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--  História Postal dos Açores --

---  A HORTA DOS DABNEY EM FRAGMENTOS DE HISTÓRIA POSTAL  ---

( Atualizado em:  25/12/2014 )

Nunes, J. (2014), A Horta dos Dabney em fragmentos de História Postal. Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 23: pp

Sumário: No artigo surge em destaque um conjunto de peças filatélicas ilustrativas de aspectos da História Postal dos Açores no século XIX, envolvendo em particular a ilha do Faial. A par do estudo e caracterização dos exemplares e das marcas e inscrições que ostentam, fez-se igualmente uma leitura dos conteúdos o que permitiu estabelecer um certo nexo temático tendo por enquadramento comum a presença da família Dabney na ilha do Faial cuja permanência e influência naquela ilha ao longo do período compreendido entre 1806 e 1892, alcançou grande impacto numa dimensão à escala do Atlântico.


Nunes, J. (2014), Horta and the Dabney family as illustrated by some postal history pieces.  Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 23: pp

Summary: Based on a number of philatelic items which illustrate a variety of aspects connected with the Nineteenth Century Azores Postal History, and in particular with Faial Island, the article intends to draw the reader’s attention to some of those items exhibiting covers and postal marks of outstanding philatelic quality. Alongside the study and characterization of the items and inscriptions, the reading of the letters shows a thematic nexus as a common framework due to the huge impact of the Dabney family who settled in Faial between 1806 and 1892 where they developed an important firm with business on an Atlantic scale.


Jorge Alberto Flores de Almeida Nunes – Director dos Serviços de Viação e Transportes Terrestres de Angra do Heroísmo.

Palavras-chave: História Postal, Açores, Atlântico, Dabney

Key-words: Postal History, Azores, Atlantic, Dabney

NOTA INTRODUTÓRIA 

1 - A história postal, para lá do conceito específico que os filatelistas dominam, envolvendo o estudo das peças que povoam esse fascinante universo da operação postal com todos os seus particularismos, acidentes e incidentes, com a revelação do significado de cada marca, de cada inscrição que no percurso postal podem ocorrer, determinando a aposição de marcas e obliterações da mais variada natureza, pode revestir-se de outro interesse extravasando o campo estrito da filatelia. As breves mas expressivas sínteses explicativas que acompanham as peças que ilustram este artigo demonstram isso mesmo, permitindo entrever na intimidade do conteúdo de cada carta um conjunto de informações, aparentemente desconexas mas que, de facto, numa leitura articulada com o conhecimento do contexto da sua época, “falam” de um tempo complexo e revelam retalhos de uma realidade social e económica que fez do Faial no tempo dos Dabney uma época marcante na história do arquipélago. As cartas são, afinal, pedaços soltos a que o fio da história permite conferir coerência. Por isso a justeza do título escolhido para este trabalho. 

2 - A evocação dos Dabney como tema unificador do significado que a leitura de cada carta oferece, não só tem plena justificação, como se torna surpreendentemente flagrante à medida que o leitor se vai apercebendo do sentido de cada síntese explicativa associada a cada peça. Todas, sem excepção, de forma directa ou indirecta, constituem retalhos que ilustram aspectos da sociedade faialense e, quando se conhece o que significou a presença da família Dabney nesta comunidade verdadeiramente mergulhada na amplidão multifacetada do mundo atlântico durante quase todo o século XIX, numa quase omnipresença que se impõe em todos os aspectos da vida social, cultural e económica da ilha do Faial, compreende-se o sentido do que se afirma. A família Dabney foi, na verdade, dominante em todas as vertentes caracterizadoras da vida e do quotidiano desta parcela das ilhas açorianas, sendo que nesta época, por isso mesmo, o Faial alcançou papel de relevância ímpar.

A leitura do conteúdo das cartas que ilustram este trabalho e cuja excepcional singularidade filatélica deve ser sublinhada, dão rico testemunho de época, constituindo importante achega para os estudiosos da história económica, social e, em particular, da história da vida privada. E é surpreendente que estas considerações possam fazer sentido em presença, apenas, de um reduzido número de exemplares seleccionados. 

