Olá, estudante! Na lição anterior, aprendemos sobre as principais estratégias de produção a utilizar para aplicar os recursos disponíveis em uma empresa da melhor forma possível! Nessa lição, continuaremos nossos estudos, aprendendo um pouco mais sobre alguns dos principais indicadores de rentabilidade de uma Produção Animal. Para que uma produção seja lucrativa e rentável, é necessário elaborar estratégias produtivas eficientes, e é nesse ponto que as duas lições se complementam! Afinal, a busca por uma produção lucrativa requer uma compreensão holística e integrada desses aspectos. Sigamos explorando como esses elementos se entrelaçam para promover o sucesso na Produção Animal.
Imagine que você iniciou um novo trabalho como gestor em uma propriedade de criação animal em que o produtor quer tecnificar a produção. Antes de investir em novas tecnologias, ele precisa saber se a produção já dá retorno e se a tecnificação aumentará a sua rentabilidade. Você saberia responder essa questão? Como avaliar se essa produção já é lucrativa? A produção atual paga todos os investimentos já realizados? E se novos investimentos acontecerem, o aumento esperado da produção os pagará?
Para determinar a lucratividade da produção atual, é essencial avaliar se ela cobre todos os investimentos já realizados. Além disso, ao contemplar novos investimentos, é essencial analisar se o aumento projetado na produção compensará esses aportes financeiros. Essas são apenas algumas das ponderações que você abordará! Agora, nos aprofundemos nesse conhecimento para responder com confiança às demandas do produtor.
Para que você compreenda de forma mais clara a importância da rentabilidade de uma produção, acompanharemos o case fictício de um técnico em agronegócio chamado Renato, contratado por um produtor de frangos de corte chamado Antônio. O senhor Antônio trabalhava em parceria com uma empresa integradora, que lhe fornecia os pintinhos, a ração, os medicamentos e assistência técnica, buscando os animais após 42 dias e pagando-o conforme a produtividade do lote.
A sua principal queixa para Renato era sobre o baixo rendimento advindo da criação dos animais. Mesmo com o auxílio da assistência técnica oferecida pela empresa integradora, a sua produção não era rentável. Ademais, ele estava disposto a investir em sua produção. Ao analisar a propriedade, Renato percebeu que as instalações eram antigas e com controle manual de temperatura, por meio de ventiladores e cortinas, bem como bebedouros e comedouros manuais. Por esse motivo, o senhor Antonio gastava um alto valor com mão-de-obra, visto que precisava de vários funcionários para o manejo dos animais. Ainda, a baixa eficiência em manter uma temperatura agradável durante o calor (que, nessa propriedade, era o ano todo) diminuía a produtividade dos animais devido ao estresse térmico, diminuindo, também, o valor pago pela empresa integradora. Por fim, o programa de luz, por ser mal utilizado, resultava em valores exorbitantes na conta.
Após reunir todos os dados e calcular a rentabilidade da produção, Renato percebeu que essa estava negativa. Para mudar essa realidade, propôs um grande investimento nas instalações, reduzindo os custos com mão-de-obra devido à automatização dos aviários, diminuindo a conta de luz por meio da automatização e melhor eficiência do programa de luz e aumentando a produtividade por meio da melhoria na climatização do aviário. Os cálculos mostraram uma rentabilidade positiva após as alterações, indicando que, além do lucro, a produção, em breve, pagaria todo o investimento!
Primeiramente, compreendamos os conceitos de lucratividade e rentabilidade – não, eles não são sinônimos! Por meio do conhecimento e dos cálculos de lucro e rentabilidade, definimos a viabilidade de uma produção: se ela nos dá retorno ou se requer algumas alterações para aumentar a sua rentabilidade.
A lucratividade define-se como o valor que a empresa obteve por meio das vendas de seu produto em um determinado período (LUCRATIVIDADE, 2024). Conforme visto na lição 7, o lucro líquido é o valor que realmente fica na empresa após a venda do produto e o desconto de tudo o que se gastou no processo de produção, incluindo os tributos. A rentabilidade, por sua vez, define-se como o retorno de um investimento (RENTABILIDADE, 2024). Portanto, por meio dela, avaliamos se a empresa “se paga”. Em outras palavras, a rentabilidade se relaciona ao investimento aplicado.
Para exemplificar esses conceitos, imagine que você abriu uma empresa.
Investimento: para a sua abertura, você investiu 100 mil reais.
Receita Bruta: no primeiro mês de funcionamento, você vendeu 30 mil reais em produtos.
Custos de Produção: para produzir os produtos vendidos, você gastou 15 mil reais.
Lucro Líquido: no final, o seu lucro líquido foi de 15 mil reais no primeiro mês.
A partir do valor do Lucro Líquido, você consegue calcular a lucratividade e a rentabilidade da sua empresa.
Lucratividade: para esse cálculo, você divide o lucro líquido pela receita bruta e multiplica o resultado por 100. Em relação ao exemplo acima, a lucratividade final foi de 50 por cento. Exemplificando, a cada 10 reais vendidos, você obteve um lucro de 5 reais.
Rentabilidade: para o cálculo de rentabilidade, você divide o lucro líquido pelo investimento e multiplica o resultado por 100. No exemplo acima, a rentabilidade da produção foi de 15 por cento, ou seja, com as vendas do primeiro mês, você obteve um retorno do investimento de 15 por cento.
Por meio desses indicadores básicos de lucratividade e rentabilidade, podemos:
Saber se a empresa está dando lucro, prejuízo ou se está no ponto de equilíbrio;
Em quanto tempo a venda dos produtos pagará todo o investimento inicial;
Definir novas estratégias de produção de acordo com os resultados obtidos;
Tomar decisões de forma assertiva.
Lembre-se: investimento é diferente de gasto. Os gastos de uma empresa não geram retorno para ela, ao contrário dos investimentos, que o farão em algum momento!
Labiak e Stroparo (2023) analisaram os custos e a rentabilidade da atividade leiteira de uma propriedade familiar. Para isso, enfatizaram a necessidade de saber o custo da produção de leite desde o valor da ração dos animais, incluindo os valores gastos com fertilizantes, sementes, combustível para o maquinário e até a mão-de-obra utilizada para a pastagem ou para produzir o feno ou silagem dos animais. Todos esses custos são consideráveis e precisam ser anotados para que o produtor saiba, realmente, quanto custou a produção de 1 litro de leite. Ademais, segundo os autores, ao saber o quanto gasta, o produtor consegue planejar estratégias para melhorar o seu lucro.
Quais são as duas principais estratégias para melhorar a rentabilidade da produção?
Aumentar os ganhos e/ou reduzir os custos de produção.
Tenhamos em mente que os indicadores de rentabilidade mudam de acordo com a produção (espécie animal, sistema de criação e produto final). Ademais, há também o estudo de viabilidade conforme as alterações realizadas dentro de uma produção. Por exemplo: é rentável…
…trocar o farelo de soja da ração por outra fonte proteica?
…sair da produção integrada para a produção independente?
…investir em novas tecnologias para a produção de leite?
…investir na intensificação da produção de gado de corte?
…investir em instalações com alta tecnologia na produção de aves?
A resposta é: depende…
…da região onde se insere a produção.
…do tamanho da produção (pequena, média ou grande).
…do período de retorno para o investimento.
…dos custos de produção.
Avaliemos alguns estudos para entendermos melhor sobre esses conceitos.
De acordo com Pilatti (2017), a inclusão de novas tecnologias, tanto na parte técnica como na parte de gerenciamento (por exemplo, software para a coleta e análise dos dados de produção), permite ao produtor saber de forma clara sobre a lucratividade e o rendimento de sua produção, auxiliando, assim, na tomada de decisão. Os autores, ao analisarem a rentabilidade na produção leiteira, expuseram alguns pontos importantes:
Produtividade da terra: é um dos principais indicadores dentro da produção de leite, devido à competição com outras produções. Os autores ainda citam que uma produção de leite lucrativa produz, no mínimo, 8.000 litros de leite/hectare/ano.
Preço médio por litro: o preço pago pelo litro do leite também altera a rentabilidade da produção.
Mão-de-obra: os autores enfatizam a questão da escassez de mão-de-obra qualificada, o que afeta a produtividade. Uma das soluções seria a implantação de sistemas tecnificados, o que diminui a quantidade de funcionários necessária, mas aumenta a necessidade de sua qualificação.
Ao analisar o estudo de Gomes et al. (2022), percebemos a importância desses indicadores de rentabilidade na produção animal. A produção já inicia a sua “competitividade” com outras produções já dentro da fazenda. Afinal, se a produção de leite render 1000 reais por hectare, mas a produção de gado de corte render 1500 e a de soja 1500 por hectare (valores fictícios), a tendência é que a produção de leite fique de lado.
O segundo ponto foi o preço pago pelo mercado pelo litro de leite. Em um ano com maior preço pago, a tendência é que a criação seja mais rentável. Entretanto, precisamos avaliar os custos de produção nesse mesmo período, a fim de sabermos a real rentabilidade da produção, pois não adianta o valor recebido pelo litro de leite ser mais alto, se o valor pago pelos insumos também for mais alto durante esse mesmo período.
Por fim, também avaliemos a rentabilidade da mão-de-obra. Se nós pagamos 3000 reais por mês para um funcionário que gera apenas 1500 reais, ele não é rentável (rentabilidade negativa). Agora, se ele gerar 10000 reais, será mais rentável, podendo até aumentar o valor pago por seu trabalho.
No sistema de produção integrada de frangos de corte, a empresa integradora entra com os animais (pintinhos de um dia), insumos, ração e assistência técnica especializada, buscando-os para o abate, em média, após 42 dias de idade. Aos produtores integrados, cabe toda a responsabilidade com as instalações (incluindo equipamentos, cama, custos com energia, água e afins), manejo dos animais e mão-de-obra.
Nesse contexto, o estudo de Talamini et al. (2023) objetivou avaliar diferentes modelos de instalações de granjas de frango de corte, desde as produções mais simples e manuais até as altamente tecnificadas. Os autores expuseram o primeiro custo para os produtores integrados, a mão-de-obra, visto que a sua necessidade varia em quantidade, conforme a tecnificação da produção (por exemplo, comedouros e bebedouros automáticos), e em valor pago para o funcionário, visto que o salário muda conforme a região e a capacitação do trabalhador.
Os sistemas de produção com maior tamanho e tecnificação, como controle de temperatura e de luminosidade, apresentaram menores custos (mão-de-obra e energia elétrica) e maior produção, visto que o programa de luz aliado às aves em conforto térmico aumenta a produtividade. Ademais, Talamini et al. (2023) citam que grandes aviários são mais eficientes na utilização dos equipamentos disponíveis e da mão-de-obra. Produções mais tecnificadas levam a uma maior eficiência produtiva e, consequentemente, a um maior valor pago pela empresa integradora, que costuma pagar de acordo com a eficiência de produção.
Nesse estudo, Talamini et al. (2023) concluem que a rentabilidade apresentou um valor negativo quando o aviário não apresentava controle interno de temperatura, utilizando apenas ventiladores para a dissipação do calor. Já os aviários tecnificados, com melhor controle interno de temperatura e luminosidade, apresentaram uma maior rentabilidade.
Não levemos esses resultados como verdade absoluta para todos os aviários, visto que esse foi um estudo com nove aviários, e não uma amostragem utilizar como modelo em todas as produções. Entretanto, esse estudo serve de exemplo para o produtor que queira investir em novas tecnologias para o seu aviário, mas que antes precisa saber a viabilidade do seu investimento.
Se Liga!
Um dos principais insumos a considerar são os grãos utilizados para a alimentação dos animais. Lembre-se, os custos com alimentação englobam até 70 por cento do custo total de uma produção! Por isso, a melhor utilização desses recursos, por meio de uma nutrição adequada, certamente aumentará a lucratividade e a rentabilidade da produção.
Entretanto, lembre-se que a nutrição sempre deve acompanhar um bom manejo, ambiência e a sanidade dos animais. Nada funciona bem sozinho! Aliando o conhecimento técnico com as habilidades gerenciais, você terá as ferramentas para aumentar a rentabilidade da Produção Animal.
Durante o nosso curso, aprendemos sobre a necessidade de uma produção possuir um bom conhecimento e aplicações técnicas para ser eficiente. Por meio dessa lição, e das últimas lições estudadas, de forma geral, compreendemos que não adianta apenas termos o melhor conhecimento técnico ou investir nas melhores tecnologias, se a produção não for rentável. Uma produção precisa gerar lucros, bem como pagar todo o investimento gasto para que ela existisse. Não adianta apenas gastarmos “horrores” em uma produção, se o valor ganho não pagar todo esse investimento.
Em alguns casos, uma produção apresenta um “lucro”, mas, ao calcularmos o rendimento, percebemos que esse é negativo. Para mudarmos esse cenário, os custos precisarão diminuir ou a produção precisará nos dar mais lucros. Como conseguir isso? Uma boa gestão estudará todas as estratégias de produção possíveis! Lembre-se: para aumentar a lucratividade e a rentabilidade de uma produção, você precisa saber o seu custo. Para isso, você precisa saber todos os dados zootécnicos, financeiros e administrativos dessa produção!
Para que você aprofunde os seus conhecimentos sobre a rentabilidade de uma produção, realize uma pesquisa com a sua espécie e criação de preferência, elaborando um texto que responda às seguintes perguntas:
Quais os principais indicadores de rentabilidade que os trabalhos pesquisados apontam acerca dessa criação?
Quais as principais soluções que os trabalhos apontam para melhorar a rentabilidade da produção em questão?
Com base no material pesquisado e estudado, escreva com suas palavras o que você, como gestor, faria para aumentar a rentabilidade de uma produção de pequeno porte da espécie em questão?
Apresente o seu texto para os colegas em sala de aula, compartilhando conhecimento! Bom trabalho!
GOMES, A. P. et al. Custos, eficiência e rentabilidade na atividade leiteira. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 29., 2022, João Pessoa. Anais [...]. [S. l.: s. n.], 2022. Disponível em: https://anaiscbc.emnuvens.com.br/anais/article/view/4935. Acesso em: 2 abr. 2024.
LABIAK, G.; STROPARO, T. R. Análise de Custos e Rentabilidade da Atividade Leiteira em uma Propriedade Familiar. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, [s. l.], v. 9, n. 7, p. 1657-1673, 2023.
LUCRATIVIDADE. In: DICIO: Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2023. Disponível em: https://www.dicio.com.br/lucratividade/. Acesso em: 29 fev. 2024.
PILATTI, J. A. O comportamento diurno e bem-estar de vacas em sistema de confinamento compost barn. 2017. 150 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Dois Vizinhos, 2017.
RENTABILIDADE. In: DICIO: Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2024. Disponível em: https://www.dicio.com.br/rentabilidade/. Acesso em: 25 mar. 2024.
TALAMINI, D. J. D. et al. Viabilidade econômica de diferentes sistemas tecnológicos de produção de frangos. Revista Tecnologia e Sociedade, [s. l.], v. 19, n. 57, p. 330-349, 2023.