Querido estudante, bem-vindo novamente! Na primeira parte da disciplina, nós estudamos sobre as principais espécies utilizadas para a criação animal, bem como a importância da Produção Animal para a economia brasileira. Agora, é o momento de nos aprofundarmos um pouco mais nestas questões!
Como vimos anteriormente, os produtos de origem animal produzidos em nosso país não são apenas para o consumo de nós brasileiros, mas também para a venda a outros países. Existem criações, como a de frango, por exemplo, que atendem tanto a demanda interna como também a demanda externa, ou seja, uma parte do que é produzido é destinado à exportação! Entretanto, em outros casos, o Brasil precisa importar produtos de outros países, para que possa suprir a sua demanda interna, sendo esse processo denominado importação.
Os países comercializam uma imensa variedade de produtos entre si! E a quebra das fronteiras só é possível graças à globalização. Vamos aprender um pouco mais!
Caro estudante, você já imaginou como a globalização afeta a nossa vida tanto de forma direta como indireta? Pense nos objetos que você utiliza diariamente como suas roupas, seu celular, seus aparelhos eletrônicos, cosméticos e até mesmo nos alimentos que você consome. Você sabe de onde esses itens vieram? Tem ideia se foram feitos no Brasil ou se foram importados de outro local? Pensando nos objetos em que a produção é nacional, será que todos os seus componentes são nacionais?
Nenhum país é totalmente autossustentável, e isso ressalta o quão importante é as negociações e o comércio entre os países! A interdependência entre as nações é evidente, pois é por meio dessas “trocas” que os países conseguem suprir as lacunas em suas capacidades produtivas. Esse processo, além de fortalecer a economia dos países envolvidos, também contribui para o enriquecimento cultural, visto que os produtos de um país estarão sendo utilizados/consumidos em outros países.
Agora, entrando na questão da Produção Animal, você sabe como esse processo de globalização afeta a produção brasileira? O Brasil, considerado o “celeiro” do mundo, é autossuficiente na produção de alimentos? Vamos responder a essas questões!
Para que você possa compreender melhor o conceito de globalização na produção animal, vamos imaginar uma situação. Considere que um técnico em agronegócio chamado Iago tenha sido chamado para atender um grande produtor de gado que está interessado em exportar o seu produto para a União Europeia (UE).
Para auxiliar esse produtor, em um primeiro momento, Iago certificou-se que as instalações, vacinação, sanidade, manejo e nutrição estavam em ordem, mas foram longos dias de trabalho. Para se organizar, ele fez um checklist de tudo que observou – inclusive, essa é uma ótima opção para anotar suas percepções, quando estiver em situações parecidas. O checklist de Iago ficou da seguinte forma:
A produção era eficiente.
A sanidade estava em ordem (item de extrema importância!).
Os frigoríficos do estado permitiam a exportação para a UE (nem todos permitem, por questões sanitárias!)
A qualidade da carne atendia às exigências do comprador.
A produção seguia as normas de bem-estar animal tanto na criação como no abate.
Rastreabilidade do início da produção até o consumidor final.
Outro ponto de importância foram as certificações de qualidade do produto – essenciais para a exportação. De acordo com Bridi (2004), elas servem para atingir a qualidade esperada pelo mercado internacional, onde diversas normas são estabelecidas por organizações como a OMC (Organização Mundial do Comércio). Todas essas certificações foram encontradas e garantiram um produto de qualidade (segurança alimentar), livre de restrições sanitárias e de resíduos de produtos não permitidos pelo país comprador (como exemplo, antibióticos como promotores de crescimento).
Após muito trabalho de gestão e logística, a exportação iniciou-se e ocorreu com sucesso! Esse case, mesmo fictício, nos mostra quanto trabalho é feito para tornar possível a exportação de um produto. E essa exportação, por sua vez, é possível graças à globalização. Vamos entender melhor esse assunto?
Para que possamos compreender a relação entre zootecnia e globalização, primeiramente precisamos ter em mente, de forma clara, o conceito de cada um dos termos. O primeiro deles é mais conhecido por você! Podemos entender que zootecnia é a ciência que estuda a criação dos animais para fins econômicos, visando a produção de produtos de origem animal, como a carne, o leite, os ovos, o couro e outros produtos afins.
O termo Globalização pode até ser familiar para você, pois ele está presente em diversas áreas, mas é preciso compreender o seu significado. No dicionário, a globalização é definida como um processo que leva à integração, ou seja, a uma estreita ligação entre economias e mercados entre diferentes países, o que resulta em uma “quebra” da fronteira entre eles (DICIO, c2023).
De acordo com Machado e Matsushita (2019, p. 105), o termo globalização pode ser entendido como:
Um meio, um fenômeno, um processo que visa aproximar Nações e povos, com a implementação, em foro mundial, de culturas, políticas e economias através da comunicação e dos transportes. O avanço da tecnologia proporciona a integração das Nações, unindo o Norte ao Sul, quebrando barreiras e impondo o capitalismo por todos os cantos do mundo.
Agora, entendendo no que consiste o termo globalização, podemos compreender as vantagens e desvantagens em relação à produção animal. Veja no Quadro 1:
Tendo em mente o conceito de globalização, bem como o conhecimento de suas possíveis vantagens e desvantagens, podemos perceber como esta impacta a produção animal como um todo. Por exemplo, atualmente, o Brasil é um dos maiores exportadores de carne do mundo. De acordo com a Revista Forbes, em março de 2023, nosso país exportou 514,6 mil toneladas de carne de frango. Ainda, de acordo com a EMBRAPA (2022), o Brasil é o quarto maior exportador de carne suína, sendo ainda um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo! Colocando em números, concluímos que o país arrecada de milhões a bilhões de reais por ano, apenas exportando os seus produtos, o que, obviamente, impulsiona a economia como um todo, visto que há várias pessoas em diversos setores envolvidas nesse processo.
Para que o país consiga suprir toda essa demanda mundial – além da demanda interna –, as produções precisam ser de larga escala, e mais tecnologia deve ser empregada. Ademais, a produção precisa se adequar ao seu comprador. Vejamos alguns exemplos:
Países muçulmanos apenas compram animais que sejam abatidos da forma que a sua religião permite. Portanto, se o Brasil quiser vender carne para esses países, precisará dispor de frigoríficos que façam o abate Halal (nome dado ao abate realizado da forma permitida pelos muçulmanos). Ou seja, investimentos deverão ser feitos para garantir esse ramo da exportação.
Os países pertencentes à União Europeia aboliram a utilização de antibióticos em frangos, quando estes são utilizados como “Promotores de Crescimento”. Desta forma, para esses países é proibido utilizar antibióticos em doses baixas e em aves aparentemente saudáveis, apenas para evitar que estas fiquem doentes devido ao estresse causado pela criação intensiva. Por isso, a cada dia, novas alternativas são testadas – em especial produtos naturais, como os óleos essenciais – para serem utilizadas como promotores de crescimento na criação de aves, o que impulsiona a pesquisa, a ciência e o desenvolvimento de novas tecnologias.
A questão do bem-estar animal é outro ponto que vem sendo a cada dia mais debatido, como visto anteriormente. Alguns países têm proibido certas formas de criação, por impactar o bem-estar animal, e certamente não irão importar produtos que não sejam produzidos dentro das normas do bem-estar animal! Neste ponto, a criação precisa entrar em equilíbrio entre o bem-estar animal e a eficiência da produção – um trabalho que você, como futuro técnico em agronegócio, poderá auxiliar!
Com esses exemplos, podemos perceber um pouco das vantagens da globalização na produção animal citadas aqui: para atender a essa grande demanda de exportação, as escalas de produção são aumentadas, a competição aumenta (o que pode diminuir os preços do produto final), os custos de produção são reduzidos devido à alta escala e à maior tecnologia empregada, o padrão de qualidade dos produtos tende a aumentar e, por fim, a economia gira, e se beneficia.
Se Liga!
As normas de sanidade e biosseguridade na produção animal são importantes não apenas na questão da saúde humana/animal, mas também em relação à exportação e importação! Um dos casos mais recentes é em relação à Influenza Aviária, uma doença altamente contagiosa que vem preocupando os avicultores. De acordo com Silva e Fabbri (2023), em um cenário pessimista, o acometimento de granjas comerciais pelo vírus poderia levar ao abate sanitário das aves, o chamado fechamento das barreiras (suspensão da exportação), o que levaria à queda do preço dos produtos, podendo afetar até o preço das carnes suínas e bovinas. Ou seja, protocolo sanitário a todo vapor, em todas as criações, sempre!
Apesar da alta exportação brasileira, devemos ter em mente que o Brasil ainda é dependente de outros países para a produção em larga escala. Por exemplo, a base da alimentação dos animais de produção é o milho e a soja e, portanto, oscilações na produção destes grãos impactarão a produção animal. Talvez, neste momento, você pode se perguntar: “Mas, nós plantamos milho e soja no Brasil, então, ainda assim, depende de outros países?”. De fato, o Brasil produz esses grãos, entretanto, o país necessita, dentre outras coisas, de fertilizantes para a plantação desses grãos. E o Brasil, por sua vez, ainda não consegue suprir a demanda de fertilizantes apenas com a produção nacional. Ou seja, precisa importar!
Apesar da Avicultura, Suinocultura e Bovinocultura apresentarem uma quantidade de exportações expressiva, devido especialmente às suas cadeias produtivas organizadas e as tecnologias empregadas, algumas criações animais ainda enfrentam desafios para consolidar a sua exportação. Podemos citar como exemplo a produção de tilápia.
De acordo com Milanez et al., (2019), mesmo o Brasil sendo um dos maiores produtores de tilápia do mundo, há diversos gargalos que dificultam o aumento da exportação desse produto. Entre eles está a competição pelo preço com outros países, pois, apesar do Brasil ser um grande produtor de grãos (matéria-prima da ração dos peixes), o custo da produção desses grãos é alto em relação a outros países, devido a logísticas como o preço da energia elétrica, mão de obra, tributos, custos de processamento, logística de transporte e baixa escala de produção em relação a outros exportadores. Ademais, os autores ainda citam que o preço pago pelo mercado interno acaba por ser mais atraente que a exportação, pois há menos recursos a serem gastos com a logística e a manutenção da qualidade do produto final. Dessa forma, a maioria dos produtores de tilápia trabalham de maneira individual, sendo que a produção em cooperativas poderia agregar o volume de outros produtores (MILANEZ et al., 2019).
Por fim, devemos nos atentar que, com a globalização, verificou-se a cada dia mais a necessidade de mão de obra qualificada, devido ao aumento da tecnologia empregada na produção. Ademais, pequenos produtores tornaram-se mais dependentes de grandes empresas e cooperativas, para que possam produzir em volume e qualidade suficiente para que sejam competitivos e, por outro lado, as grandes corporações aumentaram o seu monopólio, o que por muitas vezes sufoca empresas e produtores menores, aumentando o risco da desigualdade social.
Querido estudante, nesta lição nós aprendemos um pouco mais sobre o fenômeno da globalização e as suas principais implicações na Produção Animal. O Brasil, apesar de grande produtor de alimentos e produtos de origem animal, ainda não é autossuficiente.
Dentro do contexto de comércio entre os países, há fatores que impactam a economia e/ou a produção de um país, e podem impactar outros países, em uma escala global. Um exemplo atual é o conflito entre Rússia e Ucrânia. Você sabe como esse conflito afeta o nosso agronegócio? Seu primeiro desafio é pesquisar essa resposta!
Como segundo desafio, você pode pesquisar, também, quais são as grandes empresas envolvidas na Produção Animal, ou seja, busque conhecer quais são as maiores empresas de carne no mundo e qual o seu volume de produção. Além disso, descubra por que os produtores rurais dependem tanto dessas grandes empresas! Tenho certeza que você estudante, ao procurar essas respostas, alcançará um melhor entendimento sobre esse assunto tão atual e de extrema importância no mundo todo: a globalização! Se possível, compartilhe o que encontrou com seus colegas de sala e discutam sobre o assunto!
BRIDI, A. M. Qualidade da carne para o mercado internacional. Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Zootecnia, Londrina, 2004.
EMBRAPA. GLOBALIZAÇÃO – IMPACTOS NA PRODUÇÃO DE FRANGO NO BRASIL. [202-?] Disponível em: http://www.cnpsa.embrapa.br/sgc/sgc_publicacoes/anais0304_bsa_penz1.pdf. Acesso em: 5. jul. 2023.
EMBRAPA SUÍNOS E AVES. Central de Inteligência de Aves e Suínos. 2022. Disponível em: https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/cias/estatisticas. Acesso em: 5 jul. 2023.
FORBES. Brasil bate recorde em exportação de frango em março e fecha trimestre com alta de 15%. 2023. Disponível em: https://forbes.com.br/forbesagro/2023/04/brasil-bate-recorde-em-exportacao-de-frango-em-marco-e-fecha-trimestre-com-alta-de-15/. Acesso em: 5 jul. 2023.
GLOBALIZAÇÃO. In: DICIO - DICIONÁRIO On-line de Português. [S. l.], c2023. Disponível em https://www.dicio.com.br/globalizacao/. Acesso em: 5 jul. 2023.
MACHADO, M. W.; MATSUSHITA, T. L. Globalização e blocos econômicos. Revista de Direito Internacional e Globalização Econômica, v. 1, n. 1-Ext, p. 104–132, 2019.
MILANEZ, A. Y. et al. Potencial e barreiras para a exportação de carne de tilápias pelo Brasil. BNDES Setorial, v. 25, n. 49, p. 155–213, 2019.
SILVA, R.; FABBRI, F. de L. J. F. Influenza aviária e os riscos para o mercado brasileiro. AgroANALYSIS, v. 43, n. 4, p. 28-30, 2023.