3 - Para que o leitor tenha a possibilidade de apreender, ainda que muito superficialmente, as razões que dão sentido a esta espécie de denominador comum aos vários conteúdos revelados nas cartas – o tempo dos Dabney – importa esboçar de forma brevíssima, alguns traços que ilustram a presença desta família americana que fez da vila, depois cidade, da Horta, lugar de eleição para viver e para desenvolver os seus negócios. 

O primeiro representante desta família yankee – John Bass Dabney – fixou-se na Horta em 1806 investido no cargo de 1.º Cônsul dos Estados Unidos da América nos Açores, dando origem a uma verdadeira dinastia consular que passará para o filho Charles W. Dabney e deste para Samuel W. Dabney, preenchendo um arco temporal que se prolongará até 1892, data em que este último deixa definitivamente a ilha do Faial com toda a família. Para além do cargo consular que se revelaria muito útil para o seu posicionamento social o cargo era igualmente instrumento facilitador dos negócios que desenvolveram. As actividades sobre as quais concentraram o seu interesse, abarcavam praticamente todos os ramos interessantes, desde a importação de artigos e equipamentos dos EUA; exportação do vinho do Pico e alguma laranja do Faial; reparação de navios em estaleiro bem apetrechado que estabeleceram junto à baía; agenciamento de embarcações e armadores de navios de carga e passageiros cruzando as rotas transatlânticas ligando a Europa e as Américas aos Açores. No agenciamento de navios avultam os seus interesses na logística da frota baleeira americana, em particular no que respeitava ao depósito e transbordo de óleo de espermacete na conclusão da primeira fase da campanha após partirem dos portos da costa leste americana. A privilegiada posição social desta família e a imensa teia de ligações que construiu no fluir do século XIX, alcançou enorme impacto com repercussões relevantes na vida faialense, em particular na promoção do seu porto que neste período assegurou papel de singular importância, nomeadamente na transição da navegação à vela para o vapor, dispondo para isso de outra iniciativa dos Dabney com a instalação de depósitos de carvão para abastecimento da navegação. 

Para que se tenha uma panorâmica deste período, assinalam-se alguns marcos significativos abrangidos pela cronologia desta época e que tiveram repercussão na ilha do Faial: o primeiro Dabney chega a esta ilha no período conturbado das lutas napoleónicas e em vésperas da 1.ª Invasão de Junot; produzem-se alterações profundas com impacto nas ilhas após a fixação do Regente D. João no Rio de Janeiro, nomeadamente com a abertura dos portos do Brasil; a movimentação das frotas britânica, francesa e dos Estados Unidos no Atlântico, em particular a movimentação do corso, colocam as ilhas sob algum sobressalto; a Guerra de 1812 que deflagra neste contexto, tem incidência directa com a utilização da Horta para transbordo de mercadorias entre os EUA e a Inglaterra, mas no seu porto ocorre mesmo um dos episódios bélicos daquele conflito, com um combate naval travado entre uma flotilha britânica e um brigue americano; após a pacificação resultante de Viena em 1815 e o exílio de Napoleão em Santa Helena, irrompe com vigor o movimento de emancipação das colónias espanholas da América a que está associado o corso dos chamados “insurgentes de Buenos Aires” que cruzam as águas das ilhas açorianas transformadas em zona propícia ao apresamento de navios espanhóis; em 1820 dá-se o pronunciamento liberal no Porto e tem início um período muito agitado na vida nacional em que os Açores desempenham papel decisivo na logística associada à expedição conhecida como dos “Bravos do Mindelo”; neste período, D. Pedro frequentou os salões da elite faialense e foi na residência dos Dabney que a oficialidade inglesa da expedição liberal muitas vezes se acolheu partilhando da sua hospitalidade; a par da agitação política e das dissidências locais com relevância no plano político e social, instaura-se em 1836 o sistema administrativo dos governos civis o que constitui alteração profunda sob os auspícios da reforma de Mouzinho da Silveira; não obstante os revezes para a economia das ilhas, a Horta vive um período de prosperidade resultante do desenvolvimento da actividade da frota baleeira americana o que se prolongará até ao início da Guerra da Secessão; a par desta actividade fortemente impulsionada pelos Dabney, a exportação de vinho do Pico pelo porto faialense terá atingido o seu período áureo, para desaparecer quase totalmente em 1852 afectando fortemente a economia do Faial e do Pico, do que resultou a intensificação da emigração para o Brasil e EUA; passada a Guerra da Secessão e a par do gradual declínio das escalas da frota baleeira, a navegação a vapor, com escalas pelo porto da Horta desde os anos quarenta, ganha forte impulso ainda que os vapores repartam agora as suas escalas com o porto de Ponta Delgada cuja construção antecedeu em quase uma quinzena o da Horta. Em todos os acontecimentos e factos desta breve lista, a presença dos Dabney foi constante e influente projectando a ilha do Faial e o seu porto. De premeio a comunidade faialense tornou-se culta e a vida associativa ganhou uma projecção ímpar à escala do arquipélago, devendo destacar-se o enorme surto da imprensa noticiosa, literária e política, surgida na cidade da Horta desde o ano de 1857. 

