IEAD e os Dez Mandamentos - II

"Aquele que procura tornar-se santo por suas próprias obras, guardando a lei, tenta o impossível. Tudo que o homem possa fazer sem Cristo, está poluído de egoísmo e pecado. É unicamente a graça de Cristo, pela fé, que nos pode tornar santos. O erro oposto e não menos perigoso é o de que a crença em Cristo isente o homem da observância da lei de Deus; que, nossas obras nada têm haver com nossa redenção."1

Sempre houve em todas as épocas pessoas que se levantaram contra Deus e Sua lei (Romanos 5:12-14; I João 3:4 cf. Romanos 8:5-8), e inúmeros pretextos foram criados para mascarar esta injustificável atitude, entre eles: "Estamos no tempo da graça e não necessitamos da lei". E esta deprimente insinuação é aceita por muitos membros da igreja Evangélica Assembleia de Deus, a grande maioria vem acatando errôneas doutrinas sobre a graça. Muitos acreditam veementemente que o Decálogo perdeu sua importância e vigência após a cruz do Calvário, porém, isso não é ensinado pelos teólogos assembleianos.

A graça anulou a lei de Deus?

Lembrando: todas as citações a seguir são provenientes da literatura oficial da igreja Evangélica Assembleia de Deus.

"Se não estamos mais sob a lei, mas sob a graça, também estamos livres para pecar e ignorar os Dez Mandamentos? Paulo disse: 'De modo nenhum!' Quando estávamos sob a lei, o pecado era o nosso senhor. A lei não justifica nem ajudava a vencer o pecado. Mas agora estamos ligados a Cristo, Ele é o nosso Mestre e nos dá o poder de praticarmos o bem, não o mal."2

"A salvação em Cristo não significa que a lei perdeu o seu valor. Na realidade, a justificação pela fé confirma a lei, quanto ao seu propósito e função original. Mediante sua reconciliação com Deus e a obra regeneradora do Espírito Santo, o crente é capacitado a honrar e obedecer à lei moral(a) de Deus."3

"O Espírito Santo operando dentro do crente, capacita-o a viver uma vida de retidão que é considerada o cumprimento da lei moral de Deus. Sendo assim, a operação da graça e a guarda da lei moral de Deus não conflitam entre si. Ambas revelam a presença da justiça e da santidade divinas."4

"Parece paradoxal que uma lei possa nos dar a liberdade, mas a lei de Deus aponta o pecado em nós e nos dá a oportunidade de pedirmos o perdão do Senhor (ver Rm 7.7,8). Como cristão, somos salvos pela graça de Deus, e a salvação nos livra do controle do pecado; somos livres para viver da maneira que Deus nos criou para viver. É claro que isso não significa que estamos livres para fazer o que bem entendermos (ver 1 Pe 2.16). Somos livres agora para obedecer a Deus."5

"Se o nosso coração não estiver mudado, seguir as regras de Deus será algo desagradável e difícil. Iremos nos rebelas quando nos for dito como devemos viver. O Espírito Santo, porém, nos dá uma nova vontade, ajudando-nos a desejar obedecer a Deus (ver Fp 2.12,13). Com um novo coração, consideramos que servir a Deus é a nossa maior alegria. Sob a nova aliança de Deus, a Sua lei passa a estar dentro de nós. Não é mais um conjunto exterior de regras e princípios. O Espírito Santo nos lembra das palavras de Cristo, ativa a nossa consciência, influência os nossos motivos e desejos, e nos faz querer obedecer. Agora, fazer a vontade de Deus é algo que desejamos com todo o nosso coração e mente."6

"[...] Tiago nos lembra que se transgredimos uma só lei, nos tornamos pecadores. Não podemos decidir manter uma parte da lei de Deus e ignorar o restante dela. Não se pode infringir a lei 'só um pouco'; aquele que infringi-la, precisará de Cristo para pagar por seu pecado. [...] A graça de Deus não cancela o nosso dever de obedecê-lo; ela dá à nossa obediência uma nova base. A lei não é mais um conjunto exterior de regras, mas é a 'lei da liberdade' - uma lei que cumprimos alegre e voluntariamente, por amarmos a Deus e termos o poder de Seu Espírito Santo (ver 1.25)."7

