159) A biografia dos meus avós Odilha Elias de Souza Guimarães e Japir de Souza Guimarães

A HISTÓRIA DE MINHA AVÓ ODILA

Muitas coisas tenho a falar sobre esta mulher santa ...

Seu nome: Odilha (“Elias”) de Souza Guimarães, nascida em 30 de Abril de 1916 em Taubaté - SP, mais conhecida com ODILA, Elias sobrenome de solteira, filha de Libaneses, seu pai José Elias Milan natural do Líbano e sua mãe Andua (Handava) Abraão Elias. Os pais de José eram ELIAS MILEN e MARIA MILEN, os pais de Handava eram MELBEN ABRAÃO e SAADA ABUD ABRAÃO.

José Elias Milan - Libanes natural do Libado (Pai de Odila Elias)

(Handava) Abraão Elias - Natural do Líbano - Mãe de Odila

Odila no seu curso de corte e costura em Taubaté - SP

O nome “ODILHA” é uma variante de Odílio, de origem do Latim que significa saudável.

E saudável foi a vida que levou, com sua família, amigos, filhos, netos e bisnetos, em todos os sentidos, religiosa fervorosa, boa esposa, excelente mãe, inigualável avó e linda bisavó.

Ela nasceu em Taubaté – SP, sempre foi tímida, sorriso suave, voz modulada, tinha como toda mocinha, sonhos... Diversos deles.

Era de baixa estatura, corpo franzino, cabelos curtos, sempre azulado e liso, olhos castanhos, um nariz avantajado de uma legítima turca, que por várias vezes nas quais tirava sua foto, foi uma das poucas vezes que brigava comigo dizendo, “Não me pegue de perfil”.

Pertencia a uma família de imigrantes libaneses que vieram para o Vale do Paraíba e se radicaram em Taubaté – SP uma colônia de imigrantes Libaneses, seu pai veio fugido da Guerra e das baixas condições de vida promissora que na época não existia no Líbano, vovó nunca andou de avião, mas sempre se demonstrou jovem e ligada às modernidades inclusive internet e informática que vibrava e me ajudava nas pesquisas que fazíamos juntos.

Segundo ela me disse, seu pai não satisfeito com a vida no Líbano ainda muito jovem queria vir para o Brasil atrás de um Tio que já estava radicado em Taubaté - SP, porém seu pai Elias Milan era contra sua vinda e acabou descobrindo que ele estava fugindo para o Brasil para embarcar num navio. Ao saber da notícia o mesmo correu atrás de seu filho oferecendo o “cinturão da família” que segundo disse era um cinto onde se guardava todo o dinheiro da família, ele tirou seu cinturão e deu para seu filho José Elias na condição de ficar no Líbano e virar o Líder da família a partir daquele momento. Porém José Elias disse que pegou o cinto com dinheiro de seu pai e para surpresa de todos continuou sua viagem para o Brasil, surpreso seu pai em tempo correu atrás do filho sabendo que ele continuava disposto para a viagem, encontrou com ele no Porto, brigou com o filho e disse: “Meu filho, já que vai para o Brasil, vá sem dinheiro e me deixe o cinturão da família comigo”. E lá se foi, José Elias ou “Youssefe Lhes” em busca do incerto, a procura de uma nova vida e de oportunidades.

No Líbano o pai de minha avó Odila, já havia sido prometido para Handava, filha de MELBEN ABRAÃO e SAADA ABUD ABRAÃO, tendo casado com ela ainda no Líbano e tido sua primeira filha Mariana Elias, que chegou ao Brasil com 5 anos.

Ele foi para o Brasil chegando por volta de 188X e depois de 5 anos que conseguiu juntar dinheiro mandou vir sua esposa e a filha Maria Elias.

Tia Mariana Elias (Tauil)

Pai de Odila, José Elias Milan e seu Irmão Antonio Elias em visita a Niteroi - RJ.

Ele no início da vida trabalhava com seu Tio Dip Abud quando depois no início de sua vida comercializava um tipo de manteiga vendida em lata viajando muito.

O segundo filho já nascido em Taubaté – SP no Brasil foi Jamil Elias nascido em 05 de Julho de 1910, a terceira filha foi Maria de Lurdes Elias (Tia Nené) nascida em 15 de Agosto de 1911.

Jamil Elias - Nascido em Taubaté

Maria de Lurdes Elias (Tia Nené)

Ela minha avó Odila a terceira filha nascida em 30 de abril de 1916. José Elias ainda teve os filhos Antônio José Elias, nascido em 12 de agosto de 1918, a filha Yolanda Elias nascida em 1920, a filha Helena Elias Claro nascida em 1926, o filho Michel Elias nascido em 06 de abril de 1914 e ainda uma filha de nome Odete Elias que faleceu antes de completar 1 anos de idade.

Dizia minha avó que se pai havia estabelecido um comércio próximo ao atual mercadão de Taubaté e prosperava, porém dizem que ele gostava muito de jogar e perdia muito dinheiro no jogo, ele tinha um sócio no negócio que era o Turco tal, porém ele tirou tanto dinheiro da sociedade para viver e jogar que quando chegou num determinado ponto o comércio ficou somente para o outro sócio tendo José Elias ter saído da sociedade, tendo de começar tudo de novo.

Ela morou na casa de seus pais até os cinco anos e depois provavelmente devido a situação financeira de seus pais teve de ir morar na casa de sua irmã mais velha Mariana Elias (Tauil) que havia se casado também com filho de imigrantes Libaneses Antônio Tauil tendo ajudado inclusive na criação de suas sobrinhas. Teve uma educação exemplar, fez curso de costura e estudou até os 11 anos, e estava sendo preparada para se casar provavelmente com algum Libanês.

Família de Mariana Elias (Tauil)

Conheci minha avó sempre próxima de sua máquina de costura e fazendo deliciosas comidas libanesas.

Instituto Artístico Brazileiro - Curso de Corte e Costura de Taubaté

Porém um dia, já contando com seus 13 anos, ela e sua irmã Mariana Elias Tauil, estavam nos seus afazeres domésticos quando alguém aparece em sua janela batendo palmas e qual não é a sua surpresa em deparar com o jovem com 15 anos, Japir de Souza Guimarães, meu querido avô, então na época além de seu vizinho na Rua Dr. Jorge Winther um jovem trabalhador, motivado pela razão de vencer que trabalhava arduamente com seu pai Victor Granadeiro Guimarães na coleta de lixo da cidade de Taubaté, naquela época feita por charretes e no fornecimento de alimentação a cadeia pública de Taubaté.

O jovem Japir de Souza Guimarães

Japir passou a procurar Odila com mais frequência o que deixava Mariana Elias Tauil desconfortável, pois ela não via em Japir o homem ideal para Odila.

Meu vô Japir conta que começou seu namoro com a Vó Odila e que terminava e voltava o namoro com determinada frequência, visto que Mariana não gostava da família, porque ouvia o pai de Japir, o conhecido “Vitor Granadeiro” na época gritava muito em casa com sua mãe conhecida por Dona Zeca, e Mariana tinha medo de se os dois ficassem juntos o Japir fosse ruim para Odila também.

Porém o destino faz Odila enxergar em Japir o homem mais lindo de sua vida, e depois de 11 anos de namoro e brigas, eles vêm a se casar.

Quando Odila com 24 anos e Japir com 27 anos resolvem se casar, Odila manda um recado através de uma amiga que esta querendo casar com Japir, a amiga avisa Japir e eles namoram por mais um período até acontecer o de fato casamento.

Casamento de Japir e Odila

Mariana que era contra o casamento, se da por vencida após ver que Odila gostava de Japir e não arrumara outro pretendente tão sonhado por Mariana, aceita o casamento, ainda assim impõe que Japir compre uma casa mais próxima no centro em Taubaté - SP, Japir possuía uma casa na Rua Coronel João Afonso, próximo ao Largo do Chafariz, e vende esta casa e completa mais nove contos de reis fazendo esta dívida, porém compra sua atual casa na Rua Dr. Jorge Winther, 123 onde viveram felizes por 71 anos.

Japir e Odila - Casamento

No início da vida de casado, não foi fácil, pois motivado a melhorar de vida Japir comprou gado leiteiro contraindo dívidas, então tendo pagar o gado, alugou sua casa recém-adquirida no centro de Taubaté, para pagar 200 contos de reis / mês do gado adquirido, tendo ir morar nas terras de seu pai Vitor Granadeiro na Chácara São Gonçalo na subida do Barreiro, deixar o conforto de sua casa no centro para ir morar numa casa simples da propriedade de seu pai na chácara da família.

Quando mudaram para a Chácara minha mãe tinha uns dois anos e ficou lá até o seus 5 anos, quando vovô conseguiu terminar de pagar o gado voltou a morar na casa do centro da cidade de Taubaté.

Pai de meu avô Japir - Vitor Granadeiro

Mãe de meu avô Japir de Souza Guimarães

Meu bisavô Vitor Granadeiro conseguiu umas terras em Redenção da Serra e ofereceu para meu avô 50 alqueires e meu avô conseguiu “uso capião” das terras e depois comprar mais 50 alqueires de terra fazendo uma fazenda da qual viveu dela e de aluguel de mais 5 charretes para professoras irem dar aula da roça, e compra e venda de cavalos, e tudo que a fazenda pudesse gerar de receita.

Minha mãe relata no livro de sua vida:

“Voltando no dia 15 de outubro de 1943 onde tive a graça de viver, tentarei fazer uma viagem regressiva.

No seio materno fui muito amada, fui uma criança muito querida, desejada apesar das dificuldades dos meus pais.

Nasci com certeza chorando, mas quando senti minha mãe acabou aquele choro porque desde aquela hora já fui muito amada pela minha mãe, pelo meu pai e pela família toda.

A mãe do meu pai morreu quando eu nasci, foi uma pena porque está eu não conheci.

Mãe do meu avô Japir de Souza Guimarães

Meu avô Japir me contava que a avó materna dele provavelmente nascida em na cidade de Três Corações logo que o marido morreu ela foi mesmo de idade a procura de uma amor antigo na Argentina e nunca mais tiveram noticias da avó materna de Japir.

Minha infância:

Minha infância foi ótima, fui sempre muito amada, feliz, alegre e livre.

Meu avô pai do meu pai sempre foi ótimo, sempre realizou todos os meus desejos eu sempre gostei de cavalos, charretes, terras, frutas e ele sempre fazia tudo o que eu queria.

Fomos morar na chácara que na verdade era uma fazenda de tão grande que era, lá nos tínhamos cavalos, gados, porcos, era muito divertido, nos fins de semana as minhas tias iam para lá era uma festa.

A minha avó Ana (Handava) era muito boa e o vô José Elias também. Minhas tias Hilda, Helena, Wilson, Norma (na verdade meus primos, porque na verdade a mãe deles Tia Mariana Elias Tauil que era Tia de verdade, porque foi ela quem criou a minha mãe e eu acostumei a chamar os meus primos de Tios)... “

Família de meus avós Japir e Odila

Nesta fase a minha avó Odila sempre preocupada com a educação e criação de minha mãe Ana Maria Elias Guimarães e minha tia Flávia Maria Elias Guimarães.

Essa mulher, uma exímia dona de casa, organizava a casa, cuidava dos filhos, ia com rotina a igreja, fazia as próprias compras, e o que mais me marcou era o domínio que tinha de fazer a maravilhosa comida libanesa, ela fazia o “mezze” que é o charuto com folha de uva que é servido, geralmente, sem talheres, já que o pão árabe tradicional, achatado e redondo, faz as funções de garfo e colher.

Noivado de Meus pais

Outras especialidades dela são o “kibbi”, almôndegas feitas de carne com cebola e pinhões, o conhecido tabbouli, salada com folhas de hortelã e de salsa, a pasta de “hommus” que é um purê de grão-de-bico e pasta de gergelim, “baba ghanoush”, pasta de sésamo, limão e alho.

O maravilhoso “kebbah cru” de carne de cordeiro misturada com trigo moído com cebola, hortelã, pimenta e sal, prato nacional do Líbano é o “kibbeh” onde consta de uma mistura de carne de cordeiro muito bem picada e acompanhada de “bulgur” sendo que este prato podia ser comido cru, assado ou frito.

Vó Odila no casamento Civil de meus pais

Quando fazia “esfirra” uma empada de carne, fechada ou aberta de queijo curado, salsa, com tempero “za'atar” e as folhas de parreira recheadas, era uma festa só.

Sua filha Ana Maria Elias casa-se com Eng. Luiz Antonio Naresi filho de Mario Naresi casado com Maria Tobias, da mistura de descendentes Italianos por parte de Pai, vindos de Treviso, Norte da Itália e de descendentes Libaneses por parte de mãe da família Tobias vindos de Batrun (Líbano) / Yabrud (Síria), lhes dão os primeiros netos, eu Luiz Antônio Naresi Júnior e Débora Cristina Naresi.

Eu e meu avô Japir de Souza Guimarães

Quando mais precisamos dela soube nos acolher em sua casa, e foram os momentos mais felizes que tivemos como família, podendo desfrutar da moradia junto aos avós, nos divertíamos com pouco espaço, comíamos bem, frequentávamos a escola e tínhamos muito carinho e amor, sem falar das histórias que todas as noites ouvíamos de Vovô e Vovó.

Luiz Antonio Naresi, Ana Maria Guimarães Naresi, Debora Cristina Naresi Raposo, Francisco Oiring, Flavia Maria Elias de Souza Guimarães, Luiz Antonio Naresi Neto, Mario Felice Naresi, Maria Tobias Naresi, Odila Elias de Souza Guimarães, Japir de Souza Guimarães - Encontro na Casa dos Avós Japir e Odila.

Gostoso também os encontros na casa da Vó Odila e do Vó Japir quando meus avós país dos meu pai Luiz Antonio Naresi nas noites de sábados sempre nos visitavam na casa da Vó Odila nos proporcionando noites incríveis de conversas e bate papos maravilhosos de temas infindáveis históricos familiares que nos divertiam e preservava a mente nas histórias mais felizes, fofocas, e temas mais diversos de temas familiares a atualidade.

Todos meus avós reunidos

Depois que mudamos de cidade e passamos a visitá-la mensalmente, trimestralmente, mas sempre sendo recebidos com festas e as mais deliciosas comidas; ela ainda esteve na minha formatura de engenharia com meu avô e não conseguiu estar presente no meu casamento.

Visita a meus avós

Porém sempre mostrava fotos para ela é a mesma adorava. Sempre ligada nas novidades de eletrônica e progresso da tecnologia e informática, gostava da modernidade.

Quando meu filho nasceu com 10 dias trouxe o mesmo para conhecer minha avó em Taubaté.

Dela herdei a alegria, a luta por meus ideais, a vontade de persistir mesmo nas adversidades, o amor pela vida, a alegria genuína, o respeito pelo meu próximo, o prazer de ser pai, enfim, dela herdei tudo que faz do ser humano, um bom cidadão.

Querida e amada Vovó, deixo esta homenagem para a Senhora com muito amor.

Amamos-te muito.

QUANDO A CASA DOS AVÓS SE FECHA

Acho que um dos momentos mais tristes das nossas vidas é quando a porta da casa dos avós se fecha para sempre, ou seja, quando essa porta se fecha, encerramos os encontros com todos os membros da família que, em ocasiões especiais, quando se reúnem, exaltam os sobrenomes como se fossem uma família real e eles (os avós) são culpados e cúmplices de tudo.

Quando fechamos a casa dos avós também terminamos as tardes felizes com tios, primos, netos, sobrinhos, pais, irmãos e até recém-casados que se apaixonam pelo ambiente que ali se respira.

Não precisa nem sair de casa, estar na casa dos avós é o que toda família precisa para ser feliz.

As reuniões de Natal, regadas com o cheiro da tinta fresca, que a cada ano que chegam pensamos “...e se essa for a última vez”? É difícil aceitar que isso tenha um prazo, que um dia tudo ficará coberto de poeira e o riso será uma lembrança longínqua de tempos melhores.

O ano passa enquanto você espera por esses momentos e, sem perceber, passamos de crianças abrindo presentes, a sentarmos ao lado dos adultos na mesma mesa, brincando do almoço, e do aperitivo para o jantar, porque o tempo da família não passa e o aperitivo é sagrado.

A casa dos avós está sempre cheia de cadeiras, nunca se sabe se um primo vai trazer namorada, porque aqui todos são bem-vindos.

Sempre haverá uma garrafa térmica com café, ou alguém disposto a fazê-lo.

Você cumprimenta as pessoas que passam pela porta, mesmo que sejam estranhas, porque as pessoas na rua dos seus avós são o seu povo, eles são a sua cidade.

Fechar a casa dos avós é dizer adeus às canções com a avó e aos conselhos do avô, ao dinheiro que te dão secretamente dos teus pais como se fosse uma ilegalidade, chorar de rir por qualquer bobagem, ou chorar a dor daqueles que partiram cedo demais. É dizer adeus à emoção de chegar à cozinha e descobrir as panelas, e saborear a “comida da nona”.

Portanto, se você tiver a oportunidade de bater na porta dessa casa e alguém abrir para você por dentro, aproveite sempre que puder, porque ver seus avós ou seus velhos sentados esperando para lhe dar um beijo é a sensação mais maravilhosa que você pode sentir na vida.

Descobrimos que agora nós temos que ser os avós, e nossos pais se foram.

Nunca vamos perder a oportunidade de abrir as portas para nossos filhos e netos e celebrar com eles o dom da família, porque só na família é onde os filhos e os netos encontram o espaço oportuno para viver o mistério do amor por quem está mais próximo e por quem está ao seu redor.

Aproveite bem a casa dos avós, aproveite cada segundo.

Pois chegará um tempo em que, na solidão de suas paredes e recantos, se fechar os olhos e se concentrar, você poderá ouvir talvez o eco de um sorriso ou de um grito, preso no tempo.

Posso dizer que ao abri-los, a saudade vai pegar você, e você vai se perguntar: por que tudo foi tão rápido?

E vai ser doloroso descobrir que o tempo não foi embora... Nós o deixamos ir!

De suas filhas, netos e bisnetos.

Luiz Antonio Naresi Júnior