Eu sou Amanda, trabalho na Escola Municipal Dom Bosco desde 2008, quando ingressei na rede municipal de Belo Horizonte. Estou no apoio à coordenação pedagógica (2020), antes sempre estive na regência do 1° Ciclo. Em 2019, tive o prazer de conhecer o Núcleo de Estudos das Relações Étnico Raciais e sou muito feliz por ter tido essa oportunidade. Aprendi muito com a escola que o meu filho estudou na Educação Infantil, com ele (Fernandinho) também e venho aprendendo muito com esse grupo lindo.
Projeto “Mulheres na Arte, guerreiras na vida”
Justificativa:
A análise da presença da mulher na arte em diferentes períodos históricos nos faz compreender como a figura feminina era vista e interpretada pelos valores sociais de cada época.
Conforme o tempo passou e as ideias vigentes foram transformadas a mulher passou a mostrar o seu trabalho de diferentes maneiras e foi lutando pelo seu espaço e projetos. Tal análise é interessante também no âmbito das transformações dos valores sociais.
Objetivos:
Valorizar as mulheres na Arte.
Selecionar as mulheres de diferentes idades na Arte.
Descobrir mulheres negras na Arte.
Valorizar o trabalho de mulheres da escola.
Tempo de duração:
O Projeto terá duração do mês de março de 2019 até a primeira semana do mês de abril. Envolvendo a turma 306 do 3º ano do 1º ciclo.
Atividades:
- Seleção de mulheres na Arte (com diferentes idades).
- Seleção de música com representatividade negra.
- Seleção de poemas feitos por uma mulher.
- Seleção de uma história de mulher que luta pelo direito das mulheres.
- Discussão e apresentação de todos os textos.
- Seleção de mulheres da escola que seriam homenageadas.
- Fotos para o vídeo que homenagearia algumas mulheres da escola.
- Confecção de estêncil para camisa homenageando mulheres negras.
- Apresentação de Momento Cultural para as turmas do 1º ciclo e para as famílias das crianças da turma.
Materialidade:
- 10 camisas brancas (9 tamanhos 8 anos e 1 tamanho 14/16 anos)
- 2 canetas para tecidos
Culminância:
- Apresentação de Momento Cultural para as turmas do 1º ciclo e para as famílias das crianças da turma:
- teatro
- jogral
- dança
- exibição de vídeo ( Rainhas-Fernando Lima )
Cristina Reis
Mãe!
Gosto de cantar, dançar e andar de bicleta!
Sou professora da rede municipal de Bhte desde 2003.
Formação: Psicologia - 1995 - Fumec
Pós-graduação: Pedagogia Institucional - 1998 - UEMG
Pós-graduação: Educação, Diversidade e Intersetorialidade - 2019 - FAE/UFMG
Mestranda em Educação - 2020 - PUC MINAS
RESUMO
O projeto iniciou a partir da percepção, por parte de duas coordenadoras pedagógicas, de constantes conflitos interpessoais e intrapessoais de estudantes da Escola Municipal Maria de Magalhães Pinto. Devido à estas demandas das estudantes, as coordenadoras e idealizadoras do projeto, Cristina Reis e uma coordenadora pedagógica da escola deram início no ano de 2017, ao projeto, no turno da manhã. Na ocasião, as coordenadoras, narraram o histórico do projeto, a proposta, os objetivos e a metodologia aos(às) professores(as). A equipe de profissionais da escola e as estudantes aceitaram o projeto com credibilidade e como uma proposta de intervenção pedagógica. É importante ressaltar que as coordenadoras, bem como alguns professores da escola citada acima, faziam as formações na Secretaria Municipal de Educação, relacionadas à Práticas de Promoção da Igualdade Étnico-raciais. Durante o ano de 2018, houve a transferência das coordenadoras para uma outra escola desta mesma regional. As professoras perceberam que havia conflitos identitários e interpessoais dos(as) estudantes neste outro ambiente escolar. Então, deu-se continuidade ao projeto na escola Municipal José Madureira Horta, a partir de práticas pedagógicas na docência e não mais na coordenação pedagógica. A professora do projeto propôs ações pedagógicas em parceria com a Escola Integrada. O projeto foi desenvolvido para valorização e empoderamento das identidades estudantis no sentido de promover a Igualdade Étnico-racial.
Utilizou-se o referencial teórico dos pesquisadores: Stuart Hall, Nilma Lino Gomes e Carina Santiago.
