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A TERCEIRA CONFERÊNCIA DA FPLN
14 de Fevereiro de 2005
Ex. Senhor Presidente da RTP,
Ontem, no programa da RTP sobre a morte do General Humberto Delgado, foi afirmado que ele tinha sido expulso da FPLN- Frente Patriótica de Libertação Nacional na sua 3 ª Conferência (realizada em Argel em finais de 1964) tendo em seguida fundado uma outra formação política.
Como participante na 3ª Conferência da FPLN desejo afirmar que tal não é verdade.
Nesta Conferência, que durou 5 ou 6 dias, não foi tomada qualquer decisão, nem de expulsão, nem minimamente condenatória do General Delgado e, no final, foi aprovada uma mensagem a ele dirigida com uma saudação e afirmando o desejo de um futuro bom entendimento.
A realização desta terceira Conferência tinha sido acordada entre o General Delgado e o Dr. Alvaro Cunhal, que no final do Verão tinha ido a Argel para procurar sanar desentendimentos entre os outros elementos da Junta de Acção Patriótica, orgão executivo da FPLN, e o General Delgado, que a presidia. No dia da abertura da Conferência, ou possivelmente desde a véspera, o General Delgado fez saber que não compareceria a ela, por entender que tinha sido reunida de um modo incorrecto.
Quando a Conferência acabou, o General tinha saido de Argel. Uns dias depois, fez divulgar um comunicado em que disse ter havido uma Conferência “junto à fronteira”, e nela ter sido mudado o nome da FPLN de “Frente Patriótica”, para “Frente Portuguesa” . Ficaram assim a existir em Argel duas FPLN, ambas provenientes da FPLN inicial. Os antigos escritórios, num 8º andar de um edifício no alto de Argel, continuaram na posse do General Delgado e a Frente Patriótica, dirigida por uma nova JAP, instalou-se num espaço disponivel ao nivel da rua noutro bairro de Argel. A nova JAP, sem Presidente, era formada por três representantes do PCP, do MAR - Movimento de Acção Revolucionária, e da Resistência Republicana e Socialista, e por três personalidades nomeadas na Conferência: os Drs. Piteira Santos e Manuel Sertório Marques da Silva e o Major Ervedosa.
Tendo ficado do lado da Frente Patriótica, não me apercebi, dramaticamente, de como o factor tempo estava a ser importante. Só em Janeiro de 1965, depois de ter ido a Paris falar com o Dr. Emídio Guerreiro, foi falar com o General Delgado. Uns dias depois, voltei a casa dele com o José Augusto Seabra, o Helder Veiga Pires e o Fernado Echevarria para o convidarmos a presidir ao jantar com que tencionavamos comemorar o 31 de Janeiro em Argel. O General propos, em vez do jantar, dar uma recepção em sua casa. Assim sucedeu. Nesta reunião foram tiradas algumas fotografias que estão publicadas em livros, entre elas uma do General Delgado ao lado do Adolfo Ayala e de quatro desertores. Foi a última vez que o vi. Quando saimos, à noite, sabiamos que ele ia correr um imenso perigo, mas já nada podiamos fazer.
Guardo o sentimento de que o General Delgado foi a Badajoz para repor, à posteriori, a verdade na “conferência junto à fronteira”, que deu a entender ser a portuguesa mas sem nunca o ter explicitado, e que considerou essencial para continuar a sua luta. A Pide serviu-se disso.
António Brotas
Participante na 3ª conferência da FPLN