Olá, estudante! Na lição anterior, aprofundamos os nossos conhecimentos sobre a produção diversificada! Agora, você já compreende a diversificação da produção, os modelos, os desafios e os benefícios! Nesta lição, vamos aprofundar o nosso estudo acerca da Integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura (ILPS), que, de forma geral, consiste na combinação de diferentes atividades agrícolas, florestais e pecuárias, as quais atuam de forma sinérgica e integrada em uma mesma propriedade.
Prepare-se para adentrar no fascinante mundo da integração de sistemas produtivos!
Como futuro(a) Técnico(a) em Agronegócio, você precisará auxiliar os produtores rurais a aumentar a rentabilidade das propriedades, ao mesmo tempo em que as mantenha sustentáveis! Uma das estratégias mais eficazes para alcançar esse equilíbrio é por meio da Integração Lavoura, Pecuária e Silvicultura.
Você saberia dizer o significado desses modelos de integração? Saberia como auxiliar o produtor rural com as diferentes combinações? Compreende quais são as opções de integração mais utilizadas nas propriedades rurais? Talvez, neste momento, você ainda não saiba todas essas respostas, mas dominar essas informações será essencial para o sucesso da sua atuação profissional. Por isso, dedicamos esta lição para aprofundar o seu conhecimento.
Vamos avançar juntos?
Para que você possa compreender melhor o assunto, acompanhe o relato a seguir:
Adriana, uma Técnica em Agronegócio, foi solicitada para auxiliar Fabiana, uma produtora rural, em sua fazenda de pequeno a médio porte especializada em cultivo de milho. Um dos principais objetivos de Fabiana era aumentar a rentabilidade da propriedade, ao mesmo tempo em que buscava recuperar a qualidade do solo, que estava mostrando sinais de degradação. Diante dessa situação, Fabiana queria saber quais seriam as alternativas viáveis.
Após uma análise cuidadosa das características da propriedade e das possibilidades de mercado na região, Adriana sugeriu uma abordagem integrada envolvendo lavoura, pecuária e floresta, visando promover a sustentabilidade, aumentar a rentabilidade e melhorar a qualidade de vida. Gradualmente, a paisagem na fazenda de Fabiana começou a se transformar, pois árvores foram plantadas, proporcionando sombra para a nova criação de ovinos. Além disso, a criação de abelhas Jataí (abelhas sem ferrão), conhecidas pela polinização eficaz e pela produção de mel de alta qualidade, foi introduzida, contribuindo ainda mais para a diversidade do ambiente. Parte da área foi designada para a pastagem dos animais, enquanto outra parte foi reservada para o cultivo de milho.
Essas mudanças propiciaram uma melhoria na qualidade do solo, além de proporcionar um ambiente ideal para a diversidade da fauna e da flora. As plantações ficaram mais resistentes, a produção aumentou e os ovinos tinham uma pastagem de qualidade. Os benefícios da integração foram inúmeros! Ela não apenas modificou a paisagem, mas também transformou positivamente todos os aspectos ao redor.
Observe que o texto ilustra como um(a) Técnico(a) em Agronegócio pode utilizar o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta para oferecer soluções eficazes e sustentáveis para os produtores rurais, contribuindo para o desenvolvimento do agronegócio de forma consciente e rentável. Entretanto, para isso ser possível, o(a) Técnico(a) em Agronegócio precisa ter habilidades e conhecimentos para analisar a situação da propriedade, identificar oportunidades de melhoria e sugerir práticas sustentáveis e lucrativas.
Sabendo disso, vamos aprofundar nossos conhecimentos sobre esses assuntos?
Segundo Chriki e Hocquette (2020), até 2050, a população mundial deverá passar dos 9 bilhões de habitantes. Como consequência disso, será necessário aumentar a produção de alimentos em até 70% para atender a essa demanda futura. Dessa forma, essa crescente demanda entra em conflito com a preocupação ambiental, especialmente em relação ao desmatamento e à mitigação do efeito estufa.
