Olá, estudante, na lição anterior, nós estudamos os principais fatores que podem alterar o valor dos produtos de origem animal. Compreender esses fatores é essencial, já que todo empreendimento rural busca um retorno financeiro satisfatório. Nesta lição, nós vamos focar nas tendências atuais do Mercado da Produção Animal, afinal, um empreendimento precisa estar atento às tendências de seus consumidores, podendo, assim, planejar os seus próximos passos dentro da produção, para que esta seja eficiente e competitiva.
Entender essas tendências é fundamental para qualquer empreendedor do agronegócio. Os consumidores estão cada vez mais atentos à origem e qualidade dos produtos que consomem. Portanto, estar em sintonia com as demandas do mercado é o que diferencia um negócio bem-sucedido de um que enfrenta dificuldades. Portanto, prepare-se para uma lição repleta de insights sobre o futuro da produção animal e como adaptar seu empreendimento para atender às demandas de um mercado em constante mutação. Vamos aprender como se manter atualizado e como garantir que a produção animal esteja alinhada com as expectativas do consumidor moderno!
Você pode perceber a importância dos estudos das tendências de mercado observando o comércio da sua cidade. O exemplo mais simples para que você compreenda o assunto de hoje é pensar em uma loja de roupas. Se você for hoje em uma loja de roupas, verá que grande parte das roupas e acessórios vendidos são os “da moda”, e encontrará as “tendências” do momento. Se essa mesma loja colocar alguns itens que estavam “na moda” há dez anos atrás, você acha que as vendas seriam nas mesmas proporções? A sua resposta para essa pergunta provavelmente foi “não”, isso porque esses itens, muito provavelmente, não terão a mesma demanda, e o vendedor precisará vendê-los por um preço menor, pois, afinal, eles não são a tendência do momento.
Acredito que com esse exemplo ficou bem mais fácil compreender a questão de algo ser uma “tendência”, mas e na Produção Animal, quais são as tendências do mercado consumidor? Como o estudo e a aplicação dessas tendências pode deixar a produção mais rentável? Talvez essas respostas você ainda não saiba, mas fique tranquilo! Vamos responder a essas e a outras questões na lição de hoje!
Para podermos compreender de forma prática a importância do conhecimento das tendências dos consumidores, vamos citar um case fictício, de um produtor rural chamado Henrique, que gostaria de incrementar a sua produção, visando um nicho específico e em crescimento: a produção de carne orgânica.
Para esse desafio, Henrique contratou o técnico em agronegócio, que se chamava Márcio, para auxiliar na gestão e no planejamento das mudanças de sua propriedade, para que esta pudesse se tornar mais sustentável, atendendo a todos os requisitos para receber o certificado de produto orgânico, o que agregou valor em seu produto. Henrique e Márcio não apenas se concentraram no presente, mas também planejaram com visão de futuro, levando em consideração as tendências de consumo relacionadas a alimentos sustentáveis, livres de resíduos químicos e de alta qualidade. Eles compreenderam que essa tendência está em crescimento e que, ao antecipar as demandas do mercado, Henrique estará bem posicionado para expandir sua produção e atender a uma demanda crescente.
Esse exemplo fictício ilustra como os produtores rurais podem prosperar ao se adaptarem às tendências do mercado, capitalizando o aumento da procura por alimentos orgânicos e sustentáveis. Vamos explorar mais sobre como a compreensão das tendências dos consumidores pode ser um trunfo valioso para os empreendimentos rurais. Pronto para aprofundar o seu conhecimento? Vamos lá!
De acordo com Porpino e Bolfe (2020), é de extrema importância para quem atua no setor agroalimentar estar sempre atento às mudanças no comportamento dos consumidores em todas as etapas da cadeia de produção. Além disso, os autores enfatizam que a compreensão das tendências dos consumidores é necessária para podermos ofertar produtos e serviços alinhados a essas transformações, sendo esse um princípio básico de sobrevivência no mercado. Ainda, conforme Porpino e Bolfe (2020, p. 8):
A partir da revisão da literatura, mapeamento de tendências em estudos setoriais e observações de participantes em feiras e eventos do setor, surgem evidências de que sustentabilidade, saudabilidade, segurança dos alimentos e segmentação crescente são os chamados “4S” que estão norteando tendências de consumo de alimentos. A certificação surge como um eixo transversal, que pode fortalecer a percepção de sustentabilidade, saudabilidade e segurança dos alimentos.
Ao pesquisar sobre as tendências do mercado da Produção Animal, podemos observar diversos resultados envolvendo esses termos: sustentabilidade, saudabilidade, segurança dos alimentos e segmentação crescente, citados pelos autores. Portanto, é necessário compreender o seu significado!
De acordo com WCED (1987 apud SILVA; GAMEIRO, 2021, p. 211), o “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades”. Dias (2016), por sua vez, enfatiza que os pilares de uma produção sustentável são: o meio ambiente, econômico e social. Essas três dimensões são integradas e indivisíveis, ou seja, para uma produção ser sustentável, esta precisa atender a características visando alguns pontos como a conservação do meio ambiente, a diminuição da desigualdade social e a promoção da saúde e do bem-estar para todos. Por fim, Dias (2016, p. 335) conclui que:
A missão do setor agropecuário é produzir alimentos seguros para uma humanidade em constante crescimento populacional, respeitando o planeta onde vivemos. Os profissionais, as empresas, as instituições públicas e privadas devem ter suas ações alinhadas com os princípios de sustentabilidade, promovendo um mundo melhor para as futuras gerações.
O conceito de saudabilidade tem a ver com a mudança de hábitos alimentares visando a uma melhor qualidade de vida, ou seja, uma alimentação considerada saudável – assunto que está a cada dia mais em pauta, visto que a cada dia mais e mais pessoas preocupam-se com a qualidade de sua alimentação. Conforme exposto por Junger, Paiva e Silva Costa (2018), há um aumento da preocupação da indústria alimentícia em produzir alimentos visando à saudabilidade, devido à tendência de consumo e à preocupação com a saúde das pessoas.
Um alimento seguro pode ser definido como um alimento que não irá causar danos ao consumidor quando preparado e consumido da forma correta. Seguindo essa tendência, a Organização Internacional de Normalização (International Organization of Standardization - ISO) criou uma norma internacional denominada ISO 22000, visando à segurança dos alimentos em todas as etapas da cadeia produtiva, até a chegada ao consumidor.
De acordo com Agus et al. (2020), a norma ISO 22000 cobre a prevenção, eliminação e controle dos riscos à segurança alimentar, desde o local da produção até o consumo final, através de um esforço conjunto das empresas envolvidas na cadeia produtiva, visando à identificação e à prevenção dos riscos à segurança alimentar.
Não há como uma empresa satisfazer a todas as necessidades dos consumidores de um mercado, e é por isso que as empresas segmentam os seus mercados para que possam atender aos consumidores de forma satisfatória. Portanto, a segmentação de um mercado pode ser definida como a escolha de um grupo de consumidores com as mesmas necessidades, para o qual a empresa pode ofertar um produto destinado àquele grupo (FERREIRA, 2000).
Ou seja, é a divisão do mercado em nichos. Tanto o mercado global como o brasileiro são segmentados também no fator comportamental. Portanto, há a necessidade de as empresas estudarem o perfil de seus consumidores (SUAREZ, 2020 apud PORPINO; BOLFE, 2020). Conforme Porpino e Bolfe (2020) afirmam, as novas tecnologias aumentam a possibilidade de formar novos nichos de mercado. Um exemplo é a análise de dados pela inteligência artificial, algo muito utilizado no mundo atual. Ademais, os autores citam a necessidade do marketing de uma empresa em comunicar ao público-alvo respeitando as diferenças entre as gerações.
Alguns estudos visam, ainda, compreender as tendências consumidoras de um futuro mais “distante”, para haver tempo hábil para o planejamento e mudanças na cadeia produtiva. Nesse contexto, Malafaia, Biscola e Dias (2020) avaliaram as tendências do mercado consumidor da carne bovina para as próximas duas décadas – 2040 – enfatizando alguns pontos de interesse, como, por exemplo: a eliminação dos questionamentos sobre a segurança da carne, a eliminação do discurso “anticarne” e a maior qualidade e variedade com menor variação de preço. Com relação à visão do consumidor ao bem-estar e à sustentabilidade da produção de carne, Malafaia, Biscola e Dias (2020, p. 1) pontuam:
É provável que, até 2040, a pecuária brasileira seja mais bem-vista pela opinião pública do que é nos dias de hoje. Isso deverá ocorrer devido a investimentos no setor de bem-estar animal, na adoção de tecnologias que permitam a redução de gases de efeito estufa, no melhor controle de consumo hídrico, na implantação de processos de sustentabilidade em propriedades e na divulgação de informações à população sobre avanços da pecuária.
Por fim, os autores atentam ao aumento da demanda da carne orgânica, devido ao aumento do interesse do consumidor por produtos naturais e sustentáveis.
Vamos utilizar a carne orgânica como exemplo para explicar as tendências do mercado consumidor, visto que ela abrange, de forma geral, alguns aspectos estudados nesta lição. De acordo com Figueiredo e Soares (2012), um sistema de produção animal orgânico é apenas uma parte de um sistema produtivo orgânico. Ou seja, em uma propriedade orgânica, a agricultura e a pecuária se complementam através da reposição de recursos naturais e nutrientes. Não são utilizados agrotóxicos, medicamentos e hormônios sintéticos, transgênicos, além de haver uma restrição na utilização de adubos químicos.
Todas as criações seguem a legislação vigente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para que possam receber o certificado de produto orgânico. Quando necessário, ao invés de medicamentos convencionais, são utilizados medicamentos naturais – como, por exemplo, a homeopatia, por não gerarem resíduos ou riscos de contaminação do meio ambiente (BRACCINI et al., 2019).
Portanto, podemos visualizar alguns aspectos da carne orgânica. A forma de criação visa à sustentabilidade, à saudabilidade e à segurança dos alimentos, além de atender a um nicho do mercado que vem crescendo cada dia mais: os consumidores de produtos orgânicos.
Nesta lição, você aprendeu as tendências para o mercado consumidor, tanto atuais como para os próximos anos. Esse conhecimento é de extrema importância para que você, como futuro técnico em agronegócio, possa auxiliar no desenvolvimento de novos nichos de mercado, dessa maneira, alinhando a oferta do mercado com a demanda dos consumidores.
Você pôde compreender alguns pontos que são tendência para o mercado de produtos de origem animal, dentre eles, a chamada produção sustentável. Existem vários estudos visando à sustentabilidade das criações animais. Um exemplo é o estudo de Dornelas (2021), visando à biodigestão da cama de frango para produção de energia, diminuindo, assim, os impactos ambientais causados pelo descarte do material no meio ambiente.
Com o conhecimento adquirido nesta lição, pesquise sobre criações animais que utilizam alternativas para aumentar a sustentabilidade de sua criação, como o estudo de Dornelas (2021) citado. Escolha a espécie de sua preferência e o produto final (carne, ovos e leite), e elabore um texto narrando o(s) manejo(s) sustentável(is) realizado(s) em uma propriedade, ou em um estudo com diversas propriedades. Compartilhe com os colegas em sala de aula para agregar conhecimento!
AGUS, P. et al. The effect of implementation integrated management system ISO 9001, ISO 14001, ISO 22000 and ISO 45001 on Indonesian food industries performance. Test Engineering and Management, v. 82, n. 20, p. 14054-14069, 2020.
BRACCINI, G. L. et al. Aplicação da homeopatia na produção animal. Revista Valore, v. 4, p. 310-323, 2019.
DIAS, C. P. Sustentabilidade na produção animal. Revista de Ciência Veterinária e Saúde Pública, v. 3, p. 333-336, 2016.
DORNELAS, K. C. et al. A biodigestão como ferramenta para a sustentabilidade avícola – uma revisão. Research, Society and Development, v. 10, n. 12, p. e38101220042-e38101220042, 2021.
FERREIRA, F. H. G. Segmentação de mercado. Biblioteca temática do empreendedor, 2000.
FIGUEIREDO, E. A. P.; SOARES, J. P. G. Sistemas orgânicos de produção animal: dimensões técnicas e econômicas, 2012.
JUNGER, A. P.; PAIVA, T. M.; DA SILVA COSTA, T. A. Branding como posicionamento de mercado: como as empresas do ramo alimentício podem se posicionar em relação ao share of mind de produtos voltados para saudabilidade. Revista de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gestão, p. e13-e13, 2018.
MALAFAIA, G. C.; BISCOLA, P. H. N.; DIAS, F. R. T. Como será o mercado consumidor de carne bovina em 2040? CiCarne-Embrapa Gado de Corte, p. 1-3, 2020.
PORPINO, G.; BOLFE, É. L. Tendências de consumo de alimentos: implicações e oportunidades para o setor agroalimentar brasileiro. Informe Agropecuário. Certificação, Rastreamento e Agregação de Valor, v. 41, n. 311, p. 7-14, 2020.
SILVA, M. F.; GAMEIRO, A. H. Indicadores de sustentabilidade para a produção de leite: uma revisão de literatura. Revista Livre de Sustentabilidade e Empreendedorismo, v. 6, n. 5, p. 208-237, 2021.