Olá, estudante! Na lição anterior, nos aprofundamos sobre a importância e as principais ferramentas utilizadas para aumentar a rentabilidade da Produção Animal. Para que uma produção seja eficiente, essa precisa de rentabilidade, ou seja, além de dar lucro, precisa pagar o investimento que foi realizado para que ela existisse. Um dos pontos de rentabilidade destacados na lição passada foi em relação à mão-de-obra. Os funcionários de uma propriedade precisam resultar em um rendimento positivo para o produtor, ou seja, é o funcionário quem “paga” o seu próprio salário.
Atualmente, com a tendência à tecnificação das produções, há uma necessidade maior da qualificação dos profissionais que trabalham no meio rural, sendo esse um dos desafios para o gestor da produção. Um gestor competente, dentro de uma fazenda, domina não apenas as práticas operacionais, mas também os princípios de gestão de pessoas, promovendo a coesão, motivação e rentabilidade da equipe.
Sabendo disso, aprofundemos nossos conhecimentos nesse assunto.
Como futuro técnico em agronegócio, imagine que lhe contrataram para gerenciar uma produção de leite em uma fazenda distante da cidade. Além de se atentar às questões técnicas e financeiras da empresa, você precisará, também, gerenciar uma equipe composta pelos funcionários da produção, como a ordenha e a lida com o gado, e pelos colaboradores de outros setores fundamentais para o bom funcionamento da propriedade, como da limpeza e o administrativo.
Você saberia lidar com todas essas pessoas e as suas diferenças? Quais seriam as suas ações para manter a equipe unida? Como manteria os profissionais motivados para continuar o trabalho na fazenda? Quais seriam as suas estratégias para contratar os melhores profissionais da região (e, consequentemente, os mais disputados)? Para superar esse desafio, como gestor, você precisará entender de relações humanas, e, para ser um bom líder, você precisará se portar como tal: resolvendo problemas, incentivando, motivando e liderando pessoas. Por onde começar?
Para que você compreenda melhor sobre a importância do relacionamento humano dentro da propriedade rural, acompanharemos mais um case fictício sobre uma técnica de agronegócio chamada Amanda, que foi contratada para gerenciar uma granja de produção de suínos.
Ao iniciar o seu trabalho como gestora, Amanda percebeu que a granja possuía um grande potencial produtivo devido aos grandes investimentos realizados pelos seus proprietários nos últimos anos, que levaram à redução de custos e, consequente, ao aumento da produtividade. Entretanto, avaliando as entrelinhas, Amanda percebeu que a granja ainda não alcançava todo o seu potencial produtivo, em face dos investimentos realizados.
Ao pesquisar mais a fundo, Amanda encontrou o gargalo da produção da granja em questão: a mão-de-obra. A rotatividade dos funcionários era alta, pois eles se sentiam constantemente desmotivados pelo antigo gestor. Ademais, não receberam nenhuma capacitação acerca das novas tecnologias implantadas na propriedade, e alguns deles, inclusive, se mostravam resistentes às mudanças.
Tendo em vista essa questão, Amanda iniciou o seu trabalho focado nos funcionários da propriedade. Em primeiro lugar, a técnica realizou um curso de atualização com a equipe, explicando-os sobre as novas tecnologias e como elas eram importantes para a produção. Ademais, trouxe cursos de capacitação acerca de pontos básicos sobre o manejo dos animais. Além disso, implementou: melhorias no transporte e no refeitório, plano de carreira, novos EPIs (equipamentos de proteção individual), funcionário do mês (reconhecimento), maior frequência de cursos de capacitação e atualização, participação nos lucros e bonificação por bons resultados.
Todas essas implementações levaram a uma maior produtividade e, com a maior produção (e, consequentemente, lucratividade e rentabilidade) o salário dos funcionários aumentou, o que atraiu os melhores profissionais da região para trabalhar na granja. Ademais, Amanda focou na comunicação com a sua equipe, lembrando sempre de um ponto crucial: como gestora, precisava assumir uma posição de liderança, e isso é totalmente diferente da posição de “mandona”.
Compreendamos melhor esses desafios!
O agronegócio brasileiro se responsabiliza por grande parte da contribuição do PIB (produto interno bruto) do país, bem como é um dos maiores exportadores de produtos oriundos do agronegócio para todo o mundo. Nesse contexto, o Brasil tornou-se um modelo para outros países que buscam aumentar a eficiência desse setor. Contudo, nem sempre foi assim. Conforme dados da EMBRAPA, a produção rural mudou muito nos últimos anos, com o Brasil passando de importador para exportador de alimentos. Essa mudança ocorreu ao longo dos anos, mas é relativamente recente, aparecendo especialmente nos últimos 40 a 50 anos.
Apesar da modernização da agricultura e da pecuária, ainda existem muitos desafios a superar, como a alta porcentagem de pastagens degradadas, a alta concentração de capital em poucas propriedades rurais, o mau uso dos recursos naturais, entre outros fatores (EMBRAPA, 2018). Breitenbach (2014) complementa que o Brasil apresenta duas realidades opostas dentro do agronegócio:
A realidade promissora: atividades de alta produtividade a um custo aceitável, produtos de qualidade, agroindustrialização, selos de qualidade, valorização do produto regional e geração de renda expressiva para os produtores.
A realidade carente: atividades com escassez de recursos, baixa produção e produtividade, nenhuma agregação de valor, o que leva à descapitalização dos produtores, e até a venda da propriedade e migração para os centros urbanos, em alguns casos.
Vilpoux (2020) pontua que, para as propriedades rurais tornarem-se competitivas, diversas estratégias de produção foram necessárias em relação ao mercado nacional e internacional, buscando sempre aumentar a produção com eficiência, manter a qualidade do produto e o baixo custo de produção; e é nesse ponto que entra a importância do Gestor da Produção dentro do Agronegócio, visto que é por meio de um bom gestor que essas estratégias chegam até os produtores rurais.
Apenas o conhecimento técnico e financeiro é o suficiente?
Já se estudou nas lições passadas sobre a importância da junção entre o conhecimento técnico e financeiro na gestão da produção animal. Nesse contexto, Comin et al. (2017) pontuam que a melhor eficiência produtiva de uma empresa depende da utilização adequada dos recursos: materiais, tecnológicos, financeiros e humanos. Afinal, uma empresa, acima de tudo, compõe-se por pessoas.
A gestão de pessoas foca na capacidade do gestor em liderar, desenvolver, comunicar, capacitar, evoluir e, principalmente, motivar a sua equipe. Conforme Barros e Martiniuk (2021), por meio da implementação de técnicas adequadas para a capacitação do funcionário, aliadas à comunicação e o conhecimento de suas necessidades, a gestão de pessoas pode fazer uma grande diferença dentro do contexto do agronegócio. Comin et al. (2017) complementam: o alinhamento entre as necessidades e interesses da empresa com as necessidades e interesses dos funcionários tem a capacidade de influenciar positivamente o desempenho da produção.
Ademais, Furtado e Vasconcelos Ramos (2019) citam algumas áreas a considerar na gestão de pessoas, como: relacionamento interpessoal, desenvolvimento profissional, motivação, trabalho em equipe, planejamento, flexibilidade, liderança, entre outros.
A gestão de pessoas está cada dia mais presente na produção rural, pois, mesmo com a implementação crescente de novas tecnologias na produção, a mão-de-obra humana ainda é primordial. Portanto, não basta apenas investir em novas tecnologias para a produção, deve-se também focar na capacitação dos profissionais que trabalharão com essa tecnologia, dando-lhes todas as condições necessárias para que realizem o seu trabalho de forma eficiente.
El-Memari Neto (2019), em seu livro sobre gestão na pecuária, cita que “a fazenda é um organismo vivo, em constante movimento. Para que o projeto deixe de navegar à deriva e dê passos largos em direção ao sucesso, é preciso ter controle sobre as suas áreas técnicas, financeiras e, por fim, de pessoas”. Além disso, ainda pontua que, na pecuária, muitos profissionais subestimam a importância da gestão de pessoas dentro da fazenda, focando apenas na parte técnica e financeira. Entretanto, para que uma meta se torne realidade, precisamos de uma equipe! E esse conceito se aplica em todas as áreas da produção animal.
Um bom gestor tem sempre em mente: não basta apenas investir em novas tecnologias, se não houver pessoas qualificadas para trabalhar com elas.
Conforme já dito, não adianta investir altos valores em novas tecnologias, se não houver profissionais capacitados e dispostos a trabalhar com elas. O gestor dentro da propriedade rural, portanto, dispõe de algumas das principais ferramentas de gestão de pessoas, como:
Crescimento, capacitação e perspectivas: A importância da Motivação
Santos (2021, p. 268) pontua que:
As empresas fazem parte de um processo fundamental da motivação, sendo responsáveis pela interação dos colaboradores com o ambiente externo visando o crescimento de ambos, fazendo com que o ambiente seja favorável e mútuo. A motivação é a única capaz de fazer com que a organização se mantenha ativa em meio a competitividade, pois colaboradores motivados são suficientemente capazes de produzir mais e atingir os objetivos organizacionais.
Manter os profissionais motivados não é fácil, visto que cada pessoa possui as suas particularidades, conforme o contexto no qual cresceu e se insere. A motivação é interna, mas a sua influência é externa. Por sua vez, o gestor utiliza das ferramentas disponíveis para aumentar a motivação dos profissionais da propriedade. Um profissional com perspectivas de crescimento tende a ser um profissional motivado.
Uma das formas de motivação é por meio de cursos de capacitação para os profissionais, para que esses adquiram novos conhecimentos e habilidades, bem como fiquem por dentro das novas tecnologias disponíveis. Essa via é de mão dupla, visto que profissionais atualizados otimizam a produção. A capacitação é um ponto de importância também entre os pequenos produtores, geralmente da produção familiar, visto que eles normalmente apresentam resistência a novas tecnologias e afins. No estudo de Carvalho e Peres (2015), por meio de cursos de capacitação, os produtores de uma cooperativa diminuíram a sua resistência em atender os pedidos dos gestores da cooperativa, levando à redução de custos, aumento da produtividade e maior satisfação dos colaboradores com a empresa. Como sabemos, profissionais satisfeitos são profissionais motivados!
Processo Seletivo
Considera-se o processo seletivo como a primeira ferramenta utilizada, caso ainda não haja um colaborador disponível para realizar uma função em específico. O recrutamento visa a contratação de um profissional com as características desejadas para a função, e não falamos apenas das habilidades técnicas; fatores como compromisso, responsabilidade, comunicação e espírito de equipe fazem parte das características desejadas. Para isso, após a análise do currículo, realizam-se entrevistas com os candidatos.
Faixa Salarial: A principal motivação?
Outra maneira de atrair bons colaboradores é o valor pago. Um funcionário que recebe um valor justo pela função que exerce tende a ser um profissional motivado a dar o seu melhor a cada dia. Um bom salário faz a propriedade em questão adquirir os melhores profissionais disponíveis na região. Entretanto, mesmo com um alto salário, o profissional tende a buscar outra alternativa, caso o ambiente de trabalho não seja adequado. Conforme Santos (2021), o reconhecimento é outra excelente ferramenta para manter a motivação do colaborador. O ambiente de trabalho e as relações dentro dele podem motivar os profissionais, caso sintam-se valorizados e reconhecidos. Infelizmente, o oposto também ocorre. Em alguns casos, empresas perdem bons profissionais devido à falta de uma boa gestão de recursos humanos.
Liderança
Conforme Oliveira (2017), um líder é aquele que influencia outras pessoas a agirem conforme seus interesses e comandos. Essa liderança acontece de várias formas: por meio de palavras, promessas de recompensas e, em alguns casos, obviamente não recomendados, até ameaças. Um bom líder passa confiança e estimula a sua equipe, influenciando, principalmente, pelo seu comprometimento e exemplo. Um bom líder influencia de forma ética e positiva, tendo em mente que é o responsável tanto pelo sucesso como pelo fracasso de uma produção.
Alguns conceitos importantes
Liderar é diferente de apenas ordenar. Um bom gestor é um líder! Um bom gestor precisa, acima de tudo, estudar sobre pessoas e conhecer a sua equipe. Para isso, existem diversas formas de engajar a equipe e várias coisas a implantar na fazenda, como a participação nos lucros, bonificação por produtividade, reconhecimento pelo bom trabalho, cursos de capacitação, plano de carreira, melhores salários, mas, acima de tudo, uma boa comunicação para a resolução de conflitos e um bom ambiente de trabalho aliado a boas condições de trabalho. Para que tudo dê certo, a melhor opção é se colocar no lugar de um funcionário e imaginar como você gostaria de ser tratado!
Nessa lição, aprendemos sobre a importância da gestão de pessoas dentro de uma propriedade. Muitos profissionais imaginam que, trabalhando em uma propriedade rural, ficarão longe de pessoas e apenas em contato com os animais. Contudo, a realidade é bem diferente. Por isso, a melhor opção é preparar-se para lidar com a situação! Um bom gestor influencia as pessoas de forma ética e positiva. A produção animal, mesmo as mais tecnificadas, sempre será composta por pessoas, que, quando felizes e motivadas, realizarão o seu trabalho da melhor forma possível.
Agora, para que você fixe bem o conteúdo estudado nessa lição e compreenda a sua importância na área de gestão da propriedade rural, imagine que o contrataram para liderar uma equipe de uma fazenda de produção animal. Diante disso, realize uma pesquisa sobre gestão de pessoas dentro da propriedade rural e escreva um texto expondo quais ferramentas você utilizaria para engajar a sua equipe. Pontue, no mínimo, dez ações que você poderia realizar e analise como resultariam na melhor produtividade da fazenda.
Em sala de aula, compartilhe o conhecimento com os seus colegas por meio de uma roda de discussão. Bom trabalho!
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