Uma época de grande pujança que os álbuns fotográficos organizados pela família Dabney, após meados do século XIX, juntamente com os Annals of the Dabney Family in Faial, eloquentemente documentam. 

A troca de correspondência, particular e de negócios, e disso são exemplo as peças filatélicas apresentadas, a que a “família” deu origem, mereceu de Roxana Dabney uma espantosa compilação nos Anais da Família Dabney na Ilha do Faial, obra traduzida da que acima se citou, que constitui um monumental repositório informativo de amplitude atlântica no qual, sem esforço, as referidas peças filatélicas encaixam como peças de um verdadeiro puzzle em paciente espera de contributos como aqueles que a “pequena” colecção aqui apresentada bem ilustra.

AS PEÇAS DA COLECÇÃO E SUAS ANOTAÇÕES

Carta do Fayal, datada de 20.Dez.1842, de Olivia Dabney, endereçada a Cornelia W. Loring, ao cuidado de Elyah Loring, Esq., Boston, Estados Unidos. Provavelmente transportada em mão pagou o porte americano de “6 cents”, inscrito a vermelho. Correio Marítimo. Rara. Não são conhecidas marcas em cartas entre 1841 e 1848 circuladas fora das ilhas. 

Embora assinada apenas “Olivia” não subsiste qualquer dúvida que a carta seja de Olivia Dabney, filha do 1º cônsul John Bass Dabney e de Roxa Lewis Dabney, e irmã do 2.º cônsul Charles William Dabney. Nasceu na Horta em 1815, desconhecendo-se quando e onde terá falecido. Olivia foi educada no Faial nos seus primeiros anos por uma professora americana e depois residiu nos EUA entre 1825 e 1829 frequentando a escola de Mr. Fowle (a que a carta refere). 

Com interesses muito variados, tal como outros membros da família cultivava o gosto pela música, e da carta depreende-se ainda o da leitura – cita Charles Dickens e Longfellow que será o poeta e irmão de outro Longfellow, Samuel, que viria ao Faial em 1847 para ser perceptor dos filhos de Charles, entre eles Samuel Wyllys Dabney, que veio a ser o 3º cônsul.

Faz ainda referência a uma Sarah que será Sarah H. Webster (1821-1909), filha de John White Webster que viria a casar com John Pomeroy Dabney. 

Culta e viajada tinha um aguçado espírito marcado pela curiosidade científica como se percebe pelos seus comentários sobre questões anatómicas e de medicina (a que hoje chamamos medicinas alternativas), como a homeopatia, e sobre frenologia e mesmerismo. Menciona ainda uma sociedade secreta Rosicrucians, notoriamente orientada para a metafísica e o misticismo. 

Curioso existir (ainda) na Universidade de Harvard um museu chamado Museum of Comparative Zoology, organizado pelo naturalista Louis Agassiz, com mais de uma centena de peixes dos Açores, enviados por Olivia Dabney a quem Agassiz ensinou a tratar e embalar para transporte para os EUA. 

Em suma, a carta é inegavelmente reveladora de uma faceta do quotidiano dos Dabney, que teve importantes reflexos no quotidiano faialense, em seu particular no ambiente social da Horta, onde as descrições dos saraus da época muito têm a ver com a maneira de estar dos membros desta família. 

