SINDROMA DE BURNOUT
Autores: Gorete Viana; David Assis; Juan Pereira
RESUMO
A qualidade de vida constitui actualmente uma preocupação crescente. Associada à evolução da sociedade, não se traduz apenas pela quantidade, mas pela “qualidade do viver”, assim para Magalhães (2001), o parâmetro global da qualidade de vida é a realização para o maior número de pessoas, das condições de vida, correspondentes à dignidade humana. Abordada sob um ponto de vista subjectivo, qualidade de vida é o que cada um sente que é, contudo há a considerar os factores biológicos, psicológicos, sociais e culturais, como condicionantes de uma qualidade de vida.
O stress e o sindroma de burnout, são um problema de saúde real associado aos profissionais de saúde. Fundamentando-nos em Maslach, burnout é um sindroma que se expressa pela exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização pessoal.
A saúde, considerada pela OMS como um estado fisiológico, ecológico e social de adaptação e equilíbrio do organismo humano, perante a complexidade do ambiente social, também é um factor a considerar na qualidade de vida.
Como profissionais de saúde a exercer funções na emergência pré-hospitalar, surgiu em nós o interesse em avaliar a percepção dos níveis de stress / burnout e qualidade de vida destes profissionais.
Pretendemos deste modo, contribuir para a melhor compreensão deste fenómeno. Aplicamos questionários aos 30 profissionais (enfermeiros e médicos) que exercem funções nesta área na RAM.
Os questionários aplicados foram o (SF-36), para o Estado de Saúde e o (MBI) para o Índice de Burnout.
Para a elaboração deste estudo baseámo-nos em autores como Alfarro (1996), Allison et al (1987), Amorim (1999), Archer et al (2001), Belancieri (1999), Benner (2001), Bernardo,Fr. (1992), Casqueira e Pereira (2001), Couvreur (1999), Frade e Frasquilho (1998), Gomes (1998), Hesbeen (1998), Vaz Serra (1999), entre outros para a fundamentação teórica.
Como estudos inerentes a esta temática, tivemos como referencia, os desenvolvidos por Silva (1997), Martins (2001), Mcintyre (1994), Oliveira (2003), INEM (2002), Martins, Olim e Costa (2002).
A fundamentação metodológica foi baseada principalmente na bibliografia da Fortin (1996) e Burns e Grove (1997).
O tratamento dos dados foram através de um estudo exploratório descritivo, analítico e correlacional.
Como principais conclusões destacamos que a população é predominantemente masculina (63,3%), situa-se na faixa etária entre 33. O tempo de profissão mais representativo situa-se na classe 1-5 anos (26,7%). A classe maioritariamente representada é a dos enfermeiros (70%), possuindo o grau académico licenciatura (56,7%). Em termos de categoria profissional, os “não especialistas”, são os mais representativos (56,72%). Na classe médica a especialidade de anestesiologia e cirurgia, são as mais representadas (10%).
Na dimensão “Exaustão Emocional” da variável índice de burnout, (53,3%) da população revelam médio a elevado nível de burnout. Na dimensão “Dspersonalização”, (83,3%) apresentam elevado índice de burnout. Contrariamente às dimensões anteriores, para a dimensão “Realização Pessoal” (83,3%) da nossa população apresenta um baixo nível de burnout.
De referir que os valores encontrados confirmam as inferências dos autores estudados quando se referem a esta actividade como causadora de desgaste, esgotamento dos recursos emocionais próprios, Ramos (1999), Parreira e Sousa (2000). Salientamos que numa actividade em que se esperam gestos concretos e racionais, cumprimento de um ou mais algoritmos pré definidos, possa aparentemente traduzir sentimentos negativos e atitudes de cinismo por parte dos profissionais perante as pessoas a quem o seu trabalho se destina. Assim, a irritabilidade, o negativismo, as respostas frias e impessoais no contexto do socorro repercutem-se na percepção que os inquiridos fizeram. Ainda e segundo Martins et al (2002), referenciado por Vaz Serra, os técnicos de emergência médica desenvolvem técnicas de abordagem que lhes permitem evitar o stress e burnout no seu dia a dia, como o sentido de humor, o distanciamento psicológico, a racionalização, entre outros.
Analisando as dimensões da variável “Estado de Saúde”, os profissionais inquiridos, apresentam para a componente física uma média de (79,37%) e para a componente mental (83,20%). Dentro da componente física, o valor mais próximo de “100”, que traduz melhor qualidade de vida, diz respeito à “Função Física” (93,33) e o valor mais baixo diz respeito à “Vitalidade” (70,83). Estes valores não surpreendem, atendendo a que apesar de não apresentarem limitações físicas, esta actividade requer altos níveis de energia.
Tendo em conta os resultados obtidos, esperamos que este estudo seja motivo de reflexão por parte dos profissionais que trabalham nesta área.
SUMMARY
The pre hospital emergency is a new and yet not well explored area therefore; it is a challenge for all the health professionals. The implementation of medical cars of fast intervention emerges a progressive concern to provide help in the place where the victims suffered the accident or unexpected illness with the aim of facilitating the patients’ stability before they are taken to the hospital which may save precious minutes that can be imperative to save lives or minimize incapacities.
As health professionals working in the pre hospital emergency it is our concern to evaluate the perception of Stress/Burnout levels and the quality of life of those professionals who in a daily basis fight to provide to the patients assistance with quality.
Health, considered by OMS as a physiologic, ecologic and social condition of adaptation and balance of the human organism, facing the complexity of the social environment is a factor that should be considered in the concept of quality of life which constitutes an upward concern that is not only seen by the quantity but also by the “living quality”. According to Magalhães (2001) the global constraint of life quality is the total fulfillment of all living conditions connected to human dignity. Subjectively it is what each one of us feels, however the biological, psychosocial and cultural factors should be taken in consideration as conditioning factors of life quality.
The stress and the Burnout syndrome are health problems which are connected to the health professionals. Supporting ourselves on Maslach, burnout is a syndrome that is seen in the emotional exhaustion and in the depersonalization and decrease of personal fulfillment.
This Exploratorium, descriptive, correlative cross- study intends to contribute to a better comprehension of the phenomena for that reason we applied the questionnaire SF-36- Health Condition and the MBI- Burnout Index to the 30 professionals that work in this field in Madeira Island.
The main conclusions of this study are: The population is prominently masculine (63, 3%) the age average is 33 years old, mainly nurses (70%) with a bachelor (56, 7%). With 1 to 5 years of experience in the job (26’ 7%), the “non experts” are the most representative (56, 72%). In the medical category the anesthetics and surgery are the most representative ones (10%).
On the emotional exhaustion dimension of the Burnout index variable (53, 3%) of the population revealed a/high level average. On the depersonalization dimension (83, 3%) showed it high. Controversially, the personal fulfillment dimension of our sample presented a low level. The results found confirm the inferences of the authors studied when they refer to this activity as the main cause of tiredness and lack of self emotional defenses (Parreira e Sousa, 200). It is worth to mention that in an activity in which it is expected concrete and rational gestures, accomplishment of pre defined algorithms, may apparently present the perception that the enquired had and according to Martins et al (2000), mentioned by Vaz Serra, the medical technicians develop techniques that allows them to avoid stress and Burnout in their daily lives such as, sense of humor, psycho logic distance and rationalization among others.
Analyzing the dimensions of the “Health Condition” variable, the professionals interviewed presented an average of (79, 37%) for the physical component and an average of (83, 20%) for the mental component. In the physical component the closest result to “100” (better quality of life) concerns the physical function (93, 33%) and the lowest result concerns the vitality (70, 83%). These results are not astonished considering that they do not present physical limitations; this activity requires high levels of energy.
Taking in consideration the results obtained we hope that this study will be used as an evidence by the professionals who work in this field. Considering the increasing impact of stress in health, quality of life, and in economy in general intervention is vital.
Quoting Velez (2003), we cannot go on thinking about people as “human resources”, but, instead as “human beings with resources”.
INTRODUÇÃO
Quem nunca experimentou a aceleração do ritmo cardíaco, a ansiedade de querer chegar a tempo, a pressão dos horários e do superior hierárquico, as descargas de adrenalina?
O stress existe em maior ou menor escala, dependendo da capacidade do indivíduo em geri-lo, como fenómeno ligado à agitação das sociedades modernas. Aliás, um pouco de stress ou de pressão até é considerado saudável, no entanto, quando em excesso, pode levar à fadiga, ansiedade, irritabilidade, exaustão e uma série de graves problemas de saúde, tanto físicos como mentais.
Habitualmente, o trabalho tem um impacto benéfico na saúde mental. Dá estrutura e propósito ao dia a dia, cria oportunidades para se conhecerem pessoas, criando um sentimento de auto-estima e valorização pessoal. Contudo, em certas circunstâncias, o trabalho pode causar ou contribuir para o aumento do stress e subsequentes problemas de ansiedade e depressão. Perante a incapacidade de enfrentar determinadas situações, o indivíduo experiencia uma crescente insatisfação ou baixa realização pessoal no trabalho. Como forma de enfrentar este problema, surgem atitudes de despersonalização e posteriormente os sentimentos de desgaste ou cansaço emocional. Surge então a experiência de estar em Burnout. Este fenómeno é também um problema das organizações, pois, se um número suficiente de trabalhadores estiverem afectados por este problema, a causa deve-se sobretudo, a uma questão organizacional, manifestando-se com absentismo, redução na produtividade e rotatividade de pessoal.
Os profissionais de saúde, como humanos que são, não escapam ao stress. Constituem um grupo de risco, que devido à especificidade do seu trabalho, têm de enfrentar exigências e pressões psicológicas particulares. As actividades que têm subjacentes, uma marcada componente relacional apresentam uma predisposição para sofrerem de problemas de saúde. Torna-se preocupante compreender porque é que profissões de elevado carácter humano e social, que à priori estavam postas de lado, inserem indivíduos que frequentemente desenvolvem patologias. Por outro lado, não só os indivíduos com problemas de base apresentam alterações, como aqueles cuja personalidade estava bem ajustada e equilibrada. Como consequência tem-se desperdiçado elevados recursos económicos e humanos, com evidente impacto na gestão das organizações.
Na Emergência Pré-Hospitalar, pela exigência física e psíquica que requer dos profissionais de saúde, também estes não escapam ao stress, devido à elevada responsabilidade deste serviço. Aliás, não se trata de um serviço, mas antes de um sistema, pois envolve um conjunto de meios e acções programadas e coordenadas, com o objectivo de proporcionar integradamente cuidados de saúde eficazes em situações de doença súbita, acidentes e/ou catástrofes. Estes profissionais têm que possuir estratégias e solucionar situações que contribuam em larga escala para não agravar o stress.
A preocupação em estudar o stress e o Burnout nesta área é recente e os poucos estudos que existem não foram completamente explorados.
A pertinência da abordagem desta temática deve-se ao facto de estarmos ligados a esta actividade há cerca de 5 anos, sempre com entusiasmo e satisfação.
Segundo Oliveira (2000), as fontes de stress a que estão sujeitos os profissionais das viaturas médicas de emergência e reanimação, são per si motivo para a realização de investigação neste âmbito.
Assim sendo, pretendemos conhecer a realidade dos profissionais de saúde que exercem funções na Emergência Pré-Hospitalar na RAM, relativamente ao tema em causa, de forma a promover a reflexão dos fenómenos supracitados (Stress/Burnout).
Pretende-se concretizar o nosso objectivo, através de um estudo transversal, exploratório descritivo, e correlacional.
Do ponto de vista estrutural, o nosso estudo foi organizado em duas fases: a primeira refere-se ao enquadramento teórico; na segunda fase, incluímos a metodologia e procedemos à apresentação, análise e interpretação dos resultados, confrontando com conceitos teóricos e com resultados de investigação de outros autores.
Finalizaremos, mencionando as principais conclusões, sublinhando os resultados obtidos, com maior relevância e, se pertinente, elaborar sugestões.
CONCLUSÃO
Existem profissões, que pela natureza das suas tarefas, apresentam graus de complexidade que justificam os valores elevados de stress, apresentado pelos seus profissionais. Referimo-nos às profissões que implicam uma relação de ajuda, especialmente ligadas à saúde, as quais se caracterizam pelo contacto com situações extremas de particular gravidade, geradoras de sofrimento e conflitos éticos.
Realizamos um estudo do tipo transversal, exploratório, descritivo e correlacional de modo a identificar a percepção dos níveis de Burnout e qualidade de vida dos enfermeiros e médicos que exercem funções na emergência pré-hospitalar da RAM.
Para a elaboração deste estudo baseámo-nos em autores tais como, Alfarro (1996), Allison et al (1987), Amorim (1999), Archer et al (2001), Belancieri (1999), Benner (2001), Bernardo, Fr. (1992), Casqueira e Pereira (2001), Couvreur (1999), Frade e Frasquilho (1998), Gomes (1998), Hesbeen (1998), Vaz Serra (1999), entre outros para a fundamentação teórica.
Como estudos inerentes a esta temática, tivemos como referência, os desenvolvidos por Silva (1997), Martins (2001), Mcintyre (1994), Oliveira (2003), INEM (2002), Martins, Olim e Costa (2002).
A fundamentação metodológica foi baseada principalmente em Fortin (1996) e Burns e Grove (1997).
Analisamos os dados recolhidos nos trinta questionários, que constituíram a nossa população e chegamos às seguintes conclusões:
A população é predominantemente masculina (63,3%), apresentando uma média de idade de 33 anos. O tempo de profissão mais representativa situa-se na classe 1-5 anos (26,7%). A classe maioritariamente representada são os enfermeiros (70%), possuindo o grau académico licenciatura (56,7%). Em termos de categoria profissional, os “não especialistas”, são os mais representativos (56,72%). Na classe médica, a especialidade de anestesiologia e cirurgia, são as mais representadas (10%).
Na dimensão “Exaustão Emocional” da variável índice de Burnout (53,3%) da população, revelam médio a elevado nível de Burnout. Na dimensão despersonalização (83,3%) apresentam elevado índice de Burnout. Contrariamente às dimensões anteriores, para a dimensão realização pessoal (83,3%) da nossa população, apresenta um baixo nível de Burnout. Pelo que se aceita a hipótese 2 – Existe um nível elevado do Síndrome de Burnout nos enfermeiros e médicos da emergência pré hospitalar. De salientar, que para a dimensão realização pessoal, a maioria da nossa população (83,3%), revelou um baixo índice de Burnout.
De referir que os valores encontrados confirmam as inferências dos autores estudados quando se referem a esta actividade como causadora de desgaste e esgotamento dos recursos emocionais próprios, Ramos (1999), Parreira e Sousa (2000). Salientamos que numa actividade em que se esperam gestos concretos e racionais, cumprimento de um ou mais algoritmos pré definidos, possa aparentemente traduzir sentimentos negativos e atitudes de cinismo por parte dos profissionais perante as pessoas a quem o seu trabalho se destina. Assim, a irritabilidade, o negativismo, as respostas frias e impessoais no contexto do socorro, repercutem-se na percepção que os inquiridos fizeram. Ainda e segundo Martins et al (2002), referenciado por Vaz Serra, os técnicos de emergência médica desenvolvem técnicas de abordagem que lhes permitem evitar o stress e Burnout no seu dia a dia, como o sentido de humor, o distanciamento psicológico, a racionalização, entre outros.
Analisando as dimensões da variável estado de saúde/qualidade de vida, os profissionais inquiridos, apresentam para a componente física uma média de (79,37%) e para a componente mental (83,20%). Dentro da componente física, o valor mais próximo de “100”, que traduz melhor qualidade de vida, diz respeito à função Física (93,33) e o valor mais baixo diz respeito à vitalidade (70,83). Estes valores não surpreendem, atendendo a que, apesar de não apresentarem limitações físicas, esta actividade requer altos níveis de energia.
A análise dos dados conduzem à rejeição da hipótese 1 – O estado de saúde/qualidade de vida dos enfermeiros e médicos da emergência pré-hospitalar estão afectados.
Quanto à hipótese 3 – Existe correlação dos níveis de Burnout com a idade, sexo e tempo de serviço – verifica-se que, pelos valores de correlação de Pearson encontrados, aceitamos esta hipótese, uma vez que ter menor idade, ser do sexo masculino e ter menor tempo de serviço, apresenta correlação elevada com a dimensão exaustão emocional. Nas dimensões despersonalização e realização pessoal, a idade e o tempo de serviço correlacionam-se de forma baixa.
Relativamente à hipótese 4 – Existe correlação entre o Estado de Saúde/Qualidade de vida, com a idade, sexo e tempo de serviço e face aos valores de correlação de Pearson encontrados, não se rejeita esta hipótese, apesar de reflectirem uma correlação baixa.
Correlacionadas as variáveis das dimensões do MBI com as dimensões do SF-36, verificamos existir correlação entre o estado de saúde/qualidade de vida e os níveis de Burnout, apesar de só existir correlação entre duas (EE e DP) das três dimensões do Burnout, pelo que aceita-se a hipótese 5 – Existe correlação entre o estado de saúde/qualidade de vida e os níveis de Burnout.