem alguns erros de pronúncia, erros de morfologia. Por exemplo: nós vai. É muito mais mal visto.
O português tem todas as línguas.
Palavras de origem indígena no português.