Carta do Fayal datada de 09.Mai.1846, do Capt. J. T. Homans, a bordo do 'Belvidera', endereçada ao filho James E. Homans, e ao cuidado de E. B. Strange & Cº, Park Place, New York. Transportada a favor p/ Capitão da escuna portuguesa 'Amizade', que a terá entregue nos Correios em New York. Apresenta na face inscrições manuscritas 'Post Office' e 6 cêntimos de taxa paga no destino. Correio Marítimo.

Ao saber da partida para New York do “Amizade” (escuna pertencente à casa Dabney), o Capitão Homans escreve apressadamente ao filho. Depois de muitos atrasos arreliantes o “Belvidera” está pronto para se fazer ao mar e partirá amanhã, isso se o tempo o permitir. A família Dabney veio a bordo e despediu-se muito afectuosamente. Segue com a carta um par de chapéus (de palha?) para o Johnny e um par de cestos para a mãe.

Cópia de carta do Fayal, datada de 01.Set.1846, de Charles W. Dabney, Cônsul Americano naquela ilha, endereçadas ao Capt. J. T. Homans, a bordo do "Belvidera".

O cônsul manifesta a sua satisfação e alívio ao tomar conhecimento por carta de 31 de Maio, que o Cap. Homans chegara a salvo ao seu destino, embora ressalve que nunca duvidara do julgamento daquele sobre o “Belvidera”. Informa que Mr. Camroux pagou os direitos alfandegários e aguarda agora o certificado de desembarque para transmitir o montante das obrigações pelas quais se responsabilizou.

É de crer que o Cap. Homans tenha aportado ao Faial com o navio com água aberta, e que tenha tido problemas com a carga. Depois de sucessivos atrasos motivados pelas necessárias reparações e formalidades alfandegárias, terá partido a meados de Maio com destino aos Estados Unidos via Hull (UK), leia-se da carta anterior, que escreve ao filho a 9 de Maio. Na sua estadia no Faial terá sido alvo da tradicional hospitalidade dos Dabney, à qual se refere de forma gratificante na correspondência que com eles trocou.

A referência ao Sr. Camroux, seguindo o Dr. Madruga da Costa, certifica um detalhe das relações transatlânticas dos Dabney – Camroux foi seu agente no Reino Unido durante longos anos, nomeadamente no período de maior relevância do porto carvoeiro da Horta, como outros negócios, designadamente no negócio de vinhos com o Norte da Europa.

Cópia de carta do Fayal, datada de 11.Jan.1847, de Charles W. Dabney, Cônsul Americano naquela ilha, endereçadas ao Capt. J. T. Homans, a bordo do "Belvidera". 

Relacionada à anterior, que vem confirmar ter ocorrido na Horta situação envolvendo formalidades alfandegárias com o navio “Belvidera”, que Dabney terá ficado de regularizar. O cônsul mostra-se surpreso pela recepção tardia do certificado de desembarque, a ser presente no prazo de seis meses. Felizmente o bom relacionamento com os oficiais da Alfândega terá evitado inconvenientes. A carta faz referência a uma segunda ocorrência infeliz que não especifica, e que soube pelo Cap. Mercier da barca “William and James”. 

Um detalhe a observar: a ausência quase total de movimento de navios com a Inglaterra. Mais uma vez seguindo o Dr. Madruga da Costa – Era com o porto de Ponta Delgada que este movimento se processava devido ao transporte da laranja para os portos ingleses. Em Janeiro está-se em plena época da exportação de laranja, o que envolve sobretudo umas dezenas de navios ingleses em S. Miguel e, um pouco, na Terceira. O Faial tinha um movimento de laranja insignificante e era sobretudo destinado para os EUA. 

Carta do Fayal, datada de 22.Nov.1847, de Charles W. Dabney, Cônsul Americano, endereçada ao Capt. J. T. Homans.

O cônsul Dabney expressa a sua surpresa e angústia por ter tomado conhecimento da situação em que aquele se encontra, lamentando não ter em suas mãos o poder de promover os seus pontos de vista. Mostra-se confiante que com o apoio dos amigos e suas superiores habilitações venha a encontrar quem aprecie os seus serviços, e em caso que não consiga a independência financeira e precise de um pequeno empréstimo, disponibiliza-se para ajudar. 

