Olá, estudante! Na lição anterior, nós aprendemos sobre a importância do agronegócio e as possibilidades de mercado para quem deseja trabalhar nessa área. Para que você, como futuro profissional, possa desempenhar o seu papel no mercado da Produção Animal com primor, nesta lição, nós aprenderemos um pouco mais sobre a Variação do Mercado na Produção Animal, além dos conceitos de oferta e demanda, que são indispensáveis para uma gestão eficiente.
Como futuro técnico em agronegócio, você precisará entender como ocorre a variação dos preços de mercado na Produção Animal e quais os principais fatores que causam essa variação. Dessa forma, você será capaz de realizar uma gestão de maior eficiência, alinhando os interesses de ambos, vendedor e comprador. Vamos em frente!
Você sabe o que significa oferta e demanda, e como esses princípios influenciam no valor dos produtos? Já pensou como a baixa oferta de um insumo essencial para a produção animal, pode impactar essa indústria? E quanto ao impacto de fatores externos, já se perguntou como a flutuação da cotação do dólar pode afetar o valor de produtos de origem animal, como a carne? Além disso, será que a concorrência entre produtores pode levar a variações de preço no mercado?
Essas são questões fundamentais que demandam análise e respostas, especialmente quando se trata da gestão da produção animal. Compreender como a oferta e demanda, a disponibilidade de insumos, e as dinâmicas competitivas podem afetar os preços dos produtos é essencial para tomar decisões informadas e estratégicas na indústria de produção animal. É uma área onde a gestão eficaz desempenha um papel crucial na sustentabilidade e no sucesso do negócio.
No caso que apresento hoje, trago a história de Joana, uma técnica em agronegócio contratada por um criador de gado chamado André para auxiliar na gestão de sua extensa propriedade rural. Uma das principais preocupações de André estava relacionada à necessidade de vender seus animais durante o período de seca, uma vez que, nessa época, os frigoríficos ofereciam preços mais vantajosos. No entanto, havia um problema: durante a estação seca, o gado enfrentava dificuldades alimentares, o que resultava em perda de peso nos animais e, consequentemente, comprometia sua comercialização.
Joana começou seu trabalho investigando as razões por trás da queda de preço do gado durante a entressafra, época em que a escassez de pasto levava à redução do peso dos animais. Ela descobriu que, nesse período, a remuneração aos produtores era baseada no peso da carcaça (arroba), o que significava que um animal magro valeria consideravelmente menos do que um animal saudável e robusto.
Embora existissem opções como o confinamento para permitir a venda de gado durante todo o ano, o investimento necessário não era viável para André. Portanto, Joana utilizou as ferramentas e conhecimentos disponíveis para implementar um manejo eficaz na propriedade, visando a venda do gado durante todo o ano. Isso incluiu ajustes na taxa de lotação dos animais, aprimoramento da alimentação e a introdução de suplementação no cocho durante os períodos de seca. Paralelamente, Joana começou a monitorar cuidadosamente os fatores externos que afetavam os preços da arroba, acompanhando diariamente as flutuações de mercado.
Graças a essa abordagem estratégica, que combinava uma oferta de gado ao longo do ano com uma compreensão profunda das oscilações do mercado, Joana conseguiu otimizar as vendas e aproveitar as variações de preço a seu favor. E embora esse caso seja fictício, ele ilustra a importância de estudar profundamente o mercado de um produto, compreender os fatores que influenciam suas variações.
Para compreendermos melhor sobre a variação do mercado na Produção Animal, e como isso impacta na gestão de uma produção, primeiramente, precisamos ter em mente alguns termos. Mankiw et al., (2005, p. 09), definiram Mercado, de forma simples, como sendo “um grupo de compradores e vendedores de um particular bem ou serviço.”
De forma mais ampla, o conceito de Mercado também pode ser definido como o “local” em que ocorrem as operações de compra e venda de mercadorias ou propriedades. Essa transferência ocorre através dos vendedores e compradores, e as variações de seu preço ocorrem devido às variações da oferta e da demanda do produto em questão (EMATER-DF). Portanto, é a oferta e a demanda de um produto em questão que interfere diretamente no mercado, levando a variações no seu preço.
Mas, qual os conceitos de oferta e demanda?
De acordo com Cario (2014, p.43), em um ambiente supostamente livre de concorrência, a demanda pode ser definida como “a quantidade de bem ou serviço que determinado indivíduo deseja consumir em certo período. Ademais, a demanda pode variar de acordo com o preço desse bem ou serviço (quanto maior o preço, menor a demanda), o preço de seus substitutos (quando são de qualidade semelhante e com menor preço), a renda disponível e as preferências dos possíveis consumidores.
Em relação a oferta, esta pode ser definida como a quantidade de um bem ou serviço que uma empresa está disposta a vender durante um período pré-determinado. Da mesma forma que a demanda, fatores como o preço dos bens substitutos, os custos de produção e expectativas dos produtores em relação às demandas futuras, também podem impactar na oferta de um bem ou serviço disponível (CARIO, 2014). Além disso, o autor pontua que “a reação do ofertante em relação ao preço é exatamente o oposto da reação dos consumidores, ou seja, seu desejo de ofertar bens é estimulado quando se elevam os preços” (CARIO, 2014, p.47).
