O Tribunal Celestial

Durante às suas explicações sobre o período das "70 semanas"(a), o anjo Gabriel citou indiretamente a inauguração do ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial.

O santuário terrestre, réplica do santuário celestial (Êxodo 25:8-9; Hebreus 8:1-5; Hebreus 9:11, 24), foi consagrado para o ministério sacerdotal levítico ao ser ungido com óleo santo (Levítico 8:10-11; Números 1:49-50). E o santuário celestial também deveria ser consagrado, mas para o ministério sacerdotal de Jesus (Hebreus 4:14-15), por isso o anjo Gabriel disse: "para ungir o santo dos santos" ou "ungir o santíssimo" (Daniel 9:24). Tanto a parte física do santuário terrestre quanto às suas atividades, representavam a parte física e as atividades do santuário celestial, que hoje são realizadas por Jesus (Hebreus capítulo 9).

Santuário, a serviço do pecador

Um dos principais objetivos do santuário terrestre era proporcionar ao pecador um local onde ele pudesse confessar os seus pecados e rogar por perdão, e esse procedimento era auxiliado por um sacerdote (Levítico 17:8-9). E somente os pecados confessados e quitados com o sangue dos sacrifícios tinham o perdão concedido; se alguém mantivesse deliberadamente alguma transgressão, essa pessoa era banida da congregação de Israel após a purificação do santuário (Levítico 5:17-19; Levítico 23:26-29; Números 15:30-31).

E ainda de acordo com o procedimento litúrgico, o pecado que deveria incidir sobre o pecador absolvido, era registrado no santuário; e isso ocorria no momento em que o sacerdote aplicava o sangue da oferta no altar de sacrifícios, no altar de incenso ou, nas cortinas do tabernáculo. Assim, o santuário terrestre mantinha o registro dos pecados de Israel até o dia da Expiação(b).

Resumidamente, a liturgia do santuário terrestre estava divida em duas etapas distintas: a primeira ocorria ao longo do ano para que o pecador confessasse e pagasse(c) pelos seus pecados através do sangue da oferta, recebendo assim o perdão; a segunda etapa ocorria uma vez ao ano para remover os pecados acumulados no santuário, ou seja, para purifica-lo. E, semelhantemente, essas duas etapas tem sido aplicadas no santuário do Céu:

Durante a antiga aliança, as transgressões do povo de Deus eram pela fé transferidas simbolicamente(e) para as ofertas sacrificadas, e o sangue dessas ofertas era conduzido pelo sacerdote para o interior do santuário terrestre (Levítico 4:1-7; Hebreus 9:9-10). Mas, sob a nova aliança, os pecados confessados pela fé recaem literalmente sobre o sacrifício de Cristo, que pelos méritos de Seu sangue vertido no Calvário, encontra-Se no santuário celestial intercedendo pelo pecador (Romanos 3:23-26; Hebreus 10:19-22; I Pedro 2:21-24).

A purificação do santuário celestial

E assim como no dia da Expiação o santuário terrestre era purificado com a remoção dos pecados que haviam sido registrados nele (Levítico capítulo 16), o santuário celestial está sendo purificado com a remoção dos pecados registrados nos livros celestiais (Daniel 7:9-10 cf. Apocalipse 20:12). Antes, porém, estes registros estão sendo examinados a fim de se determinar quais pecados serão apagados, habilitando assim os seus respectivos envolvidos a entrarem no reino de Deus (cf. Isaías 43:25; Miqueias 7:18-19). Portanto, a purificação do santuário é uma obra de juízo investigativo, e que será concretizada antes da segunda vinda de Cristo, pois quando Ele vier, Sua recompensa estará determinada e será entregue a cada um segundo as suas obras (Hebreus 9:27-28; Apocalipse 22:12). Em essência o "dia da Expiação" é um dia de julgamento(f).

Todo aquele que verdadeiramente se arrepende e pela fé aceita o sacrifício expiatório de Cristo, terá assegurado o perdão. Quando o nome de alguém é chamado para ser julgado e se constata que essa pessoa está revestida pela justiça de Cristo(g), seus pecados são apagados e ela é considerada digna da vida eterna.1 "O vencedor será igualmente vestido de branco. Jamais apagarei o seu nome do livro da Vida, mas o reconhecerei diante do Meu Pai e dos Seus anjos." (Apocalipse 3:5 NVI cf. Êxodo 32:33).

Na antiga aliança, somente os que vinham perante Deus com confissão e arrependimento, e cujas transgressões haviam sido quitadas com o sangue da oferta sacrificada, participavam da cerimônia do dia da Expiação (Levítico 23:26-29). E hoje, semelhantemente, durante o juízo investigativo (o grande dia da Expiação), os únicos casos a serem considerados são daqueles que manifestaram ou têm manifestado confissão e arrependimento por seus pecados e, depositaram fé no sacrifício de Jesus, o Cordeiro de Deus (João 1:29). O julgamento dos ímpios ocorrerá separadamente em outro momento. Sobre isso o apóstolo Pedro afirma:

"Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus? E, se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio, sim, o pecador?" (I Pedro 4:17-18 RA cf. Hebreus 10:30).

O juízo investigativo, também relatado por Pedro, é destinado àqueles que professam serem seguidores de Cristo; e visa julgar se são realmente dignos de terem os seus nomes escritos no livro da Vida, pois, de acordo com Jesus: "Nem todo aquele que Me diz: 'Senhor, Senhor', entrará no reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de Meu Pai que está nos céus. Muitos Me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor, não foi em Teu nome que profetizamos e em Teu nome que expulsamos demônios e em Teu nome que fizemos muitos milagres?' Então Eu lhes declararei: 'Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade'[h]." (Mateus 7:21-23 BJ cf. Mateus 19:16-19; João 15:10).

Aqueles que rejeitaram a Jesus como Salvador já escolheram a perdição. Para estes, destina-se o aviso: "'Eu virei a vocês trazendo juízo. Sem demora testemunharei contra os feiticeiros, contra os adúlteros, contra os que juram falsamente e contra aqueles que exploram os trabalhadores em seus salários, que oprimem os órfãos e as viúvas e privam os estrangeiros dos seus direitos, e não têm respeito por Mim', diz o Senhor dos Exércitos." (Malaquias 3:5 NVI). Aos que recusaram a inestimável salvação oferecida por Deus, restará apenas a sentença descrita em Malaquias 4:1 (cf. Apocalipse 20:14-15). No julgamento dos ímpios, que será a terceira(i) e última fase do juízo de Deus, os livros de registro serão novamente abertos; mas agora, para revelar os pecados que não foram apagados durante a purificação do santuário celestial, e os quais condenarão os seus respectivos responsáveis à morte eterna (Hebreus 10:26-29).

"[...] No juízo final, a posição, a classe, ou a riqueza não alterarão por um fio de cabelo, sequer, o caso de ninguém. Pelo Deus que tudo vê, serão os homens julgados segundo o que são na pureza, nobreza e amor a Cristo."2

Os livros do tribunal celestial

A Bíblia menciona três tipos de livros que são utilizados no juízo de Deus: os "livros de registro", o "livro da Vida" e, o "livro Memorial".

Os livros de registro

"O tribunal iniciou o julgamento, e os livros foram abertos." (Daniel 7:10 NVI). Os livros de registro, nos quais estão relatados os nomes e ações dos homens, conduzem a decisão do juízo; eles trazem o verdadeiro intuito de cada atitude humana. "Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más." (Eclesiastes 12:14 RA). "Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, delas darão conta no dia do Juízo; porque pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado." (Mateus 12:36-37 RA). Deus "trará à luz o que está oculto nas trevas e manifestará as intenções dos corações." (I Coríntios 4:5 NVI cf. Hebreus 4:12-13).

Cada ação humana é avaliada por Deus, tanto os registros de fidelidade quanto de infidelidade. Ao lado de cada nome estão escritos com exatidão toda palavra inconveniente, todo ato egoísta, todo dever não cumprido e todo pecado secreto; assim como toda hipocrisia dissimulada. Advertências enviadas pelo Céu que foram negligenciadas, momentos desperdiçados, oportunidades não aproveitadas, influência exercida para o bem ou para o mal, juntamente com seus resultados de vasto alcance, tudo encontra-se fielmente registrado. Mas, sendo Deus onipresente e onisciente (Salmos 139:7-8; Isaías 46:10), qual a finalidade de haver esses livros contendo tais registros? Deus necessita deles para recordar e assim julgar cada indivíduo? Obviamente que não. Os livros de registro têm o objetivo de auxiliar aqueles que acompanham as decisões de Deus (Apocalipse 5:11-12), os quais não são onipresentes e tampouco oniscientes; os próprios redimidos utilizarão esses livros para compreender cada veredito de Deus anunciado durante o Seu juízo (I Coríntios 6:1-3; Apocalipse 20:4).

