Olá, estudante!
Na lição anterior, nós aprendemos um pouco mais sobre os principais Programas de Produção utilizados na Produção Animal com o objetivo de melhorar a eficiência produtiva. Neste momento vale a pena relembrar que esses programas são cuidadosamente elaborados levando em consideração a espécie, os objetivos e as necessidades específicos de cada criação.
Nesta lição, aprenderemos sobre os conceitos acerca da diversificação e integração dentro do contexto da Produção Animal, um assunto de grande importância no mundo globalizado em que vivemos atualmente. Em um mundo onde os desafios ambientais, econômicos e sociais estão cada vez mais interconectados, compreender como a diversificação e integração podem contribuir para a sustentabilidade e eficiência da Produção Animal é essencial.
Prepare-se para ampliar seus conhecimentos! Vamos começar!
Você consegue imaginar como um pequeno ou médio produtor de leite pode expandir as suas áreas de atuação? Ou como os produtores de aves de corte podem se proteger das flutuações do mercado? Você sabe o que é a verticalização e a horizontalização da produção? E sobre a integralização? Consegue compreender por que esses conceitos surgiram e qual a importância de cada um deles?
Bem, conheceremos as definições desses termos nesta lição, porém já adianto que esses conceitos surgiram como estratégias para enfrentar desafios, como a volatilidade do mercado, os custos de produção e a busca por maior eficiência. Além disso, digo a você que compreender esses conceitos e sua importância é essencial, pois lhe permitirá tomar decisões estratégicas informadas para melhorar a resiliência de seus negócios e explorar novas oportunidades de crescimento.
Exploraremos mais sobre esses temas! Está pronto para avançarmos juntos?
Para que você possa compreender melhor esse assunto, vamos acompanhar um case fictício da produtora rural Rafaela que, junto a seu marido, Osvaldo, possuí uma pequena produção de suínos. Com o objetivo de melhorar a sua produção, o casal contratou um técnico em agronegócio para auxiliá-los. O primeiro ponto sugerido foi a integração de sua produção. Dessa forma, a granja de suínos integrou-se a uma cooperativa local e, após um extenso período de planejamento, o casal investiu na modernização de suas instalações, além de implementar práticas sustentáveis na criação.
A modernização da granja de ciclo completo (ou seja, que cria os animais desde o nascimento até a terminação, atendeu aos requisitos para a integração com a cooperativa, a qual oferecia assistência técnica especializada, além de ampliar o acesso a recursos e mercado. Dessa maneira, os produtores focavam na produção, enquanto a cooperativa focava na comercialização. Ademais, a integração com outros produtores permitiu muita troca de conhecimento!
Note que, por meio desse caso, podemos ver que a verticalização trouxe benefícios para esses e diversos outros pequenos produtores da região, ajudando-os nesse mercado cada dia mais concorrido, especialmente em relação aos grandes produtores.
Vamos entender melhor sobre esse assunto?
Nos tempos dos nossos avós, a maioria das produções rurais eram de subsistência, familiar e de pequeno porte, tanto que a maior parte da população vivia em áreas rurais! Com a evolução industrial e econômica, a Produção Animal passou a ser regida por grandes organizações, com as pequenas propriedades perdendo espaço para grandes criações. Nesse contexto, os produtores rurais precisaram se reinventar para conseguir continuar no mercado a cada dia mais competitivo, e é nesse ponto que entram os conceitos de diversificação e integração produtiva.
Conforme Buranello, Souza e Perin Junior (2020), o desenvolvimento da economia levou à necessidade da interconexão entre as empresas, visto que a visão isolada não reflete mais a nossa realidade econômica, ou seja, a implementação de novas tecnologias levou os produtores a terem que terceirizar várias de suas atividades, antes realizadas em sua maioria “dentro da porteira”. Portanto, a atual visão sistêmica abrange o antes, o dentro e o depois da porteira. Nesse contexto, os produtores a cada dia mais trabalham com produções diversificadas ou mesmo em modelos de integração. Podemos definir a Integração da Produção Diversificada como sendo a combinação de diferentes linhas de produção e ou de operações relacionadas em apenas um negócio. Dessa forma, o produtor expande a sua produção por meio da oferta de produtos ou serviços adicionais (BURANELLO; SOUZA; PERIN JUNIOR, 2020).
Araújo (2005) cita três modelos de diversificações utilizados no agronegócio: Integração Vertical, Integração Agroindustrial e Integração Horizontal. Vamos compreender melhor cada uma delas?
Conforme Araújo (2005), integração vertical é o nome dado ao sistema de produção agroindustrial efetuado em apenas uma empresa, sendo essa responsável por todas as etapas de produção, beneficiamento e venda do produto em questão. O autor cita ainda um exemplo claro de verticalização da produção: uma fazenda de bovinos leiteiros que produz o leite (criação dos animais e ordenha), realiza o beneficiamento e produz seus próprios laticínios, como queijos e iogurtes. Portanto, podemos concluir que a integração vertical possui tanto a produção primária como a etapa de agroindustrialização. Sendo assim, de acordo com Araújo (2005 p. 119), integração vertical visa “agregar valor aos produtos, criar alternativas de mercado e obter todas as vantagens da agroindustrialização”.
De forma a simplificar o entendimento, podemos ainda utilizar a definição de Rocha (2002 apud LIMA; GUIMARÃES; BRISOLA, 2014), afirmando que a verticalização ocorre quando uma única empresa é responsável por duas ou mais etapas do processo de fabricação de um produto. Citando o exemplo anterior, imagine que uma propriedade possua apenas a produção de leite (portanto, a criação e a ordenha dos animais). Ao adicionar o beneficiamento e a etapa de transformação desse leite em seus derivados, a empresa adquiriu novas responsabilidades, ocorrendo, assim, uma verticalização da produção (LIMA; GUIMARÃES; BRISOLA, 2014).
Já a integração agroindustrial, também chamada complexo agroindustrial, atua de forma mais abrangente do que a integração vertical, como explicado por Araújo (2005, p.119):
As integrações agroindustriais constituem o conjunto de atividades que compõem todo o agronegócio de um ou mais produtos, “antes, durante e após a porteira”, formando um sistema único - integrado e verticalizado. Normalmente, as integrações verticais são lideradas por uma empresa, que coordena todas as atividades e executa outras, mantendo vínculos contratuais com os demais segmentos participantes. As empresas líderes podem ser de responsabilidade limitada ou sociedades anônimas, cooperativas, condomínios ou outras formas e são denominadas empresas integradoras.
De acordo com Paiva (2010 apud LIMA; GUIMARÃES; BRISOLA, 2014), o modelo de integração vertical surgiu como solução para os pequenos produtores, os quais, mesmo após os desenvolvimentos tecnológicos, continuaram com uma produção familiar e normalmente de pequeno porte, levando esses produtores a uma falta de estabilidade e de garantias, como a falta de certeza da venda de seus produtos. Nesse contexto, a integração vertical interliga os setores: primário, produtivo, industrial e comercial. Ademais, os autores enfatizam que esse modelo de integração visa minimizar os riscos, em especial os riscos de mercado.
Um exemplo é o modelo integrado de produção de frangos de corte, o qual estudamos brevemente na Lição 11. Nesse modelo vertical, a empresa integradora fornece os animais, os insumos, a ração e a assistência técnica, enquanto os produtores se responsabilizam pelas instalações e criação dos animais (TALAMINI et al., 2023). Essa estratégia produtiva é a principal escolha dos pequenos produtores, visto que a empresa integradora garante a venda dos animais, poupando-os dos riscos do mercado (ZALUSKI; MARQUES, 2005).
Vale ressaltar, no entanto, que, apesar de esse modelo apresentar vantagens para ambos os lados, garantindo o fornecimento de uma produção padronizada e que atenda ao mercado consumidor, não podemos nos esquecer que, quando há apenas um comprador para muitos vendedores, devido a um contrato (a empresa integradora e os produtores), os produtores, nesse caso, não possuem o livre mercado de oferta e demanda.
Vamos exemplificar para ficar mais fácil de compreender? Quando um produtor de aves (ou outra espécie) trabalha a partir do contrato com uma empresa integradora, ele tem a garantia de que a sua produção será vendida, pois, mesmo se não houver um bom mercado naquele momento, é dever da empresa pagar pelos animais que foram produzidos. Isso garante ao produtor estabilidade e previsibilidade. Entretanto, como a empresa integradora é a única compradora, ela adquire a vantagem do chamado poder de negociação em relação aos preços e às condições de venda, permitindo-a negociar de forma mais favorável para si. Ademais, a empresa integradora define os padrões de qualidade do produto, pagando aos produtores integrados conforme o resultado deles.
Para pensar!
Em tese, o conceito de integração propõe a interdependência entre os dois: a empresa integradora e o produtor integrado. Entretanto Tavares (2023) expõe alguns pontos a se pensar: Apesar dos benefícios, o produtor integrado possui alguns desafios: além de poder produzir apenas para a empresa integradora, como já citado anteriormente, entre outros fatores, o integrado pode aplicar apenas as tecnologias previstas pela empresa, além de depender, na maioria das vezes, da matéria-prima entregue exclusivamente por ela. Dessa forma, seria uma interdependência entre ambos ou uma dependência dos integrados frente ao integrador? Como essa relação poderia ser mais equilibrada? Para se pensar!
A Lei nº 13.288, de 16 de maio de 2016 (BRASIL, 2016), surgiu para mitigar os desafios propostos anteriormente. Até 2016, a maioria dos produtores rurais que trabalhavam em sistema de integração com agroindústrias sentiam-se subjugados pela indústria por meio de contratos abusivos, em que os riscos ficavam praticamente todos para o produtor rural (FIEL, 2017). Nesse contexto, essa lei dispõe sobre os contratos de integração vertical e as obrigações e responsabilidades de cada lado, levando a uma relação mais equilibrada e de maior igualdade (FIEL, 2017). Vale lembrar que essa lei vale para todas as agroindústrias, exceto para as cooperativas.
Por sua vez, a integração horizontal não possui necessariamente a etapa de agroindustrialização. Esse modelo de integração é caracterizado por mais de uma atividade agropecuária em uma mesma propriedade rural, conforme Araújo (2005). Por exemplo: em uma mesma fazenda, produzem-se suínos, peixes, bovinos, milho e soja, sendo que os dois últimos são utilizados na fabricação da ração dos dois primeiros. Ademais, os resíduos dos animais podem ser utilizados para a adubação da lavoura e até na criação dos peixes (ARAÚJO, 2005). Dessa forma, de acordo com Araújo (2005, p. 119), a integração horizontal visa “racionalizar a produção agropecuária, de modo que maximize a utilização dos recursos disponíveis e minimize os custos de produção”.
Mas quais os principais objetivos dos modelos verticais e horizontais?
Segundo Araújo (2005), aos principais objetivos dos modelos de integração vertical busca acrescentar valor aos produtos, explorar alternativas de mercado e aproveitar todos os benefícios da agroindustrialização. Por outro lado, a integração horizontal visa otimizar a produção agropecuária, buscando maximizar o uso dos recursos disponíveis e minimizar os custos de produção.
Estudante! Nesta lição, nós aprofundamos nossos conhecimentos acerca da Integração e da Diversificação da Produção, além de aprendermos conceitos importantes, como a verticalização e a horizontalização da produção! Compreender esses conceitos de integração e diversificação da produção bem como as estratégias de verticalização e horizontalização é essencial para você, enquanto técnico em agronegócio, pois permite avaliar e recomendar as melhores estratégias para os produtores rurais, otimizando os processos produtivos e reduzindo custos. Além disso, ajuda a diversificar as receitas, mitigando os riscos associados à dependência de um único produto agrícola. De forma geral, esse conhecimento contribui para aumentar a competitividade no mercado e promover o desenvolvimento sustentável do setor agrícola.
Agora, que tal algo para fixar esse conhecimento de maneira eficiente? Escolha uma produção (aves, suínos, peixes, gado de leite etc.), realize uma pesquisa e escreva um texto explicando quais os modelos de integração, verticalização e/ou horizontalização mais utilizados pelos seus produtores, explicando os benefícios e desafios encontrados! Para facilitar a sua pesquisa, você pode utilizar apenas uma região como referência para o seu trabalho. Caso você more perto de produtores integrados, você pode realizar uma pesquisa em sua própria região. Compartilhe o conhecimento adquirido em sala de aula com os seus colegas! Bom trabalho!
ARAÚJO, M. J. Fundamentos de agronegócios. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
BRASIL. Lei nº 13.288, de 16 de maio de 2016. Dispõe sobre os contratos de integração, obrigações e responsabilidades nas relações contratuais entre produtores integrados e integradores, e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13288.htm. Acesso em: 24 maio 2024.
BURANELLO, R.; SOUZA, A. R. P. de.; PERIN JUNIOR, E. Sistemas Agroindustriais e Contratos de Integração Vertical. Agriforum, 2020.
FIEL, A, de A. Contratos de integração vertical: um instrumento que imprime equilíbrio ao agronegócio. Conteúdo Jurídico, 14 jul. 2017. Disponível em: https://www.conteudojuridico.com.br/open-pdf/cj589488.pdf/consult/cj589488.pdf#page=58. Acesso em: 24 maio 2024.
LIMA, P. S. de.; GUIMARÃES, M. C. and MV BRISOLA. "Integração vertical no agronegócio brasileiro e seus impactos sobre o trabalho e sobre o trabalhador: o caso da avicultura. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL–SOBER, 52., 2014, Goiânia. Anais [...]. Goiânia: Embrapa, 2014.
TALAMINI, D. J. D. et al. Viabilidade econômica de diferentes sistemas tecnológicos de produção de frangos. Revista Tecnologia e Sociedade, v. 19, n. 57, p. 330-349, 2023.
TAVARES, G. B. O papel das comissões de acompanhamento nas relações de integração vertical: representatividade de pequenos agricultores frente a grandes agroindústrias. Sociologias Plurais, v. 9, n. 1, 2023.
ZALUSKI, P. R. da S.; MARQUES, I. C. Vantagens e desvantagens do sistema de integração vertical na avicultura de corte. ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 35., 2015, Fortaleza. Anais [...]. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2015.