"No NT, é mostrado como a morte e a ressurreição de Jesus Cristo se deram em cumprimento das leis e das profecias do AT. Isto significa que enquanto as leis nos ajudam a reconhecer e a corrigir nossos erros, Jesus nos garante o perdão e a purificação dos nossos pecados. Cristo é o modelo a ser seguido, pois somente Ele obedeceu à lei de forma perfeita e revelou os verdadeiros princípios nela contidos."8

"Servindo-se de duas palavras gregas, anti (que significa 'contra'), e nomos (que significa 'lei'), Lutero inventou o termo 'antinomianismo', que quer dizer 'contra a lei'. Embora o reformador alemão usasse esse neologismo em relação a outros, ele próprio nunca se considerou um antinomianista. Lutero e outros reformadores deixaram bem claro que, embora fôssemos salvos somente pela fé em Cristo, uma vez salvos haveríamos de cumprir a lei. Assim, não praticamos boas obras a fim de sermos salvos, mas porque somos salvos. Ora, a Bíblia declara que esse é o objetivo último da lei: fazer que o pecador sinta a necessidade de justificação e perdão, e levá-lo, ao final, a confiar em Jesus Cristo e a recebê-Lo como único Salvador e Senhor, recebendo dEle a salvação do pecado e da consequência deste, a morte espiritual."9

O que é pecado?

Recordando: todas as citações a seguir são provenientes da literatura oficial da igreja Evangélica Assembleia de Deus.

"'Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei'. (3.4, versão ARA). O particípio presente indica que João está novamente examinando o modo de vida. Ele está preocupado com a pessoa que pratica o pecado habitualmente. Ao chamar isto de 'transgressão da lei' João expande o conceito de 'transgredir a lei'. Não é simplesmente uma questão de violar uma regra específica do código, mas sim uma questão de uma atitude rebelde. Foi Deus quem deu a lei, portanto a transgressão da lei é, no fundo, uma rebelião contra Deus."10

"Onde não existe lei, não há pecado, porque as pessoas não têm condições de saber que seus atos são maus, a não ser que a lei os proíba. A lei de Deus faz com que as pessoas entendam que são pecadoras e estão destinadas a morrer, mas ela não oferece qualquer ajuda, pois apenas assegura que o pecado é real e perigoso. Imagine um dia ensolarado na praia. Você mergulha e, logo depois, lê um aviso: 'É proibido nadar. Tubarões!' É claro que seu dia fica arruinado. Seria culpa do aviso? Você fica aborrecido com as pessoas que o colocaram? A lei é como o aviso. É essencial, e somos gratos por ela, porém não nos livra dos tubarões."11

"O pecado engana as pessoas pelo uso errado da lei. Ela expressa a natureza santa de Deus e Seu propósito para com as pessoas. No jardim do Éden (Gn 3), a serpente enganou Eva ao mudar o foco da liberdade que ela gozava para uma proibição feita por Deus. [...] Ao invés de prestar atenção às recomendações divinas, nós as usamos como uma lista daquilo que devemos fazer. Quando sofremos a tentação de rebelar-nos, devemos considerar a lei sob uma perspectiva mais ampla; à luz da graça e da misericórdia de Deus."12

A lei de Deus no Éden(b)

O que a literatura assembleiana declara sobre a existência da lei no Éden?

"[...] 'Todo pecado é transgressão da lei' (1 Jo 3.4). Transgredir significa infringir, violar, quebrar a lei, passar dos limites. Todo e qualquer mandamento divino deve ser obedecido, pois, desobedecê-lo significa transgredi-lo. [...] Adão, como representante da raça humana, também sucumbiu diante do pecado, sujeitando todos os seus descendentes aos aguilhões do mal moral; tornando-o, portanto, universal a todas criaturas racionais, e afetando até mesmo a criação."13

"Como resultado da queda o homem teve: 1) Conhecimento do mal. Antes da queda o homem era capaz de pecar, contudo, desconhecia os efeitos que isso provocaria. Ao desobedecer, ele adquiriu esse conhecimento do pecado, e por essa razão foi-lhe proibido comer do fruto dessa árvore do conhecimento do bem e do mal. Gn 3.22. 2) A Perda da comunhão com Deus. Havendo quebrado à lei de Deus, o homem sentiu-se envergonhado na Sua presença. Essa vergonha destruiu a comunhão com Deus, causando grave prejuízo."14

"Os Dez Mandamentos foram pronunciados por Deus e escritos por Ele em duas tábuas de pedra, Êx 31.18. Foram escritos de ambas as bandas, Êx 32.15. Não se deve pensar que não existia nada destes mandamentos, antes de Moisés. Foram escritos nas mentes e nas consciências dos homens desde o princípio. Não há pecado que não é condenado por um dos Dez Mandamentos. A súmula do Decálogo é o dever para com Deus e o dever para com o próximo; melhor, é o amor para com Deus e o amor para com o próximo."15

Outras referências teológicas utilizadas pela IEAD

Pastor, teólogo e escritor Harold Joseph Brokke

"Nós não podemos compreender a salvação sem entender a lei de Deus. [...] Deus revela Sua vontade, no tocante ao procedimento do homem, por meio dos mandamentos que lhe apresenta. [...] O propósito da lei é fazer com que os homens sintam a necessidade de Jesus Cristo e do Seu evangelho de perdão. [...] Pela lei vem o conhecimento do pecado. Os homens precisam buscar a Deus, reconhecendo-se pecadores, ou seja, criaturas que sabem ter desobedecido a lei e o governo de Deus, reconhecendo-se verdadeiros inimigos do próprio Deus pelo desrespeito às Suas leis."16

Pastor, teólogo e escritor Myer Pearlman(c)

"Os mandamentos representam a expressão décupla da vontade de Jeová, é a norma pela qual governa os Seus súditos."17

"[...] O pecado ofuscou a consciência e quase anulou a lei do ser humano; mas no monte Sinai, Deus gravou essa lei em pedras para que o homem tivesse a lei perfeita para dirigir a sua vida. O fato de que o homem compreende esta lei, e sente a sua responsabilidade para com ela, manifesta a existência dum Legislador que criou o homem com essa capacidade. Qual é a conclusão que podemos tirar desse sentimento de responsabilidade? Que o Legislador é também um Juiz que recompensar os bons e castigar os maus. Aquele que impôs a lei finalmente defenderá essa lei."18

"[...] 'O pecado é iniquidade' (literalmente 'desordem', 1 João 3:4). O pecador é um rebelde e um idólatra porque deliberadamente quebra um mandamento, ao escolher sua própria vontade em vez de escolher a vontade de Deus; pior ainda, está se convertendo em lei para si mesmo e, dessa maneira, fazendo do eu uma divindade. O pecado começou no coração daquele exaltado anjo que disse: 'Eu farei', em oposição à vontade de Deus (Isa. 14:13,14). O anticristo é proeminentemente 'o sem-lei' (tradução literal de 'iníquo'), porque se exalta a si mesmo sobre tudo que é adorado ou que é chamado Deus (2 Tess. 2:4-9). [...] Na cruz do Filho de Deus, poderiam ter sido escritas estas palavras: "O pecado fez isto!"19

Considerações finais

As declarações acima, transcritas de obras literárias da igreja Evangélica Assembleia de Deus (IEAD), não revelam nenhum apoio ao fictício conflito entre lei e graça, ou, de que a graça anulou a lei; pelo contrário, teólogos assembleianos demonstram que ambas estão harmoniosamente unidas favorecendo o pecador sinceramente arrependido, eles afirmam claramente que a lei e a graça complementam-se em suas devidas funções. É notório a grande diferença entre os ensinos doutrinários da IEAD e a crença popular mantida pela maioria dos adeptos desta instituição. Os membros da referida igreja, que agem contra os Dez Mandamentos, não possuem amparo escriturístico e institucional; mas tão somente sustentam a herética ideia "da graça suplantando a lei de Deus" fundamentados em filosofias humanas e diabólicas (Colossenses 2:8; Apocalipse 12:17), certamente estão trilhando em caminhos que não foram edificados pelo Deus Criador.20

Vídeos relacionados: A Lei e a Graça; Cremos na Graça

Leituras recomendadas: A Graça e a Lei de Deus; Perdão e Salvação

a. Designação usualmente adotada para a lei de Deus (Dez Mandamentos). Acesse: Lei Moral & Lei Cerimonial.

b. Acesse: O Decálogo no Éden; O Decálogo no Éden - II

c. Myer Pearlman foi editor de revistas destinadas aos professores das escolas dominicais e docente de pastores pentecostais, como o norte-americano Nels Lawrence Olson, que atuou como orador do programa de rádio "A Voz das Assembleias de Deus".

1. WHITE, E. G. Caminho a Cristo, São Paulo: CPB, cap. 7, p. 60; (cf. Tiago capítulo 2).

2. Bíblia de Estudos Aplicação Pessoal. (2004). Rio de Janeiro: CPAD, p. 1562; (comentários sobre Romanos 6:14-15).

3. Bíblia de Estudo Pentecostal. (2002). Rio de Janeiro: CPAD, comentários sobre Romanos 3:31.

4. Ibidem, comentários sobre Romanos 8:4.

5. Bíblia de Estudos Aplicação Pessoal. (2004). Rio de Janeiro: CPAD, p. 1753; (comentários sobre Tiago 1:25).

6. Ibidem, p. 1740; (comentários sobre Hebreus 8:10-11).

7. Ibidem, p. 1755; (comentários sobre Tiago 2:10 e 12).

8. Ibidem, p. 237; (comentários sobre Deuteronômio 4:8).

9. ALMEIDA, A. (1998). O Sábado, a Lei e a Graça, 9.ª ed., Rio de Janeiro: CPAD, p. 48.

10. RICHARDS, L. O. (2008). Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento, 3.ª ed., Rio de Janeiro: CPAD, p. 537.

11. Ibidem, p. 1563; (comentários sobre Romanos 7:9-11).

12. Ibidem, p. 1564; (comentários sobre Romanos 7:11-12).

13. Lições Bíblicas: Jovens e Adultos, Rio de Janeiro: CPAD, 4.º trimestre de 2006, lição 08 (O Pecado, a Transgressão da Lei Divina).

14. OLSON, N. L. (1994). O Plano Divino Através dos Séculos, 14.ª ed., Rio de Janeiro: CPAD, p. 25.

15. BOYER, O. S. (1966). Pequena Enciclopédia Bíblica, 1.ª ed., Rio de Janeiro: CPAD, p. 237; (verbete: "Dez Mandamentos").

16. BROKKE, H. J. (2002). Prosperidade pela Obediência, Belo Horizonte: Editora Betânia, p. 14-17.

17. PEARLMAN, M. (2006). Através da Bíblia: Livro por Livros, São Paulo: Editora Vida, p. 27.

18. PEARLMAN, M. (2006). Conhecendo as Doutrinas Bíblicas, São Paulo: Editora Vida, cap. II, p. 36; (título original: Knowing the Doctrines of the Bible).

19. Ibidem, cap. V, p. 109.

20. I Timóteo 1:5-8; Tito 1:15; Salmos 119:1; Salmos 128:1; Provérbios 10:29; Isaías 24:4-6.

Outros estudos: