Olá, estudante!
Na lição anterior, revisamos sobre a importância da Visão Global (Visão Sistemática) no contexto do gerenciamento de uma produção. Afinal, você precisará estar atento ao meio no qual essa empresa está inserida — inclusive, a nível mundial — e como as ocorrências e alterações — algumas vezes, do outro lado do mundo — podem impactar na sua criação!
Nesta lição, aprofundaremos nossos conhecimentos sobre os recursos produtivos (econômicos) e sociais da Produção Animal. Dessa forma, entenderemos como podemos otimizar o uso desses recursos, além de analisar de que maneira a produção pode impactar o ambiente que a circunda. É importante ressaltar que essa interação não se limita apenas à empresa sendo afetada pelo meio, mas também reconhece que a empresa pode exercer influência significativa no meio. Avancemos juntos nesse aprendizado!
Você já parou para pensar qual a verdadeira importância dos recursos à disposição de uma empresa? Quais são os recursos pertinentes à Produção Animal? E quais são as principais responsabilidades sociais que uma empresa rural voltada à Produção Animal deve almejar? Como técnico em agronegócio de uma Produção Animal, você saberia gerenciar os recursos disponíveis de maneira eficaz, rentável e com impactos sociais minimizados ou benéficos para a comunidade?
Desenvolver a habilidade de gerir esses elementos é importante para você se tornar um profissional excepcional! Por isso, convido você a aprofundar seus conhecimentos nesse desafiador e enriquecedor cenário, pois compreender e aplicar esses conceitos contribui significativamente para o sucesso e a sustentabilidade no universo da Produção!
Para que você compreenda melhor sobre esse assunto, citaremos o case fictício da técnica em agronegócio de nome Janaína, que decidiu iniciar uma produção de aves de postura em sua propriedade. Janaína iniciou o seu trabalho com uma extensa pesquisa acerca da cadeia produtiva, do mercado de insumos, do mercado consumidor, dos custos de produção, da receita produtiva e de todos os outros fatores necessários para iniciar uma produção de forma planejada.
Para as atividades, Janaína transformou os recursos que ela tinha em produção, a terra que ela tinha disponível, os animais, o dinheiro para a compra dos equipamentos e a construção das instalações, a contratação dos funcionários e a inclusão de tecnologias. Como boa técnica, Janaína conseguiu utilizar a menor quantidade de recursos possível, resultando em produção e lucro para a propriedade. Acima de tudo, Janaína, também, visou o bem-estar dos animais, a sustentabilidade de sua criação e, também, o bem-estar de seus colaboradores, por meio de salários justos e carga horária adequada.
Dessa forma, por meio desse relato, temos um exemplo de gestão eficiente, que vai além dos aspectos meramente financeiros, incorporando valores de sustentabilidade e responsabilidade social! Vamos aprofundar ainda mais nossa compreensão sobre esse modelo de gestão exemplar?
Primeiramente, relembraremos alguns conceitos administrativos, tendo em mente que a propriedade de produção animal é uma empresa e, como tal, precisa ser administrada. Conforme Arruda (2013 apud SILVA et al., 2020), a base de uma empresa rural é o controle dos recursos disponíveis, de forma que o administrador alcance os objetivos propostos utilizando a menor quantidade de recursos possível. Silva (2005 apud SANTOS; MARTINIUK, 2021), ainda, complementa dizendo que a administração de uma propriedade rural, também, pode ser definida como o planejamento de como os recursos da propriedade serão distribuídos e como isso será feito.
Mas, o que, de fato, são esses recursos? Podemos definir como recursos tudo aquilo que uma empresa precisa para funcionar. De acordo com Maximiano (2000), existem quatro principais recursos necessários para poder realizar um projeto, sendo eles:
Mão de obra: entram nessa categoria os funcionários (fixos e temporários), terceirizados e até voluntários. Tendo como exemplo uma leiteria, podemos citar desde os ordenhadores, o pessoal da limpeza, do escritório, os técnicos etc.