Do acervo da correspondência do Capt. Homans em posse do autor, duas outras cartas do mesmo ano dão conta que este se encontra sem sucesso à procura de obter o comando de outro navio. A ocorrência infeliz a que se refere a carta anterior julga-se ser, por motivo que se desconhece, a perda do comando do “Belvidera”. 

Carta do Fayal, datada de 24.Jul.18(48 ?), de Carlos Benvenuto Casimiro, endereçada a D. Miguel Ximenes, Major do Estado Maior às Ordens do Marechal do Exército Duque da Terceira, em Lisboa, onde foi recebida a 06 de Agosto. Apresenta na face a marca de denominação de origem 'ILHAS', batida a azul, e no verso a marca '6/ LISBOA/ 8'. Pagou porte de 40 réis. Correio Marítimo. 

Sendo a marca “ILHAS” que ostenta a azul, motivo que confere a esta carta um inegável interesse filatélico, não é menor o que resulta quando analisada à luz dos muitos acontecimentos e personagens que marcaram a história destas ilhas dos Açores, no caso vertente a do Faial. Muito provavelmente escrita no ano de 1848, a sua decifração deixemos ao cuidado do historiador e investigador faialense Dr. Madruga da Costa: 

[…] Seguindo a História das Quatro Ilhas que formam o distrito da Horta, de António Lourenço da Silveira Macedo (e também os Anais do Município da Horta, de Marcelino Lima), Carlos Benevenuto Casimiro é nomeado governador militar do Faial a 26 de Dezembro de 1846 e toma posse a 28 (p. 187). No clima de instabilidade política reinante (em 1846 dá-se a Revolta da Maria da Fonte no Norte do País, que alastra a todo o país e ilhas) o Major Casimiro é afastado. Em Julho de 1848 vem para o Faial novo governador civil – Nicolau Anastácio Bettencourt e para governador militar, agora como Coronel, Carlos Benevenuto Casimiro. Regressa a Lisboa em Agosto de 1852. 

Dos Anais da Família Dabney no Faial, de Roxana Dabney, para o ano de 1847 consta que as autoridades foram depostas e que o governador civil Santa Rita e o comandante militar Casimiro foram ambos refugiar-se na casa do cônsul Dabney “com ar pálido e macilento”. E, com o auxílio de Samuel Dabney, filho do cônsul, terão sido levados numa corveta para Gibraltar. Roxana refere ainda uma carta de Gibraltar, datada de 14 de Maio de 1847, do Coronel Benvenuto Casimiro. Aqui a grafia é Benvenuto e será a correcta. Fala ainda de uma viagem à Terceira no Verão de 1848 num navio baleeiro e do regresso na corveta “Mindelo”, e que nela vinha de Lisboa o Major Casimiro (agora volta a major…), acrescentando “o mesmo que fugira no ano anterior”. Por fim existe mais uma referência ao Major Casimiro (a confusão dos postos militares não é relevante), em que Roxana diz que ele passou o serão em casa dos Dabney (Vol II, p. 137) […] 

Ora sobre o cônsul Sérgio Pereira Ribeiro, assunto central da carta, e seu tio, pretenso usurpador do cargo que aquele detinha, diz ainda o mesmo autor: 

[…] Sérgio Pereira Ribeiro foi de facto cônsul francês no Faial; era um comerciante abastado pertencente à burguesia faialense  e chegou à nobilitação como Cavaleiro da Ordem de Cristo. Mas morreu em 1835 (Enciclopedia Açoriana). Seguindo as Famílias Faialenses de Marcelino Lima, de um dos filhos, Francisco Pereira Ribeiro (1821-1909) nasce um Sérgio Pereira Ribeiro, mas nasce no ano de 1857. E não temos mais nenhum Sérgio Pereira Ribeiro. Temos, sim, um Sérgio Augusto Ribeiro  que o Macedo refere (Vol.II p. 166-7) ser neto do Sérgio Pereira Ribeiro falecido em 1835 e que aquele assumiu o vice-consulado de França. Creio que a “cunha” do Casimiro será a favor deste, e o prestígio do avô talvez induzisse em erro a referência ao nome do neto. Sobre o tio que pretenderia “surripiar-lhe” o posto consular, poderá ser um Francisco Pereira Ribeiro que foi nomeado em 1841 vice-cônsul de Nápoles e Sicília (Macedo, Vol. II p. 169). De facto, era comum um agente consular sê-lo de várias nações. […] 

Carta do Fayal, datada de  14.Mar.1849, de S. B. Mowry, marinheiro ou viajante americano, endereçada ao irmão Erastus M. Mowry, em Cranston, Rhode Island. Apresenta na face carimbo 'NEW YORK SHIP APR.23 - 7 cts.' a vermelho. Transportada ao cuidado de A. & W. Sprague. Correio Marítimo.

