1844 e o Retorno de Jesus

William Miller, conhecido também por Guilherme Miller, foi teólogo batista licenciado em 12 de setembro de 1833 pela igreja Batista de Low Hampton, e tornou-se um dos principais líderes do movimento Milerita que pregava o retorno de Jesus em sua época. O certificado que lhe foi outorgado atestando os seus conhecimentos bíblicos, após 14 anos de estudo persistente e sistemático das Escrituras, está fotografado na obra "The Midnight Cry"1 de Francis David Nichol.

Um fato interessante ocorreu enquanto Miller pregava sobre a segunda vinda de Jesus, em quase todos os quadrantes do mundo e na mesma época, surgiram outros pregadores com o mesmo entusiasmo e dedicação levando a mensagem de que Jesus estava voltando, sem nunca terem tido contato antes entre si. Porém, nas Américas, Guilherme Miller foi o mais veemente arauto desta mensagem e seu trabalho ganhou tamanha repercussão que em 1840 seu ministério ficou conhecido como milerismo.

Os fervorosos pregadores da volta de Cristo em 1844, eram quase de todas as denominações existentes. Diversos ministros, oficiais e membros eram conhecidos como mileritas e pertenciam à várias igrejas, tais como: Protestante Episcopal, Metodista (Episcopal, Evangélica, Primitiva e Wesleyana), Batista (da Comunhão Restrita, Comunhão Livre, Calvinista e Arminiana), Presbiteriana, Reformada Alemã, Congregacional, Luterana, e etc.2 Nessa época ainda não existia a igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), que foi formada oficialmente 19 anos após o "grande desapontamento" de 1844.

Inicialmente com Himes e outros teólogos(a) que aceitaram que Cristo voltaria naquela ocasião, Miller começou a divulgar a mensagem; ele adotou o tipo metodista de reuniões campais e a primeira foi realizada na cidade de Boston, em maio de 1842. Tratados e folhetos foram distribuídos e milhares aderiram ao movimento. A mensagem original incluía um elemento de tempo sem apresentar uma data específica mas, posteriormente, foi determinado que Jesus voltaria em 1843. E como isso não ocorreu, revisaram seus cálculos fixando que em 22 de outubro de 1844 ocorreria o tão grande e aguardado advento. No entanto, se desapontaram, pois Jesus não voltou como esperavam. E Miller, após aquele "amargo dia" (Apocalipse 10:10), escreveu:

"Passou. E no dia seguinte parecia que todos os demônios do abismo foram soltos. As mesmas pessoas e muitas mais que estavam clamando por misericórdia dois dias antes, misturavam-se agora com a ralé, caçoando e ameaçando com blasfêmias."3

Dentro do movimento milerita, os relatos históricos desconhecem datas além daquelas propostas. E, apesar do forte golpe sofrido, Miller nunca hesitou em sua crença na breve volta de Cristo. Em 10 de novembro de 1844 ele escreveu para Himes: "Fixei minha mente sobre outro tempo, e aqui pretendo permanecer até que Deus me dê mais luz - e isto é hoje, 'hoje e hoje' até que Ele venha". Miller continuou a pregar e a encorajar outros com a esperança cristã, embora tivesse de lutar com mais adversários e críticos.4

Posteriormente àqueles dias, Miller escreveu: "A visão está ainda para cumprir-se no tempo determinado. [...] se tardar, espera-o porque certamente virá (Habacuque 2:3)". Esta foi sua posição sobre a segunda vinda de Cristo até sua morte aos 67 anos, em 20 de dezembro de 1849. Os estudos proféticos de Miller sobre Daniel 8:14 podem ser melhor compreendidos no contexto de um amplo movimento religioso que surgiu ao mesmo tempo na Europa e nas Américas durante o início do século XIX.

Apesar de ter sido um notável pregador e conhecedor das profecias e, de sua importante contribuição nos antecedentes históricos do adventismo, Miller dificilmente se tornaria um membro da igreja Adventista do Sétimo Dia, pois rejeitava as seguintes doutrinas defendidas pela mesma: existência do santuário celestial(b), a mortalidade da alma(c) e, a validade integral da lei de Deus(d); neste último caso ele não aceitava o quarto mandamento(e).

Com o término do reavivamento milerita, muitos dos ensinos relacionados às profecias de Daniel 8:14 daquele valoroso grupo foram absorvidos pela igreja Adventista do Sétimo Dia (oficialmente estabelecida em 1863); igreja que desde então continua a pregar a iminente volta de Jesus (Apocalipse 10:11), contudo, sem fixar uma data específica; o que na realidade nunca fez ou pretendeu fazer. Ellen Gould White, uma das pioneiras da igreja Adventista, igualmente, nunca determinou o tempo em que Jesus voltaria(f). Com relação aos cálculos que levaram à 22 de outubro de 1844(g), Miller estava correto, porém, se equivocara com o evento vinculado a eles.

Texto extraído e adaptado de: Joan Francis, "Guilherme Miller: o homem atrás da história de 1844". In: Diálogo, (1994) 6:3, p. 13-16; CHRISTIANINI, A. B. (1981). Subtilezas do Erro, 2.ª ed., São Paulo: CPB, cap. 6, p. 40-45.

Fonte suplementar: FROOM, L. E. (1954). The Prophetic Faith of Our Fathers, vol. IV, Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association.

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a. Os primeiros quatro ministros que auxiliaram Guilherme Miller foram: Charles Fitch (igreja Presbiteriana), Joshua Vaughan Himes (movimento Conexão Cristã), Josiah Litch (igreja Metodista) e Joseph Bates (movimento Conexão Cristã).

b. Acesse: O Tribunal Celestial

c. Acesse: Falsa Imortalidade; Alma Finita

d. Acesse: A Lei do Tribunal Celestial

e. Acesse: O Sábado no Novo Testamento

f. Para promover caluniosas acusações e difamações contra Ellen White, a respeito deste assunto, um trecho de seus escritos é tendenciosamente isolado de seu contexto. Ele faz parte de um capítulo que descreve as cenas do segundo advento, mais precisamente o momento em que Cristo surgi nas nuvens para levar os redimidos ao Céu. Não há data determinada como os opositores falsamente alegam (cf. João 8:44). O referido trecho diz: "Logo ouvimos a voz de Deus, semelhante a muitas águas, a qual nos anunciou o dia e a hora da vinda de Jesus. Os santos vivos, em número de 144.000, reconheceram e entenderam a voz, ao passo que os ímpios julgaram fosse um trovão ou terremoto. Ao declarar Deus a hora, verteu sobre nós o Espírito Santo, e nosso rosto brilhou com o esplendor da glória de Deus, como aconteceu com Moisés, na descida do monte Sinai". Para ler o capítulo deste trecho acesse: Minha Primeira Visão.

g. Acesse: A Hora do Juízo

1. NICHOL, F. D. (1944). The Midnight Cry, Takoma Park, Washington, D.C.: Review and Herald Pub., p. 57.

2. HIMES, J. V.; BLISS, S.; HALE, A. (1844). The Advent Shield and Review, Boston: Published by Joshua V. Himes, p. 90.

3. GORDON, P. A.; ROBINSON, G. (1990). Herald of the Midnight Cry: William Miller and the 1844 movement, Boise, Idaho: Pacific Press Pub. Ass., p. 103.

4. Ibidem, p. 107.

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