Arcanjo Miguel

Quando informações bíblicas sobre o arcanjo Miguel são confrontadas com as de Jesus, chega-se a conclusão que ambos são o mesmo Ser. Nas Escrituras, Miguel é sempre citado protegendo o povo de Deus e guerreando diretamente contra Satanás:

"Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu durante vinte e um dias. Então Miguel, um dos príncipes supremos, veio em minha ajuda [...]. E nessa luta ninguém me ajuda contra eles, senão Miguel, o príncipe de vocês." (Daniel 10:13, 21 NVI).

"Naquela ocasião Miguel, o grande príncipe que protege o Seu povo, Se levantará. Haverá um tempo de angústia como nunca houve desde o início das nações até então. Mas naquela ocasião o Seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto." (Daniel 12:1 NVI cf. Apocalipse 21:27).

"Houve então uma guerra nos céus. Miguel e Seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram." (Apocalipse 12:7 NVI).

Os primeiros versos acima revelam a dificuldade do anjo Gabriel em sua disputa contra o "príncipe do reino da Pérsia" (Satanás, cf. João 12:31, João 14:29-31), que persuadia os reis desta nação a atuarem contra os interesses do povo de Israel. E após 21 dias de conflito, Gabriel recebe auxílio de Miguel e finalmente obtém vitória sobre ele. Em Daniel 12:1, o arcanjo Miguel é novamente citado atuando como defensor dos filhos de Deus, porém o relato alcança proporção global, pois anuncia o mundo passando por uma turbulência sem precedentes; e, de acordo com a Bíblia, unicamente Jesus é mencionado como o salvador (defensor) do povo de Deus (I João 2:1; Romanos 8:34; Atos 4:12). Observa-se ainda que, além de ser apontado como um dos "príncipes supremos" (Daniel 10:13), o arcanjo Miguel é destacado entre eles como o "grande príncipe" (Daniel 12:1). E este nobre título é atribuído a Jesus nas seguintes palavras:

"[...] do decreto que manda restaurar e reconstruir Jerusalém até que o Ungido, o príncipe, venha, haverá sete semanas [...]"(a) (Daniel 9:25-26 NVI).

"[...] E Ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz." (Isaías 9:6 NVI).

"Deus, porém, com a Sua destra, O exaltou a príncipe e salvador [...]" (Atos 5:31 NVI cf. Atos 10:38).

E nenhum dos anjos (criaturas de Deus, João 1:1-3 cf. Jó 38:4-7) foi ungido para ser príncipe e salvador da humanidade, nenhum deles foi designado para desvencilhar o homem de sua condição pecaminosa e da opressão de Satanás (João 1:39 cf. Apocalipse 13:8; Atos 16:18). Em momento algum as Escrituras indicam uma criatura angelical no Céu atuando como senhor e salvador de um povo na Terra, paralelamente a Cristo.

Em Apocalipse 12:7 é dito que houve guerra no Céu e que, Miguel e Seus anjos lutaram(b) contra o dragão e sua hoste de anjos. E na narrativa bíblica esta batalha, entre o "bem e o mal", é respectivamente comandada por Cristo (I João 3:8; Lucas 4:41) e Satanás (Apocalipse 12:9). O conflito no Céu iniciou quando Lúcifer buscou se tornar igual a Deus (Isaías 14:12-14; Ezequiel 28:13-19), então, Miguel (nome que literalmente questiona: "Quem é semelhante a Deus"?), interveio desafiando-o. A epístola de Judas também traz um episódio desse confronto cósmico:

"Contudo, nem mesmo o arcanjo Miguel, quando estava disputando com o Diabo acerca do corpo de Moisés, ousou fazer acusação injuriosa contra ele, mas disse: 'O Senhor o repreenda!'" (Judas 1:9 NVI).

"Satanás disputou veementemente pelo corpo de Moisés. Procurou entrar outra vez em controvérsia com Cristo a respeito da injustiça da lei de Deus e, com poder enganador, reiterou suas falsas declarações sobre não ter sido tratado com justiça. Suas acusações foram tais, que Cristo não o confrontou com o registro cruel da obra que havia realizado no Céu mediante enganadoras deturpações, com as falsidades que havia proferido no Éden para levar à transgressão de Adão, e por ter suscitado as piores paixões das hostes de Israel, incitando-as a murmurar e rebelar-se, até que Moisés perdesse o controle de si próprio.

[...] Cristo não fez retaliações em resposta a Satanás. Não lhe fez zangadas acusações, mas ressuscitou Moisés e o levou para o Céu. [...] Fizera-se a pergunta: 'Morrendo o homem, porventura tornará a viver?' (Jó 14:14 KJV). Agora a pergunta tinha resposta. Esse ato foi uma grande vitória sobre os poderes das trevas. Essa demonstração de poder foi um testemunho incontestável da supremacia do Filho de Deus. Satanás não esperava que o corpo fosse despertado para a vida depois da morte. Havia concluído que a sentença: 'tu és pó e ao pó tornarás', lhe daria posse indiscutível dos corpos dos mortos. Agora via que seria despojado de sua presa, que os mortais viveriam outra vez após a morte."1

Ainda sobre a ressurreição, especificamente sobre àquela que ocorrerá no segundo advento de Jesus, o apóstolo Paulo faz igualmente referência ao arcanjo Miguel:

"Pois, dada a ordem, com a voz do Arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro." (I Tessalonicenses 4:16 NVI).

Esta declaração reforça o entendimento de que Miguel é o próprio Jesus Cristo, pois a preposição "com", em I Tessalonicenses 4:16, provém do grego "en", que significa: "na"; "em"; "por"; "enquanto que". Isso indica que Jesus retornará e Se apresentará "na voz de arcanjo", "pela voz de arcanjo", "com a voz de arcanjo", ou seja, será este o aspecto da voz de Jesus quando Ele ressurgir para levar os redimidos (I Tessalonicenses 4:17 cf. João 5:28-29; Atos 1:9-11). Não será a voz de um outro ser celestial que anunciará o Seu retorno e ressuscitará aqueles que herdarão a vida eterna (Apocalipse 20:4-6 cf. João 5:21).

O Anjo do Senhor

Uma das dificuldades que muitos encontram para aceitar que Jesus é o arcanjo Miguel, esta na Sua manifestação em forma de arcanjo para auxiliar o Seu povo. Contudo, este preconceito não deveria existir, pois há registros na Bíblia que demonstram Jesus assumindo, também, a forma de um anjo (categoria angelical abaixo de um arcanjo). E uma dessas ocasiões foi relatada pelo profeta Zacarias, que em visão, acompanhou o Anjo do Senhor defendendo o sumo sacerdote Josué das investidas de Satanás:

"Depois disso Ele me mostrou o sumo sacerdote Josué diante do Anjo do Senhor, e Satanás, à sua direita, para acusá-lo. O Anjo do Senhor disse a Satanás: 'O Senhor o repreenda, Satanás! O Senhor que escolheu Jerusalém o repreenda! Este homem não parece um tição tirado do fogo?' Ora, Josué, vestido de roupas impuras, estava em pé diante do Anjo. O Anjo disse aos que estavam diante dele: 'Tirem as roupas impuras dele'. Depois disse a Josué: 'Veja, Eu tirei de você o seu pecado, e coloquei vestes nobres sobre você'." (Zacarias 3:1-4 NVI).

O Anjo do Senhor ao dizer: "Eu tirei de você o seu pecado, e coloquei vestes nobres sobre você", não estava tratando meramente das roupas que Josué usava naquele momento, visto que o regimento levítico já determinava que ele fizesse obrigatoriamente a devida mudança de vestimenta para exercer a sua função sacerdotal (Êxodo 28:41-43; Levítico 16:23-24). Satanás surgiu para apontar o pecado de Josué (para acusá-lo, verso 1), e assim, interromper o seu trabalho no santuário (cf. I Pedro 5:8-9, Apocalipse 12:10); o intuito era evitar que Israel voltasse a Deus e obtivesse o Seu perdão (Zacarias 1:3-4; Zacarias 3:7-10). Então, o Anjo do Senhor interveio repreendo Satanás e subvertendo o pecado de Josué. E, segundo a Bíblia, um simples anjo não possui autoridade para eliminar pecado (I João 1:7-9 cf. Marcos 2:7).

O mesmo Anjo contemplado por Zacarias é apresentado pelo apóstolo João com várias características pertencentes a Jesus: "Então vi outro Anjo poderoso, que descia dos céus. Ele estava envolto numa nuvem, e havia um arco-íris acima de Sua cabeça. Sua face era como o Sol, e Suas pernas eram como colunas de fogo. [...] e deu um alto brado, como o rugido de um leão. [...]" (Apocalipse 10:1-3 NVI). Com base nestes versos, segue abaixo o comparativo entre o referido Anjo e Jesus:

1. O Anjo foi visto descendo do Céu envolto por uma nuvem, e as aparições de Jesus são comumente descritas nela(s):

"[...] quando notei, vindo sobre as nuvens do céu, um como filho de homem. [...]" (Daniel 7:13 BJ).

"Eis que Ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que O traspassaram. [...]" (Apocalipse 1:7 NVI).

"Olhei, e diante de mim estava uma nuvem branca e, assentado sobre a nuvem, Alguém semelhante a um filho de homem. [...]" (Apocalipse 14:14 NVI).

"[...] seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. [...]" (I Tessalonicenses 4:17 NVI).

2. O rosto desse Anjo brilhava como o Sol, e sobre Sua cabeça havia um arco-íris. E estas coisas são peculiares a Jesus:

"[...] Sua face era como o Sol, quando brilha com todo seu esplendor." (Apocalipse 1:16 BJ).

"[...] Sua face brilhou como o Sol, e Suas roupas se tornaram brancas como a luz." (Mateus 17:2 NVI).

"[...] vi uma luz do céu, mais resplandecente que o Sol [...]. Então perguntei: Quem és tu, senhor? Respondeu o Senhor: 'Sou Jesus, a quem você está perseguindo'." (Atos 26:13-15 NVI).

"[...] um arco-íris envolvia o trono com reflexos de esmeralda." (Apocalipse 4:2-3 BJ cf. Apocalipse 4:9-11, Marcos 14:62).

"Acima da abóbada sobre as suas cabeças havia o que parecia um trono de safira e, bem no alto, sobre o trono, havia uma figura que parecia um homem. [...] Tal como a aparência do arco-íris nas nuvens de um dia chuvoso, assim era o resplendor ao Seu redor. Essa era a aparência da figura da glória do Senhor. [...]" (Ezequiel 1:26-28 NVI).

3. Os pés e as pernas desse Anjo era como "colunas de fogo", característica vista em Jesus:

"Os pés tinham o aspecto do bronze quando está incandescente no forno [...]" (Apocalipse 1:15 BJ cf. Ezequiel 1:27).

"[...] Estas são as palavras do Filho de Deus, cujos olhos são como chama de fogo e os pés como bronze reluzente." (Apocalipse 2:18 NVI).

4. Outra peculiaridade do Anjo visto por João é a Sua voz, que foi comparada à de um leão. E esta qualidade pertence a Jesus:

"Eles seguirão o Senhor; Ele rugirá como leão. Quando Ele rugir, os Seus filhos virão tremendo desde o ocidente." (Oséias 11:10 NVI cf. Oséias 5:14).

"[...] 'Não chore! Eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos'." (Apocalipse 5:5 NVI).

Um detalhe mal compreendido que proporciona a rejeição do Anjo de Apocalipse capítulo 10 como sendo Jesus, consiste no Seu juramento (Apocalipse 10:5-6). Na Antiguidade, certos juramentos eram realizados levantando solenemente a mão direita para o céu; e o Anjo de Apocalipse capítulo 10 ao proceder desta maneira, "jurou por Aquele que vive para todo o sempre".2

O fato do Anjo em questão ter jurado por "Aquele que vive eternamente", isto é, por Deus, não elimina a interpretação de que Ele seja o próprio Jesus, pois tal ato ocorreu à semelhança da seguinte ocasião: "Quando Deus fez a Sua promessa a Abraão, por não haver ninguém superior por quem jurar, jurou por Si mesmo." (Hebreus 6:13 NVI). Além disso, Jesus afirmou que Ele sempre existiu e viverá para sempre (Apocalipse 1:17-18; Apocalipse 22:13 cf. João 1:1-3). Portanto, a garantia que Deus atribuiu a Si mesmo durante o Seu juramento em Hebreus 6:13, auxilia a compreender tanto o juramento em Apocalipse 10:5-6, quanto às repreensões em Zacarias 3:2 e Judas 1:9.

Comandante do exército celestial

Outro acontecimento que demonstra não haver qualquer empecilho para Jesus adotar a aparência de um ser angelical, é o fato dEle ter assumido a forma de um homem (que está numa categoria inferior a de um anjo), ter apresentado-Se como o "príncipe do exército do Senhor" (príncipe das hostes angelicais do Céu) e, posteriormente, ter aceitado a adoração de Josué:

"Estando Josué já perto de Jericó, olhou para cima e viu um Homem em pé, empunhando uma espada. Aproximou-se dEle e perguntou-Lhe: 'Você é por nós, ou por nossos inimigos?' 'Nem uma coisa nem outra', respondeu Ele. 'Venho na qualidade de comandante do exército do Senhor.' Então Josué prostrou-se com o rosto em terra, em sinal de respeito, e Lhe perguntou: 'Que mensagem o meu Senhor tem para o seu servo?' O comandante do exército do Senhor respondeu: 'Tire as sandálias dos pés, pois o lugar em que você está é santo'. E Josué as tirou." (Josué 5:13-15 NVI).

A palavra "respeito"(c) (verso 14), provém do hebraico "shachah", que significa: inclinar em veneração; curvar em reverência. Essa adoração de Josué violaria diretamente a lei (Êxodo 20:3), se o "Homem" citado em Josué 5:13 fosse uma criatura de Deus (Mateus 4:10; Hebreus 1:6; Apocalipse 22:8-9). Ademais, Josué ao ser orientado a retirar às suas sandálias, pois o lugar tinha tornado-se santo, repetiu o mesmo procedimento de Moisés diante da "sarça ardente", na qual Deus havia Se manifestado (Êxodo 3:1-6; Atos 7:30-33). E de forma alguma a santidade e o respeito relatados ocorrem com um ser criado.

E para finalizar, um comparativo entre a maneira como o Anjo do Senhor (o próprio Deus na "sarça ardente", Êxodo 3:2-4) orientou Moisés a apresentá-Lo diante do povo de Israel e, a maneira como Jesus Se declarou para os judeus:

"Disse Deus a Moisés: 'Eu Sou o que Sou. É isto que você dirá aos israelitas: Eu Sou me enviou a vocês'. Disse também Deus a Moisés: 'Diga aos israelitas: O Senhor, o Deus dos seus ante­passados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó, enviou-me a vocês. Esse é o Meu nome para sempre, nome pelo qual serei lembrado de geração em geração'." (Êxodo 3:14-15 NVI).

"Disseram-lhe os judeus: 'Você ainda não tem cinquenta anos, e viu Abraão?' Respondeu Jesus: 'Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou!'." (João 8:57-58 NVI).

Considerações Finais

Após a análise comparativa das referências bíblicas expostas neste estudo, chega-se a conclusão que o arcanjo Miguel não é um ser angelical designado dentre as "miríades de miríades" de anjos existentes para liderar o exército de Deus contra Satanás e seus seguidores. Mas, certamente, o arcanjo Miguel é o próprio Jesus Cristo que, a frente dos Seus anjos, luta em favor do governo de Deus e de Seu povo. A atuação de Jesus na forma de um arcanjo não contradiz ou desmerece Sua obra como salvador e redentor da humanidade, de modo algum desqualifica-O como o Cordeiro de Deus.

Ainda sobre este tema, deve-se ter em mente que Jesus possui diversos títulos e nomes, tais como: Pai da Eternidade, Conselheiro, Príncipe da Paz (Isaías 9:6); Emanuel (Mateus 1:23); Filho do Homem (Marcos 14:62); Verbo (João 1:1-3); Cordeiro de Deus (João 1:29); Rabi (João 1:38); Messias (João 1:41-42); Filho de Deus (Hebreus 4:14). E na nova Terra, Ele usará o Seu novo nome (Apocalipse 3:12).

a. Acesse: A Hora do Juízo

b. Não é uma luta bélica, mas uma luta ideológica. Nessa guerra os princípios de vida ensinados por Deus (Apocalipse 14:12), e aqueles que são contrários a eles (promovidos por Satanás, Apocalipse 12:17), estão em intenso conflito. Essas duas forças antagônicas estão em constante ataque e defesa (Efésios 6:11-18; II Coríntios 10:2-5; Apocalipse 12:7). Os anjos possuem uma natureza que difere grandemente da natureza humana, e somente Deus pode destruí-los (Lucas 20:35-36).

c. Outras traduções bíblicas utilizam o verbo "adorar", tais como: João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada (1999); Bíblia de Jerusalém (1985); Reina Valera (1960); e, Sagradas Escrituras (1569).

1. Ellen Gould White, Manuscrito 69, 1912. In: Manuscript Releases, vol. 10, p. 159-160.

2. Gênesis 14:22-23; Deuteronômio 32:40; Ezequiel 20:15; Apocalipse 10:6.

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