O livro da Vida

Por sua vez, o livro da Vida contém os nomes daqueles que estão em comunhão com Deus e trabalhando em prol de Seu serviço. Quanto a isso, Jesus disse aos Seus discípulos: "[...] alegrai-vos, antes, porque vossos nomes estão inscritos nos céus." (Lucas 10:20 BJ). Paulo igualmente cita os seus fiéis cooperadores, "cujos nomes estão no livro da Vida" (Filipenses 4:3 BJ). Daniel também relatou que Deus salvará "todos os que se encontrarem inscritos no livro" (Daniel 12:1 BJ). E João afirma que entrarão na cidade de Deus, somente os "inscritos no livro da Vida do Cordeiro" (Apocalipse 21:27 BJ). E para que o nome de alguém esteja no livro da Vida, os seus pecados devem ser apagados dos livros de registro durante o juízo investigativo.

O livro Memorial

Além dos "livros de registro" e do "livro da Vida", a Bíblia menciona um "Memorial" escrito diante de Deus, no qual estão registradas as boas ações "dos que temiam o Senhor e honravam o Seu nome" (Malaquias 3:16 NVI). Suas palavras de fé, seus atos de amor, acham-se preservados no Céu. Neemias refere-se a isso quando diz: "Por isto, Deus meu, lembra-Te de mim e não apagues as beneficências que eu fiz à casa de meu Deus e para o Seu serviço." (Neemias 13:14 RA).

No "livro Memorial", toda ação de justiça se acha imortalizada. Ali, toda tentação resistida, todo mal vencido, toda palavra de terna compaixão proferida, acham-se fielmente historiados. Igualmente, todo ato de sacrifício, todo sofrimento e tristeza suportados por amor de Cristo, encontram-se eternamente relatados. Diz o salmista: "Contaste os meus passos quando sofri perseguições; recolheste as minhas lágrimas no Teu odre; não estão elas inscritas no Teu livro?" (Salmos 56:8 RA).

Considerações finais

"Vivemos hoje no grande dia da Expiação. No cerimonial típico [cerimonial mosaico], enquanto o sumo sacerdote fazia expiação por Israel, exigia-se de todos que afligissem a alma pelo arrependimento do pecado e pela humilhação, perante o Senhor, para não serem extirpados dentre o povo. De igual modo, todos quantos desejem ver o seu nome conservado no livro da Vida, devem, agora, nos poucos dias de graça que restam, afligir a alma diante de Deus, em tristeza pelo pecado e em arrependimento verdadeiro. Deve haver um exame de coração, profundo e fiel. [...]

Quando se encerrar a obra do juízo de investigação, o destino de todos terá sido decidido; ou para a vida, ou para a morte. O tempo da graça finaliza pouco antes do aparecimento do Senhor nas nuvens do céu. Cristo, no Apocalipse, prevendo aquele tempo, declara: 'Quem é injusto, faça injustiça ainda; quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda. E, eis que cedo venho, e o Meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra.' (Apocalipse 22:11-12 ASV cf. Apocalipse 16:17).

Os justos e os ímpios estarão ainda a viver sobre a Terra em seu estado mortal; estarão os homens a plantar e a construir, comendo e bebendo, todos inconscientes de que a decisão final, irrevogável, foi pronunciada no santuário celestial. Antes do dilúvio, depois que Noé entrou na arca, Deus o encerrou ali, e excluiu os ímpios; mas, durante sete dias, o povo, não sabendo que seu destino se achava determinado, continuou em sua vida de descuido e de amor aos prazeres, zombando das advertências sobre o juízo iminente. 'Assim', diz o Salvador, 'será também a vinda do Filho do homem' (Mateus 24:37-42 ASV). Silenciosamente, despercebida como o ladrão à meia-noite, virá a hora decisiva que determina o destino de cada homem, sendo retraída para sempre a oferta de misericórdia ao homem culpado."3