Quando a demanda e a oferta estão equilibradas, ocorre o chamado Equilíbrio de Mercado. Entretanto, nem sempre o mercado está em equilíbrio de oferta e demanda, o que leva a muitas variações.
Diante o que você já sabe sobre o assunto e tudo o que já estudamos no decorrer do curso, saberia responder como ocorrem essas variações no mercado da Produção Animal? Para que não fique dúvidas, vamos estudar alguns exemplos, o primeiro em relação a oferta e demanda de um insumo necessário à produção animal, e o segundo em relação ao preço de um produto de origem animal.
Para compreendermos melhor, podemos citar o trabalho de Camargo, Battisti e Dalchiavon (2022), que avaliaram como a oferta e a demanda do milho afetou a Cadeia da Produção Animal no estado do Rio Grande do Sul. De acordo com os autores, a baixa produção de milho nos últimos anos, obrigou o estado a importar o grão de outros estados, aumentando o preço dele. Dessa forma, a limitação dos grãos disponíveis afetou negativamente a produção animal, especialmente de aves e suínos, visto que os custos com a alimentação dos animais são de aproximadamente 70% dos custos totais de produção. Ademais, os autores pontuam sobre alguns fatores que encarecem o milho no estado, como as questões climáticas e a concorrência com o preço da soja. Por fim, concluiu-se que a escassa oferta de milho afeta a sustentabilidade da cadeia produtiva de diversas espécies no estado do Rio Grande do Sul, o que pode inclusive causar a evasão dos produtores para outros estados. Avaliando esse estudo, podemos perceber alguns pontos importantes:
Ocorreu um desequilíbrio entre a oferta e a demanda do milho na região.
A baixa oferta do milho, aliado à alta demanda, aumentou o seu preço.
O alto preço do milho impactou negativamente a Produção Animal, visto que o milho é a base da ração de animais como as aves e os suínos.
Dessa forma, a oferta do milho, importante insumo para a fabricação da ração animal, afetou significativamente a Cadeia da Produção Animal. Com o preço do milho mais alto, os custos de produção aumentam, o que pode levar ao aumento do preço do produto final.
Em outro exemplo, Beloni e Alonso (2017) pontuam alguns fatores que levam a oscilação do preço pago pelos frigoríficos para os produtores pela arroba do boi, valor que pode variar devido a fatores como a sazonalidade da oferta. De acordo com Corrêa (1988 apud Beloni e Alonso, 2017, p.32):
Por causa da estacionalidade climática, ocorrem dois períodos diferentes de oferta de carne bovina durante o ano. A Safra, que corresponde aos meses de maior precipitação pluviométrica (setembro-outubro a abril-maio), e o período da entressafra, durante o período de inverno seco, quando há a redução da precipitação pluviométrica, menos favorável ao crescimento das forrageiras. Esta oscilação na capacidade de suporte das pastagens, em geral prolonga o período para terminação dos animais, adiando o tempo para o abate [...].
Portanto, a tendência é que o preço do boi diminua no período da safra, devido à alta oferta de carne para o frigorífico. Alguns produtores, entretanto, buscam maneiras de contornar esse problema, com o manejo alimentar voltado para a venda dos animais no período da entressafra, em que os preços pagos estão mais altos. Como citado por CORRÊA (1988 apud BELONI E ALONSO, 2017, p.32):
[...] geralmente, os pecuaristas tentam contornar este problema, por meio do planejamento alimentar da fazenda, ou de forma mais prática e pontual diminuindo a lotação animal por hectare durante do período das chuvas (em torno de dois animais), o que garante excedente de forragem para consumo no inverno.
Se Liga!
A arroba (@) do boi citado acima é uma unidade de peso comumente utilizada para a venda do animal, e significa 15 quilos, considerando o peso da carcaça (carne e osso). Portanto, o peso vivo do animal é o seu peso total, considerando o boi inteiro, e o peso em arrobas é apenas o peso da carcaça, sendo esta apenas a carne e os ossos.
Outro fator que pode afetar o preço de produtos de origem animal é a taxa de câmbio (valor relacionado da moeda de dois países diferentes). Vamos citar como exemplo o estudo de Isaac e Souza (2010) em relação ao mercado da carne bovina. Quando a moeda nacional (real) está baixa em relação ao dólar, os produtores são incentivados a exportar a carne, visto que, por receberem em dólar, terão mais lucro. A alta exportação diminui a oferta externa, o que aumenta o valor pago pelos consumidores internos. O inverso também ocorre quando o dólar está baixo (ou seja, o real está valorizado), incentivando os produtores a vender a carne para o mercado interno e levando a queda dos preços internos devido a maior oferta do produto em solo nacional (ISAAC E SOUZA, 2010).
De forma geral, o valor do dólar pode influenciar os preços mesmo nos períodos de safra e entressafra, pois no caso da alta do dólar, por exemplo, aumentam as exportações e o preço de insumos importados, como por exemplo os fertilizantes, o que aumenta o custo de produção. Além disso, fatores como o valor do combustível e de insumos como o milho e a soja, afetados pela taxa de câmbio, também interferem na variação dos valores.
Outro fator que pode influenciar no preço de um produto é a competitividade do mercado. De acordo com Mankiw et al. (2005), um mercado competitivo possui vários compradores e vendedores de um produto, o que interfere no seu preço de mercado. Os autores ainda citam que os mercados não são perfeitamente competitivos, podendo ser divididos em oligopólio, monopólio e monopolisticamente competitivo, sendo estas as suas definições:
Monopólio: Há apenas um vendedor, e este é quem determina o preço de sua mercadoria.
Oligopólio: Há poucos vendedores, que competem entre si.
Monopolisticamente competitivo: Há vários vendedores, entretanto, cada um vende um produto ligeiramente diferente um do outro. Dessa maneira, os vendedores conseguem, até certo ponto, estabelecer os preços de seus produtos.
Um exemplo de competitividade – concorrência – é dado por Neto (2018), em relação à exportação da carne bovina. De acordo com o autor, a competitividade no comércio internacional envolve diversos fatores como a oferta, o volume produzido, os custos de produção, a qualidade do produto e a logística para a exportação. O autor destaca a vantagem do preço e da qualidade da carne brasileira em relação à carne de outros países, especialmente devido às vantagens geográficas.
Entretanto, para manter-se em vantagem competitiva, o país deve sempre estar realizando investimentos em sanidade e em novas tecnologias. Por exemplo: um surto de Febre Aftosa no Brasil seria catastrófico, pois levaria ao abate obrigatório de milhares de animais e ao fechamento das fronteiras, impactando não apenas o mercado da bovinocultura, mas também impactando o mercado de outras espécies de animais. Já em relação a tecnologia, nós sabemos que a aplicação de novas tecnologias melhora os índices produtivos, o que leva a melhor qualidade do produto final, impactando o seu valor.
Caro estudante, nesta lição você aprendeu um pouco mais sobre a lei da oferta e da demanda, e como ela pode afetar o Mercado da Produção Animal. Agora você compreende que há diversos fatores que podem interferir no mercado de um produto e consequentemente, nos valores de comercialização dele. Esse entendimento é necessário para uma gestão eficiente!
Para que você tenha em mente a importância da variação do mercado no comércio dos produtos de origem animal, escolha um produto de origem animal de seu interesse (carne, leite, couro, animal vivo) e escreva um pequeno texto, respondendo a algumas perguntas básicas:
Em sua região, existe competitividade para a venda deste produto (monopólio, oligopólio, monopolisticamente competitivo)?
A nível nacional, o Brasil exporta esse produto? Ele possui vantagens e ou desvantagens em relação à concorrência com outros países?
Quais os principais fatores que afetam o preço deste produto? (Taxa de câmbio, clima, sazonalidade, lei da oferta e demanda, competitividade, entre outros).
O que pode ser feito para melhorar os ganhos do produtor rural em relação a variação dos preços de mercado?
Se reúna os colegas de sala de aula, expondo os resultados encontrados em sua pesquisa. Você também pode pesquisar sobre espécies consideradas exóticas e ou menos exploradas em solo brasileiro, como a crocodilicultura (criação de jacarés), a ranicultura (criação de rãs) e a sericultura (criação de bicho-da-seda), comparando-as com a produção de espécies consolidadas, como os bovinos, aves, suínos, caprinos, peixes, entre outras espécies. A pesquisa e o bate-papo em sala de aula com certeza levarão a mais descobertas, curiosidades e ao melhor entendimento da lição. Bom trabalho!
BELONI, Tatiane; ALONSO, Marcell Patachi. Relação entre preço da carne bovina e do animal comercializado em Cuiabá, MT. Revista iPecege, v. 3, n. 2, p. 26-37, 2017.
CAMARGO, Flávio Anastácio de Oliveira; BATTISTI, Rafael; DALCHIAVON, Flávio Carlos. Oferta e demanda de milho para a cadeia da proteína animal no Rio Grande do Sul. Ciência Rural, v. 52, p. e20210259, 2022.
CARIO, Silvio Antonio Ferraz. Introdução à economia de empresas. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC, 2014.
EMATER. Patrimônio Cultural da Humanidade Governo Do Distrito Federal. Secretaria de Estado De Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural. Brasília - DF. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://www.ufrb.edu.br/proexc/images/conceitosmercado.pdf. Acesso em: 22 ago. 2023.
ISAAC, F; SOUZA, J. G. Efeitos da política cambial sobre as exportações de carne bovina brasileira. Arquivos de zootecnia, v. 59, n. 225, p. 73-79, 2010.
MANKIW, N. Gregory et al. Introdução à economia. 2005.
NETO, Onofre Aurélio. O Brasil no mercado mundial de carne bovina: análise da competitividade da produção e da logística de exportação brasileira. Ateliê Geográfico, v. 12, n. 2, p. 183-204, 2018.