PALAVRAS-CHAVE
CONFLITO - EMPODERAMENTO - IDENTIDADE
OBJETIVO GERAL
Desenvolver ações pedagógicas que promovam a Igualdade Étnico-racial.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Proporcionar um ambiente de fortalecimento das identidades estudantis;
Desenvolver práticas pedagógicas, com os(as) estudantes, valorizando a diferença (seja ela etária, de pertencimento étnico-racial, de classe, de gênero etc) .
REFERENCIAL TEÓRICO
A partir da demanda de constantes conflitos identitários por parte de estudantes nas duas escolas rede municipal de Belo Horizonte, desenvolveu-se o projeto. Devido a participação das coordenadoras do projeto em formações referente a
(Re)Educação para as Relações Étnico-raciais e dos marcos legais referentes à promoção da Igualdade Étnico-raciais verificou-se a necessidade de desenvolver ações pedagógicas que trabalhassem as relações interpessoais de um grupo de estudantes com frequentes conflitos identitários.
Nesse contexto, procurou-se trabalhar com alguns questionamentos sobre como as relações interpessoais no ambiente da escola podem afetar a construção identitária das(dos) estudantes. Considerando as palavras de HALL, Stuart
É precisamente porque as identidades são construídas dentro e não fora do discurso que nós precisamos compreendê-las como produzidas em locais históricos e institucionais específicos, por estratégias e iniciativas específicas.
E ainda, questionou-se se havia o cumprimento efetivo da Lei nº 10.639/03 e da Lei nº 11.645/08, das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, do Plano Municipal de Educação e suas sistematizações no ambiente escolar, com a finalidade de promoverem ações e práticas para a promoção da Igualdade étnico-racial e outros grupos sociais.
A prática pedagógica desenvolvida pela monitora da Escola Integrada e pela professora, através de atividades e metodologias que visam uma Pedagogia da Diversidade, pode ser muito bem resumida nas palavras da pesquisadora
GOMES (2006, p.73-75)
Trabalhar com a diversidade étnico-racial na escola implica processos profissionais, de formação e também subjetivos. Nesse ponto, mexemos com preconceitos, valores, lógicas que informam as posturas pedagógicas e a forma de ver e se relacionar com as diferenças. […] a discussão das relações raciais não pode ficar restrita somente à população negra, mas é de responsabilidade de todos(as) cidadãos. No caso da escola, essa responsabilidade é, sobretudo, dos(as) docentes e pedagogos(as). Esse público-alvo que trabalha na educação básica é de vital importância, pois é neste momento da trajetória de vida e escolar que se configuram e acirram os conflitos com a identidade e com as diferenças.
Por intermédio deste projeto, portanto, buscou-se a oportunidade de ampliar a discussão em torno da discriminação racial e exclusão social, nos ambientes escolares, buscando estratégias para a construção de ações pedagógicas de inclusão social. Segundo a pesquisadora SANTIAGO, 2016 (pág.82)
É preciso comprometimento e estudo por parte de todos os educadores envolvidos na cena pedagógica, da sala de aula à gestão escolar, nos distintos níveis e modalidades de ensino, evitando desserviços à construção de uma sociedade que respeite a diversidade, sem tornála argumento para discriminação e hierarquização de valores e referência de modelos estéticos e éticos.
Desse modo, a realização deste trabalho se justifica, na medida em que visa proporcionar intenções pedagógicas que abordem os valores, tais como, o autoconhecimento, a autoestima positiva, a empatia, a convivência fraterna, a valorização da vida, o cuidado do próprio corpo, a valorização da vida cultural, do conhecimento e da liberdade de expressão, no ambiente escolar, como forma de construção de uma Pedagogia da Diversidade.
METODOLOGIA
Na primeira escola, o projeto foi desenvolvido após uma reunião das coordenadoras pedagógicas e o grupo docente, com a finalidade de divulgar as intencionalidades pedagógicas e as informações gerais. Além disso, buscou-se parcerias com os profissionais da escola, tais como, bibliotecárias, agente do programa saúde na escola (PSE), agente de informática, estagiária de psicologia e demais coordenadores.
No primeiro encontro, foram colocadas as intenções pedagógicas ao grupo. A adesão foi unânime. Diante do que foi exposto pelas coordenadoras pedagógicas, ouvimos as expectativas das estudantes. Estabeleceu-se alguns combinados e, logo após o início dos encontros, as famílias destas estudantes foram informadas sobre os objetivos do projeto. Os encontros aconteceram no período de maio a novembro, semanalmente, utilizando as tecnologias e as múltiplas linguagens. A cada encontro, as estratégias pedagógicas adotadas tornavam os debates mais significativos e mais atraentes às estudantes. As estudantes solicitavam o ingresso de outras estudantes ao grupo. Os vídeos trabalhados pelas coordenadoras foram: Pense Grande (Mel Duarte); Vida Maria, Eu doméstica TEDxSP; Aparelho reprodutor feminino e formas para se prevenir a gravidez precoce; Eu quero poder ser fraca TEDxSP (Literatura e vivência). Outras estratégias também foram utilizadas, tais como, indicação da literatura afro-brasileira e indígena brasileira, músicas, blogs, leitura de trechos do livro “As heroínas negras brasileiras – em Cordel da escritora Jarrid Arraes e trechos do livro Cadernos Negros-28. Houve uma indicação de visita ao Museu Memorial Minas Gerais Vale, em julho. Solicitou-se às estudantes a colaboração com os enfeites juninos na escola buscando o protagonismo estudantil e o trabalho coletivo. Houve um encaminhamento de um folheto do Centro Cultural Pampulha, local para oficina de teatro gratuito, à uma estudante que se mostrou interessada em estudar artes cênicas. Foi indicada uma estudante do projeto para estágio de menor aprendiz. Houve a participação de duas estudantes do projeto, juntamente com a turma do 8º ano, coordenadoras pedagógicas, pais e grupo de professores na Pré-Conferência Regional de Promoção da Igualdade Racial em 15 de julho de 2017. Aconteceu a participação das estudantes do projeto no I Diálogo de Profissões em novembro (representatividade de profissionais da população afro-brasileira). Desenvolvia-se a prática da coletividade: sugestão para que as estudantes encontrassem no intervalo do recreio e discutissem sobre algum tema ou lessem algum livro. As estudantes, em alguns momentos, interferiram positivamente em conflitos com outros colegas, nos intervalos do recreio, buscando a cultura do Diálogo.
Na segunda escola, o projeto teve como ponto detonador, a fixação de frases com o nome do projeto em diversos locais da escola, principalmente próximos à espelhos. A professora buscou a parceria da Escola Integrada para desenvolver as práticas pedagógicas durante o ano. Assim, a professora deste projeto e a monitora da escola Integrada planejaram atividades que seriam apresentadas no mês de julho, como comemoração ao dia da África. Uma professora de história e a bibliotecária do turno da manhã também participaram do planejamento das atividades. As práticas pedagógicas utilizadas foram as seguintes: placas espalhadas pela escola com os dizeres “Ser bonita(o) é ser você”, aulas de História Afrobrasileira, africana e indígena, vídeos, tais como,
Pense Grande – Mel Duarte, Heróis de todo mundo – A cor da cultura, Vista minha pele - Joel Zito Araújo e outros), apresentação e minibiografias de escritores e escritoras negras e indígenas brasileiras – Patrícia Santana, Mara Evaristo, Jarrid Arraes, Graça Graúna, Daniel Munduruku, Maria Firmina dos Reis - apresentação de dança, jogral e música para o Dia da África, obras literárias com a temática étnico-racial, esquetes sobre as obras literárias e poesias criadas a partir da leitura destes livros. A professora trabalhou com duas turmas de 5º ano, interdisciplinarmente, com as disciplinas de História, Geografia, Língua Portuguesa e Literatura. Paralalelamente, a estas ações, a monitora da escola Integrada trabalhava, na prática, com a valorização da cultura africana, indígena e afro-brasileira a partir da oficina de capoeira e maculelê. É importante salientar que, os(as) estudantes da Escola Integrada que participaram destas oficinas foram as que tiveram interesse na apresentação artística e cultural no dia da África.
ANÁLISE E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisando o projeto, em ambos as escolas, verificou-se que foi positiva a participação das(os) estudantes. Houve a troca de experiências através dos relatos de vida e dos debates. Percebemos que o interesse das estudantes às questões escolares foi aumentando ao longo do ano. Os trabalhos baseados na comunicação e em práticas discursivas, promoveram diálogos transformativos no cotidiano das estudantes. Assim, ao propormos um debate ou mesmo um processo de escuta das(os) estudantes, criava-se um ambiente propício às boas relações nos encontros e um sentimento de confiança entre as(os) participantes. Essa forma de atividade permitia despertar o interesse e a motivação das(os) estudantes através de reflexões sobre assuntos da realidade trazidos para as discussões.
Obtivemos os seguintes relatos sobre o projeto:
“ Eu acho que o nome do projeto já diz: Ser bonita é ser você, você ser o que sente confortável em ser e não o que a sociedade vai fazer você se transformar ou vai te moldar, ser o que você é.” Estudante do 3º ciclo da Escola Municipal Maria de Magalhães Pinto
“... foi um projeto bastante incentivador, tanto para as estudantes quanto para os (as) funcionários(as) devido as mensagens que a gente via pela escola que incentiva a auto-estima... através deste projeto eu passei a acreditar mais em mim, abriu meus olhos para investir mais em mim...” professora na Escola Municipal Maria de Magalhães Pinto, pedagoga, modelo plus size e miss plus size Minas Gerais
“ Achei muito positivo o efeito das placas colocadas na escola. Instigaram a curiosidade dos(as) estudantes, beneficiaram no clima escolar e provocaram reflexos imediatos nos(as) estudantes, valorizando a auto-estima em cada um(uma).” Professora da Escola Municipal José Madureira Horta
“ Fiquei pensando no quanto é bom pensarmos que somos bacanas exatamente como a gente é. Levantar a autoestima do(a) estudante e valorizá-los(as) como pessoas quando a sociedade vem valorizando apenas a imagem.” Professora da Escola Municipal José Madureira Horta. Podemos perceber que a forma de abordagem do Projeto permitia despertar o interesse e a motivação das(os) estudantes através de reflexões sobre assuntos da realidade trazidos para as discussões.
Como pudemos perceber nos relatos acima, o Projeto favoreceu o fortalecimento das identidades das(os) estudantes, bem como, de profissionais das duas escolas. Na segunda escola, a análise do projeto também foi positiva, tanto por parte do grupo de professores(as) que trabalham com as turmas de 5º ano, bem como, com alguns profissionais da escola, que perceberam a importância do incentivo positivo na vida escolar dos sujeitos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOMES, Nilma Lino. Identidades e Corporeidades Negras. Reflexões sobre uma experiência de formação de professores(as) pra a diversidade étnico-racial – Nilma Lino Gomes et al. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. P.73-75.
SANTOS, Carina Santiago dos. A Educação das Relações Étnico-Raciais e o ensino de História na Educação de Jovens e Adultos da Rede Municipal de Florianópolis (2010 – 2015). 2016. 124 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de História) – Universidade do Estado de Santa Catarina. Florianópolis, 2016. P.82.
HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? pág.109
Lei 10.639/2003 - Inclui no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira. Disponível em: <>. Acesso em: 22 jul.
2018.
Lei 11.645/2008 - Inclui no currículo da Rede de Ensino a obrigatoriedade da História Afro-brasileira e Indígena. Disponível em: <>. Acesso em: 22 jul. 2018.
" Sou uma professora inquieta, sempre em busca de novos saberes, outras histórias, para uma educação baseada na justiça social."
Meu nome é Tatiana, filha de mulher negra, pedagoga, professora da rede municipal de Belo Horizonte desde 2012, especialista em Educação, diversidade e Intersetorialidade pelo LASEB/UFMG, e mestranda em educação pela mesma instituição. Uma apaixonada por narrativas afrocentradas, e sempre na incansável luta por uma educação e sociedade antirracistas. Fui tocada pelas discussões sobre as relações étnico -raciais, na minha atuação enquanto bolsista da Professora Nilma Lino Gomes. Desde então, enxergo a sociedade com outro olhar. Pesquiso, leio, vou para o embate se necessário, para descontruir estereótipos, que corroboram para o enraizamento do racismo no Brasil. Tenho muito orgulho da minha trajetória, e por trazer comigo diariamente as vozes das minhas estudantes negras e dos meus estudantes negros. Elas e eles são meus maiores combustíveis diários. Viva o povo negro!
O projeto sobre estratégias de autorreconhecimento das identidades de meninas negras, constituiu-se o foco principal do meu plano de ação para o LASEB. Trabalhei com 14 meninas negras na Escola Municipal Prefeito Oswaldo Pieruccetti, com idades entre 10 e 12 anos . O objetivo principal do projeto era criar um repertório pedagógico, que possibilitasse um fortalecimento e valorização das identidades negras dessas sujeitas. Tais recursos foram: oficinas de autorretrato, diálogos sobre negritude e suas representações nas redes sociais ( principalmente o Instagram), discussão sobre a ausência de figuras negras dentre as/os influenciadoras e influenciadores digitais que as meninas seguiam na rede citada. Além disso, abordamos o empoderamento negro a partir da música e dança, e também, com base na biografia da Professora Luci Lobato ( docente em nossa escola), realizada através de entrevistas conduzidas pelas meninas. Finalizamos com o ensaio fotográfico, e, uma oficina e desfile de moda afro, que envolveu não somente o grupo em questão, mas toda a escola.