Roma versus Antíoco Epifânio

"O bode se engrandeceu sobremaneira; e, na sua força, quebrou-se-lhe o grande chifre, e em seu lugar saíram quatro chifres notáveis, para os quatro ventos do céu. De um dos chifres saiu um chifre pequeno e se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa. Cresceu até atingir o exército dos céus; a alguns do exército e das estrelas lançou por terra e os pisou. Sim, engrandeceu-se até ao Príncipe do exército; dEle tirou o sacrifício diário e o lugar do Seu santuário foi deitado abaixo. O exército lhe foi entregue, com o sacrifício diário, por causa das transgressões; e deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou.

Depois, ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: 'Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados?' Ele me disse: 'Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado'." (Daniel 8:8-14 RA).

O "chifre pequeno" descrito em Daniel 8:9 é o mesmo de Daniel 7:8, e simboliza o império de Roma que, durante a sua fase pagã e papal, foi responsável por: conquistar os principais territórios do antigo império grego; autorizar a crucificação de Jesus; perseguir e assassinar o povo de Deus; destruir a cidade e o templo de Jerusalém; insultar o Criador; falsificar a lei de Deus e, obscurecer o ministério sumo sacerdotal de Cristo. Outra interpretação considera Antíoco Epifânio, um rei sírio que governou no II século a.C., como sendo esse "chifre pequeno". No entanto, a Bíblia e a História demonstram que Antíoco não enquadra-se nas especificações proféticas de Daniel capítulo 8.

Para os quatro ventos do céu

"O bode se engrandeceu sobremaneira; e, na sua força, quebrou-se-lhe o grande chifre, e em seu lugar saíram quatro chifres notáveis, para os quatro ventos do céu." (Daniel 8:8 RA). "De um dos chifres saiu um chifre pequeno e se tornou muito forte [...]" (Daniel 8:9 RA).

O "bode" citado em Daniel 8:8 representa o império da Grécia, que foi dividido em quatro reinos após a morte de Alexandre Magno (representado pelo "grande chifre"). Esses quatro reinos foram constituídos e governados inicialmente pelos generais: Cassandro, Lisímaco, Seleuco e Ptolomeu, os quais são simbolizados por "quatro chifres notáveis" e, diferem completamente do "chifre pequeno" citado em Daniel 8:9, especialmente quanto a origem; o "chifre pequeno" não procede de nenhum dos "quatro chifres" de Daniel 8:8.

Antíoco Epifânio foi um dos sucessores de Seleuco, e isso é ingenuamente associado à tradução equivocada de Daniel 8:9 que algumas versões bíblicas apresentam, como por exemplo, a "João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada" (RA) e a "Nova Tradução na Linguagem de Hoje" (NTLH):

"De um dos chifres saiu um chifre pequeno [...]" (Daniel 8:9 RA).

"De um desses chifres nasceu um chifre pequeno [...]" (Daniel 8:9 NTLH).

No texto original não é dito "de um dos chifres", mas, "de um deles". A palavra "chifres" foi adicionada indevidamente pervertendo as informações proféticas e auxiliando a propagar a falsa interpretação de que o "chifre pequeno" mencionado em Daniel 8:9 originou-se de um dos "quatro chifres" citados em Daniel 8:8. Esta atitude indiretamente induz ao engano de estabelecer o "chifre pequeno" como sendo Antíoco IV. O texto original de Daniel 8:8-9 diz:

"Então o bode tornou-se muito grande. Mas, embora estivesse em pleno vigor, seu grande chifre se quebrou e em lugar dele ergueram-se quatro outros 'magníficos' na direção dos quatro ventos do céu. De um deles saiu um pequeno chifre que depois cresceu muito [...]." (BJ).

Em Daniel 8:9, a frase "de um deles", provém do hebraico "'echad hem" e refere-se a "um" dos "quatro ventos" citados em Daniel 8:8. Após a divisão do império grego, as porções territoriais resultantes estavam distribuídas na direção dos "quatro ventos", ou seja, repartidas na direção dos "quatro pontos cardeais": norte, sul, leste e oeste (Daniel 11:4 cf. I Crônicas 9:24, Jeremias 49:36).

Enquanto Daniel 8:8 declara que o império da Grécia seria repartido em quatro reinos dispersos aos quatro pontos cardeais, o verso de Daniel 8:9 prossegue afirmando que "de um" desses pontos surgiria o "chifre pequeno". E qual a referência para se determinar a direção do seu surgimento?

A própria localização geográfica dos reinos de Cassandro, Lisímaco, Seleuco e Ptolomeu. Quando estes quatro reinos são analisados, nota-se que o início do império de Roma ocorreu justamente ao oeste de todos eles. Soma-se a isso, o esclarecimento de que o "chifre pequeno" se destacaria à medida que esses quatro reinos avançassem para a ruína, informação que também comprova o surgimento do "chifre pequeno" "de um" dos "quatro ventos" (quatro pontos cardeais):

"Os quatro chifres que tomaram o lugar do chifre que foi quebrado são quatro reis. Seus reinos surgirão da nação daquele rei, mas não terão o mesmo poder. No final do reinado deles, quando a rebelião dos ímpios tiver chegado ao máximo, surgirá um rei de duro semblante, mestre em astúcias." (Daniel 8:22-23 NVI).

Parafraseando o texto de Daniel 8:22-23: "Os quatro generais que sucederam o lugar de Alexandre Magno, ao morrer, se tornarão quatro reis. Seus reinos procederão do império de Alexandre, mas não terão o mesmo poder. No final desses quatro reinos, quando a rebelião dos ímpios tiver chegado ao máximo, dominará um chifre pequeno de duro semblante, mestre em astúcias".

Durante os seus esclarecimentos, o anjo Gabriel não afirma que o "rei de duro semblante"(a) (chifre pequeno) originaria-se "de um" dos "quatro reis" (Cassandro, Lisímaco, Ptolomeu e Seleuco); mas, que o "chifre pequeno" revelaria-se (assumiria o poder) no momento em que todos os "quatro reinos" (estabelecidos pelos quatro reis) estivessem na iminente extinção - "no final do reinado deles [...] surgirá um rei de duro semblante" (Daniel 8:23 NVI).

O anjo Gabriel foi claríssimo em dizer que o "chifre pequeno" surgiria nos últimos momentos dos "quatro reinos". E, obviamente, esta ruína envolve o reino de Seleuco que Antíoco Epifânio herdou em avançado estado de decadência. Sobre isso, duas informações precisam ser confrontadas: em 164 a.C., findou o período em que Antíoco governou o reino selêucida (após sua liderança, vários reis tomaram posse do trono) e, em 64 a.C., o reino selêucida foi eliminado pelo império romano. Sendo assim, vem a pergunta: Em 64 a.C., depois de 100 anos, ou pouco antes do reino de Seleuco deixar de existir, Antíoco surge liderando algo?

Portanto, o império de Roma atende perfeitamente a narrativa profética atribuída ao "chifre pequeno", uma vez que: se originou ao oeste dos reinos de Cassandro, Lisímaco, Seleuco e Ptolomeu; se destacou enquanto estes reinos encontravam-se em colapso; marchou em direção a eles e, dominou os territórios que outrora lhes pertenciam.

Na direção do sul, do leste e da terra Magnífica

"De um deles saiu um pequeno chifre, que logo cresceu em poder na direção do sul, do leste e da terra Magnífica." (Daniel 8:9 NVI).

Em linguagem profética a palavra "chifre" significa: "rei", "reino", "poder" ou "domínio"(b) (Daniel 7:24). E Daniel relatou que o "chifre pequeno" iniciaria o seu reinado com inexpressiva força, mas cresceria e dominaria: ao sul, ao leste e, conquistaria também a "terra Magnífica". E Antíoco Epifânio não iniciou nenhum reino, mas assumiu o reinado selêucida que vinha assolado por grandes perdas territoriais desde o século III e encontrava-se em acentuado declínio no século II; ele tampouco expandiu o seu legado.

Comparando a expansão territorial descrita em Daniel 8:9, com a área que Antíoco recebeu e governou ao se tornar rei (175 a.C.), observa-se que ele não pode ser enquadrado na profecia, visto que: ao sul, ele tinha os territórios arábico e o ptolemaico que nunca foram anexados ao reino selêucida durante o seu reinado; ao leste, ele tinha o território parta que pertencera ao reino de Seleuco e nunca fora recuperado; e, a "terra Magnífica" (Palestina), já era de domínio selêucida antes dele assumir o trono.1, 2 Portanto, Antíoco Epifânio não pode ser associado às conquistas do "chifre pequeno", pois ele não "cresceu em poder na direção do sul, do leste e da terra Magnífica." (Daniel 8:9 NVI).

Antíoco IV tentou governar em território africano mas fracassou. Apesar de sua primeira investida contra várias localidades no Egito, ele nunca as governou efetivamente; Alexandria, principal cidade dessa região, nunca ficou sob seu domínio. Em 168 a.C., quando ele intencionou atacar novamente o Egito (que na ocasião estava sob tutela romana, embora governado pela dinastia ptolomaica), recebeu através do embaixador Gaius Popillius Laenas um ultimato de Roma que ordenava sua saída imediata das terras egípcias. Surpreendido, pediu tempo para pensar. Então Gaius com seu bastão desenhou um círculo em volta de Antíoco e exigiu uma resposta antes que deixasse aquele círculo. Constrangido e desolado por esta humilhação pública, ele concordou rapidamente em cumprir o ultimato e retirou-se com o seu exército.3

Antíoco Epifânio nunca proporcionou uma liderança que revertesse ao menos temporariamente a extinção do reino de Seleuco, que ocorreu em 64 a.C., quando o império romano incorporou em seus domínios a Síria e Cilícia, os últimos territórios selêucidas.

E ao contrário do frágil e frustrado reinado de Antíoco, o império de Roma(c) atende inteiramente o relato profético de Daniel 8:9, pois: expandiu o seu domínio "para o sul" - extremo norte da África, com destaque para os territórios cartaginês e egípcio; "para o leste" - Macedônia, Ásia Menor e Síria; e, apoderou-se da "terra Magnífica" - Palestina, incorporada em 63 a.C.

O lugar do Seu santuário foi deitado abaixo

"Cresceu até atingir o exército dos céus; a alguns do exército e das estrelas lançou por terra e os pisou. Sim, engrandeceu-se até ao Príncipe do exército; dEle tirou o sacrifício diário e o lugar do Seu santuário foi deitado abaixo. O exército lhe foi entregue, com o sacrifício diário, por causa das transgressões; e deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou." (Daniel 8:10-12 RA).

A palavra "exército" usada nos versos acima, e também em Daniel 8:13, simboliza o "povo de Deus" que foi perseguido implacavelmente pelo "chifre pequeno" (Daniel 8:10), interpretação concedida pelo anjo Gabriel ao dizer: "[...] Provocará devastações terríveis e será bem-sucedido em tudo o que fizer. Destruirá os homens poderosos e o povo santo." (Daniel 8:24 NVI). Em sua trajetória o "chifre pequeno" investira também contra Jesus, o Príncipe ou Comandante do exército de Deus (Josué 5:13-15 cf. Daniel 8:25), e contra o Seu ministério sumo sacerdotal no santuário celeste (Daniel 7:24-25 cf. II Tessalonicenses 2:3-4).

E novamente Antíoco Epifânio não revela-se como o responsável pelo cumprimento das profecias. Embora ele tenha perseguido os judeus e atacado o templo de Jerusalém, as suas investidas: não foram destinadas diretamente ao "Príncipe do exército" (Daniel 8:11); tiveram consequências apenas locais sem atingir o período do "tempo do fim" (Daniel 8:17-19, 26); e, não foram capazes de "lançar por terra a verdade" (Daniel 8:12). Epifânio inclusive testemunhou o fracasso de seu objetivo em aniquilar os ensinos e a influência de Deus na Palestina.

Após Antíoco ter sido banido do Egito pelo império de Roma, ele volveu-se ferozmente contra a Palestina em busca de recursos financeiros, e com mais empenho contra Jerusalém, onde pretendia extinguir a cultura judaica e consolidar a cultura helenística(d). Ele proibiu, sob pena de morte, os judeus de exercer o regimento da Torah; construiu vários monumentos pagãos nas cidades judias; e, profanou o templo de Jerusalém erigindo uma estátua de Zeus e praticando liturgias pagãs no altar. E estas coisas ocorreram com o apoio de muitos judeus, sobretudo de alguns sacerdotes do templo e de outros membros da alta sociedade que eram simpatizantes do helenismo e almejavam adota-lo em Jerusalém. Na ocasião houve troca de interesses entre Antíoco e os seus aliados judeus mais importantes, enquanto estes evitavam resistências aos seus planos e concediam-no recursos financeiros (até mesmo do templo), Antíoco lhes outorgava poder local.4

Todavia, as perseguições e perversões promovidas por Antíoco e seus aliados judeus foram eliminadas pelo movimento de libertação conduzido por Judas Maccabeus.5 Simultaneamente a este movimento, ocorreram diversas revoluções contra Epifânio em outras localidades de seu reino e, à semelhança de Jerusalém, ele foi derrotado e por fim sucumbiu à morte em Tabae, Pérsia (atual Irã). A curta atuação de Antíoco Epifânio como rei (175 - 164 a.C), definitivamente não condiz com os relatos proféticos. Ademais, as coisas que ele fazia não prosperavam (Daniel 8:12 cf. Daniel 8:24).

Os acontecimentos especificados em Daniel 8:10-12 foram concretizados pelo império de Roma em suas duas fases: pagã e papal. A fase pagã do império romano foi responsável por: autorizar a crucificação de Jesus (Príncipe do exército); assassinar os Seus seguidores (exército do céus); destruir a cidade e o templo de Jerusalém(e) em 70 d.C.; e, exigir adoração suprema ao imperador de Roma.

Durante a sua fase papal, o império romano foi responsável por: perseguir e assassinar os cristãos (exército dos céus) que não se submeteram à vontade da igreja de Roma (Daniel 8:24); falsificar a lei de Deus(f) (Daniel 7:25); defender arduamente o papado como tendo as mesmas prerrogativas de Deus (II Tessalonicenses 2:3-4); e, obscurecer o ministério intercessório de Jesus no santuário celestial. Neste último caso, a intercessão de Jesus foi e continua sendo substituída pela fictícia "intercessão" de homens, os quais acreditam deter o poder para perdoar pecados; e, pela imposição de um sistema que ilusoriamente oferece salvação mediante as obras ao exigir penitências, indulgências, confessionários, e etc. Tais coisas ainda hoje são ensinadas e praticadas por milhões de pessoas em todo o mundo; milhões de cristãos são desviados diariamente de buscarem a intercessão de Jesus(g). Em outras palavras, retiraram dEle "o sacrifício diário e o lugar do Seu santuário(h) foi deitado abaixo" (Daniel 8:11 RA). Assim, a fase papal do império romano "deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou" (Daniel 8:12 RA).

Até quando prevalecerá a transgressão devastadora?

"Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados? Ele me disse: 'Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado'." (Daniel 8:13-14 RA).

O "chifre pequeno" exerceria sua transgressão plenamente até o "tempo do fim" (Daniel 8:17; Daniel 12:9-10), ou seja, ele continuaria dominando o mundo cristão e teria pleno êxito em desvirtuar os ensinos da Bíblia, especialmente a verdade concernente ao ministério de Cristo no santuário celestial, até o fim das "2300 tardes e manhãs". Este período de tempo em linguagem profética representam "2300 dias" e, em linguagem literal, equivalem a 2300 anos(i).

A lacunosa teoria que vincula Antíoco Epifânio ao "chifre pequeno" complica-se ainda mais quando o fator tempo da visão de Daniel é considerado, visto que as perseguições de Antíoco contra o templo e o povo de Deus ocorreram por "1090 dias" literais(j) e, consequentemente, não atingiram o término dos "2300 dias" proféticos que conduzem ao "tempo do fim" (aos "dias longínquos", Daniel 8:17-19, 26). Todavia, criou-se um artifício frustrado na tentativa de harmonizar os "1090 dias" de opressão de Antíoco, com os "2300 dias" proféticos citados em Daniel 8:14. E para que esse artifício fosse elaborado, o real significado da expressão "tarde e manhã", e o seu sentido no contexto das profecias foram completamente ignorados.

Nas questões que envolvem intervalo de tempo, a Bíblia usa a palavra "tarde" para indicar a "noite" e "manhã" para indicar o "dia", e esta distinção provém do próprio Criador: "Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia." (Gênesis 1:5 RA). Uma "tarde e manhã" refere-se ao período de "um dia" (tempo compreendido entre um pôr do Sol ao outro). E nas Escrituras a expressão "tarde e manhã" é utilizada apenas em três ocasiões: no relato da criação (Gênesis capítulo 1), no diálogo entre dois seres santos (Daniel 8:13-14), e nas explicações de Gabriel relativas à visão profética que Daniel recebeu (Daniel 8:26).

Esses esclarecimentos bíblicos são rejeitados propositalmente por aqueles que consideram Antíoco como sendo o "chifre pequeno", porque tais informações confrontam fortemente a ideia defendida por eles, a saber: que a expressão "tarde e manhã" representa "sacrifícios" (por causa dos holocaustos obrigatórios que ocorriam no santuário, um ao entardecer e outro ao amanhecer, Êxodo 29:38-39). Por conseguinte, na estranha teoria que relaciona Antíoco ao "chifre pequeno", as "2300 tardes e manhãs" seriam "2300 sacrifícios". E ainda de acordo com ela, por ter sido obrigatório dois sacrifícios por dia na antiga aliança, então foram necessários "1150 dias" para realizar os "2300 sacrifícios". Assim, por meio dessa artimanha dispensacionalista, o tempo profético das "2300 tardes e manhãs" são reduzidos para "1150 dias" literais.

Tanto o fundamento teórico quanto a aplicabilidade desses "1150 dias" revelam-se falaciosos, pois a Bíblia, além de não apresentar sinonímia(l) entre a expressão "tarde e manhã" e o substantivo "sacrifício", esses "1150 dias" não coincidem com os "1090 dias" de perseguição e transgressão de Antíoco, visto que faltam 60 dias para concluir o suposto ciclo de "1150 dias". Na realidade não existe um período de atuação de Antíoco que coincida exatamente com os fictícios "1150 dias". Outro ponto que reprova Antíoco como protagonista da profecia de Daniel 8:13, é o fato de que Deus não instituiu o Seu reino eterno quando ele foi derrotado por Judas Maccabeus, ou após a sua morte, porquanto, sobre o "chifre pequeno é dito":

"Estava eu contemplando: e este chifre movia guerra aos santos e prevalecia sobre eles, até o momento em que veio o Ancião e foi feito o julgamento em favor dos santos do Altíssimo. E chegou o tempo em que os santos entraram na posse do reino." (Daniel 7:21-22 BJ).

Se o "chifre" citado em Daniel 7:21 e Daniel 8:9 fosse Antíoco, o povo de Deus não deveria está desfrutando neste exato momento o reino eterno, uma vez que o domínio selêucida e o próprio Antíoco foram destruídos a mais de dois milênios atrás? Onde está o reinado dos santos mencionado em Daniel 7:27? A propósito, teria o Céu mobilizado-se inteiramente com o objetivo de estabelecer um tribunal para julgar e destruir as ações de Antíoco? (cf. Daniel 7:9-10, 26).

Certamente que há um tribunal no Céu em processo, mas ele não foi instaurado por causa de Antíoco Epifânio e sim para julgar cada pecado e pecador deste mundo. E sem dúvida o reino de Deus será estabelecido, mas isso ocorrerá quando Cristo encerrar o Seu ministério de intercessão no santuário celestial e voltar para resgatar os redimidos(m); todos os "reinos" (Estados) vigentes nesta ocasião chegarão ao fim (Daniel 2:44; Daniel 7:27), especialmente a extensão do império de Roma que ainda exerce suas atividades nos dias atuais(n), embora sem o mesmo poder de outrora (Daniel 7:24-26; Daniel 8:25).

Considerações finais

Os capítulos 2, 7 e 8 do livro de Daniel descrevem paralelamente os mesmos eventos proféticos e citam a mesma sequência de quatro impérios. Tanto os quatro metais da estátua de Daniel capítulo 2, quanto os quatro animais de Daniel capítulo 7 simbolizam respectivamente os impérios da Babilônia, da Medo-Pérsia, da Grécia e de Roma. Os pés da estátua, obviamente com os seus dez dedos (Daniel 2:33, 41), e os dez chifres do quarto animal (Daniel 7:19-20, 24), representam as dez divisões bárbaras que resultaram com o fim do império romano. E os reinos (Estados) formados após esta divisão nunca mais se uniriam para estruturar um único império. Os territórios que fizeram parte do domínio de Roma nunca mais se unirão, continuarão separados até o retorno de Jesus (Daniel 2:43-44).

A análise da crescente superioridade de cada império sobre o seu antecessor é outro detalhe que apoia o império romano na figura do "chifre pequeno". O império medo-persa que era considerado forte, foi derrotado pelo império grego que possuía força superior, e este por sua vez teve seus territórios conquistados pelo "chifre pequeno", que era extremamente forte em relação aos seus antecessores (Daniel 8:4-9).

E o reino de Antíoco IV, herdado de Seleuco, não exerceu força superior em relação ao extinto império da Grécia (cf. Daniel 8:22); pelo contrário, a sua força não foi capaz sequer de aumentar as fronteiras da fração selêucida que ele herdou, tampouco foi uma ameaça para o império de Roma. A fragilidade e submissão de Antíoco Epifânio ao império romano era algo marcante deste o início de seu reinado. Ainda em 173 a.C., ele pagava uma indenização exigida por Roma em decorrência de guerras contra o seu antecessor, Antíoco III; inclusive isso foi um dos principais motivos que conduziu Epifânio a saquear freneticamente dentro e fora de seu território.

O contexto bíblico e histórico de Daniel capítulo 8 eliminam completamente a teoria de que Antíoco Epifânio seja o "chifre pequeno". Entretanto, o mesmo não pode ser dito sobre o império de Roma, que preenche satisfatoriamente as descrições proféticas sobre ele.

a. A mesma expressão, "duro semblante" ou "aparência feroz" (hb. 'az paniym), é usada em Deuteronômio 28:50. E muitos comentaristas bíblicos (gentios e judeus) aplicam os versos de Deuteronômio 28:49-55 à atuação do império de Roma sobre a nação de Israel, e os seguintes argumentos são apresentados: a "águia" do verso 49 é a mesma "águia" do estandarte romano; o "idioma desconhecido" do verso 9 é o "latim" oficial dos romanos (um idioma na época completamente desconhecido pelos judeus); a "usurpação" dos animais e das plantações destinados ao consumo (verso 51), foi ocasionada pelos romanos durante o "cerco" (verso 52) das cidades fortificadas da Palestina, especialmente Jerusalém em 70 d.C.; e, o canibalismo entre os judeus (verso 53), ocorreu pela falta de alimento durante o sítio do império romano (verso 54-55).

b. Algumas aplicações da palavra "chifre" de Daniel 8:9, que é traduzida do hebraico "qeren": "E Ele reforça o vigor [qeren] do seu povo! (148:14 BJ). "O poder [qeren] de Moabe foi eliminado; seu braço está quebrado, declara o Senhor". (Jeremias 48:25 NVI); "No furor de sua ira abateu toda a força [qeren] de Israel [...]" (Lamentações 2:3 BJ).

c. Acredita-se que Roma foi fundada em 753 a.C., tornando-se uma pequena república em 509 a.C. após o seu último rei, Lucius Tarquinius Superbus, ter sido derrotado. Posterior à sua restruturação política, Roma conquistou a parte central da Itália; mas iniciou efetivamente a sua expansão territorial a partir de 334 a.C.

d. Referente a cultura grega que se desenvolveu após as conquistas de Alexandre, o Grande; filosofias e tradições da Grécia antiga.

e. Confirmando a profecia de Cristo: "Alguns dos Seus discípulos estavam comentando como o templo era adornado com lindas pedras e dádivas dedicadas a Deus. Mas Jesus disse: 'Disso que vocês estão vendo, dias virão em que não ficará pedra sobre pedra; serão todas derrubadas'." (Lucas 21:5-6 NVI).

f. Acesse: A Lei de Deus - Adulterada

g. Acesse: Jesus, o Advogado

h. Acesse: O Tribunal Celestial

i. Acesse: A Hora do Juízo; Princípio do Dia Profético

j. Por três anos e 10 dias, de acordo com I Macabeus 1:54 e I Macabeus 4:52-54 (livro apócrifo). Too in: VAUX, R. De. (1997). Ancient Israel: Its Life and Institutions, Michigan: Wm. B. Eerdmans Publishing p. 325.

l. Uso de palavra ou expressão em substituição a outra de significado próximo; ato de expressar a mesma coisa por palavras sinônimas; relação entre termos ou expressões com o mesmo sentido ou sentido semelhante.

m. Acesse: Finda-se o Tempo

n. Acesse: Babilônia Denunciada; Babilônia Denunciada - II

1. "Palestine". (2010). Encyclopædia Britannica. Chicago: Encyclopædia Britannica; (topic: "The Seleucids").

2. BEVAN, E. R. (1902). The House of Seleucus, vol. II, London: Edward Arnold, p. 159.

3. "Antiochus IV Epiphanes". (2010). Encyclopædia Britannica. Chicago: Encyclopædia Britannica; SICKER, M. (2001). Between Rome and Jerusalem: 300 Years of Roman-Judaean Relations, Westport, CT: Praeger Publishers, p. 11.

4. "Antiochus IV Epiphanes". (1995). The International Standard Bible Encyclopedia, vol. I, Michigan: Wm. B. Eerdmans Publishing, p. 145; ROGERSON, J. W.; LIEU, J. M. (2006). The Oxford Handbook of Biblical Studies, New York: Oxford University Press Inc., p. 289-293; "Antiochus IV Epiphanes". (2010). Encyclopædia Britannica. Chicago: Encyclopædia Britannica; "Maccabeus, Judas". (2010). Encyclopædia Britannica. Chicago: Encyclopædia Britannica; "Antiochus IV, Epiphanes". (1901). The Jewish Encyclopedia, vol. I, New York: Funk and Wagnalls Company, p. 634-635; BEVAN, ob. cit., p. 168-172.

5. "Maccabeus, Judas". (2010). Encyclopædia Britannica. Chicago: Encyclopædia Britannica.

Outros estudos: