Olá, estudante! Na lição anterior, relembramos um assunto que é a base do agronegócio: As Cadeias de Produção. Afinal, como futuro técnico em agronegócio, você precisará estar com a cadeia produtiva em mente sempre. Lembre-se, em relação a uma cadeia específica – vamos citar a de frangos de corte como exemplo –, quaisquer impactos que ocorrerem em alguma etapa dessa cadeia, bem como impactos que ocorrerem em cadeias produtivas inter-relacionadas, poderão impactar significativamente a Cadeia Produtiva de frangos de corte.
Para que você possa gerir de forma eficiente uma produção, qualquer que seja a cadeia produtiva na qual você esteja trabalhando, você precisará visualizar essa produção não apenas de forma técnica, mas também com uma visão administrativa. Sendo assim, nesta lição vamos entender um pouco melhor sobre esse assunto.
Imagine que você tenha sido contratado para gerenciar uma propriedade de produção de ovos. É um desafio e tanto, não é mesmo? Como aprendido nas lições anteriores, você começaria avaliando as questões técnicas: quais as mudanças e implementações poderiam ser alteradas para melhorar a eficiência produtiva? Nutrição? Reprodução? Controle de luz? Controle térmico? Controle de coleta dos ovos?
Após a visualização geral dos pontos técnicos. Você precisaria então visualizar os aspectos administrativos da propriedade, afinal, ela é uma empresa. Quantos ovos são necessários serem produzidos por dia para que a empresa tenha lucro? Como posso diminuir os custos dessa empresa? A empresa parece estar dando lucro, ou realmente está dando lucro? Existem dados que comprovem isso? São muitas questões a serem respondidas, portanto, vamos aprofundar nossos conhecimentos no assunto.
Para compreendermos melhor a importância do conhecimento técnico aliado ao conhecimento administrativo de uma produção, vamos acompanhar um case fictício de uma técnica em agronegócio de nome Laura, na qual foi chamada para auxiliar em uma fazenda de ovinos que, apesar de ser linda como um cenário de filme, aparentemente dava lucro.
Certo dia, os proprietários começaram a desconfiar que talvez ela não desse tanto lucro assim. Após uma avaliação inicial, a técnica percebeu que a propriedade, apesar de possuir tudo do bom e do melhor, não possuía controle de custos, e nem a coleta de dados zootécnicos. Portanto, Laura não podia saber se uma fêmea era uma boa reprodutora, porque não havia dados anotados sobre ela. Ademais, os funcionários não possuíam alguém com conhecimento técnico suficiente para auxiliá-los no manejo, que era realizado de forma simples e por meio de achismos. Como resultado da falta de conhecimento técnico e administrativo, Laura descobriu que a criação, na verdade, dava prejuízo.
Após uma conversa com os proprietários, Laura percebeu que estes possuíam outras fontes de renda, como aluguéis de imóveis e plantações de soja. Por esse motivo, eles tinham a falsa impressão de que sua criação de ovinos dava lucros, entretanto, por diversas vezes o dinheiro de outros investimentos era utilizado para cobrir os custos da produção, o que mascarava muitos problemas.
Com muito trabalho e dedicação, Laura conseguiu implementar seu conhecimento técnico na propriedade, auxiliando em relação ao manejo (reprodutivo, sanitário, nutricional etc.), e o seu conhecimento administrativo, anotando todos os dados da fazenda: em relação aos animais (número de partos, mortalidade, taxa de prenhez, entre outros), em relação às compras, como ração, fertilizantes para o pasto e vacinas, bem como em relação aos gastos fixos como a iluminação.
Viu só como é importante o conhecimento administrativo para seu trabalho de Técnico em Agronegócio?
Para compreendermos melhor sobre a gestão de uma propriedade, precisamos visualizá-la sob dois pontos de vista: o técnico e o administrativo. Para isso, imagine que você tenha sido contratado para gerenciar uma fazenda de gado de corte. Qual seria a visão técnica necessária?
Podemos responder essa questão através de várias lições já estudadas neste curso: a definição dos sistemas de produção (extensivo, semi-intensivo, intensivo etc.), o conhecimento técnico sobre o manejo dos animais (nutricional, reprodutivo etc.) e se estes são realizados de maneira correta, quais as necessidades desta espécie em relação a alimentação, medicamentos, vacina e afins; as mudanças técnicas que podem ser realizadas para aumentar a eficiência produtiva, entre diversos outros pontos já estudados.
Mas, e se a pergunta fosse: qual seria a visão administrativa?
Um bom exemplo de visão administrativa é passado por Flamino e Borges (2019), onde os autores enfatizam a importância de observar uma unidade de produção de leite como uma empresa. Podemos expandir essa afirmação para outras produções, e concluir que precisamos observar uma Produção Animal como uma empresa, a qual precisa ser administrada de forma eficiente, para que possa ter lucro e crescer.
Como futuro técnico em agronegócio, você precisa aliar esses dois pontos de vista para uma gestão eficiente!
Um exemplo é dado por Andrade et al., (2018), pontuam que, apesar de muitos pesquisadores relacionarem o baixo lucro ao tamanho em área de uma fazenda, em grande parte das vezes a baixa lucratividade deve-se, especialmente, a falta de acompanhamento técnico aliado a falta de planejamento e avaliação dos índices econômicos do sistema de produção.
Como já estudamos nas lições anteriores, bem como no ano anterior da disciplina de Gestão em Zootecnia, especialmente sobre os pontos técnicos, nesta lição, iremos focar principalmente no ponto de vista administrativo. Mas a primeira lição já nos foi passada: A produção animal precisa ser observada como uma empresa.
De acordo com El-Memari Neto (2019, p.37), “Quem planta “acho”, colhe “quase”. Tudo que parece ser só pode ser comprovado com números”. Mas, qual a importância dessa colocação? Podemos entender que não adianta apenas acharmos que uma propriedade está dando frutos, acharmos que o intervalo entre partos de uma fazenda de leite está sendo adequado, acharmos que a produção de suínos está tendo lucro, acharmos que o preço de venda do ovo está cobrindo todos os custos de produção das poedeiras, e que deve estar (novamente, apenas suposições) sobrando um bom lucro.
De acordo com Decker e Fernandes (2016, p.117): “os negócios agropecuários apresentam a mesma complexidade, importância e dinâmica dos demais setores da economia (indústria, comércio e serviços), exigindo do produtor rural uma nova visão da administração dos seus negócios”.
Por esses motivos, o gestor de uma propriedade deve ter o conhecimento técnico para poder implementar estratégias que visem o aumento da eficiência e produtividade da produção, mas aliado a isso, o gestor precisa ter também essa visão administrativa, ou seja, visualizar a produção animal como uma empresa, que apresenta números concretos, e que não é baseada apenas em achismos.
Custos de Produção
De acordo com Barros (2010 apud Decker e Fernandes, 2016 p.117): “O custo de produção é a soma dos valores de todos os insumos e serviços empregados na produção de um determinado bem”.
Conforme Decker e Fernandes (2016), ao analisarmos os custos totais para produzir um produto, conseguimos organizar e controlar a unidade de produção de forma satisfatória, pois compreendemos quais as atividades e ou insumos de maior e menor custo, formamos uma base para projeção de resultados, o que facilita os processos de planejamento rural.
El-Memari Neto (2019) aprofunda ainda mais o conceito de custo de produção, dessa vez voltado à produção de gado de corte, mas que pode se estender para outras criações. O autor define os custos de produção como todos os insumos necessários para a produção que não contribuem para o patrimônio, como a manutenção da pastagem e serviços técnicos, por exemplo. Além disso, El-Memari Neto (2019) ainda pontua outras despesas, como as despesas administrativas e tributárias, que também devem ser levadas em conta nos cálculos do produtor.
Custo Fixo x Custo Variável
Por fim, devemos nos atentar às definições de custo fixo e custo variável, para podermos controlar o planejamento dos custos. Os custos fixos são constantes e fazem parte da estrutura da produção, não alterando a curto prazo devido a mudanças no volume de produção (SEBRAE, 2023). Ademais, de acordo com Dias e Padoveze (2007 apud Andrade et al., 2018), os custos fixos são aqueles gastos necessários para manter o nível mínimo de uma atividade em um intervalo específico de produção e de venda. Entre os exemplos de custos fixos podemos citar as contas de serviços básicos, como a iluminação, depreciação, seguro da propriedade, instalações e equipamentos.
Já os custos variáveis são aqueles que, como o próprio nome já diz, podem variar devido à quantidade de produção (SEBRAE, 2023). Conforme Miele (2010 apud Andrade et al., 2018), os custos variáveis são uma parte dos custos totais de produção, e variam conforme o volume de produção, como por exemplo os insumos e a mão de obra.
Por exemplo, caso uma produção de leite aumente consideravelmente, pode ser necessário pagar horas extras aos funcionários e comprar mais insumos, aumentando, assim, os custos variáveis. Dessa forma, os custos fixos são mais fáceis de serem controlados, e o administrador da propriedade pode estudar formas de reduzi-lo.
Ponto de Equilíbrio
Conforme Souza (2009 apud Gonçalves et al., 2017), o ponto de equilíbrio de uma empresa pode ser definido como o ponto de encontro das receitas e das despesas equivalentes. Portanto, nesse ponto, não há lucro nem prejuízo.
É importante sabermos o ponto de equilíbrio para que possamos saber o ponto em que a produção paga todos os seus custos. Por exemplo, uma granja de aves poedeiras atinge o seu ponto de equilíbrio produzindo 1000 ovos por dia. A partir de 1001 será contabilizado o lucro da empresa.
Um exemplo é nos dado por Gonçalves et al., (2017) ao avaliarem o ponto de equilíbrio dos sistemas de produção de bezerros de corte no Rio Grande do Sul, chegando à conclusão que a taxa de natalidade (nascimento de bezerros) deveria aumentar 36% (chegando a 82%), para que a produção começasse a obter lucro. Ademais, os autores citaram que o aumento da venda de fêmeas de descarte (de 21% para 31,2%) também auxiliaria a atingir o equilíbrio financeiro. Entretanto, como a venda das fêmeas alteraria a estrutura do rebanho, seriam necessárias mais bezerras para a reposição das fêmeas de descarte.
Portanto, conclui-se que o planejamento não deve levar em consideração apenas um item, mas uma soma de diversos fatores, visto que a renovação do rebanho do exemplo acima levará a necessidade de ajustes técnicos (manejo nutricional, sanitário, reprodutivo…) para que a produção seja lucrativa (Cerdótes et al., 2004 apud Gonçalves et al., 2017). Por fim, Gonçalves et al., (2017) citam mais algumas alternativas para baixar o ponto de equilíbrio de uma produção, como a redução dos custos (fixos e variáveis), o que deve ser analisado de forma particular em cada sistema produtivo.
Conceitos de Receita e Lucro
Por fim, devemos nos atentar ao conceito de receita e o que esta difere em relação ao lucro. A receita bruta pode ser definida como todo o dinheiro que entrou na propriedade com a venda de seus produtos, por exemplo: venda de suínos para o frigorífico. Já a receita líquida é o valor que ficou após serem descontados todos os impostos e os gastos com a venda dos animais. Por fim, após descontarmos todos os gastos, nós alcançamos o valor que realmente equivale ao lucro da empresa (já descontado todos os custos, impostos e outros gastos afins).
Indicadores Zootécnicos
Conforme Machado e Meneghini (2011 apud Flamino e Borges, 2019), uma produção leiteira bem sucedida apresenta bons resultados relacionados aos indicadores administrativos, financeiros, econômicos e, obviamente, os indicadores zootécnicos. Tal conceito pode ser estendido também para outras produções.
Conforme visto acima, para controlarmos os custos de produção, o ponto de equilíbrio e a receita de uma produção (empresa), precisamos coletar todos os dados possíveis dessa empresa. Em relação à produção animal, além do controle de estoque, preço pago nos insumos, preço de venda do produto, entre outros, é necessário estar sempre a par dos indicadores zootécnicos e, para sabermos quais indicadores zootécnicos são importantes, precisamos do conhecimento técnico.
Silva (2023) conceitualiza os índices zootécnicos como aqueles cuja interação resulta na produção propriamente dita. Em relação a produção de gado de leite, o autor cita seus principais índices zootécnicos, sendo estes a idade do primeiro parto e idade de abate, taxa de natalidade e desmama, taxa de mortalidade, entre outros. Em relação ao gado de corte, fatores como ganho médio diário de peso (GMD) e lotação (número de animais por hectare) são importantes indicadores de produção. Podemos ainda citar índices importantes para todas as produções como a conversão alimentar e a eficiência alimentar.
Através da análise desses dados, consegue-se avaliar os níveis produtivo e reprodutivo do rebanho, facilitando, dessa forma, o monitoramento da produção, a solução de problemas que estão afetando a eficiência produtiva e reprodutiva dos animais, o que possibilita a definição de metas e o planejamento de como alcançá-las (Silva, 2023).
Nesta lição, aprendemos como visualizar uma Produção Animal através dos pontos de vista tanto técnico, como administrativo. Ao acompanhar uma produção aliando o aspecto técnico aos conceitos administrativos, a gestão será eficiente, produtiva e lucrativa.
Agora, para que você possa fixar o conteúdo estudado, bem como compreender melhor a sua importância, vamos fazer uma atividade!
1. Escolha uma produção (por exemplo: produção de ovos, couro, carne, leite, mel, laticínios) da espécie de sua preferência (peixe, gado, aves, suínos, abelhas, ovinos etc.).
2. Realize uma pesquisa sobre os principais indicadores zootécnicos da produção escolhida. Por exemplo: em suínos, alguns indicadores zootécnicos são o número de partos e o número de leitões nascidos por parto. Mas existem outros indicadores relacionados a essa produção.
Você pode utilizar a plataforma Google (geral), bem como pesquisar na plataforma Google Acadêmico, em artigos específicos que estudam uma produção em uma determinada localidade, os custos fixos e variáveis da produção, o ponto de equilíbrio e as estratégias propostas para alcançar índices lucrativos.
3. Realize uma discussão em sala de aula. Converse com os colegas quais os principais índices encontrados na produção de cada um, e o que pode ser feito para aumentar a lucratividade da empresa.
Bom trabalho!
DICA: Um exemplo de referência que pode ser utilizada na pesquisa é uma das utilizadas na produção dessa lição. O estudo de Gonçalves et al., (2017), analisou os custos, receitas e ponto de equilíbrio dos sistemas de produção de bezerros no Rio Grande do Sul.
ANDRADE, IR A. et al. Metodologias para avaliação econômica de sistemas de produção agropecuários. 2018.
DECKER, S. R. F.; FERNANDES, D. A. C.; GOMES, M. C. Gestão competitiva na produção de ovinos. Revista Científica Agropampa, v. 1, n. 1, 2016.
EL-MEMARI NETO, A. C. Como ganhar dinheiro na pecuária: os segredos da gestão descomplicada. Ed. 1 Edição atualizada – Paraná: Maringá; 2019.
FLAMINO, L. G.; BORGES, L. C. A Gestão Rural e o desafio contemporâneo informacional da Produção Leiteira. Revista de Extensão e Estudos Rurais, v. 8, n. 2, p. 1-20, 2019.
GONÇALVES, G. V. B. et al. Análise de custos, receitas e ponto de equilíbrio dos sistemas de produção de bezerros no rio grande do sul. Ciência Animal Brasileira, v. 18, 2017.
SEBRAE. Disponível em https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/ap/artigos/saiba-o-que-sao-custos-fixos-e-custos-variaveis,7cf697daf5c55610VgnVCM1000004c00210aRCRD. Acesso em: 17 set. 2023.
SILVA, E. I. C. Manejo Reprodutivo e Índices Zootécnicos em Gado de Leite. 2023.