Carta muito curiosa, pois pela rota pareceria escrita por marinheiro de um navio baleeiro, mas a descrição feita, é praticamente omissa em referências à faina baleeira. A verdade é que partindo da costa Leste dos EUA e destinando-se ao Pacífico – ainda mais ao porto do Chile que escreve como sendo Turkawana (nome que atribui aos baleeiros) -  e que será Talcahuano onde faziam escala inúmeros navios americanos à baleia, poderá ter relação com a actividade como por exemplo o transporte de óleo deixado nos portos para transbordo e envio para os EUA. Como acontecia com o porto da Horta onde se transbordaram milhares de barris de óleo de cachalote. 

Mas o autor da carta não faz qualquer referência “à baleia”, e reage como um vulgar viajante, outro de muitos que visitaram o Faial ao longo do séc. XIX, e que deixaram registo da sua passagem, em relatos pitorescos frequentemente influenciados pelos seus preconceitos, a que este não foge. 

Um detalhe muito interessante e típico, e frequente na literatura de viagens da época: o realce e a descrição dos jardins paradisíacos da família Dabney nas suas duas residências – Bagatelle e Fredonia. Um pormenor – estamos em Março, ainda no final da época da laranja – e por isso a profusão dos citrinos num período em que o Faial, ainda que em escala reduzida (ao contrário do que muitas vezes se diz…) exportava alguns carregamentos com destino aos EUA. A magnificência do Pico e a beleza do conjunto das duas ilhas – como em outros relatos – marca a narrativa. 

Sobre a comunidade faialense – tal como outros visitantes no mesmo tom o fizeram – não se abstém de comentar: “The people are all civil and polite, but the most of them are very ignorant, not more than one in a hundred known their letters." 

Carta das Flores, datada de 15.Nov.1856, de Fernando J. Mesquita Henriques, Vice-Cônsul dos Estados Unidos naquela ilha, endereçada a Tucker & Cummings, Dartmouth, Massachusetts, onde foi recebida a 22.Mar.1857. Apresenta na face a marca 'NEW YORK SHIP - MAR.22 - 5 cts', de chegada a New York. Pagou porte de 5 cts no destino - 2 cts destinados ao capitão do navio por este não estar abrangido por contrato postal - 3 cts de porte doméstico regular - sem penalização por falta de portes visto ser carta oriunda de um país estrangeiro. Correio Marítimo. 

Na sua obra A Ilha do Faial na Logística da Frota Baleeira Americana “No Século Dabney”, o Dr. Madruga da Costa escreve a certo passo:

[…]

Na Vila da Horta, que a munificência de D. Pedro, com muita honra e pouco proveito, elevaria a cidade em 1833, à turbulência da gente anónima e da marinhagem que deambulava por ruas e travessas na decorrência de naufrágios, desembarques forçados ou de longas permanências que a inesperada escala de um navio, talvez com água aberta ou, simplesmente, por inapelável declaração oficial de incapacidade para navegar, somavam-se os indesejáveis que por incompetência própria, ou por intolerância dos capitães, desembarcavam de forma definitiva. A eles se juntavam desertores para quem a rigorosa disciplina a bordo e os riscos da “pesca”, mais o insuportável desconforto do “forecastle”, ou o tratamento, invariavelmente selvático infligido pelos capitães, tornavam o desembarque, muitas vezes em condições da mais abjecta miséria, na libertação de um pesadelo. […] 

e mais adiante:

[…] Outras ocorrências mais estranhas podiam verificar-se, muitas vezes explicáveis pelo facto de os capitães simplesmente abandonarem tripulantes tidos por indesejáveis, que uma vez em contacto com o consulado ficavam numa situação que podia configurar casos de deserção, evitando que os capitães adiantassem os três meses de remunerações previstas na lei.

[…] 

Testemunho do que afirma, esta carta do Vice-Cônsul dos Estados Unidos nas Flores, datada de 15 de Novembro de 1856, narra a captura de dois marinheiros fugidos do navio baleeiro “Brunswick”, chegado àquela ilha, a 31 de Outubro, que abandonados pelo capitão do navio, foram enviados ao Cônsul no Faial para serem repatriados para aquele país.

A coincidência de datas, e de nomes do navio, do seu capitão e do destinatário da carta, permite situar o episódio na fase inicial da segunda das duas viagens que aquele autor menciona em nota que a propósito coligiu sobre o navio Brunswick:

[…]

Este navio realizou várias viagens. Abrangendo o ano de 1856 há registo de duas viagens: uma que tem início a 28 de Julho de 1853 e regresso ao porto de origem em 14 de Julho de 1856 e outra com início a 9 de Outubro de 1856 e data de chegada à origem a 19 de Setembro de 1859.

É um navio — uma galera de 295 toneladas — da frota baleeira americana. Nestas duas viagens a praça era o porto de Dartmouth, Mass. Nas duas o comandante era o Cap. Henry P. Butler. O armador na primeira viagem, destinada ao Pacífico, era Abner R. Tucker. Quando chegou a Dartmouth tinha a bordo 690 barris de óleo de baleia e 5.800 libras de osso. Durante a rota foi enviando a produção num total de 575 barris de óleo e 14.000 libras de osso. Na segunda viagem, destinada ao Índico, o armador era Tucker & Cummings. Partiu a 9 de Outubro de 1856 e regressou à origem a 19 de Setembro de 1859 com 677 barris de óleo de espermacete e 580 de óleo de baleia.

[…] 

Sobre Fernando J. M. Henriques registe-se breve referência que o historiador lhe faz, com origem em carta da correspondência consular de Charles Dabney para o Secretário de Estado dos EUA, H. Seward, dando notícia da morte nas Flores do agente consular “Fernando José Henriques Mesquita”.

[…]

Neste período não há nas Flores nenhum Fernando José Henriques Mesquita, mas o erro não surpreende porque os americanos lidam mal com estes nomes muito longos.    (Francisco António Nunes Pimentel Gomes, Casais das Flores e Corvo, Lajes das Flores, Ed. do Autor, 2006, 531p.)

O Dabney diz ao Secretário de Estado em carta de 24 de Abril de 1861, que o agente consular nas Flores faleceu. Faleceu de facto, a 4 de Março daquele ano, mas foi Fernando Joaquim Mesquita Henriques que também era vice-cônsul de França, o que não era anormal. Encontramos nesta época pessoas que são agentes consulares de vários países em simultâneo. Por exemplo, quem sucedeu ao Mesquita Henriques foi James Mackay Junior que já era vice-cônsul britânico.

[…] 

Carta do Fayal datada de 23.Ago.1864, de B. F. Kelley, endereçada a Betsey C. Kelley em Bainbridge, Chenango County, New York, transitada por Boston em 06.Out.1864. Carimbo 'BOSTON OCT.6.1864' a vermelho, e 'SHIP' a preto apostos na  face. Porte pago no destino 'Due 6 cts.' inscrito a preto na face. Correio Marítimo.

Viajante americana que visitou Stª. Helena, as Ilhas Canárias e Cabo Verde antes de desembarcar nos Açores, esta senhora (seria uma dama de companhia?) tem traços de aventureira; estamos no ano de 1864, em plena Guerra da Secessão (1861-65), o que significa que a travessia dos mares, em particular do Atlântico, era um perigo. Muitos navios mercantes do Norte foram afundados por navios corsários confederados porque era estratégia do Sul fragilizar a economia do Norte e um dos meios era atingir fortemente a marinha de comércio, incluindo a frota baleeira.

À época a Horta era demandada por inúmeros viajantes que sobre a ilha iam deixando registos e, nalguns casos, livros e opúsculos que constituem hoje interessantes obras no domínio da literatura de viagens sobre os Açores.

