Olá, estudante! Na lição anterior, aprofundamos os nossos conhecimentos sobre as principais estratégias utilizadas para uma empresa se posicionar dentro de um mercado altamente competitivo, como é o mercado do agronegócio. Destacamos, também, a importância do planejamento e da elaboração de estratégias sempre pensando a longo prazo, ou seja, pensando no futuro, fundamentais para o sucesso sustentável de uma empresa.
Nesta lição, abordaremos um tema que tem ganhado cada vez mais relevância: o bem-estar animal. Uma produção deve buscar sempre o equilíbrio entre a rentabilidade e o bem-estar dos animais da criação, os quais devem ser sempre tratados com respeito e dignidade, visto que o bem-estar animal, além de ser uma questão ética, é fundamental para a sustentabilidade.
Vamos aprender mais sobre isso?
Você sabe qual a importância do bem-estar animal para a Produção Animal? Como o bem-estar pode impactar a produtividade? Qual o resultado no produto? Qual a opinião dos consumidores? Qual a demanda? E o principal, como criar os animais dentro do conceito de bem-estar? Talvez, responder com firmeza todas essas perguntas ainda seja um desafio, mas o básico você já sabe: o bem-estar animal na produção animal é essencial. Nesse sentido, enquanto Técnico(a) em Agronegócio, seu papel será conscientizar os produtores quanto à importância das práticas éticas e sustentáveis.
Antes de assumir a responsabilidade de conscientizar outras pessoas, no entanto, é fundamental que você tenha argumentos sólidos e bem fundamentados. Por isso, é essencial que você se aprofunde nesses pontos e desenvolva seu conhecimento em relação ao bem-estar animal e sua importância na produção. Dito isso, vamos lá?
Para deixar ainda mais claro o quanto é importante o conceito de Bem-Estar Animal dentro da Produção Animal e Agronegócio, trago a você um relato envolvendo o assunto. O case de hoje se passa na fazenda da família Mendes, onde a preocupação com o bem-estar dos animais passou a ser tão fundamental quanto a eficiência produtiva. Inicialmente, a fazenda não dava a devida atenção a essas práticas. A mudança começou com a contratação da técnica em agronegócio Eliana, que trouxe uma nova perspectiva ao proprietário e aos funcionários. Eliana explicou, detalhadamente, os benefícios de adotar uma abordagem focada no bem-estar animal, enfatizando que todos os animais merecem dignidade e respeito.
Depois de um período na fazenda sede, Eliana foi designada para trabalhar em outra propriedade da família Mendes, uma propriedade produtora de leite. Durante a inspeção inicial, ela observou sinais de estresse nas vacas, resultado do confinamento excessivo nas áreas de alimentação. Consciente da gravidade da situação, Eliana organizou uma reunião com os funcionários, que foi muito mais do que um simples encontro. De maneira didática, Eliana ministrou uma aula sobre os impactos do estresse na produção de leite, abordando conceitos essenciais, práticas de manejo e a importância de priorizar o bem-estar animal.
Com base nas recomendações da técnica, foram realizados investimentos significativos nas instalações para melhorar o conforto dos animais e, principalmente, no treinamento dos funcionários. Após alguns meses, os resultados foram evidentes: as vacas estavam mais calmas, a produtividade e a qualidade do leite aumentaram, e o bem-estar dos animais foi claramente aprimorado. Além disso, a implementação dessas práticas atraiu a atenção dos consumidores, impulsionando as vendas graças ao marketing que destacou o compromisso com o bem-estar animal.
Sendo assim, este relato, mesmo que fictício, ilustra, de maneira clara, que adotar uma abordagem ética e focada no bem-estar animal melhora, significativamente, a vida dos animais e traz benefícios concretos para o negócio. Os resultados observados na Fazenda da Família Mendes mostram que a prática do bem-estar animal pode levar a uma maior produtividade e à qualidade dos produtos, além de impulsionar as vendas por meio de uma imagem positiva de marca. No entanto, como ressaltado anteriormente, é fundamental apresentar argumentos sólidos e bem fundamentados para demonstrar aos proprietários e aos funcionários os impactos positivos que o bem-estar animal pode ter. Fornecer evidências claras e exemplos práticos ajuda a convencer todos os envolvidos da importância de investir em práticas que promovam a dignidade e o respeito pelos animais, garantindo, assim, o sucesso tanto no aspecto ético quanto no econômico.
Vamos aprender mais sobre esse assunto?
Há diversas formas de conceitualizar o bem-estar animal. Broom (2011) caracteriza o termo bem-estar animal como um conceito científico, visto que descreve “uma qualidade potencialmente mensurável de um animal vivo em determinado momento” (Broom, 2011 p. 457). Já para Hughes (1982 apud Manteca et al., 2013 p. 4214): “O bem-estar corresponde a um estado onde o animal está em harmonia com a natureza ou com o seu ambiente.”, um conceito “menos científico” visto que o estado de harmonia não pode ser facilmente mensurado (Manteca et al., 2013). Dentro do contexto da visão global do bem-estar animal, precisamos ter sempre em mente que ele abrange diversas questões relacionadas ao tratamento dos animais e às condições em que esses animais vivem em todas as etapas de suas vidas, como:
Condições das instalações: os animais precisam ser alojados em um ambiente que atenda às suas necessidades, proteja-os contra a ação do ambiente e dos predadores, seja higiênico, confortável e com espaço adequado.
Manejo e transporte: tanto o manejo como o transporte dos animais deve evitar o estresse e a dor nos animais. Um manejo agressivo, com tapas e gritos, bem como um transporte sem as condições ideais e até mesmo nos horários mais quentes do dia, não são indicados, além de irem contra os preceitos do bem-estar animal.
Nutrição e dieta: a nutrição dos animais deve ser balanceada, garantindo o acesso do mesmo a todos os nutrientes necessários para a sua sobrevivência e a manutenção da sua vitalidade. A água deve ser limpa e em abundância.
Higiene e saúde: os animais devem ser vacinados, e possíveis ferimentos ou doenças devem ser tratadas, adequadamente.
Abate humanitário: o abate dos animais deve ser rápido, eficiente e indolor.
Ao avaliarmos os itens citados anteriormente, percebemos que eles se encaixam dentro dos Cinco Domínios – também chamado por alguns autores de Cinco liberdades – do Bem Estar Animal (Azevedo et al., 2020; Pereira et al., 2020): Liberdade nutricional: Livre de Sede e Fome; Liberdade sanitária: Livre de Dor, de Injúria ou de Doença; Liberdade ambiental: Livre de desconforto; Liberdade comportamental: livre para expressar o seu comportamento natural; e, Liberdade psicológica: Livre de medo e estresse.
Mellor et al. (2009 apud Da Silva Braga et al., 2018) enfatizam que os animais podem apresentar estados mentais positivos ou negativos, os quais são referentes às limitações impostas a eles, ou se as suas necessidades estão sendo atendidas. Nesse sentido, Mellor e Reid (1994) propuseram o conceito dos Cinco domínios do bem-estar animal, de forma a avaliar o bem-estar dos animais de maneira abrangente (Da Silva Braga et al., 2018). Os cinco domínios estão listados a seguir, conforme Da Silva Braga et al. (2018):
Nutrição: os animais devem ter as suas necessidades nutricionais e hídricas atendidas.
Ambiente: os animais devem viver em condições físicas e sociais adequadas, ou seja, devem viver em um local limpo, espaçoso, com qualidade de ar, temperatura e umidade ideal, livre para expressar seus comportamentos naturais e na presença de outros animais.
Saúde: os animais devem apresentar boa condição física, sem doenças ou outros problemas de saúde. Devem receber cuidados veterinários adequados.
Comportamento: os animais devem ser capazes de expressar seus comportamentos naturais, interagir com outros animais do ambiente, além de poderem explorar o ambiente e responder a estímulos.
Estado Mental: os animais devem apresentar um bom estado psicológico e emocional, ou seja, sem estresse, medo, dor ou ansiedade. Devem apresentar emoções positivas.
Apesar da mudança nas denominações (Liberdades ou Domínios) de acordo com cada autor, percebemos que se trata dos mesmos aspectos, os quais são de extrema importância. Um produtor rural precisa estar atento a esses pontos, sendo possível também criar estratégias para melhorar o bem-estar dos animais de produção, inclusive no sistema intensivo, o qual é considerado um dos sistemas de produção mais desafiadores dentro do conceito de bem-estar animal.
Como técnico(a) em agronegócio(a), pode ser que você venha a se deparar com o conceito dos três R’s do bem-estar animal, o qual surgiu das palavras em inglês: Reduction, Replacement e Refinement, que, em português, significam: Redução, Substituição e Refinamento. Esses princípios são utilizados dentro de uma abordagem ética na pesquisa com os animais, de forma a minimizar o sofrimento e a promover o manejo humanitário. Sendo assim, como mencionado, cada R significa uma palavra, e, por sua vez, cada palavra apresenta uma definição:
Busca utilizar o menor número de animais possível em uma pesquisa, sem comprometer os resultados. Por exemplo: métodos estatísticos e planejamento experimental.
Busca a melhoria das práticas de manejo e procedimentos experimentais, de forma a reduzir, ou mesmo eliminar o estresse, a dor ou o sofrimento dos animais de laboratório. Por exemplo: utilização de anestésicos e enriquecimento ambiental.
Busca substituir, sempre que possível, o uso de animais por métodos alternativos na pesquisa. Por exemplo: culturas de células e modelos de computador.
Por fim, podemos concluir o raciocínio com a citação de Azevedo et al. (2020 p. 2, grifo nosso):
O bem-estar animal está envolvido por um conjunto que permeia a boa nutrição, boa saúde, bom manejo, instalações adequadas e expressão de particularidades comportamentais de cada espécie, que são diretamente relacionados com características que interessam ao setor de produção animal, destacando-se: a expressão genética e característica da espécie, crescimento, ganho de peso, desempenho na reprodução, qualidade da carcaça e carne, inerte a doenças ou resistentes e segurança dos trabalhadores e animais.
Conforme estudado em lições anteriores, a questão do bem-estar animal é cada dia mais importante no contexto do marketing da produção animal e do agronegócio em si. A conscientização dos consumidores cresce a cada dia, e eles buscam produtos que tenham sido produzidos dentro das regras de sustentabilidade e bem-estar. E vale ressaltar que essa tendência não é apenas nacional, é mundial. Conforme Hotzel (2014), a preocupação dos consumidores tem levado vários países a ações comerciais e políticas, gerando mudanças na produção animal, como a proibição do uso de gaiolas de gestação para as matrizes suínas.
Neste contexto, produtores que buscam adequar a sua produção aos preceitos do bem-estar animal estarão em vantagem competitiva, visto que seus produtos atendem às demandas dos consumidores por práticas mais éticas e sustentáveis. Assim, para maximizar essa vantagem, é fundamental que os produtores contem com o suporte de um(a) Técnico(a) em Agronegócio, pois esse(a) profissional pode oferecer orientação especializada sobre as melhores práticas de manejo, auxiliando na implementação de sistemas que garantam o bem-estar dos animais, além de otimizar a produção e atender às exigências do mercado.
Se liga!
O conceito de bem-estar animal não vale apenas para os animais de produção. Animais utilizados em pesquisas científicas, animais de companhia (domésticos) e mesmo os animais de vida selvagem devem ser respeitados e em situação de bem-estar animal, conforme as suas exigências.
Querido(a) estudante, nesta lição, aprofundamos nossos conhecimentos em um tema atual e de extrema importância no contexto da Produção Animal: o bem-estar animal. Lembre-se: todos os animais possuem o direito de serem criados com respeito e dignidade, e, enquanto Técnico(a) em Agronegócio, você terá um papel essencial na promoção e na implementação dessas práticas. Você será responsável por garantir que os métodos de produção atendam às exigências do mercado, respeitando e promovendo o bem-estar dos animais. Sua atuação será fundamental para aconselhar produtores quanto às melhores práticas de manejo, a monitorar condições de criação e a promover a adoção de sistemas que assegurem a saúde e o conforto dos animais. Com seu empenho e sua dedicação, você fará uma diferença significativa no campo do agronegócio, promovendo práticas que respeitam os direitos dos animais e atendem às expectativas de uma sociedade cada vez mais consciente e exigente.
Agora, para que você possa compreender melhor a importância do bem-estar animal no contexto da produção, escolha uma espécie e realize uma pesquisa respondendo às seguintes questões:
Quais os conceitos de bem-estar para a espécie em questão?
Como avaliar se os animais dessa espécie estão em condições de bem-estar?
Existem regras (leis) visando ao bem-estar desta espécie no Brasil? E no exterior?
Crie uma marca fictícia e elabore um marketing em torno da questão do bem-estar animal na criação desta espécie.
Após concluir sua pesquisa, compartilhe e discuta seu trabalho com os colegas em sala de aula. Esse exercício permitirá a troca de ideias e de experiências, enriquecendo ainda mais o aprendizado sobre o bem-estar animal. Bons estudos!
AZEVEDO, H. H. F. et al. Bem-estar e suas perspectivas na produção animal. Pubvet, Lavras, v. 14, n. 1, p. a481, 2020.
BROOM, D. M. Bem-estar animal. Comportamento Animal, 2. edn, ed. Yamamoto, ME and Volpato, GL, p. 457-482, 2011.
DA SILVA BRAGA, J. et al. O modelo dos “Cinco Domínios” do bem-estar animal aplicado em sistemas intensivos de produção de bovinos, suínos e aves. Revista Brasileira de Zoociências, Juiz de Fora, v. 19, n. 2, 2018.
HÖTZEL, M. J. Sustentabilidade na agricultura e bem-estar animal: a interface social. Senciência e Bem-estar Animal Expandindo Horizontes, [s. l.], p. 98, 2014.
MANTECA, X. et al. Bem-estar animal: conceitos e formas práticas de avaliação dos sistemas de produção de suínos. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 34, n. 2, p. 4213-4229, 2013.
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