O tribunal celestial e o tempo de seu juízo foram revelados, as Sagradas Escrituras citam:

A mensagem do primeiro anjo anuncia esses acontecimentos, e segue alertando a cada "nação, tribo, língua e povo" (Apocalipse 14:6-7).

by IASD On-line TMA

Texto baseado em: Nisto Cremos. (2003). 7.ª ed., São Paulo, S.P.: CPB, cap. 23 (O Ministério de Cristo no Santuário Celestial).

Vídeos relacionados: O Santuário e o Conflito; Cremos no Juízo

a. Acesse: A Hora do Juízo

b. Acesse: O Bode para Azazel

c. Havia ocasiões em que a oferta sacrifical não podia ser fornecida por um pecador pobre (necessitado financeiramente), então o santuário lhe concedia a oferta. Nesses casos, o pecador deveria tão somente arrepender-se e rogar a Deus por perdão.

d. Acesse: Finda-se o Tempo

e. O sistema de ofertas ministrado pelo sacerdócio levítico não expiava literalmente o pecado, mas ensinava ao povo de Israel como o pecado é lidado por Deus através do sacrifício e intercessão de Jesus, o Messias (João 1:41; João 4:26). "Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-Se à destra de Deus." (Hebreus 10:10-12 RA cf. Hebreus 8:1-3, João 1:29). O ministério sacerdotal exercido no santuário terrestre era "uma parábola para a época presente", isto é, que apontava para o ministério no santuário celestial (Hebreus 9:9-10 RA).

f. "A tradição judaica durante muito tempo tem retratado o Yom Kippur [dia da Expiação] como dia de julgamento, um dia em que Deus toma assento em Seu trono e julga o mundo. Os livros de registro são abertos, todas as pessoas passam diante dEle, e os destinos são selados." In: SILVERMAN, M. (1951). The Jewish Encyclopedia, Hartford, C.T.: Prayer Book Press, p. 147, 164. "O Yom Kippur traz também conforto e segurança aos crentes, pois é 'o dia em que a temerosa antecipação do julgamento vindouro finalmente cede lugar à confiante afirmação de que Deus não condena, mas perdoa abundantemente aqueles que se volvem a Ele em penitência e humildade'." In: SIMPSON, W. W. (1965). Jewish Prayer and Worship, New York, N.Y.: Seabury Press, p. 57-58.

g. Acesse: Justificação pela Fé

h. A palavra "iniquidade" utilizada em Mateus 7:23 provém do substantivo grego "anomia", que significa: desprezo ou transgressão da lei. Biblicamente, "anomia" é sinônimo de pecado: "Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei [anomia], porque o pecado é a transgressão da lei [anomia]." (I João 3:4 RA).

i. O juízo de Deus está dividido em três fases: a primeira, que ocorre neste momento, é conhecida como a etapa investigativa e tem o objetivo de avaliar quem fará parte do reino de Deus (I Pedro 4:17-18; Mateus 7:21-23); a segunda fase, que ocorrerá durante o milênio (período de 1000 anos), é conhecida como a etapa comprobatória, nesta fase os redimidos avaliarão e entenderão as decisões de Deus sobre eles próprios e sobre aqueles que não alcançaram a salvação (I Coríntios 4:5; I Coríntios 6:1-3; Apocalipse 20:1-5); a terceira fase, que ocorrerá após o milênio, é conhecida como a etapa punitiva e destina-se a anunciar aos ímpios os motivos pelos quais eles não podem fazer parte do reino de Deus e, erradicá-los definitivamente (Malaquias 4:1; Apocalipse 20:5-15).

1. Isaías 1:16-18; Isaías 43:25-26; Ezequiel 33:12-16; Malaquias 3:16-18.

2. WHITE, E. G. Conselhos Sobre Mordomia, 5.ª ed., São Paulo, S.P.: CPB, sec. V, cap. 33, p. 162.

3. WHITE, E. G. Grande Conflito, O; 5.ª ed., São Paulo, S.P.: CPB, sec. IV, cap. 28, p. 489-491.

Outros estudos: