Olá, estudante! Na lição anterior, aprofundamos nossos conhecimentos sobre os pontos de vista técnico e administrativo na Produção Animal. Dessa forma, você compreendeu que, para administrar uma Produção Animal, você precisa utilizar não apenas o conhecimento técnico desta, mas aliar esse conhecimento ao ponto de vista administrativo, ou seja, visualizar essa produção como uma empresa, tão complexa como qualquer outra empresa existente em outras áreas. Dessa forma, você alcançará o sucesso como gestor!
Nesse contexto, como futuro técnico em agronegócio, gestor na área de Produção Animal e que visualiza essa produção como uma empresa, você precisará estar atento não apenas a empresa em si, seus custos, eficiência produtiva e lucros, mas também ao contexto onde esta empresa está inserida. Ou seja, você precisa ter uma visão sistêmica dessa empresa, a cadeia produtiva na qual está inserida e em quais cadeias estão ligadas, além da sua importância a nível nacional bem como a nível global. Vamos entender melhor esse assunto, e o porquê é tão importante esse conhecimento!
Imagine que você tenha iniciado o seu trabalho como gestor de uma cooperativa de produção de aves de corte. Como seria a sua visão para essa produção? Será que seria centralizada apenas nos produtores e em seus problemas cotidianos? Ou seria importante ter uma visão global/sistêmica?
Adianto que você precisaria estar atento a tudo o que ocorre em sua volta. Alguns questionamentos que você precisaria se fazer seria: Como está a cadeia produtiva da avicultura? E a cadeia produtiva do milho, principal ingrediente da ração das aves, como está? O que está ocorrendo a nível global? Doenças, conflitos? Como isso interfere na produção das aves? E o preço dos insumos? Do combustível? Qual o preço da carne? Qual valor estão pagando pelas aves?
Você precisará estar atento sempre a muitas informações a sua volta. Por isso, vamos aprender um pouco mais!
Para nos aprofundarmos nesse assunto, vamos acompanhar uma situação que aconteceu com a técnica de agronegócio de nome Amanda, que foi contratada para gerir uma fazenda de produção de gado de corte, pois ela queria agregar valor ao seu produto. Em um primeiro momento, a técnica em agronegócio detectou alguns pontos problemáticos na produção – iniciando pelo proprietário, João, que estava muito focado dentro da sua criação, esquecendo-se de olhar ao seu redor. João criava gado há várias décadas, entretanto, por não se atentar às mudanças, a sua produção não estava tecnificada, além de não acompanhar as tendências atuais de consumo.
Como o proprietário não possuía uma visão global de seu empreendimento, este apenas resolvia as questões dentro da própria fazenda, como o conserto de uma cerca quebrada, a vacinação dos animais ou a venda destes. E, por possuir pouco conhecimento sobre o mercado e suas oscilações, o Sr. João muitas vezes acabava não obtendo o lucro desejado.
Amanda iniciou a mudança dentro dessa propriedade. Sua primeira ação foi aconselhar o proprietário. Ao estar sempre atento às mudanças do mercado, a sua capacidade de negociação seria melhor e, em alguns casos, poderia até adiar ou antecipar alguma compra ou venda, prevendo futuras oscilações do mercado. Questões sobre sustentabilidade, bem-estar e tecnologias também foram discutidas, entrando em pauta para serem implementadas na propriedade, para que esta pudesse adquirir selos de qualidade que agregam valor ao produto. Após algum tempo, a propriedade do Sr. João aumentou efetivamente os seus lucros!
Portanto, através desse case, mesmo ele sendo fictício, podemos ver a importância de uma visão sistêmica além da produção a qual estamos inseridos. Vamos em frente!
Podemos definir a visão sistêmica como a compreensão e gestão de todos os processos que compõem a produção, de forma a compreendermos tudo o que a envolve, bem como as suas conexões e dependências. De acordo com Campanhol, Neto e Cavalcanti (2001, p.7) a visão holística – ou seja, a visão de um “todo” integrado - no conceito da administração, afirma que:
Uma variedade de fatores, internos e externos, afetam o desempenho da organização, a qual é analisada como um conjunto único da união desses fatores, e não pelos seus elementos isolados. O fato é que, no presente, não existe uma única só maneira de administrar e organizar, pois as circunstâncias variam de acordo com o ambiente no qual a empresa está inserida.
Trazendo esse conceito para a Produção Animal, compreendemos que ela deve ser visualizada como um sistema integrado, ou seja, cada área dessa produção é influenciada por outras áreas, tanto dentro como fora da produção em si.
Por exemplo, em uma produção animal, todas as áreas estarão integradas e influenciam na produção final e a sua rentabilidade, desde fatores internos à produção, como a genética dos animais, o manejo, a nutrição e a sanidade, até a fatores como o preço dos insumos, o valor do dólar, as mudanças climáticas e até mesmo acontecimentos do outro lado do mundo.
Mas como isso é possível?
Podemos utilizar como exemplo o principal gasto com a produção animal: a sua alimentação. Em criações de frangos, por exemplo, o milho e o farelo de soja são os dois principais grãos utilizados na formulação das rações. Caso ocorra uma mudança climática que diminua essa produção, os preços aumentarão! Ademais, insumos importados de outros países para a produção desses grãos, como os fertilizantes, podem ficar em falta caso ocorra uma guerra nos países exportadores, como vimos na Lição 1.
Como sabemos, a Produção Animal faz parte do agronegócio e está inserida em diversas de suas cadeias produtivas. Por isso, ao visualizarmos a produção não apenas como “a produção em si”, e sim considerando todos os elos envolvidos nessa produção a nível nacional e mundial, conseguimos planejar e gerir uma produção de forma mais eficiente e produtiva. Lembre-se: como visto na Lição 1, o mundo é globalizado, portanto, o que ocorre do outro lado do mundo, por muitas vezes, importa. A seguir, vamos adentrar alguns exemplos.
Em 1998, Pinazza e Alimandro escreveram um artigo intitulado: ‘Visão Global do Futuro’ em relação à produção de proteína animal. Naquela época, questões como a febre aftosa tiravam o sono dos produtores, o Brasil avançava a cada dia mais no mercado internacional e as indústrias se tornavam cada vez mais inovadoras e competitivas. Dessa forma, os autores ‘previam’ como seria o mercado de carnes em 2007, até então um futuro distante.
Qual a relevância desse estudo? Se os produtores brasileiros só pensassem em produzir, sem olhar para as tendências, as mudanças do mercado e a competitividade, provavelmente o Brasil não seria a grande referência em produção animal que é hoje.
As políticas internas, como as legislações e impostos vigentes, incentivo a agricultura e a pecuária e até a relação diplomática do Brasil com os países importadores dos nossos produtos, importam. Ademais, o valor da moeda nacional frente ao dólar e o euro, principais moedas utilizadas na importação e exportação, também importam, e muito. Conforme Ferreira et al. (2019), quando o dólar está forte frente ao real, o mercado exportador abre vantagem (ou seja, os produtores brasileiros obtém mais lucro ao exportar) ao mesmo tempo em que o mercado importador sofre, pois necessita de mais moeda brasileira para importar um produto e pagar em dólar (por exemplo: os insumos importados ficam mais caros). Por isso, é tão importante um valor de moeda equilibrado, para que ambos os lados se beneficiem.
Conforme citado anteriormente, os conflitos entre outros países também podem afetar a Produção Animal. De Tamarindo e Pires (2022), a guerra entre a Rússia e a Ucrânia levou ao rompimento do mercado de fertilizantes. O Brasil depende da importação de fertilizantes russos para a agricultura, e a Produção Animal depende da agricultura para alimentar os seus animais. Portanto, mesmo o Brasil não estando envolvido em um conflito do outro lado do mundo, nossa produção é afetada.
Sabemos que, de nada adianta uma excelente produção se não houver para quem vendê-la. Diariamente, novas pesquisas são publicadas acerca do perfil dos consumidores de produtos de origem animal. O consumidor de sua empresa pode ser um país que exige o cumprimento de regras de criação e a obtenção de selos para comprar o seu produto, ou pode ser a população de uma região que não esteja disposta a pagar mais caro por isso, como no estudo de Conceição da Silva et al., (2020). A cada dia novas tendências estão em pauta, sendo que o perfil do consumidor é dinâmico e pode mudar com o passar do tempo. Conhecê-los e estar sempre atento é fundamental, além de fazer parte de uma visão globalizada em relação a sua área de produção.
Atualmente, acompanhamos com frequência a mudança no valor do preço dos combustíveis. Não podemos interpretar uma alta nos valores do combustível apenas por uma visão centralizada, como o custo da próxima viagem de férias. O combustível é necessário para abastecer as máquinas agrícolas que irão trabalhar na lavoura, que por sua vez produzirá o alimento dos animais. Esse alimento precisará ser levado para a propriedade do animal, o que acarretará mais custos de produção. Por fim, o produto da produção animal, precisará de combustível para o transporte até a unidade de beneficiamento e o consumidor final. Ao final, o produtor receberá menos pelo seu produto, e estes também ficarão mais caros na prateleira do supermercado.
Se Liga!
A pandemia do COVID-19 alterou toda a economia mundial, e o agronegócio não ficou de fora. De acordo com Silva, Rodrigues e Yamashita (2021), a restrição em vários setores relacionados ao consumo (restaurantes, lanchonetes e afins), importação, exportação, transporte e produção, como a produção de insumos, impactaram grandemente o agronegócio brasileiro, levando ao aumento dos custos de produção, obrigando os produtores a inovar, enquanto lidavam com as incertezas do período. Um bom gestor, nesse momento, fez diferença total!
Lembre-se, como gestor de uma propriedade de produção animal, a sua visão de forma sistêmica será fundamental para uma produção eficiente. Por exemplo, em uma produção de gado de corte, você precisará estar sempre atento a fatores como: quais as novas tendências em relação à pecuária? Quais as novas tecnologias? O que o mercado espera dos produtores? Como posso inovar a minha produção?
A produção animal é uma empresa! E cabe a você fazer dela uma grande empresa (e não estamos falando apenas no tamanho físico)!
Estudante, nesta lição, aprofundamos ainda mais os nossos conhecimentos sobre a gestão na Produção Animal. Como futuro técnico em agronegócio, você precisará estar sempre atento a tudo que acontece ao seu redor, e como isso pode impactar na área em que você está inserido. Sendo assim, para que você possa aprofundar ainda mais os seus conhecimentos acerca da visão sistêmica na Produção Animal, escolha uma produção do seu interesse e responda às seguintes questões:
Por exemplo: Produção de ovos de codorna.
Qual o maior produtor mundial? Em que posição o Brasil se encontra?
Qual o principal nicho consumidor dessa produção? Quais as tendências de consumo?
Quais são as previsões para o futuro dessa produção no Brasil e no mundo?
Quais os principais custos de produção?
Quais as principais cadeias produtivas interligadas? Como as alterações nessas cadeias podem impactar a produção?
Você pode adicionar mais perguntas ao seu questionário, de acordo com o encontrado em sua pesquisa. Apresente os seus resultados para os colegas para a troca de conhecimento e de informações.
Bom trabalho!
CAMPANHOL, E. M.; NETO, S. C.; CAVALCANTI, M. F. Os caminhos da gestão sistêmica nas organizações. Silva, v. 143, 2001, p. 4.
SILVA, W. C. D. et al. Percepção do consumidor de proteína animal sobre o bemestar dos animais de produção em Santarém, Pará, Brasil. CES Medicina Veterinaria y Zootecnia, v. 15, n. 2, p. 64-74, 2020.
FERREIRA, J. C. M. G. et al. Dólar: impactos das flutuações para a importação e exportação brasileiras. III Seminário de Ensino, Pesquisa e Cidadania em Convergência, v. 28, 2019, p. 28.
SILVA, M. C. M.; RODRIGUES, J. M. A.; YAMASHITA, O. M. Impacto Da Pandemia De Covid-19 No Agronegócio Brasileiro. In: Colloquium Socialis. ISSN: 2526-7035. 2021. p. 63-70.
TAMARINDO, U. G. F.; PIRES, M. C. A guerra entre Rússia e Ucrânia e a crise dos fertilizantes ao agronegócio brasileiro. Disponível em: https://www.marilia.unesp.br/Home/Eventos/2022/ubirajara-garcia-ferreira-tamarindo.pdf. Acesso em: 29 set. 2023.