--  História Postal  --

Com a intenção de prevenir a propagação de epidemias pelas cartas enviadas de áreas infetadas, as autoridades postais procediam à sua desinfeção ou fumigação perfurando-as com golpes de estilete ou retirando um ou mais cantos por forma a injetar-lhes os gases de fumigação.

A pandemia da Cólera no início do século XIX tornou muito comum o tratamento do correio, terminando contudo essa preocupação por volta do ano de 1840.

Carta de Lisboa (20.03.1822), endereçada a Thuret & Camps, comerciantes em Paris, onde foi recebida a 04/04/1822. Transitada por Bayonne, apresenta na face os carimbos ‘ESPAGNE PAR BAYONNE’ e oval ‘LISBOA’. E no verso o carimbo ‘Avril.4.1822’ de chegada a Paris. Marca manuscrita ‘90’ da tarifa paga no destino. Com 2 cortes para desinfeção da cólera.

Ofício de 6 de Agosto de 1834, do Consulado Geral de Portugal em Gibraltar, para o Ministro d´Estado Agostinho José Freire. A dar conhecimento a «S.M.I.» [Sua Majestade Imperial], o anterior Imperador do Brasil D. Pedro I, na altura reinando em Portugal como Regente em nome de sua filha a futura Rainha D. Maria II, do desaparecimento da Cólera—Morbus naquela Praça.

Ill.mo e E.mo Senr.

Tenho a honra de levar à Presença de Vossa Excellencia para conhecimento de S. M.I., que desde o meo ultimo officio N.12 dattado de 20 do mez próximo passado, a Cholera Morbus tem diminuido tão rapidamente nesta Praça, que os boletins sanitários cessarão de apparecer no dia 4 do corrente em consequência de não ter havido nem hum só cazo de moléstia dentro das ultimas 24 horas: e hoje sei com huma certeza quasi official, que o dia 10 do corrente deve ser annunciado em a Chronica de amanhãa como destinado para se cantar o TeDeum, pello feliz desapparecimento da Cholera nesta Povoação e que no dia seguinte se começará a expedir nesta Praça Cartas Limpas de Saúde. De tudo isto informo hoje mesmo a Commissão de Saúde Publica do Reino em o officio, que remetto incluso e aberto para o devido Conhecimento de Vª. Exª logo, que eu tenha officialmente a supramencionada noticia immediatam.e pello primeiro Correio terei a honra de o participar a V.ª Ex.ª como he do meo dever.

D.s Gd.e a V.ª Ex.ª

Gibraltar 6 de Agosto 1834

P.S.

Depois de ter fechado este officio pª V.ª Ex.ª, agora m.mo acabo de receber hum officio do Secretario da Junta da Saúde desta Praça pelo qual se vê que desde o dia 7 do corrente se expedem cartas limpas de saúde, e como o correio está apartir não me dá lugar a mais do que a emviar à Commissão de Saúde Publica do Reino este mesmo officio.

Carta de Dartmouth (16.09.1834), de H. J. Holdsworth, endereçada a Hunt, Newman ,Roope & Cº, comerciantes no Porto, onde foi recebida a 27.09.1834. No verso c/ carimbos ‘DARTMOUTH—SE.16.1834’ e ‘LISBOA 21.9’. Aplicada a tarifa inglesa de 2sh/3d, o selo fixo de 280 réis à chegada a Lisboa, e um adicional de 40 réis para trânsito terrestre até ao Porto. Transportada pelo paquete inglês via Falmouth. Correio Marítimo.

(Dá conhecimento sobre o provável destino do ´Phoenix´, ao Porto, com carregamento de peixe proveniente da Terra Nova, face à situação da cólera em Gibraltar.

“ … My agent was directed to send this vessel to Gibraltar, but he seems to heard some bad reports of Cholera there and which appears to have frightned him. …” )

Carta de Maceió (14.09.1853), de António Bento Barbosa, endereçada a Joaquim Pinto Leite, no Porto, onde foi recebida a 12.11.1853. Ostenta no verso carimbos 'PERNAMBUCO' quase ilegível, 'P. TRANSATLANTICO 10/11(53)' aplicado à chegada a Lisboa e 'PORTO 12.NOVBRº.1853'. Porte de 240 réis aplicado no destino. Correio Marítimo. Com 2 golpes para desinfeção. 

Na época o Brasil sofria uma terrível epidemia e o Decreto de 20.04.1850, emitido pelo Conselho Sanitário Português determinava que , ... nenhum paquete originário do Brasil pode prestar quarentena em nenhum outro porto português que Lisboa ..., sendo válida a Regulação de 28.08.1848.