Jesus e o Sábado - I

"Por isso os judeus perseguiam Jesus: porque fazia tais coisas no sábado. Mas Jesus lhes respondeu: 'Meu Pai trabalha até agora e Eu também trabalho'. Então os judeus, com mais empenho, procuravam matá-Lo, pois, além de violar o sábado, Ele dizia ser Deus Seu próprio Pai, fazendo-Se, assim, igual a Deus." (João 5:16-18 BJ).

Estes versos tornaram-se uma espécie de estandarte para excêntricos dominguistas e anomistas(a) enquanto desempenham a jornada de acusar Jesus de transgressor do quarto mandamento. Na realidade, o propósito desta desprezível atitude é desmerecer o sábado através das falsas acusações farisaicas direcionadas a Ele. Assim, por meio deste artifício, os atuais caluniadores de Jesus tentam justificar a repulsa que mantêm contra a guarda sabática.

A deturpação interpretativa de João 5:16-18 segue o mesmo procedimento de outros casos: isola-se o texto bíblico de seu respectivo contexto e, ignora-se os fatos a ele vinculado. Deste modo, os atuais acusadores de Jesus, sem receio algum, classificam-O de pecador à medida que elaboram suas fábulas para satisfazer a "consciência".1 Três pontos fundamentais de João 5:16-18 são premeditadamente desconsiderados por tais indivíduos:

Estes três fatores são ignorados porque revelam as falsidades atribuídas a Jesus e a Sua observância sabática. O apóstolo João ao descrever o episódio em pauta não afirmou que Jesus violava o sábado e que era enganosa a Sua relação com Deus, mas, relatou os repugnantes argumentos que os judeus apresentavam para matá-Lo. As mesmas acusações citadas em João 5:18 foram antecipadamente planejadas e apresentadas no sinédrio.2

"Então os judeus passaram a perseguir Jesus, porque Ele estava fazendo essas coisas no sábado." (João 5:16 NVI). Nenhuma das "coisas" praticadas por Jesus eram contrárias à observância sabática, visto que Ele dedicava-Se aos sábados exclusivamente para ensinar as Escrituras Sagradas e, socorrer física e espiritualmente os necessitados(b); muitas viagens foram realizadas para levar cura e esperança de vida aos pecadores. Seriam estas as "coisas" que Jesus deveria evitar nas horas sabáticas? Ao pratica-las transgrediu o quarto mandamento? De forma alguma. Não existe nenhum preceito bíblico que condene estas atividades aos sábados, pelo contrário, contra elas não há lei (Gálatas 5:22-23 cf. Isaías 58:13-14). Adiante, as verdades sobre João 5:16-18, que são fortemente desprezadas por serem "mais afiadas que qualquer espada de dois gumes" e capazes de "julgar os pensamentos e intenções do coração." (Hebreus 4:12-13).

Perseguição

Os líderes da nação de Israel tentaram anular a grande influência de Cristo diversas vezes e falharam. Então resolveram procurar algo que lhes permitissem condená-Lo a morte, e para isso espionavam e interrogavam-No intensamente (Lucas 6:6-7; Lucas 11:53-54). As investidas para censurá-Lo publicamente tinha o intuito de eliminar Sua autoridade e prestígio diante do povo (Mateus 4:23-25; Lucas 4:14); inúmeros planos foram maquinados para colocar a nação de Israel contra Ele. E ao concluírem que seus ataques não tinham base bíblica e apoio popular, mais ferozmente almejavam matá-Lo.

Naquela ocasião os rabinos já tinham amplas provas de que Cristo era o Messias prometido por Deus, pois conheciam: a visão do sacerdote Zacarias (Lucas 1:5-20 cf. Mateus 3:1-8); a chegada dos magos em Jerusalém (Mateus 2:1-6); o anúncio de Seu nascimento feito aos pastores (Lucas 2:8-18); Suas arguições sobre as Escrituras no templo aos 12 anos (Lucas 2:42-47); a declaração de João Batista confirmando que Ele era o Cordeiro de Deus (João 1:19-30); a justiça e milagres divinos que manifestavam-se em Sua vida (Mateus 12:18 cf. Isaías 42:1; Lucas 6:17-19); e, as profecias que apontavam-No como o Ungido de Deus (Isaías 7:13-14; Isaías 40:1-3; Miqueias 5:2).

"Levanta-te, toma o teu leito e anda"

O ex-paralítico foi repreendido por ter levado o seu leito no sábado mas não foi castigado, a prioridade era matar a Jesus, o Autor do milagre (João 5:8-10). O imenso ódio dos escribas e fariseus era motivado tanto pela cura quanto pela ordem de carregar o leito no sábado, visto que estes atos contrariavam severamente a crença que defendiam. Esses rabinos além de não reconhecerem a Jesus como Filho de Deus e repudiarem Seus ensinos, tinham suas próprias leis que condenavam o Seu comportamento. Alicerçados nelas, eles restringiam de forma injustificável inúmeros procedimentos aos sábados, diversos métodos de tratar os enfermos eram proibidos; inúmeras regras de conduta tinham que ser obedecidas durante as horas sabáticas segundo as exigências rabínicas. Os propósitos do sábado foram completamente desvirtuados pelos fanáticos líderes da nação israelita.

Para se ter uma ideia das insanas acusações contra Jesus, a "Mishnah"(c), que contém interpretações, decisões judiciais, costumes e ritos religiosos organizados em 63 tratados, apresenta doze destes para lidar com as liturgias, tradições e proibições vinculadas às festividades e períodos de santa convocação, como o sábado; e o povo era obrigado a obedecê-los sistematicamente.3 Sobre essa obra literária, o missionário metodista David Hill declara: "O legalismo e a meticulosidade do judaísmo sobre o sábado podem ser analisados no Mišna Tractate Šabbat."4 E o ministro presbiteriano Thomas Walter Manson afirma que Jesus procedeu para salvar o judaísmo de si mesmo, dos numerosos temas sabáticos, tornando o sábado uma alegria (e, presumivelmente, salvou o judaísmo de seu legalismo e meticulosidade).5

A "Mishnah" traz uma lista de 39 categorias de atividades que não deveriam ser realizadas aos sábados. Outras obras como o "Livro dos Jubileus" e "Documentos de Damasco" também se dispuseram a discorrer sobre as coisas permitidas e proibidas nas horas sabáticas, nelas existem diretrizes peculiares que não se repetem em outras literaturas judias. No geral, existem 70 discussões prescrevendo severas regras de conduta que deveria ser adotadas durante o sábado.6, 7 Adiante, alguns exemplos dessas orientações que ocasionaram os atritos entre Jesus e os fariseus:

Quanto ao transporte de carga aos sábados (cf. João 5:8-10): carregar um pão de grande dimensão em público era proibido, porém com ajuda de outra pessoa era permitido; carregar algo nos ombros era proibido, mas permitia-se transportá-lo no dorso da mão, no pé, na orelha, no cotovelo, ou seja, não seria culpado se carregasse tal objeto de maneira incomum; uma cama ou maca poderia ser transportada caso houvesse uma pessoa viva nela, porque a cama não era um objeto intrínseco a pessoa.

Quanto a cura aos sábados (cf. João 5:15-16): era proibido o tratamento de doenças em fase crônica, mas permitia-se tratar aquelas em estado agudo; proibia-se procedimentos de cura da pele como a raspagem (limpeza); era proibido jogar (por si mesmo) água fria sobre a mão e/ou pé deslocado, mas havia permissão para submeter a parte lesionada em água corrente; era proibido submeter um dente ao contato com o vinagre por motivo de dor, mas, poderia fazê-lo se o motivo era degustação ou alimentação; a região lombar, dolorida, não poderia ser submetida ao vinho ou vinagre, mas, era permitido ungir com óleo, deste que este não fosse originado de rosas.

Os escribas e fariseus defendiam ardorosamente estas e outras regras de mesma espécie, e se baseavam nelas para acusar a Cristo de transgressor do sábado. Diante disso, era inevitável o confronto entre eles e Cristo, que prontamente combatia às diversas orientações sem sentido difundidas pelos Seus oponentes. A obediência do ex-paralítico à ordem, "levanta-te, toma o teu leito, e anda" (João 5:8), denunciava publicamente a inutilidade e os transtornos que as tradições rabínicas acarretavam na santificação do sábado. Lembrando que o "leito" (a cama) em questão era formado por um tapete e um cobertor, os quais podiam ser facilmente dobrados e carregados.

Em outro episódio, Jesus umedeceu a terra com Sua saliva e passou nos olhos de um cego para posteriormente ordenar que ele os lavasse (João capítulo 9). Jesus poderia tão somente ter curado-o sem proceder desta maneira, porém aproveitou a ocasião para expor novamente as regras rabínicas que não proporcionavam nenhum benefício no dia de sábado e, consequentemente, sem proveito algum para o homem. Interessante observar ainda que, tanto o paralítico de Betesda quanto o homem cego de nascença possuíam patologias crônicas. Mas prossigamos com outras duas ocasiões em que houve fortes divergências entre os ensinos de Jesus e as tradições defendidas pelas leis judias.

Profanação do sábado sem culpa?

"Por aquele tempo, em dia de sábado, passou Jesus pelas searas. Ora, estando os Seus discípulos com fome, entraram(d) a colher espigas e a comer. Os fariseus, porém, vendo isso, disseram-Lhe: 'Eis que os Teus discípulos fazem o que não é lícito fazer em dia de sábado'. Mas Jesus lhes disse:

'Não lestes o que fez Davi quando ele e seus companheiros tiveram fome? Como entrou na casa de Deus, e comeram os pães da proposição, os quais não lhes era lícito comer, nem a ele nem aos que com ele estavam, mas exclusivamente aos sacerdotes? Ou não lestes na lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa? (...)" (Mateus 12:1-5 RA).

A acusação dos fariseus registrada em Mateus 12:2 esta alicerçada nas regras rabínicas que proíbem aos sábados, independente do motivo, colher qualquer parte de uma planta e joeirar (separar o grão, por exemplo, de trigo ou cevada).8 Estas radicais proibições negligenciam diretamente um dos princípios básicos da observância sabática: promover a bondade e a misericórdia. O sábado não foi instituído para ser um obstáculo ao suprimento das necessidades básicas das criaturas, tais como o bem-estar e a manutenção da vida; mas, para ser um período especial de consagração a Deus livre das atividades seculares (Neemias 13:15-22 cf. Atos 16:13).

E, fundamentado neste princípio da observância sabática, Jesus citou o exemplo de Davi que comeu os pães da proposição, considerados santíssimos e restritos aos sacerdotes (Mateus 12:3-4 cf. I Samuel 21:1-6, Levítico 24:5-9). A analogia feita por Jesus, entre a atitude dos discípulos e Davi, estabelece o seguinte questionamento: se os pães destinados para o uso santo foram concedidos a Davi para saciar a sua fome, por que os discípulos não poderiam utilizar o período santo do sábado para colherem grãos com o mesmo objetivo?

Ademais, Davi e seu exército não podiam sequer tocar nos pães santos, restrição que não era aplicada aos grãos durante o santo dia de sábado. Deve-se observar também que, o caso de Davi contrariou diretamente regras específicas da lei de Moisés, enquanto que a atitude dos discípulos contrariou regras rabínicas sem valor algum para Deus. De qualquer forma, tanto o pão sagrado da proposição, quanto o tempo sagrado do sábado foram usados para suprir a necessidade humana (cf. Marcos 2:27).

E para expor ainda mais a presunção farisaica, Jesus mencionou as diversas atividades que os sacerdotes exerciam no templo, sobretudo aos sábados quando os serviços eram dobrados (Números 28:1-10). A pergunta em Mateus 12:5 não é uma alusão de que os sacerdotes transgrediam o sábado, o intuito do questionamento de Jesus foi despertar a mente dos fariseus para a seguinte situação: se os discípulos eram culpados de transgressão do sábado pela simples atitude de colher alguns grãos para saciar a fome, o que dizer dos diversos trabalhos sacerdotais realizados também neste dia?

A colheita realizada pelos discípulos e os serviços sacerdotais não violaram o sábado, pois os sacerdotes exerciam no templo trabalhos de natureza santa que atendiam aos propósitos da observância sabática ao suprir necessidades espirituais, como direcionar o pecador ao perdão e a salvação de Deus. Igualmente, os discípulos atuando com Cristo, que é "maior que o templo" (Mateus 12:6), não transgrediram o sábado ao fazer a colheita dos grãos para se alimentarem, pois esta atitude atendia uma necessidade básica deles enquanto trabalhavam ao lado de Cristo em favor da salvação do homem (João 5:17). Soma-se a isso o fato de não haver nenhuma proibição direta ou indireta ao procedimento dos discípulos, pelo contrário, além de beneficiados pelo quarto mandamento da lei de Deus, eles também foram favorecidos por regras específicas da lei de Moisés: "Quando fizerem a colheita da sua terra, não colham até as extremidades da sua lavoura, nem ajuntem as espigas caídas da sua colheita. Deixem-nas para o necessitado e para o estrangeiro. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês." (Levítico 23:22 NVI cf. Deuteronômio 24:19). "Se entrarem na plantação de trigo do seu próximo, poderão apanhar espigas com as mãos, mas nunca usem foice para ceifar o trigo do seu próximo." (Deuteronômio 23:25 NVI).

O ensino transmitido em Mateus 12:1-8 demonstra que o sábado não prevalece sobre as necessidades primárias da humanidade mas, que ele caracteriza-se por ser um tempo especial de Deus destinado a promover benefícios ao homem (Mateus 12:12 cf. Isaías 56:1-8). O sábado é um período em que o auxílio ao próximo deve ser exercido de acordo com as palavras de Cristo: "Desejo misericórdia, não sacrifícios." (Mateus 12:7NVI). Nesta questão, os fariseus ao contemplarem a carência alimentar dos discípulos renegaram, também, uma prática comum entre os judeus: na sexta-feira costumava-se preparar uma determinada porção adicional de refeição para atender uma visita ou um eventual convite no sábado, era uma hospitalidade bem conhecida.9 No entanto, os fariseus optaram em manter o orgulho e satisfazer suas pífias regras do que conceder auxílio ao próximo. Vergonhosamente praticaram o comportamento obscuro da parábola do "bom samaritano" (Lucas 10:25-37).

"É lícito curar no sábado?"

"Achava-se ali um homem que tinha uma das mãos ressequida; e eles, então, com o intuito de acusá-Lo, perguntaram a Jesus: 'É lícito curar no sábado?' Ao que lhes respondeu: 'Qual dentre vós será o homem que, tendo uma ovelha, e, num sábado, esta cair numa cova, não fará todo o esforço, tirando-a dali? Ora, quanto mais vale um homem que uma ovelha? Logo, é lícito, nos sábados, fazer o bem'." (Mateus 12:10-12 RA).

Jesus além de demonstrar que era lícito curar no sábado, expôs a violação que os rabinos cometiam contra a própria lei deles que dizia: "(...) se um animal cair no fosso ou na vala, não se deve removê-lo no sábado."10 Jesus após questioná-los sobre esta regra, um silêncio desconcertante se fez presente. Ele sabia que Seus adversários não seguiam-na, e que tampouco fazia parte das Escrituras. Enquanto falsamente incriminavam o próximo a respeito do sábado, eram eles que verdadeiramente transgrediam o quarto mandamento; além de violarem suas próprias normas fúteis. Os escribas e fariseus não podiam apresentar pela Bíblia nenhum preceito que proibisse o auxílio que Jesus concedia aos enfermos nos sábados, apenas valiam-se de textos alheios à ela para embasar suas convicções.

Considerações Finais

A vida de Jesus neste mundo foi irrepreensível, Ele desenvolveu e demonstrou caráter íntegro em cada ação que realizava. Seu inigualável elo com Deus e Sua inquestionável fidelidade com a lei eram letais para aqueles que O perseguiam (João 15:10 cf. I João 2:4). Inutilmente, "os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio estavam procurando depoimentos contra Jesus, para que pudessem condená-Lo à morte, mas não encontravam nenhum. Muitos testemunharam falsamente contra Ele, mas as declarações deles não eram coerentes." (Marcos 14:55-56 NVI). Em contrapartida, o profeta Isaías já havia verdadeiramente testemunhado o comportamento reprovável dos opositores de Cristo:

"O Senhor disse: 'Visto que este povo se aproxima de Mim e com a sua boca e com os seus lábios Me honra, mas o seu coração está longe de Mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu, continuarei a fazer obra maravilhosa no meio deste povo; sim, obra maravilhosa e um portento; de maneira que a sabedoria dos seus sábios perecerá, e a prudência dos seus prudentes se esconderá'." (Isaías 29:13-14 RA).

E o próprio Cristo revelou o cumprimento da referida profecia:

"(...) Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: 'Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. E em vão Me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.' Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. (...) Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição." (Marcos 7:6-9 RA).

E como mencionado no início deste estudo, esses hipócritas e fanáticos rabinos possuem seguidores fiéis nos dias atuais, seus pupilos dão sequência às falsas acusações contra Cristo, "dia e noite" (Apocalipse 12:10, Apocalipse 12:17, João 8:44).

Vídeo relacionado: O Sétimo Dia - Estudo 03

a. Indivíduos que rejeitam os padrões de conduta determinados pela lei de Deus; aqueles que defendem que o comportamento humano não deve se subordinar às regras de uma lei, sobretudo as divinas.

b. Acesse: O Sábado no Novo Testamento

c. Obra judia e parte do Talmude. A Mishnah não propõem criar novas leis, mas relatar os costumes e juízos judaicos. Nela há questões da época de Jesus e da era pós-Templo, período que iniciou com a destruição do templo de Jerusalém em 70 d.C.

d. Os adversários do sábado valem-se do verbo "entrar", utilizado indevidamente pela versão "João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada" (RA): "entraram a colher espigas", para capciosamente alegarem que os discípulos realizaram serviço braçal para abrir caminho pelo interior das searas e, assim, facilitar o trajeto de Jesus. Esta vil alegação é facilmente desfeita pelos seguintes fatos: 1. A flexão verbal "entraram" usada pela "RA" é uma tradução extremamente equivocada do verbo grego "archomai", que significa: começar, iniciar; proceder do começo; ser o primeiro a realizar algo; ser o principal em algo. E há diversas versões bíblicas que mantêm o sentido original de Mateus 12:1 ao traduzir corretamente o termo "archomai"; por exemplo: "Naquela ocasião Jesus passou pelas lavouras de cereal no sábado. Seus discípulos estavam com fome e começaram [archomai] a colher espigas para comê-las." (Nova Versão Internacional, 2001); "En aquel tiempo iba Jesús por los sembrados en un día de reposo; y Sus discípulos tuvieron hambre, y comenzaron [archomai] a arrancar espigas y a comer." (Reina Valera, 1960); "At that season Jesus went on the sabbath day through the grainfields; and His disciples were hungry and began [archomai] to pluck ears and to eat." (American Standard Version, 1901). 2. O texto afirma que os discípulos começaram a colher espigas e delas alimentaram-se motivados pela fome, e para isso utilizaram tão somente as mãos pois a eles era proibido o uso de qualquer ferramenta, o que intensifica a inviabilidade de abrir estradas pelos campos de cereal (searas): "Se entrarem na plantação de trigo do seu próximo, poderão apanhar espigas com as mãos, mas nunca usem foice para ceifar o trigo do seu próximo." (Deuteronômio 23:25 NVI). Além de desconhecerem estas informações, será que os rivais do quarto mandamento imaginam que os discípulos pregavam o evangelho munidos de instrumento(s) de colheita, especialmente aos sábados? 3. O terceiro motivo que desmente os opositores do sábado reside no fato de que, se os discípulos tivessem adentrado as searas para construir rotas de passagem, fatalmente seriam indiciados por invasão e destruição de propriedade privada (Deuteronômio 23:25 cf. Êxodo 22:5-6).

1. Romanos 3:20; Romanos 7:7; Romanos 4:15; Tiago 2:8-13; I João 3:4.

2. Marcos 3:1-6 cf. Lucas 11:53-54; João 9:16; Marcos 14:60-64.

3. "Mishna". (2010). Encyclopædia Britannica, Chicago: Encyclopædia Britannica; COHN-SHERBOK, D. (2003). Judaism: History, Belief and Practice, New York: Routledge, p. 399, 495; GERSH, H. (1984). Mishnah: The Oral Law, New Jersey: Behrman House Inc., p. 7-8.

4. HILL, D. (1972). The Gospel of Matthew, Grand Rapids: Eerdmans, p. 209.

5. MANSON, T. W. The sayings of Jesus: as recorded in the Gospels according to St. Matthew and St. Luke, London: SCM Press, 1949.

6. SALDARINI, A. J. (1997). Comparing the Traditions: New Testament and Rabbinic Literature. In: Bulletin for Biblical Research 7, (Institute for Biblical Research), p. 197-199; Lawrence Schiffman, The Halakhah at Qumran, Leiden: Brill, 1975.

7. NEUSNER, J. (1981). Judaism: The Evidence of the Mishnah, Chicago: University of Chicago Press, p. 55-59.

8. Babylonian Talmud: Tractate Shabbath, folio 73; Mishnah: Tractate Shabbat, 7:3, 7:6.

9. "Sabbath". (1906). The Jewish Encyclopedia, vol. X, New York, N.Y.: KTAV Publishing House, Inc., p. 594b (Friday Prepatation).

10. Damascus Document, col. 11:13b-14a. Too in: 4Q256, fragment 6, lines 5-6.

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