Estudante, na lição anterior, aprofundamo-nos nas principais tendências do mercado na produção animal, tanto em âmbito nacional como internacional. Esse conhecimento é importante, pois, como futuro técnico em Agronegócio, você precisará estar atento ao mercado, as suas tendências e variações para realizar uma boa gestão.
Nesta lição, relembraremos um assunto extremamente importante, já abordado na Lição 1 da disciplina de Gestão em zootecnia I: As cadeias de produção. Esse assunto é de extrema importância, visto que praticamente todos os pontos vistos até agora e os que serão ainda abordados nesta disciplina engloba as etapas da cadeia produtiva! Afinal, um bom gestor sempre está atento a toda cadeia de produção, e não apenas na etapa a qual está trabalhando de forma direta. Sendo assim, vamos relembrar esse assunto!
Grande parte dos produtos agroalimentares sofreram sucessivas transformações até chegarem à nossa mesa. Por exemplo, vamos pensar no queijo. Esse produto percorreu várias etapas, desde a tecnologia empregada na genética dos pais da bezerra, que nasceu, foi alimentada, medicada, cresceu, produziu o leite que foi beneficiado, transformado em queijo e transportado até o supermercado.
Entretanto, o que acontece quando essas etapas de produção não estão organizadas? Como o desbalanceamento de uma das etapas da cadeia produtiva pode afetar as outras etapas? Como as alterações em uma cadeia produtiva podem afetar as cadeias interligadas? Saber responder esses questionamentos faz parte dos requisitos básicos para um técnico em Agronegócio, por isso, é essencial se aprofundar no assunto quando falarmos sobre as cadeias produtivas!
Para que você possa compreender a importância das cadeias de produção para o sucesso de uma produção, atente-se à história de Luana, uma técnica em agronegócio, que foi contratada por uma grande propriedade de leite, com o intuito de auxiliar na gestão. Para que Luana possa gerir a propriedade de forma adequada, ou seja, de forma eficiente e lucrativa, a técnica precisa estar atenta não apenas a produção em si (criação dos animais, ordenha, manejo e afins), mas também a todas as etapas anteriores e posteriores a essa produção.
De nada adianta Luana focar apenas na alta produtividade das fêmeas se esta não se atentar a alguns pontos igualmente importantes, como o valor dos insumos utilizados nessa criação – especialmente o valor da alimentação, que corresponde em média a 70% dos custos de produção –, a logística de transporte do leite até as unidades beneficiadoras e os seus possíveis compradores, ou seja, o mercado consumidor.
Com a cadeia produtiva em mente, Luana começou a gerenciar a produção de forma abrangente e eficiente. Ela reconheceu que o sucesso não dependia apenas da qualidade e quantidade do leite produzido, mas também da otimização de custos, da coordenação logística eficaz e da compreensão das necessidades e preferências dos consumidores. Nesse sentido, ela aprendeu que o sucesso de uma produção está intrinsecamente ligado a todos os elos da cadeia, desde a alimentação dos animais até a entrega do produto ao cliente. Com essa visão, Luana estava pronta para transformar a fazenda de laticínios em um exemplo de gestão eficiente e lucrativa.
Viu só como é realmente muito importante considerar toda a cadeia de produção?
De acordo com Batalha (1997 apud VIAL; SETTE; SELLITTO, 2009), uma cadeia produtiva pode ser definida como a soma de todas as operações de produção e comercialização necessárias para que uma ou mais matérias-primas se transformem no produto final e cheguem até as mãos do consumidor. Simi e Saldanha (2018, p. 27) ainda complementam dizendo que “trata-se de um sistema organizado, com etapas consecutivas de transformação ou incorporação de insumos, que irá gerar, no final da cadeia, um bem ou serviço.”
Devido ao fenômeno da globalização e a evolução da tecnologia, dos processos de produção, do mercado consumidor e das ferramentas de gestão, o conceito de cadeia produtiva tem se aprimorado a cada dia (SILVA, 2007). No Brasil, apenas no agronegócio, diversas cadeias produtivas possuem destaques, como os cereais, as frutas, o açúcar e, obviamente, os produtos de origem animal, é por isso que o agronegócio é tão importante para a economia do nosso país (SIMI; SALDANHA, 2018).
As cadeias produtivas são interligadas e dependentes umas das outras, por exemplo, a dependência da cadeia produtiva da carne para a cadeia produtiva do milho, principal fonte de alimento para os animais de produção. É por esse motivo que o impacto em uma cadeia produtiva, como a baixa produção de milho, também impacta em outras cadeias produtivas, pois estão interligadas (SILVA, 2007).
Conforme visto anteriormente, as cadeias de produção são formadas por cinco etapas básicas, que funcionam em conjunto para que o processo produtivo ocorra de forma satisfatória (MALINSK, 2018). Vamos relembrá-las?
A etapa dos insumos pode ser definida como a etapa onde estão as “ferramentas” necessárias para uma produção eficiente, por exemplo, os medicamentos, os grãos para alimentação dos animais, os materiais utilizados no manejo, as sementes e os fertilizantes (no caso de produtores que não compram a ração pronta), as pesquisas para o desenvolvimento de novas tecnologias, entre outros.
Outro ponto importante a se saber sobre essa etapa é que o valor e a disponibilidade dos insumos podem impactar a produção final. Um exemplo prático para compreender essa situação é dado por Torres, Lima Filho e Belarmino (2013) que indica que, ao compararmos a produção de suínos na região Centro-Oeste em relação à produção na região Sul, a região Centro-Oeste apresenta uma vantagem devido ao menor preço do milho e do farelo da soja. Entretanto, há um gasto maior em relação à mão de obra nessa região.
Essa passagem significa que a região Centro-Oeste do país tem uma vantagem competitiva na produção de suínos em comparação com a região Sul devido ao fato de que os custos dos principais insumos, como o milho e o farelo de soja são mais baixos na região Centro-Oeste. Em outras palavras: é mais barato para os produtores de suínos adquirirem alimentos para seus animais na região Centro-Oeste em comparação à região Sul. No entanto, a mesma passagem também indica que na região Centro-Oeste os custos de mão de obra são mais altos em relação à região Sul. Isso significa que, embora os insumos sejam mais baratos, os produtores podem enfrentar maiores despesas com a contratação de trabalhadores na região Centro-Oeste. Há ainda outro importante fator envolvido, a logística de transporte, visto que a distância até os principais portos do país é significativamente maior na região Centro-Oeste em relação à região Sul. Portanto, a vantagem inicial relacionada ao menor preço dos grãos, acaba sendo reduzida devido a outras logísticas envolvidas ao longo da cadeia produtiva (TORRES; LIMA FILHO; BELARMINO, 2013), ou seja, a escolha da localização geográfica afeta os custos de produção, considerando tanto o custo dos insumos quanto os custos relacionados à mão de obra. Sendo assim, esse exemplo ilustra a complexidade da gestão de uma operação agrícola ou pecuária, em que muitos fatores precisam ser considerados para tomar decisões eficazes e rentáveis.
A segunda etapa é a produção em si. Nessa fase, os insumos recebidos da etapa anterior são utilizados para obtenção do produto final. Para ilustrar isso, considere o exemplo das vacas leiteiras. Os insumos adquiridos como ração e cuidados com a saúde animal são essenciais para a criação e manutenção das vacas. Esses animais são ordenhados regularmente para obter o leite, que é o produto final dessa fase do processo, ou seja, essa etapa é onde a transformação real ocorre, pois os recursos fornecidos, com o trabalho dedicado, convertem-se no produto desejado.
Na terceira etapa, ocorre o processamento do produto para o consumo. No exemplo do leite, é nessa fase que ele passa por um processo de beneficiamento, que pode incluir a pasteurização, o envase em recipientes apropriados e a preparação para o transporte. Além disso, nessa etapa, o leite pode ser transformado em produtos derivados, como queijo, iogurte ou outros produtos lácteos.
Podemos utilizar também a palavra “transporte” para definir a quarta etapa, pois é o momento em que os produtos prontos são transportados até as distribuidoras. Apesar de parecer uma etapa simples, fatores como a logística de transporte (rodoviário, aéreo, marítimo, ferroviário), a qualidade das estradas, das ferrovias e o preço dos combustíveis podem impactar toda a cadeia de produção.
Um bom exemplo da importância da logística de transporte e distribuição dos produtos é dado por Torres, Lima Filho e Belarmino (2013. 16), que enfatizam os efeitos da estrutura de transporte na exportação da carne suína, comparando as diferentes regiões brasileiras:
O padrão logístico predominante não apenas reduz a competitividade brasileira em relação aos concorrentes internacionais, como também afeta a competitividade da região Centro-Oeste em relação à região Sul, por causa da maior interiorização daquela região e dos maiores custos de transporte até os principais portos de exportação de carnes, todos situados no Sul e no Sudeste do País. Em um país de dimensões continentais, predomina o modal rodoviário e faltam alternativas de escoamento pelos portos do Norte, mais próximos dos principais importadores. Além de impactar na competitividade, o atual padrão logístico também contribui para maior emissão de GEE (gases do efeito estufa).
Portanto, como visto na primeira etapa (insumos), a região Centro-Oeste começou a cadeia produtiva em vantagem devido ao preço do milho e da soja na região, entretanto, a logística de transporte – especialmente para exportação – reduziu significativamente a vantagem inicial (TORRES; LIMA FILHO; BELARMINO, 2013).
Na última etapa do processo, o produto finaliza sua jornada e está pronto para ser disponibilizado ao consumidor final. Conforme mencionado por Silva (2007), nesse ponto, o mercado consumidor pode ser tanto doméstico (nacional) quanto externo (internacional), dependendo da estratégia da empresa ou do produtor.
Conforme visto brevemente na Lição 2, existe ainda uma segunda divisão na cadeia produtiva, sendo essas batizadas de: antes da porteira, dentro da porteira e depois da porteira (RODRIGUES, 2007). Ademais, alguns autores ainda podem conceituar como: antes, dentro e depois da fazenda. Vamos relembrar essas etapas:
Conforme Simi e Saldanha (2018), a fase anterior à porteira, ou seja, antes de adentrar à fazenda e a produção em si, engloba os serviços necessários para a produção agropecuária, como os fertilizantes, sementes e rações, medicamentos e vacinas, a mão de obra e até as pesquisas que visam ao desenvolvimento de novas tecnologias. Portanto, essa fase engloba a primeira etapa da divisão anteriormente citada: a etapa dos insumos.
A segunda fase também incorpora a segunda etapa da divisão anterior, sendo a fase em que ocorre a produção propriamente dita e o trabalho dos empreendedores rurais (SIMI; SALDANHA, 2018).
Por fim, a terceira e última fase engloba as Etapas 3, 4 e 5 da divisão anterior: indústria, transporte e consumidor final. Nessa fase, são realizadas as logísticas para o beneficiamento, armazenamento e transporte do produto até a sua comercialização (SIMI; SALDANHA, 2018).
Conforme Silva (2007), ao compreendermos o conceito de cadeia produtiva, conseguimos visualizar uma cadeia de forma integral, identificar os seus pontos fortes e fracos e os seus principais gargalos. Dessa forma, compreendemos a sua dinâmica e os impactos decorrentes de ações internas e externas a esta, o que contribui para uma gestão produtiva eficiente. Lembre-se de que as cadeias produtivas são de extrema importância não apenas para o comércio nacional, mas para o comércio de todo o planeta!
Querido estudante, nesta lição aprofundamos os nossos conhecimentos sobre as cadeias de produção, um assunto considerado base no entendimento do Agronegócio. Afinal, para que o agronegócio seja eficiente, a cadeia produtiva precisa estar organizada e em harmonia. Ademais, quando um dos “elos” de uma cadeia produtiva não vai bem, ou se uma cadeia de produção interligada estiver com problemas, a cadeia de produção estudada também sofrerá os impactos!
Vimos, nesta lição, as etapas das cadeias de produção e suas principais características de uma forma geral, citando a produção de leite e queijo como principais exemplos. Entretanto, cada cadeia produtiva possui as suas particularidades, sendo assim, em algumas cadeias, pode ocorrer algumas alterações nas etapas básicas! Portanto, para que você possa internalizar esse conhecimento, escolha uma cadeia produtiva de sua preferência (por exemplo: cadeia da carne suína, cadeia do leite, cadeia do couro, cadeia dos laticínios) relacionada à produção animal. Construa um mapa mental da cadeia de produção escolhida, além de citar as cadeias interligadas. Em sala de aula, apresente aos colegas e discutam sobre os possíveis impactos que a sua cadeia de produção possa impactar na cadeia de produção dos seus colegas. Bom trabalho!
MALINSK, A. Cadeias produtivas do agronegócio I. Porto Alegre: Grupo A, 2018.
TORRES, D. A. P.; LIMA FILHO, J. R. de; BELARMINO, L. C. Competitividade de cadeias agroindustriais brasileiras. Brasília: Embrapa, 2013. Disponível em: https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/1024954/1/Competitividadedecadeiasagroindustriais.pdf. Acesso em: 8 nov. 2023.
RODRIGUES, R. Cadeias produtivas. Folha de São Paulo, São Paulo, 23 jun. 2007. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/15918/Cadeias%20produtivas.pdf. Acesso em: 8 nov. 2023.
SILVA, L. C. da. Agronegócio: logística e organização de cadeias produtivas. In: II Semana Acadêmica de Engenharia Agrícola. Rio de Janeiro: UFRRJ, 2007.
SIMI, L. D.; SALDANHA, C. B. Cadeias produtivas. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018. Disponível em: http://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/201802/INTERATIVAS_2_0/CADEIAS_PRODUTIVAS/U1/LIVRO_UNICO.pdf. Acesso em: 8 nov. 2023.
VIAL, L. A. M.; SETTE, T. C. C.; SELLITTO, M. A. Cadeias produtivas – foco na cadeia produtiva de produtos agrícolas. In: III ENCONTRO DE SUSTENTABILIDADE EM PROJETO DO VALE DO ITAJAÍ, 3., 2009, Florianópolis. Anais [...]. Florianópolis: ENSUS, 2009.