O processo de degradação de pastagens é favorecido pelas condições climáticas nos países tropicais aliado ao manejo incorreto do solo e dos animais, além da falta de conhecimento e recursos dos produtores rurais. Nesse contexto, soluções são necessárias para uma produção eficiente e, ao mesmo tempo, sustentável (VILELA et al., 2011). É nesse contexto que entra o papel dos sistemas agroflorestais, que diz respeito ao cultivo de árvores, pastagens e animais em uma mesma propriedade, também denominado Integração Lavoura-Pecuária-Floresta - iLPF. Segundo Balbino, Barcellos e Stone (2011), a iLPF é composta pelos seguintes sistemas: Integração Lavoura-Pecuária, Silviagrícola, Silvipastoril e Agrossilvipastoril.
De acordo com Behling et al. (2013, p. 307), a iLPF pode ser definida como “uma estratégia de produção que integra sistemas de produção agrícola, pecuário e florestal, em dimensão espacial e/ou temporal, buscando efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema para a sustentabilidade da unidade de produção (empresa rural)”. Dessa forma, a iLPF visa otimizar o uso da terra, de forma a aumentar a produtividade e a qualidade do produto final, ao mesmo tempo em que utiliza os recursos naturais de maneira sustentável. Qualquer produtor rural, seja ele pecuarista, agricultor ou silvicultor, de pequeno, médio ou grande porte, pode adotar a iLPF (BEHLING et al., 2013).
Quando realizada de modo racional, a iLPF leva a vários benefícios para o ambiente. Entretanto, para que ela possa realmente ser denominada “sustentável”, de acordo com Bungenstab (2012), ela precisa:
Manter ou melhorar a produção.
Proporcionar vantagens econômicas para os produtores rurais.
Não causar prejuízos ao meio ambiente.
Ser benéfica para toda a sociedade.
Ao combinar culturas agrícolas, atividades pecuárias e manejo florestal em um único sistema integrado, a iLPF oferece uma série de benefícios, desde a conservação do solo e da água até a diversificação da produção e a geração de renda adicional para os produtores. Nesse contexto, é essencial que você, futuro(a) Técnico(a) em Agronegócio, explore os principais modelos de ILPF para compreender melhor as possibilidades e os desafios associados a essa prática agropecuária sustentável.
Dito isso, vamos conhecer mais detalhes dos principais modelos de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) a seguir:
Integração Lavoura-Pecuária (ILP)
O sistema Lavoura-Pecuária (iLP), assim como o próprio nome diz, integra a produção agrícola com a produção animal (EMBRAPA, 2017). Esse sistema pode ser utilizado tanto em pequenas quanto em grandes propriedades rurais. Nas grandes propriedades, geralmente, ocorre a produção de bovinos de corte em conjunto com a produção de grandes culturas, como a soja. No caso de pequenas propriedades, normalmente, ocorre a produção de gado de leite, ovinos ou caprinos em conjunto com a produção de culturas vegetais, como o feijão e o milho (BALBINOT JUNIOR et al., 2009).
Segundo Zonta et al. (2016, p. 9):
A ILP é uma excelente alternativa para a recuperação de áreas degradadas, por meio da intensificação do uso da terra, pois potencializa os efeitos sinérgicos existentes entre as diversas espécies vegetais, proporcionando, de forma sustentável, maior produção por área. Esse sistema otimiza o uso do solo, com a produção de grãos em áreas de pastagens, e melhora a produtividade das pastagens em decorrência de sua renovação pelo aproveitamento da adubação residual da lavoura, possibilitando maior ciclagem de nutrientes e o incremento da matéria orgânica do solo.
Integração Agrossilvipastoril
Esse sistema precisa conter, de forma obrigatória, a floresta (árvores), a lavoura e a pecuária. Entretanto, o enfoque maior é na atividade agrícola. De acordo com Porfírio-da-Silva (2007, p. 197):
O sistema agrossilvipastoril associa, obrigatoriamente, o componente florestal (árvores) às atividades de integração lavoura pecuária. Áreas ou parcelas onde a combinação é de cultivos agrícolas com árvores constituem uma integração "lavoura-floresta", ou silviagrícola, enquanto que aquelas onde se combinam pastagem com animais e árvores são conhecidas como integração "pecuária-floresta", ou silvipastoril.
