uniformizaçãodacomunicação

Uniformização da Informação no Transporte do Doente Crítico - Folha de Transporte 

Autores: Carlos Freitas; Dinarte Freitas; Elda Martins; Juan Pereira e Luis Vale.

RESUMO

A temática do Transporte de Doente Crítico é um assunto aliciante que apaixona todos os profissionais de saúde, ligados ao transporte inter hospitalar e secundário de doentes.

Ao sentirmos a necessidade de uniformização de procedimentos no Transporte de Doentes Críticos, e tendo como documento orientador as guidelines difundidas pela Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos e a Ordem dos Médicos, foi nosso objectivo contribuir para a uniformização do sistema de comunicação no Transporte do Doente Critico na Região Autónoma da Madeira, através da identificação da necessidade de implementar uma Folha de Registo de Transporte.

Como instrumento de colheita de dados utilizamos um questionário de escala dicotómica constituído por 4 questões de variáveis de caracterização e 7 questões relacionadas com a variável em estudo.

O pré-teste decorreu no dia 12 de Junho tendo sido aplicado a 5 profissionais de saúde a exercer funções num Serviços de Urgência na periferia.

A colheita de dados efectuou-se no período de 24 a 30 de Julho de 2008. Participaram neste estudo 50 profissionais de saúde que exercem funções no Serviço de Urgência do Hospital Central Funchal, por ser este Hospital o destino final na Região do Doente Crítico e onde se encontram as várias especialidades necessárias ao bom seguimento deste tipos de doentes.

Este trabalho é do tipo exploratório descritivo de nível I, com abordagem quantitativa das variáveis de caracterização e da variável em estudo, com o auxílio do programa informático STATISTICS 5.0.

Para a elaboração do quadro conceptual recorremos a autores que se debruçaram sobre esta temática ou sobre conceitos neste âmbito dos quais destacamos: PHANEUF (2005); PESTANA (2006); ROPER (2001); TEIXEIRA (2006); STEVENSON (2005); ROHAN D. (2006); RICE (2008); DUARTE E MONTEIRO (2008); SOCIEDADE PORTUGUESA DE CUIDADOS INTENSIVOS (2008) e ORDEM DOS MEDICOS (2008). Desenvolvemos os conceitos de Comunicação, Doente Crítico e Transporte de Doente Crítico. No que se refere a metodologia de investigação baseamo-nos em: ALMEIDA FREIRE (2000); GIL (1999); BURNS; GROVE (2001); FORTIN (1999; 2000); HUNGLER & POLIT (1995).

O tratamento dos dados obtidos foi feito com base na estatística descritiva nomeadamente a distribuição de frequências e de medidas de tendência central.

Relativamente as variáveis de caracterização, apuramos que os profissionais participantes no estudo eram predominantemente do sexo feminino (54.0%), apresentando uma média de idades 34,88 anos, e sendo que a maioria tem entre 0 e 10 anos de tempo de exercício profissional.

Relativamente a variável em estudo e quanto ao processo de comunicação entre Instituição aquando da recepção de Doente Crítico a maioria dos inquiridos (78%) respondeu que a comunicação é ineficaz; não padronizada (98%). Constatou-se ainda que 94% afirmam que o doente quando chega ao Serviço de Urgência não se faz acompanhar de uma Folha de Registo de Transporte.

É unânime entre os inquiridos (100%) a necessidade de implementação de uma Folha de Registo que ajude os profissionais a entender a evolução do doente, desde o momento zero até a chegada ao Serviço de Urgência.

Pelos resultados acima citados verificamos a necessidade da criação de uma Folha de Transporte uniformizando a informação, no transporte do Doente Crítico.

 

ABSTRAT - SUMMARY

            Transport of the critically ill is an exciting subject inspires all care providers, who are involved in the interhospital and secondary transport of patients.

