1 - DEFINIÇÃO:
As Barragens de rejeitos são reservatórios destinados a reter resíduos sólidos e água resultantes de processos de extração de minérios.
Estudo de tensão-deformação, por elementos finitos, com regime de fluxo transiente simulando o enchimento do reservatório utilizando o RS2 da Rocscience.
O modelo numérico nos mostra todo o histórico de tensões, desde a construção da barragem, até a operação. Nessa fase, realizamos a verificação das deformações cisalhantes e a determinação do SRF (Strength Reduction Factor), comparando com o equilíbrio-limite pelo Slide2.
O armazenamento desses rejeitos é necessário a fim de evitar danos ambientais e degradação das áreas de entorno a jusante..
As características dos rejeitos variam segundo o tipo de mineral e o processo de beneficiamento empregado.
Podem ser de granulometria fina (inferior a 0,074 mm), constituídos de siltes e argilas, materiais que apresentam alta plasticidade, alta compressibilidade e de difícil sedimentação, sendo depositados sob forma de lama.
Os rejeitos também podem ser formados por materiais não plásticos (areias), de granulometria mais grossa, altamente permeáveis e com boa resistência ao cisalhamento, ao contrário dos rejeitos de granulometria fina.
O transporte dos rejeitos, sob a forma de polpa, pode ser feito por gravidade, através de canais ou dutos, com ou sem sistemas de bombeamento, a depender da inclinação do terreno e da distância entre a instalação de beneficiamento do minério e o local do descarte do material.
As barragens nada mais são do que grandes estruturas para dispor materiais.
Estes materiais podem ser tanto os de mineração, quanto de outras indústrias, como a água para produção de energia elétrica, entre outros.
Especificamente na mineração, as barragens de rejeito servem para que tudo o que não será aproveitado após o beneficiamento possa ser reservado.
Como o rejeito do beneficiamento comum é um rejeito com muita água, essas barragens inicialmente se parecem mais com piscinões cheios de lama. Isso faz parte do processo.
Essa lama de rejeitos deve descansar nessa piscina até que suas partículas sólidas decantem e mais e mais rejeitos vão sendo depositados lá.
Os rejeitos de mineração precisam ser depositados em algum lugar. A barragem de contenção é a estrutura mais usada para armazenar esse material. É o método mais antigo, simples e barato, feita com o próprio material do rejeito.
1.1) Rejeito de mineração:
O rejeito de mineração é o que sobra quando se usa água para separar o minério de ferro do material que não tem valor comercial, é uma forma mais econômica de fazer o beneficiamento promovendo esta separação.
Em geral, esse rejeito é composto por minérios pobres, com baixa concentração de ferro e areia, além da água, daí o aspecto de lama movediça.
Já existem processos de beneficiamento mais modernos, que não utilizam água.
2) TIPOS DE ALTEAMENTO:
Eventualmente é necessário ampliar a capacidade de armazenamento de uma barragem de rejeitos mediante a construção de alteamentos. Existem três métodos de alteamento:
2.1) MÉTODO DE ALTEAMENTO DE MONTANTE:
O método para montante consiste, inicialmente, na construção de um dique inicial ou de partida, utilizando-se geralmente aterro compactado ou enrocamento. Os rejeitos são descarregados hidraulicamente, por meio de canhões ou hidrociclones, desde a crista (parte mais alta) do dique de partida, formando uma praia de rejeito que, com o tempo, será adensada e servirá como fundação e fornecerá material para futuros diques de alteamento, que serão construídos com o próprio material do rejeito. O processo é repetido até que seja atingida a cota de ampliação prevista no projeto.
Esse método é o mais simples e de mais baixo custo de construção, porém está associado à maioria dos casos de ruptura de barragens de rejeitos em todo o mundo, a exemplo do que ocorreu no caso da barragem de Fundão, no subdistrito de Bento Rodrigues, Minas Gerais, em 5 de novembro de 2015 e o rompimento de barragem em Brumadinho, Minas Gerais, em 25 de janeiro de 2019.
2.2) MÉTODO DE ALTEAMENTO DE JUSANTE:
O método de alteamento para jusante é mais conservador, no sentido de que foi desenvolvido para reduzir os riscos de liquefação em zonas de atividade sísmica.
A instalação de um núcleo impermeável e zonas de drenagem permitem que esse tipo de barramento contenha um volume substancial de água diretamente em contato com o seu talude a montante, sem que haja comprometimento da estabilidade da estrutura.
Da mesma forma que no método de alteamento para montante, é inicialmente construído um dique de partida com aterro compactado ou enrocamento. Os rejeitos são depositados a montante desse dique.
À medida que a borda livre é atingida, são feitos alteamentos sucessivos para jusante.
A principal vantagem desse método é a ausência de restrição, em termos de estabilidade, para a altura final do barramento, pois cada alteamento é estruturalmente independente dos rejeitos lançados a montante.
As desvantagens são o alto custo dos alteamentos, devido ao grande volume de aterro necessário, além da grande área ocupada pela barragem. Assim, a limitação da altura final de uma barragem de rejeitos alteada para jusante dependerá basicamente da área de terreno disponível.
2.3) MÉTODO DE ALTEAMENTO NA LINHA DE CENTRO:
O método de alteamento na linha de centro tem estabilidade superior à da barragem alteada para montante, porém não requer um volume de materiais tão grande, como no alteamento para jusante.
Da mesma forma que nos outros dois métodos, é construído um dique de partida, a fim de formar uma praia de rejeitos a montante.
O sistema de disposição dos rejeitos é similar ao do método de alteamento para montante: os rejeitos são lançados a partir da crista do dique inicial. Quando os alteamentos se tornam necessários, novos diques são construídos, tanto sobre os rejeitos dispostos a montante quanto sobre o aterro do dique anterior, de forma que o eixo de simetria se mantém.
3) VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS ALTEAMENTOS :
4) LEGISLAÇÃO NO BRASIL:
Em relatório com dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) divulgado em janeiro de 2019, o Brasil tem cerca de 200 barragens de mineração com potencial de dano considerado alto, classificação igual a da barragem 1 da mineradora Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que se rompeu.
A ANM tem 2 categorias de classificação de barragens:
4.1) dano potencial – quando se refere ao que pode acontecer em caso de rompimento ou mau funcionamento de uma barragem, levando em consideração as perdas de vidas humanas e impactos sociais, econômicos e ambientais. :
4.2) risco – quando se refere aos aspectos que possam influenciar na possibilidade de ocorrência de acidente
Por que as barragens de alteamento a montante ainda existem?
Muito tem se discutido recentemente acerca do uso de barragens de contenção de rejeitos. Desde 2001 barragens feitas pelo método de alteamento a montante vem trazendo problemas a Minas Gerais.
Já vimos casos como os da barragem de Herculano, da mina de Fundão e mais recentemente a barragem de uma mina da Vale em Brumadinho.
Muitos países já baniram o uso desse tipo especifico de barragem.
Países como Chile e Peru já não a utilizam por ser a forma mais insegura de dispor rejeitos e, além disso, nesses países, fatores como o tectonismo de placas é um fator agravante para esse banimento, que facilita durante o terremoto a liquefação da estrutura da barragem.
Entre as vantagens do alteamento a montante temos seu custo, que é muito baixo, pois além do processo burocrático é mais fácil de ser aprovado pois não depende de desmatamento das áreas de jusante abaixo da barragem que são demoradas a aprovação ambiental, o que dificulta o processo.
Além disso tem-se também a rapidez com que pode-se ampliar uma estrutura desse tipo.
Mas será que esses gastos a menos são realmente compensatórios no futuro ? Vale a pena discutir sempre tecnicamente a melhor opção e definir um estudo de gerenciamento de risco das possíveis áreas afetadas a justante.
Como dispor os rejeitos em barragens :
Muitas vezes acabamos por achar que a proibição de todos os tipos de barragens no Brasil seria uma solução.
Porém a mineração brasileira não é composta somente de empresas multinacionais.
Para isso precisamos ter maneiras não muito onerosas para tratar os rejeitos.
Além do tipo de barragens, ao se dispor os rejeitos em uma barragem, deve-se pensar de que maneira dispor os materiais. Normalmente os rejeitos são dispostos como uma polpa.
Essa polpa não recebe nenhum tipo de drenagem antes de ser depositada lá.
Então, ela ainda está com toda a água do beneficiamento, que com os cuidados errados pode percolar pelos diques da barragem e causar a liquefação da estrutura.
A liquefação é um processo pelo qual muita água percola pela areia dos diques da barragem e, dessa maneira, a desestabiliza. Esse processo pode causar acidentes e até mesmo o rompimento de toda a estrutura.
Por isso, a escolha do tipo de rejeito que será disposto na barragem pode ser um fator fundamental para a estabilidade da estrutura. Dispondo os materiais em formas com mais partículas sólidas e menos água, a chance de colapso da estrutura é potencialmente reduzida.
As formas com menores quantidades de água são os rejeitos em pasta e torta.
Alternativas para disposição de rejeitos:
Além disso, outras maneiras tem sido discutidas como forma de dispor os rejeitos da mineração.
Uma delas, que já foi implantada pela própria Vale na planta S11D, em Carajás, é o beneficiamento a seco.
Imagem mostrando um equipamento amarelo no centro, dentro de uma região com pilhas de material marrom,
Britagem a seco.
O beneficiamento a seco é um processo que utiliza a própria umidade do material durante seu beneficiamento. Para isso, mais processos de britagem e peneiramento ocorrem. Mas diz-se que para minérios como o de Carajás esse processo é o melhor. Porque, além da economia de água, esse processo mantém o resíduo mais fino de minério de ferro, que seria descartado na água de rejeitos. Esse fino se mantém na linha de produção e se torna lucro para a empresa depois de muitos anos.
A conclusão de especialistas é a de que, mesmo sendo um processo oneroso no início, depois ele se torna compensatório.
Outras alternativas podem ser o reaproveitamento do material descartado e a deposição em pilhas. Leia sobre esses outros métodos aqui.
Será que, após tantos acidentes, as mineradores estarão dispostas a se aliar à tecnologia para uma mineração mais segura?
5) PLANO DE ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA:
A Engenharia Civil, aliada as ferramentas existente agregadas junto a Engenharia Geotécnica somada a Engenharia de Segurança do Trabalho, podem avaliar e desenvolver estudos de segurança de barragens através do fornecimento de informações planimétricas, planialtimétricas que fornecem elementos básicos para análise dos trabalhos que somados a uma campanha de sondagem mista bem feita tanto para verificação da condição no eixo da barragem existente, nas ombreiras e tanto a montante quanto jusante auxiliam no cumprimento do Plano de Ações de Emergência – PAE, integrante do Plano de Segurança de Barragens, previsto na Lei 12334/2010, sobretudo para os mercados de mineração e energia.
As imagens de Satélite fornecidaspor diversas empresas possibilitam análises planimétricas para análises espaciais diversas com até 20 centímetros de resolução espacial.
Outras aplicações são realização de análises planialtimétricas de elevação do nível da água por Modelos Digitaais de Terreno e Superifície que permitem avaliar o espelho d´água e a possibilidade em caso de ruptura de simulações de até onde a energia e o volume de massa possm chegar que é a simulação de rompimento de barragens do tipo DAM BREAK.
É possível obter por Imagens de Modelos Digital de Terreno (MDT) com 1 metro de equidistância entre as curvas de nível, atendendo o Padrão de Exatidão Cartográfica nível “A”(PEC A).
No caso das soluções em aerofotogrametria, é possível realizar as mesmas análises, porém em altíssima resolução.
Para informações planimétricas é possível se obter ortofotos com até 8 cm de resolução espacial.
Já para dados de elevação, é possível gerar Modelo Digital de Terreno (MDT) e Modelo Digital de Superfície (MDS) com até 50 cm de equidistância entre curvas de nível por perfilamento a laser com tecnologia LiDAR (Light Detection And Ranging) ou dos produtos e serviços AW3D.
Os serviços de Cartografia, Mapeamento Digital e Geoprocessamento permitem o tratamento das informações e análises espaciais para a realização de projetos relativos a segurança de barragens.
A partir de tecnologias de Imagens de Satélite, Aerofotogrametria, Campanhas de Sondagem Mista bem elaboradas, instrumentação geotécnica e Geoprocessamento, é possível realizar análises planimétricas de locais do tipo:
Benfeitorias
Elevação do nível da barragem
Altimetria das tipologias
Simulação de barragens em 3D
Simulação de rompimento de barragens
Elevação do nível da barragem
Definição de áreas afetadas
Uso e ocupação do solo
Acesso viário
Infraestrutura e logística
Monitoramento de barragem e análises multitemporais
Definição de áreas afetadas
Planejamento urbano, regional e ambiental das áreas afetadas
Mapeamentos para avaliação de impactos ambientais para meio físico, biótico e socioeconômicos
Representações cartográficas gerais para monitoramento e planejamento de barragens
6) O QUE É ESTUDO DE DAM BREAK ?
O território brasileiro possui um grande potencial hidrológico o que facilita a criação de barragens para a geração de energia e abastecimento. Além destas, a criação de barragens para contenção de rejeitos da mineração, ou de resíduos industriais.
O estudo que avalia os potenciais impactos da ruptura de uma barragem recebe o nome de “Dam Break”, nome conhecido pela comunidade geotécnica e engenharia.
O estudo trata-se de uma modelagem matemática que parte de algumas pressuposições de coletas de dados e simulações.
Os estudos de “Dam Break” partem do principio da ruptura de barragem, mapeamento da mancha de inundação, plano de ações emergenciais, quantificação de danos e riscos, classificação do dano potencial associado e requisito legal e responsabilidade social.
Os procedimentos metodológicos se desenvolvem com a aplicação de formulações hidráulicas para o cálculo dos parâmetros básicos do modelo hidrodinâmico (HEC-RAS) para obtenção das vazões e os níveis máximos de inundação; e, plataforma SIG, associada ao software ArcGIS extensão HEC-GeoRAS, para importação das informações e mapeamento das zonas de inundação.
O projeto de Dam Break prevê o desenvolvimento de um Programa de Ações Emergenciais (PAE) com o objetivo o mapeamento das zonas inundáveis para o vale a jusante do barramento, considerando a ocorrência de um evento de ruptura do maciço da barragem, seja ele causado por galgamento (overtopping) ou erosão interna (piping) , considerando a pior hipótese.
Esse tipo de estudo não está previsto nem na Política Nacional (lei 12334/2010, que é a politica nacional de barragens), nem na resolução do CNRH n°143/2012, que classifica as barragens, ou na portaria do DNPM 416/2012, que trata do cadastro nacional de barragens.
Os últimos anos, o tema “barragem” vem sendo muito citado e debatido em meios sociais, jurídicos, de engenharia, geotecnia, geologia entre outros. Infelizmente esse debate ocorreu após duas catástrofes terem acontecido no Brasil, uma em Mariana – MG em 2015 e outra quase três anos depois, em Brumadinho-MG, devido ao rompimento de duas barragens de rejeitos que destruíram cidades e geraram vítimas fatais.
Função de uma barragem?
As barragens são estruturas construídas transversalmente, em meio a cursos de água, com objetivo de conter e acumular grandes quantidades de água ou deposição de outros materiais líquidos e sólidos, como, por exemplo, rejeitos de processos industriais. Suas principais funções então ligadas à: reserva de água, geração de energia elétrica, controle de cheias, contenção de sedimentos (controle de erosão) e contenção de rejeitos industriais.
Os tipos de barragem variam de acordo com sua finalidade e terreno onde se localizam. Listamos abaixo os principais tipos para vocês:
Barragem de terra
É o tipo de barragem mais comum, pois pode ser apoiada em tipos variados de fundação. Normalmente, são construídas com finalidade de armazenar água e se divide em dois tipos de acordo com os materiais que a estruturam: homogêneo e zonado.
Esse tipo de barragem é caracterizado por vales muito largos. No caso das barragens homogêneas os taludes são constituídos por um único material impermeável. Já as do tipo zoneadas possuem seu núcleo composto por material impermeável e as demais camadas por materiais mais permeáveis, que possuem função de suportar e proteger o núcleo. A inclinação desses taludes deve ser suave para que haja estabilidade.
Barragem de rejeitos
A barragem de rejeitos é considerada a forma “mais comum e mais barata”. Ela possui como função o acumulo de resíduos de processos industriais.
Essas barragens são inicialmente construídas de terra, enrocamento, rejeitos e até concreto. Em meio ao seu processo de construção existe o método chamado de “alteamento a montante”, no qual a barreira de contenção recebe camadas do próprio material do rejeito, o que foi o caso das barragens de Mariana e Brumadinho.
Há também dois outros métodos semelhantes de alteamento: a jusante e método da linha de centro, todas elas incluem a construção inicial de um dique de partida, a diferença está na direção do alteamento.
Barragem de enrocamento com face de concreto
É constituída de enrocamentos (maciço composto por blocos de rocha compactados em camadas), com face constituída de concreto impermeabilizado. Normalmente são construídas sobre fundações de rocha sã, mas a ligação das placas de concreto com a fundação deve receber atenção especial, devido a recalques ocasionais das camadas de enrocamento, quando a fundação é feita sobre meios deformáveis.
Barragem contraforte de concreto
Sua estrutura é constituída por laje de concreto e sustentada por contrafortes, responsáveis por receber as tensões provenientes do acúmulo da água sobre a laje. Esse é um tipo de barragem que necessita de grande preparo da fundação. Em alguns casos, emprega-se o uso de tirantes e até injeção de calda de cimento e sempre mantendo o controle geológico.
São barragens construídas em vales estreitos e com boas condições de ombreiras (laterais do vale onde a barragem se apoia) que são geralmente constituídas por rocha. Possuem estrutura de concreto e necessitam de grandes escavações para atingir a rocha sã, devido aos esforços sobre a fundação serem maiores para esse tipo de barragem, necessitando de fundações resistentes.
São barragens que requerem fundação eficiente e são geralmente construídas em locais onde há restrição de espaço. Sua constituição é de concreto, podendo ser de paredes maciças ou vazadas. Sua resistência está nas próprias paredes que a constituem em relação ao empuxo horizontal da água, transmitindo as tensões para a fundação.