Em outras palavras, quando ocorre a introdução de árvores em uma integração lavoura-pecuária, obtém-se uma alternância: lavoura com árvore, pastagem e gado com árvore e, novamente, lavoura com árvore. Dessa maneira, após colhermos a lavoura, os animais entram na área e, como as árvores estão presentes (simultaneidade), o sistema troca de status, passando de silviagrícola para silvipastoril, configurando uma forma de sistema agrossilvipastoril (KLUTHCOUSKY et aI., 2003 apud PORFÍRIO-DA-SILVA, 2007).
Integração Silvipastoril
Sousa et al. (2022) definem o sistema silvipastoril como uma modalidade da agrofloresta na qual uma propriedade apresenta, na mesma área, animais, árvores e plantas forrageiras. Entretanto, neste caso, o enfoque maior é na combinação das pastagens com as árvores, visando especialmente a uma melhor produção pecuária. Nesse modelo, o plantio das árvores (investimento a médio e a longo prazo) protege os animais e a pastagem dos efeitos do clima, além de proporcionar mais uma fonte de renda (frutas, madeira etc.) Estremote, Melo e Pinheiro (2015) enfatizam que, nesse sistema, as árvores auxiliam na ciclagem dos nutrientes do solo, além de serem consideradas um ponto-chave para a estabilidade do sistema, visto que as árvores reduzem a perda de nutrientes do solo causadas por lixiviação ou erosão, além de aumentarem a quantidade de matéria orgânica no solo.
Segundo Sousa et al. (2022, p. 7), “cada propriedade rural possui características específicas como relevo, solo, clima e vegetação. O conhecimento dessas características e das expectativas e habilidades do produtor são de extrema importância para iniciar o planejamento de um silvipastoril”. Por fim, é válido apontar a necessidade da utilização de espécies adequadas de arborização e pastagem para melhorar o desempenho animal, levando em consideração alguns fatores, como o microclima, que influencia tanto os animais quanto as plantas. Portanto, é essencial realizar um estudo detalhado das características da propriedade e das opções de integração viáveis. Além disso, os autores ressaltam que os sistemas silvipastoris também trazem benefícios socioeconômicos, como a geração de empregos, e ambientais.
Integração Silviagrícola
Segundo Costa, Arruda e Oliveira (2002), o sistema silviagrícola pode ser definido como a combinação de espécies agrícolas (lavoura) com árvores ou arbustos. Nesse sistema, as árvores ou arbustos podem ser utilizados para diversos fins, como produção de madeira, frutos, sombreamento das culturas, proteção do solo contra erosão, entre outros. Essa integração promove a diversificação da produção, a proteção ambiental e a geração de benefícios econômicos adicionais. Em relação ao assunto, é fundamental ressaltar que essa combinação deve ser cuidadosamente analisada, levando em consideração o ciclo de vida das espécies utilizadas no consórcio.
Se Liga!
Para ser denominado sistema agroflorestal, a integração deve ter, ao menos, uma espécie arbórea ou arbustiva (exemplos: eucaliptos e pés de laranja) associada a uma ou mais espécies agrícolas e ou animais. Espécies de porte médio, como café, cacau e bananeiras, não são consideradas florestais (COSTA; ARRUDA; OLIVEIRA, 2002).
Lembre-se! Toda e qualquer alteração realizada em uma propriedade deve ser feita após um estudo aprofundado das características da propriedade, da região e do mercado, avaliando os custos, os lucros, a rentabilidade e a sustentabilidade. Isso também vale para a implantação dos sistemas agroflorestais!
Estudante! Nesta lição, nós aprofundamos os nossos conhecimentos acerca da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que nada mais são do que modelos de Integração que visam a uma produção mais eficiente, lucrativa e, sobretudo, sustentável! Assim, o conhecimento desse assunto é fundamental para você, futuro(a) Técnico(a) em Agronegócio. A iLPF promove a sustentabilidade, ao integrar diferentes atividades, como lavoura, pecuária e floresta, otimizando o uso dos recursos naturais e reduzindo os impactos ambientais. Além disso, diversifica a produção na propriedade, aumentando a produtividade e oferecendo novas fontes de renda. Também agrega valor aos produtos e confere vantagem competitiva, pois está em destaque no mercado global, local em que consumidores e investidores valorizam a sustentabilidade. Assim, compreender os princípios e as técnicas da ILPF é essencial para atuar eficientemente e sustentavelmente no agronegócio.
Agora, para que você possa fixar o conteúdo aprendido, vamos para mais um desafio! Suponha que você tenha sido contratado(a) para auxiliar um produtor rural. Escolha uma região, realize uma pesquisa e crie um modelo de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, respondendo às seguintes questões:
Qual é o tamanho da propriedade (pequeno, médio ou grande porte)?
Quais são as características da região onde a propriedade está inserida?
Quais são os motivos que te levaram a escolher esse modelo de integração (espécie animal, arbórea, pastagem, lavoura)?
Como você espera que esse modelo afete positivamente a propriedade?
Como você espera que esse modelo afete positivamente a comunidade?
Utilize a sua criatividade e imaginação, porém, sempre com bases científicas! Apresente o seu trabalho para os colegas e troquem informações! Bom trabalho!
BALBINO, L. C.; BARCELLOS, A. de O.; STONE, L. F. Marco referencial: integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF). Brasília, DF: Embrapa, 2011.
BALBINOT JUNIOR, A. A. et al. Integração lavoura-pecuária: intensificação de uso de áreas agrícolas. Ciência Rural, v. 39, p. 1925-1933, 2009.
BEHLING, M. et al. Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF). In: GALHARDI JUNIOR, A.; SIQUERI, F.; CAJU, J.; CAMACHO, S. (ed.). Boletim de Pesquisa de Soja 2013/2014. Rondonópolis: Fundação MT, 2013. p. 306-325.
BUNGENSTAB, D. J. (ed.). Sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta: a produção sustentável. Brasília, DF: Embrapa, 2012.
CHRIKI, S.; HOCQUETTE, J. F. The myth of cultured meat: a review. Frontiers in Nutrition, v. 7, p. 7, 2020.
COSTA, R. B.; ARRUDA, E. J. de; OLIVEIRA, L. C. S. de. Sistemas agrossilvipastoris como alternativa sustentável para a agricultura familiar. Interações, Campo Grande, v. 3, n. 5, p. 25-32, 2002.
EMBRAPA. Integração Lavoura-Pecuária em pequenas propriedades: o que o produtor precisa saber. Embrapa, 23 ago. 2017. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/26123732/artigo---integracao-lavoura-pecuaria-em-pequenas-propriedades-o-que-o-produtor-precisa-saber#:~:text=O%20sistema%20de%20integra%C3%A7%C3%A3o%20Lavoura,os%20componentes%20pecu%C3%A1ria%20e%20lavoura. Acesso em: 18 jul. 2024.
ESTREMOTE, M.; MELO, V. F. de P.; PINHEIRO, R. S. B. Sistema silvipastoril na produção de ovinos. Periódico Eletrônico Fórum Ambiental da Alta Paulista, v. 11, n. 2, 2015.
PORFÍRIO-DA-SILVA, V. A integração" lavoura-pecuária-floresta" como proposta de mudança do uso da terra. In: FERNANDES, E. N. et al. (ed.). Novos desafios para o leite do Brasil. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2007. p. 197-210.
SOUSA, K. de. et al. Sistema silvipastoril: alternativa sustentável para melhorar a qualidade ambiental das fazendas leiteiras. Curitiba: Dos Autores, 2022. Disponível em: https://www.fmvz.unesp.br/Home/ensino/departamentos/producaoanimalemedicinaveterinariapreventiva/gebol-grupodeestudosembovinosleiteiros/de-sousa.etal-2022-sistemas-silvipastoril.pdf. Acesso em: 18 jul. 2024.
VILELA, L. et al. Sistemas de integração lavoura-pecuária na região do Cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 46, p. 1127-1138, 2011.
ZONTA, J. H. et al. Sistema Integração Lavoura Pecuária (ILP) para a Região Agreste do Nordeste. Campina Grande, PB: EMBRAPA, 2016.