--- A COMPANHIA INGLESA ---
( Atualizado em: 22/11/2024 )
Na sua obra ‘O Cabo Submarino e outras crónicas faialenses’, Carlos M. Ramos da Silveira titula como de ‘companhia inglesa’ factos que, ao longo dos anos, foram acontecendo sob o controlo operacional duma mesma empresa com diferentes designações oriundas do grupo: ‘The Eastern and Associated Telegraph Companies’.
Assim, em 1895, a ‘The Telegraph Construction and Maintenance Company’, a quem, em 1893, havia sido contratado o estabelecimento e exploração do cabo Lisboa – Açores, transferiu a concessão e responsabilidade para outra empresa recém-criada a ‘The Europe and Azores Telegraph Co.’, que se manteve até 1929 quando uma nova fusão criou a ‘Imperial and International Communications Ltd’. Mais tarde a junção das empresas do cabo com as da T.S.F. deu lugar à ‘Cable and Wireless, Ltd.’, designação que vigorou a partir de 1934.
O cabo foi inaugurado em Ponta Delgada com comissão de festejos, tiros de canhão e girândolas de foguete, troca de telegramas de felicitações, e receção duma mensagem de S. Majestade o Rei D. Carlos:
“Sinto-me deveras feliz ao enlaçar a mãe-pátria por um vínculo quase tam íntimo como o pensamento que nos reúne ao valoroso povo açoriano. Está aberto à circulação o cabo telegraphico entre Lisboa e os Açores”
Na Horta poucas notícias houve destes festejos, e a imprensa dando largo destaque ao acontecimento, augurava grandes progressos para a ‘principal’ cidade do arquipélago (pouco falando das ilhas de baixo…), fazendo prevalecer a ideia que lá ficaria instalada a central cabográfica mais importante donde tudo irradiaria para as restantes ilhas. Quis a evolução dos acontecimentos que tal assim não fosse.
O cabo amarrara numa boia, em frente à praia da Alagoa que aí foi deixada mesmo após as restantes ligações (shore enda) que vinham até terra firme, para sinalizar o local onde a 22 de agosto de 1893 o navio ‘Seine’, vindo de São Miguel, o deixara e daí seguindo em valas subterrâneas até à primitiva estação instalada numa antiga casa perto da ‘Fredónia’.
Até ao estabelecimento duma linha aérea entre a estação dos correios e a do cabo, o transporte dos telegramas emitidos e recebidos terá sido efetuado por mensageiros.
A construção de um novo edifício, a ‘Trinity House’, só aconteceu em 1902, e depois da vinda das companhias alemã e americana, no princípio do século. Em finais de 1899 (3 de novembro) a ‘The Europe and Azores’ adquiriu a ‘Fredónia’, propriedade da família Dabney, que passou a ser residência dos seus diretores. De acordo com os poucos escritos existentes, nomeadamente ‘Os cabos submarinos no Faial’, de F. S. Weston, o primeiro diretor da companhia foi o Sr. K. Wood.
A 'Trinity House' foi construída em 1902 para receber os serviços das 3 companhias que operavam na Horta, a Europe & Azores, a Deutsche Atlantische Telegraphengesellschaft e a Commercial Cable Co.
A 'Fredónia' na sua traça original quando ainda pertencia à família Dabney. Foi adquirida aos herdeiros de Samuel W. Dabney, em 1899, pela Europe & Azores Telegraph Co.
A construção de um novo edifício, a ‘Trinity House’, só aconteceu em 1902, e depois da vinda das companhias alemã e americana, no princípio do século. Em finais de 1899 (3 de novembro) a ‘The Europe and Azores’ adquiriu a ‘Fredónia’, propriedade da família Dabney, que passou a ser residência dos seus diretores. De acordo com os poucos escritos existentes, nomeadamente ‘Os cabos submarinos no Faial’, de F. S. Weston, o primeiro diretor da companhia foi o Sr. K. Wood.
A partir de agosto de 1906, quando a C.C.C. e a D.A.T. já operavam, desde 1904, com 2 e 4 cabos respetivamente, a companhia inglesa completou mais duas amarrações na Horta, ligando a Porthcurno (4/8/1906) e Cabo Verde (16/8/1906), aumentando o volume de tráfego da sua estação principalmente com o destinado e com origem na América do Sul.
A guerra de 1914/18 veio introduzir novas alterações ocasionadas pelo corte dos cabos alemães e, após o Tratado de Versalhes, em 1919, passaram dois deles para a posse da ‘The Europe and Azores’, tendo o ‘N. York II’, anteriormente ligado em Mannhattan Beach, sido desviado para Halifax, no Canadá e o ‘Borkum I’ desviado de Emden para Penzance.
Com a instalação de novos cabos na década de 20, regista-se um aumento do tráfego. A ‘Western Union’ instala na Horta duas ligações ao E.U.A. (1HO e 2HO) e explora uma outra, Horta-Málaga-Roma propriedade da ‘Italcabo’. A D.A.T. opera o seu novo cabo Emden-Horta. A ‘Commercial Cable’ por sua vez aumentou para 4 as ligações que mantém localmente.
A ano de 1928 com todas as companhias a funcionar em pleno é considerado o ano de ouro do cabo submarino na Horta – o apogeu. Por essa altura, estimava-se que viviam nesta cidade cerca de 150 famílias estrangeiras entre ingleses, alemães e empregados da C.C.C. e ‘Western Union’ cujos ‘staffs’ integravam cidadãos do Canadá, Irlanda e Escócia.
Nos anos subsequentes, a dimensão do ‘staff’ da ‘Europe and Azores’ foi oscilando em consequência de acontecimentos como o “crash” da bolsa de New York, no início dos anos 30, que obrigou ao encerramento de estações da sua rede e redução de pessoal, tendo nos primeiros anos da guerra de 1939/45, sido necessário um reforço da força laboral, especialmente operadores, face ao aumento não previsto do volume de tráfego. Em 1943 o porto da Horta é ocupado por uma base inglesa, e é instalado um cabo de ligação à ilha Terceira, cujo tráfego era destinado às forças militares britânicas instaladas na base aérea das Lajes, o que originou uma nova necessidade de pessoal para a sua operação.
A estação de São Miguel (San Miguel Branch) funcionou até meados da década de 60. A sua reduzida dimensão em movimento e pessoal não sofreu grandes oscilações, consignada que estava ao tráfego local e às ligações a Carcavelos e Horta.
Picnic dos Empregados da companhia do cabo telegráfico nos Flamengos - Fayal
O progresso das telecomunicações, com o aparecimento dos novos cabos telefónicos coaxiais (os CANTAT) projeto iniciado nos anos 50, e inaugurado em 1961, por sua Majestade a Rainha de Inglaterra, permitiu ainda por mais algum tempo a utilização do cabo submarino, perante as vulnerabilidades da rádio face aos face aos fenómenos atmosféricos.
Contudo, adivinhava-se o fim das comunicações por cabo, e a 31 de dezembro de 1969, a companhia inglesa com a designação de ‘Cable and Wireless Limited’ é a última a encerrar atividades na Horta, tendo sido a primeira a instalar-se, operando muitos anos como ‘The Europe and Azores Telegraph Company Limited’.
Bibliografia:
Carlos M. Ramos da Silveira. O Cabo Submarino e outras crónicas faialenses. Núcleo Cultural da Horta, 2002