É disso exemplo, esta sua carta que narra um episódio aventuroso e assustador ocorrido em Sta. Helena com um ladrão, e as impressões da sua passagem pela ilha do Faial, onde o acaso quis que observasse de perto o navio de guerra 'Kearsarge' (*) que recentemente afundara o célebre navio corsário 'Alabama'.

Uma referência ao cônsul americano, Mr. Dabney, e à possibilidade de um ‘good job’, é curiosa e estranha. A não ser que tivesse qualificações muito especiais, pouco provável seria que o cônsul oferecesse emprego a uma viajante em trânsito pela Horta.

Em plena Guerra da Secessão Americana e tendo por objectivo a captura de navios corsários confederados, não é credível que essa sua presença não tivesse objectivos militares concretos, assim o afirma o Dr. Madruga da Costa, em ensaio publicado no Boletim do Núcleo Cultural da Horta (2010), servindo certamente a ilha do Faial, em que sobressai a intervenção do cônsul Charles William Dabney, como sua base de informação e apoio na missão de localizar e afundar o 'CSS Alabama', que operando em águas da ilha das Flores, vinha causando constantes depredações na frota mercante da União, nomeadamente na sua frota baleeira. 

A sua aparição no porto da Horta em Agosto de 1864, de que esta carta constitui testemunho,vem dar consistência à tese que terá sido o Faial a primeira terra a receber a notícia do afundamento do 'Alabama'. 

Dois meses antes o 'Kearsarge' seguira o seu rasto até Cherbourg, na França, onde este aportara para reparações urgentes, depois de triunfantemente ter capturado 65 navios mercantes da União. A neutralidade francesa obriga a que o seu comandante Cap. John A. Winslow aguarde fora do porto. A 19 de Junho perante a saída do navio corsário confederado vem ao seu encontro e em combate que durou cerca de uma hora, a maior eficácia da artilharia do 'Kearsarge' reduz o 'Alabama' a destroços flutuantes.

(*) Com uma primeira vinda à Horta em Outubro de 1862 conjuntamente com o 'Tuscarora' a pedido do cônsul Dabney, o 'USS Kearsarge' regressa ao Faial a 5 de Abril de 1863 e a partir de então permanece em águas açorianas com frequentes escalas no porto da Horta.

Carta do Fayal, datada de  04.Dez.1875, de Samuel Wyllys Dabney, Cônsul dos Estados Unidos na ilha do Faial, endereçada a Marston & Crapo, Counsellors at Law, em New Bedford, onde foi recebida a 03.Jan.1876. Apresenta na face a marca 'NEW YORK DUE 20 CTS. JAN.2', de entrada por esta cidade, e no verso as marcas 'LIVERPOOL SHIP 17.DE.1875', de trânsito por aquele porto, e 'NEW BEDFORD MASS./ JAN.3', de destino. Portes manuscritos de '20' cts. e 'Postage 30 c' cobrados durante o trânsito e no destino. Correio Marítimo. 

A carta dá conhecimento do depoimento do Senhor Abraham Smith, possível capitão de navio baleeiro ou mercante, ou então simples tripulante, em eventual averiguação que a firma de advogados Marston & Crapo, de New Bedford, terá encarregado o cônsul de realizar. 

O consulado era chamado a intervir em conflitos, deserções, litígios envolvendo tripulantes, como por crimes cometidos a bordo ou questões de carga/óleo de baleia, etc., podendo esta diligência ser uma qualquer destas. 

A referência ao nome de um português dado como desaparecido, indicia que provavelmente se trate de um desertor entre os muitos que abandonavam os navios baleeiros quando chegavam aos Açores. 

A firma Marston & Crato surge quando George Marston se associa à firma Walter Wallace Crapo em 1869, e perdurou até ser extinta em 1878. 

History of New Bedford, Vol. III, The Lewis Historical Publishing Company, New York, 1918.

Old Dartmouth Sketches, Vol. IV, 65-76. 

 

AGRADECIMENTOS

Ao editor do Boletim do Núcleo Cultural da Horta, Dr. Ricardo Madruga da Costa, pelo inestimável contributo na elaboração da introdução a este artigo, e por toda a relevante informação histórica que facultou.

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