            We felt the need to uniformize procedures in the transport of the critically ill patient. Based on the guidelines published by the Portuguese Intensive Care Society and the Portuguese Medical Association, our main purpose is to contribute to the Heath Communication process in our region – Região Autónoma da Madeira-, by the need to implement a written transport form for the critically ill patient.

We used a dichotomic scale questionnaire composed by 4 questions of characterization variables and 7 questions related to the variable in study.

The pre-test occurred on the 12th June 2008 and was applied to 5 care providers working at the peripheral emergency services.

The data were collected on the period of 24-30th July 2008. Fifty care providers, who were working at the Emergency Department of the Central Hospital of Funchal, filled the questionnaire, because this Hospital is the main and final destination of this type of patients, and where one can find all the medical specialties needed to follow the critical cases.

This paper is an exploratory descriptive, level 1, study with quantitative following of the characterization variables and help of the software STATISTICS 5.0.

In relation to the conceptual frame, we researched  the following authors: PHANEUF (2005); PESTANA (2006); ROPER (2001); TEIXEIRA (2006); STEVENSON (2005); ROHAN D. (2006); RICE (2008); DUARTE E MONTEIRO (2008); SOCIEDADE PORTUGUESA DE CUIDADOS INTENSIVOS (2008) e ORDEM DOS MEDICOS (2008). We developed the concepts of Communication, critically ill patient and critically ill patient transport. We based the investigation methodology on: ALMEIDA FREIRE (2000); GIL (1999); BURNS; GROVE (2001); FORTIN (1999; 2000); HUNGLER & POLIT (1995).

The data obtained was based on descriptive statistics, specially, the distribution of frequencies and measures of central tendency.

Concerning the characterization variables, 54 % of the participants were female, with an age averaging 34, 88 years and with less then 10 years of professional practice.

Concerning the variable in study and the  communication process between institutions-, the majority of the participants (78 %) reported that the communication between care providers fails and is not systematic (98 %). 94 % of the people who answered the questionnaire said that the patient who arrives at the Emergency Department, is not accompanied by any written form or report.

All participants in the study felt the need of a written form that registers the progress of these patients, from the moment they are seen until they arrive at the Emergency Department.

We conclude that there is a need to adopt a uniform written form to register all information regarding the critically ill patient and transport.

 

INTRODUÇÃO 

Como alunos da Universidade Atlântica a frequentar o 3º Curso de Pós Graduação em Urgência e Emergência Hospitalar, foi-nos proposto a elaboração de um projecto, o qual fosse viável e aplicável à nossa realidade, ou seja, algo sentido pelo grupo, como uma deficiência, e como tal, devesse ser estudado para que a nossa contribuição melhorasse a qualidade de cuidados prestados. Assim e depois de uma reflexão, optamos pela elaboração de Folha de Registo, contribuindo desta forma para a uniformização da comunicação/informação no Transporte do Doente Crítico.

O transporte do doente crítico é um tema que nos alicia, visto trabalharmos no Serviço de Emergência Médica Regional e em simultâneo no inter hospitalar, em Serviços que dão continuidade ao tratamento destes doentes. Deparámo-nos diariamente com doentes de alto risco, e pelas razões atrás referidas, constatamos, a falta de informação escrita, do estado clínico do doente, desde a hora zero, até à recepção nos ditos Serviços.

Dai que o problema da investigação se centre na inexistência de registos/uniformização dos dados clínicos transmitidos e difundidos, aquando da entrega dos doentes no Hospital Central do Funchal.

O período de transporte caracteriza-se por grande instabilidade para o doente, podendo agravar o seu estado clínico originando complicações que podem ser prevenidas, se houver informação escrita. Assim, e como na Região Autónoma da Madeira se verifica a inexistência, de uma folha de registos clínicos no transporte do doente crítico, é nosso intuito instituir a sua criação e aplicação.

Pretendemos evitar a repetição da informação a vários técnicos, e outros tipos de comunicação efectuada de forma aleatória, pela falta de registos uniformizados; pensamos com a instauração desta medida suprir e dar garantias de melhorar a comunicação e desta forma os índices de qualidade pretendidos.

Em relação à questão de investigação perguntamos: “ Será necessário a uniformização da informação numa folha de registo, no transporte do doente Crítico?”

Segundo PHANEUF (2005), comunicação é o “processo de interacção entre as pessoas”,

Quanto ao doente crítico e baseando-nos no que a Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos preconiza, “doente crítico aquele em que por disfunção ou falência profunda de um ou mais órgãos ou sistemas, a sua sobrevivência esteja dependente de meios avançados de monitorização e terapêutica” (p.2).

Para DUARTE e MONTEIRO, (2008) o transporte do doente crítico, apesar de envolver alguns riscos, justifica-se sempre que exista a necessidade de facultar um nível de assistência superior e que os benefícios sejam superiores aos riscos corridos. Tem-se assistido nos últimos anos ao desenvolvimento de todos os tipos de transporte do doente crítico, quer por meio aéreo, terrestre ou marítimo. Decididamente os transportes em meio terrestre e inter hospitalar são os mais frequentemente utilizados na nossa realidade.

Por sentir necessidade da uniformização de procedimentos no transporte de doentes críticos, a INTENSIVE CARE SOCIETY, publicou as Guidelines for the Transport of the Critically Adult, em 2002.

Segundo os autores consultados a uniformização de procedimentos, atitudes e equipamentos, diminuirá a incidência de complicações indesejáveis que podem ocorrer no percurso do doente crítico.

Por esta razão, achamos pertinente a elaboração deste trabalho, tendo como objectivos:

Geral

-Contribuir para a uniformização do sistema de comunicação no transporte do doente crítico na Região Autónoma da Madeira

Específico

- Identificar a necessidade de implementação de uma folha de transporte.

-Elaborar uma folha de registos para o transporte do doente crítico.

Como fundamentação teórica, desenvolveremos três itens fundamentais: a comunicação, o doente crítico e o transporte do doente crítico.

A comunicação não é um fenómeno exclusivamente humano, contudo, apenas o ser humano tem a capacidade do uso da palavra. Só o ser humano tem uma capacidade de comunicação ilimitada, sendo capaz de criar e compreender mensagens não verbais, criar e compreender mensagens verbais, pois possui um elemento único que mais nenhum ser possui, a linguagem verbal.

Para se estabelecer comunicação, tem de haver um conjunto de elementos constituídos por: um emissor, que produz e emite uma determinada mensagem, dirigida a um receptor ou destinatário. Mas, para que a mensagem se processe efectivamente entre esses dois elementos, esta deve ser recebida e descodificada pelo receptor, por isso é necessário que ambos estejam dentro do mesmo contexto, utilizem o mesmo código e estabeleçam um efectivo contacto através de um canal de comunicação.

A segunda parte do projecto refere-se a metodologia a ser aplicada de forma a responder aos nossos objectivos.

FORTIN (1999), refere que, o desenho de investigação ou metodologia clarifica o tipo de estudo escolhido que neste caso, consiste em descrever, nomear ou caracterizar um fenómeno, ou seja um estudo descritivo exploratório nível I.

Assim, o nosso estudo será de nível I, exploratório, descritivo simples inserido no paradigma quantitativo.

Segundo FORTIN (1999) as variáveis são qualidades propriedades ou características de objectos pessoais ou de situações que são estudas numa investigação (…). No nosso projecto utilizaremos as variáveis de atributo.

Como instrumento de colheita de dados usaremos um questionário, de perguntas fechadas, com escala dicotómica, cuja população alvo será profissionais de saúde (Médicos e Enfermeiros), a trabalhar na Urgência do Hospital Central.

Este trabalho será realizado segundo as normas de elaboração e execução de projectos científicos adoptado pela Universidade Atlântica (Tratado de Metodologia Científica de Sílvio Luís de Oliveira).

Finalizaremos, mencionando as principais conclusões, sublinhando os resultados obtidos, com maior relevância e, elaborando sugestões.

 

CONCLUSÃO

 

O transporte do doente crítico carece de uma estrutura pré elaborada, de modo a termos uma perspectiva geral de toda a operação que envolve o acompanhamento de um doente crítico desde a origem até ao Hospital de destino.

Na Região Autónoma da Madeira, este transporte faz-se regularmente, no entanto, o grupo, apercebeu-se que, embora haja cuidado nestas transferências, falta-nos planos protocolados bem como folha de registos para o transporte destes mesmos doentes.

Partindo desta experiência em campo, aceitamos o desafio para contribuir para a uniformização do sistema de comunicação no transporte do doente crítico na Região Autónoma da Madeira com a elaboração de uma folha de registo para esse transporte.

Como foi atrás referido, e apesar de ser uma necessidade sentida pelo grupo, achamos pertinente conhecer o pensar dos profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) que trabalhavam do Serviço de Urgência do Hospital Central do Funchal através de um questionário onde era identificada a necessidade de implementação de uma folha de transporte.

Os objectivos traçados foram ao encontro das necessidades identificadas, visto que os resultados obtidos respondem e justificam a questão de investigação: “ Será necessário a uniformização da informação numa folha de registo, no transporte do doente crítico?”

Este trabalho foi dividido em duas partes: enquadramento teórico e metodologia.

No enquadramento teórico, desenvolvemos três itens, que a nosso entender, davam resposta ao nosso problema de investigação e que se centraram na inexistência de registos/uniformização dos dados clínicos transmitidos e difundidos, aquando da entrega dos doentes no Hospital Central do Funchal. Foram eles, a comunicação, o doente crítico e o transporte do doente crítico.

Achamos que poderíamos desenvolver ainda mais os temas sobre doente crítico e transporte, contudo foi nossa estratégia, pecar por defeito visto o nosso objectivo primário estar virado apenas para a parte comunicacional, uma vez que o nosso verdadeiro intuito era criar uma comunicação escrita enquadrada numa folha de transporte.

Na fase metodológica colhemos os dados através da aplicação de um questionário, a 50 profissionais de saúde que exercem funções no serviço de urgência do Hospital Central do Funchal. Utilizamos a estatística descritiva para tratar os dados relativos às variáveis de caracterização e para a variável de estudo, uma escala dicotómica.

Após o tratamento de dados relativos a caracterização da amostra em estudo, verificamos que os profissionais participantes eram predominantemente do sexo feminino (54.0%). No que diz respeito a idade o maior percentual estava na classe 20-30 anos, sendo a média de idades 34,88 anos.

Relativamente ao tempo de exercício profissional constatamos que a maioria tem entre 0 e 10 anos de tempo de exercício profissional, o que corresponde a 60% da população estudada.

Após o tratamento analise e interpretação dos dados relativos a variável em estudo, podemos concluir que a maioria dos inquiridos (78%) referiram que o processo de comunicação entre Instituições não é eficaz aquando da recepção/transferência do doente crítico.

Quanto à informação escrita, actual, que acompanha o doente crítico ser padronizada, verificamos que 98% das respostas foram não. Seguiu-se a necessidade de uma folha de registos que o ajude a entender a evolução do doente desde o momento do acidente até à chegada ao serviço de urgência em que houve unanimidade das respostas (100%); Em relação ao facto de que com uma folha de transporte dificilmente perder-se-ia informação sobre o doente 96% da população concordou com a afirmação. Pelos resultados obtidos, na pertinência de uma folha de registos padronizados, verificamos que toda a população estudada está de acordo (100%).

Apesar de todos os obstáculos encontrados achamos que os objectivos que inicialmente nos propusemos a atingir, foram alcançados.

Sugerimos;

Implementar a folha criada;

Testar durante um ano;

Validar a sua eficácia;

Reformular se necessário;

Em nosso entender todas estas sugestões irão de encontro a melhoria da comunicação, dos cuidados prestados e da qualidade do acompanhamento do doente crítico.

INVESTIGAÇÃO