A Lei de Deus aos Romanos - II

"Pois em Deus não há parcialidade. Todo aquele que pecar sem a lei, sem a lei também perecerá, e todo aquele que pecar sob a lei, pela lei será julgado. Porque não são os que ouvem a lei que são justos aos olhos de Deus; mas os que obedecem à lei, estes serão declarados justos. De fato, quando os gentios, que não têm a lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a lei; pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os." (Romanos 2:11-16 NVI).

Imparcialidade divina

Deus não concederá privilégio a nenhum pecador durante o Seu julgamento, mas haverá perfeita imparcialidade em cada litígio. Cada caso será considerado em sua singularidade.1 Não importa a condição social, a qual etnia, tribo e nação o indivíduo pertença, todos serão julgados por suas obras e estas serão examinadas pelos princípios da lei.2

Durante os esclarecimentos sobre o juízo, Paulo rebateu a crença de que o povo de Israel era favorecido por sua eleição(a) como representante de Deus e, por ter sido auxiliado em diversas situações perigosas. Os judeus acreditavam também que podiam condenar os pecados de outras nações enquanto eles realizavam as mesmas transgressões e, que o conhecimento teórico da lei, associado a sua obediência formal, garantiria a salvação.3 Jesus condenou fortemente estas atitudes e tentou encaminhá-los naquilo que Deus realmente exigia: uma vida de obediência à lei alicerçada na fé, justiça, misericórdia e amor; mas recusaram.4 Enquanto a maioria dos judeus negligenciavam os princípios que conduziam à verdadeira obediência da lei, haviam não-judeus que eram zelosos tanto pela lei, quanto pelos seus fundamentos (Romanos 2:25-29); e este zelo era intensificado a medida que recebiam o evangelho.5

Fé e obras avaliadas no tribunal celestial

No juízo(b), as obras realizadas em verdadeira obediência à lei auxiliam o pecador arrependido a demonstrar sua submissão a Deus (Romanos 2:13; Ezequiel 33:12-16); elas ajudam a comprovar que a fé em Cristo foi realmente sincera: "Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: 'Você tem fé; eu tenho obras.' Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras." (Tiago 2:17-18 NIV).

Enquanto a fé em Jesus conduz à graça de Deus (ao perdão), as obras realizadas em harmonia com a lei revelam que o pecador abandonou a sua antiga vida pecaminosa, que ele verdadeiramente aceitou a exigência: "Vai e não peques mais." (João 8:11 cf. I João 3:4). E Tiago reforça este ensino ao declarar: "Porquanto, Aquele que disse: 'Não adulterarás', também ordenou: 'Não matarás'. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei. Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade." (Tiago 2:11-12 RA cf. Tiago 1:25, Êxodo 20:3-17).

O texto de Romanos 2:13 ensina que os homens são julgados não pelo o que conhecem ou professam ser, mas por suas atitudes. Igualmente, são julgados os reais motivos que conduziram o proceder de cada indivíduo (Romanos 2:5-8; Hebreus 4:12-13). Paulo comparou duas situações que são avaliadas no juízo: aqueles que conhecem a vontade de Deus mas não estão dispostos a obedecê-la, com aqueles que não somente conhecem a vontade de Deus mas Lhe rendem sincera obediência. E esta obediência é desenvolvida unicamente com a fé alicerçada no amor (Mateus 22:36-40; Romanos 13:8-10); algo que muitos judeus não desenvolveram por causa da confiança que tinham em si mesmos (Romanos 9:30-33).

O julgamento de Deus avalia as oportunidades, os esclarecimento, as revelações; enfim, cada ajuda concedida ao pecador e os respectivos resultados desenvolvidos por ele. E "mesmo que você diga: 'Não sabíamos o que estava acontecendo!' Não o perceberia Aquele que pesa os corações? Não o saberia Aquele que preserva a sua vida? Não retribuirá Ele a cada um segundo o seu procedimento?" (Provérbios 24:12 NVI cf. Hebreus 4:12-13). "Será que a sua coragem suportará ou as suas mãos serão fortes para o que Eu vou fazer no dia em que Eu lhe der o devido tratamento? Eu, o Senhor, falei, e o farei." (Ezequiel 22:14 NVI).

A prática natural da lei

Deus avalia cada indivíduo de acordo com as oportunidades que lhe foi concedida para desenvolver a sua obediência à lei. Sobre esta questão, Paulo especifica que os judeus são julgados pelo conhecimento da lei que obtiveram diretamente de manuscritos (a lei na sua forma escrita), e que deveriam ter repassado as demais nações (Êxodo 19:5-6 cf. Levítico 24:22; Romanos 3:1-2). E os gentios são avaliados pelo conhecimento da lei que obtiveram por meio da criação e pela atuação do Espírito de Deus (a lei na sua forma não escrita, Romanos 2:14-15). De qualquer maneira, ambos os grupos são conduzidos ao julgamento independente da forma que conheceram a vontade de Deus, pois todos sem justificativa pecaram e estão sob condenação:

"Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade(c) pela injustiça(d), pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, Seu eterno poder e Sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus, nem Lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se." (Romanos 1:18-21 NVI cf. Gênesis 6:5-6, Romanos 3:9-12).

O salmista Davi confirma estas palavras dizendo: "Visto que não consideram os feitos do Senhor, nem as obras de Suas mãos, Ele os arrasará e jamais os deixará reerguer-se." (Salmos 28:5 NVI cf. Salmos 19:1, Isaías 5:11-12).

Portanto, a expressão "sem lei" de Romanos 2:12 refere-se aos gentios que não tiveram a lei revelada na sua forma escrita, mas a tinham implantada na consciência: "Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos." (Romanos 2:14 RA). O Espírito Santo, com o auxílio das obras de Deus, nunca deixou a consciência do homem totalmente a mercê de sua pecaminosidade, Ele sempre procurou direcionar o pensamento humano nos princípios da lei (Isaías 30:21; João 14:25-26; Romanos 8:5-9). Sem Deus e Seu Espírito, a consciência do homem promove apenas o mal:

"O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na Terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal." (Gênesis 6:5 NVI). "O Senhor conhece os pensamentos do homem, e sabe como são fúteis." (Salmos 94:11 NVI).

"Com efeito, é de dentro, do coração dos homens que saem as intenções malignas." (Marcos 7:21 BJ). "Conforme está escrito: Não há homem justo, não há um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus." (Romanos 3:10-11 BJ).

Portanto, ninguém é capaz de praticar e desenvolver ao longo da vida os princípios da lei, caso não seja guiado pelo Espírito de Deus. Paulo em Romanos 2:14 não afirmou que a consciência dos gentios era o seu guia, mas que eles tinham a "lei gravada em seus corações", ou seja, tinham os princípios da lei fixada em suas mentes. Assim, eles poderiam agir "por natureza [normalmente], de conformidade com a lei". E como mencionado, somente Deus mediante o Seu Espírito é capaz de executar esta obra no homem, nunca a sua consciência carnal:

"Quer você se volte para a direita quer para a esquerda, uma voz atrás de você lhe dirá: 'Este é o caminho; siga-o'." (Isaías 30:21 NVI).

"Tudo isso lhes tenho dito enquanto ainda estou com vocês. Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que Eu lhes disse." (João 14:25-26 NVI).

"O Espírito Santo também nos testifica a este respeito. Primeiro Ele diz: 'Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor. Porei as Minhas leis em seu coração e as escreverei em sua mente'. (...)" (Hebreus 10:15-17 NVI).

E, assim como na antiga aliança a lei foi consolidada na "mente e coração" daqueles que aceitaram obedecer sinceramente a Deus, isso ocorre também na nova aliança:

"Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua mente imprimirei as Minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo. E não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor; porque todos Me conhecerão, desde o menor deles até ao maior." (Hebreus 8:10-11 RA cf. Jeremias 31:31-34, Isaías 8:16).

Os gentios que reconheceram a revelação de Deus nas obras da criação e responderam ao impulso divinamente implantado de fazer o bem, praticaram naturalmente as exigências da lei(e) (cf. Romanos 2:29). E Paulo refere-se especificamente a lei de Deus, chamada também de lei Natural ou lei Moral(f) que retém exclusivamente os Dez Mandamentos, pois era impossível aos gentios cumprir "por natureza" (normalmente) os diversos estatutos, preceitos, ordenanças e cerimônias determinadas na lei de Moisés(g). Porém, podiam cumprir "por natureza" (praticar naturalmente) com o auxílio do Espírito Santo, os princípios contidos nos mandamentos do Decálogo.

"A cada um segundo as suas obras"

Os que tiveram o privilégio de conhecer a lei de Deus em sua totalidade (através de manuscritos, isto é, na sua forma escrita) e, no entanto, pecaram espontaneamente contra uma expressão tão clara da vontade de Deus, devem receber um castigo maior em relação aqueles que tiveram menos instrução. A severidade do castigo é proporcional a culpa, e o nível da culpa corresponde às oportunidades. Não deve haver confusão entre a imparcialidade do julgamento com a intensidade ou grau de punição que cada pecador condenado receberá.6 O juízo de Deus sobrevirá a todos e devidamente regulamentado pela Sua lei, mas o rigor punitivo de maior intensidade recairá sobre aqueles que escolheram transgredi-la mesmo sendo conhecedores de suas exigências.

E de acordo com a Bíblia, pecado sempre foi e sempre será a transgressão da lei de Deus, independente da situação apresentada.7 Portanto, ambos os grupos de pecadores impenitentes (judeus e gentios) perecerão por seus pecados não perdoados (Romanos 6:23; I João 2:1-4; Isaías 8:20). A misericórdia descrita em Isaías 55:7 não será exercida nestes casos, mas, naqueles onde a fé em Jesus se fez presente; nos casos em que o pecador verdadeiramente se arrependeu e buscou seguir a Cristo.

Isso pode ser exemplificado através do comportamento do jovem rico que conhecia a lei mas não praticava seus ensinos e, preferiu recusar o convite de Jesus (atitude que impossibilitou-o de obedecer verdadeiramente a lei e de receber a misericórdia que o livraria da punição pelos seus pecados, Mateus 19:16-22). Exemplo oposto encontra-se no comportamento do ex-criminoso crucificado ao lado de Jesus. Independentemente dos motivos que o conduzira a estar ali, ele reconheceu sua condição pecaminosa, se arrependeu e decidiu a partir daquele momento não abandonar a Cristo; sua fé, firme e santa, tinha um único objetivo, ter a Jesus como Mestre e Salvador (Lucas 23:35-43). Neste caso, a misericórdia de Deus se fez presente, "a graça transbordou" para salvar aquele pecador sinceramente arrependido (Romanos 5:20-21; II Coríntios 7:10).

Considerações Finais

O homem tem a capacidade de julgar seus pensamentos, palavras e ações. No entanto, a sua consciência desprovida de orientação divina é demasiadamente vacilante (I Coríntios 8:7 cf. Jó 32:8), e pode cauterizar-se no erro - principalmente quando submetida intensamente a ideologias e praticas maléficas (I Timóteo 4:2). Inversamente, a consciência pode está esclarecida pela verdade que recebeu e, procede de acordo com a vontade de Deus (II Coríntios 1:12). Paulo demonstrou que a atuação da consciência dos gentios era uma evidência de que eles tinham algum direcionamento da vontade de Deus expressa em Sua lei (Romanos 2:14-15), apesar de não terem tido as oportunidades de conhecê-la como os judeus tiveram (Romanos 2:17-18).

Deus tem um registro exato de cada ato explícito ou secreto do pecador (Daniel 7:9-10; I Coríntios 4:5; Apocalipse 20:12), deste modo, Ele pode julgar devidamente cada pessoa. O principal ensino de Romanos capítulo 2 está no verso 16, onde apresenta-se o judeu favorecido com a revelação da lei, e que se sentia inclinado a menosprezar o gentio, julgando-o indigno de salvação. Mas unicamente Deus, que pode ler o íntimo da vida, anunciará o veredito.

A prontidão para obedecer a Deus mediante a consciência orientada pelo Espírito Santo (João 14:26, Hebreus 10:15-16), é algo que só Deus conhece plenamente. A fé, justiça, misericórdia e amor, que constituem a essência da verdadeira observância da lei, são as qualidades de caráter que Deus espera encontrar em judeus e gentios, e no juízo são rigorosamente avaliadas(h).

a. Esta eleição (escolha) não foi imposta pois os israelitas na ocasião tiveram a opção de negá-la (Êxodo 19:1-8).

b. Acesse: O Tribunal Celestial

c. "As obras de Suas mãos são verdade e justiça; fiéis, todos os Seus preceitos." (Salmos 117:7 RA cf. Êxodo 31:18). "A Tua justiça é justiça eterna, e a Tua lei é a própria verdade." (Salmos 119:142 RA).

d. "A Terra está contaminada pelos seus habitantes, porque desobedeceram às leis, violaram os decretos e quebraram a aliança eterna." (Isaías 24:5 NVI cf. Hebreus 10:15-17). "Toda injustiça é pecado (...)" (I João 5:17 RA). "Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei." (I João 3:4 RA).

e. Acesse: O Decálogo no Éden - II

f. Acesse: Lei Moral e Lei Cerimonial

g. Acesse: Lei de Deus & Lei de Moisés

h. Acesse: A Lei do Tribunal Celestial

1. Deuteronômio 10:17-18; II Crônicas 19:7; Jó 34:10-19; Romanos 3:28-31.

2. Eclesiastes 12:13-14; Isaías 24:4-6; Mateus 16:27; Tiago 2:8-13.

3. Isaías 1:4; Jeremias 7:8-10; Ezequiel 22:7-8 e 26; Daniel 9:11; Atos 15:1; Romanos 2:1-3; Romanos 2:17-24.

4. João 5:39-45 cf. Isaías 53:1-3; Jeremias 6:16, Romanos 9:30-33; Mateus 23:23; João 15:10; Tiago 2:26.

5. Atos 10:45-47; Atos 11:1; Atos 13:46-48; Atos 15:3.

6. Ezequiel 5:27; Mateus 11:21-24; Mateus 12:41-42; Lucas 12:45-48.

7. Isaías 24:4-6; I João 3:4; Romanos 5:12-13; Romanos 7:7. Acesse: A Origem do Mal.

Outros estudos: