Travessias com a Palavra

Travessias com a Palavra

Andávamos em quatro patas. Fomos aprendendo a caminhar sobre dois pés. Nossos dois pés. Às vezes caíamos, muitas vezes ainda caímos, mas nossas mãos se liberaram para: fazer. Já não é mais função das mãos sustentar o corpo quadrúpede. Passa a ser dos pés, das pernas; se transforma nossa coluna. Verticalizamos. Nossas mãos se liberam da sustentação primeira e seguindo a sempre sábia Evolução, começam a pegar, a agarrar, a trazer a comida para a boca, aproximar dos olhos o que é possível apreender.

Nas palavras do mestre Teillard du Chardin, em tradução castelhana: “Gracias al bipedismo, que liberó a las manos, el cerebro pudo crecer; gracias a ello, al mismo tiempo, los ojos, al acercarse, sobre una cara más contraída, pudieron empezar a converger y a fijar todo cuanto las manos aprehendían, aproximaban y presentaban: ¡he aquí el gesto mismo, exteriorizado, de la reflexión”!


Palavra: Parabola (Para: ao lado. Ballein: atirar)

Pensar: Pensare. (Pendere: Pesar)

Refletir: Re + Flectere (Re: outra vez. Flectere: dobrar)


Quando a mandíbula já não precisa mais morder com tanta força para troçar um naco de carne, quando começamos a ser bípedes, a musculatura do nosso pescoço começa a se liberar. Nossa laringe ganha mais espaço, nossa língua começa a ter outras funções, nosso cérebro vai desenvolvendo novas habilidades. Nossa voz vai sendo utilizada de outra forma, cada vez mais refinada. Mãos, coluna, mandíbula, cérebro, olhos; voz, palavra. Corpo, Corporalidade. Voz e palavra: produções corporais, projeções afetivas de meu próprio corpo, vibrações de meu próprio corpo. Sou meu corpo, sou minha voz. Posso produzir uma palavra própria? Para quê utilizo minhas palavras? Posso compartilhar afetivamente minhas palavras? Com quem me comunico? Sempre estamos em relação com: somos seres feitos para viver em grupo. Estamos dispostos a que o outro com toda sua diferença, se transforme em um próximo?

Grandes obras: Teatro e Literatura