Material de consumo: podemos citar o combustível, as peças de reposição dos equipamentos. Continuando com o exemplo da leiteria, há os materiais utilizados para a limpeza dos tetos das vacas, antes e após a ordenha, as vacinas e os medicamentos etc.
Material permanente: Maximiano (2000) cita, nesse ponto os bens, equipamentos e instalações comprados, construídos ou alugados. As instalações de uma ordenhadeira, o aprisco de uma propriedade de ovinos, o galpão de guardar o feno e mesmo a propriedade rural em si entram como exemplos.
Serviços de terceiros: nesse ponto, o autor cita exemplos, como as viagens, a hospedagem e a alimentação de terceirizados, além de serviços especializados. Um exemplo é o contrato de um veterinário para ir, mensalmente, na propriedade realizar alguns manejos especializados.
Ao discutir os recursos produtivos, os autores Alencar e Aguiar (2013, p. 34) os definem como:
Elementos utilizados no processo de fabricação das mercadorias, que serão utilizados na satisfação de nossas necessidades. Esses elementos podem ser de origem natural, humana, bens de capital, tecnológica e empresarial. Os recursos produtivos devem ser utilizados da forma mais racional e eficiente possível, para evitar desperdício.
Conforme destacado por Alencar e Aguiar (2013), os recursos produtivos abrangem diversas categorias essenciais para o desenvolvimento econômico. Vejamos a definição dessas categorias:
Recursos Naturais: engloba a terra para a agricultura, as florestas, os minérios, os rios, o clima, os animais etc.
Trabalho: refere-se ao esforço físico ou mental utilizado para a produção de um bem ou serviço, advindo da parcela da população que está economicamente ativa.
Bens de Capital: incluem os bens produzidos que são destinados à fabricação de outros bens, como as máquinas, construções e ferramentas de trabalho. O capital é de extrema importância para o processo produtivo!
Tecnologia: compreende todo o conhecimento e habilidade que sustenta o processo produtivo.
Capacidade Empresarial: refere-se à habilidade de o empresário tomar decisões durante o processo produtivo. Para que essas decisões sejam assertivas, o administrador precisa possuir uma visão estratégica, competitiva e organizacional.
Trazendo esses conceitos para a Produção Animal, podemos encaixá-los em uma propriedade destinada a essa atividade, seja essa produção grande ou pequena, familiar ou de grandes produtores. Imagine um produtor que possua uma propriedade rural (bem de capital) em que ele cria bovinos de leite (recurso natural). Para essa criação resultar em lucro, esse produtor aliou o seu estudo e a sua experiência com a sua capacidade de gerir um processo produtivo, além de contratar pessoas que pudessem auxiliá-lo, ou seja, esse produtor utilizou os recursos disponíveis para que a sua produção leiteira se tornasse uma realidade e fosse eficiente.
Ao consultar no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa o significado do termo “social”, deparamo-nos com as seguintes definições:
Que diz respeito à sociedade ou às relações que se estabelecem entre os membros de uma sociedade.
Relativo à empresa ou sociedade comercial.
Que tem tendência para viver em sociedade; que tem propensão para estabelecer relações com outros indivíduos.
Que é benéfico ou conveniente para a sociedade.
O que diz respeito ao bem-estar de todos.
O que pertence ou diz respeito a todos.
Portanto, podemos definir como recursos sociais aquilo que impacta toda a comunidade!
De acordo com Barbieri e Cajazeira (2009), todas as decisões tomadas em uma empresa resultam em ações, e todas essas ações podem impactar, de alguma forma, a vida das pessoas, sejam estas os funcionários, suas famílias, os fornecedores e compradores ou até mesmo as próximas gerações! Portanto, como gestor de uma propriedade, atente-se a isso sempre que precisar tomar uma decisão. Como ela impactará a vida dos colaboradores? Dos vendedores de insumos? Dos consumidores? Ou mesmo da sociedade como um todo? Isso é gerir com responsabilidade social!
No contexto da Produção Animal, podemos citar principalmente a questão da sustentabilidade da criação, considerando a utilização dos recursos naturais disponíveis e o impacto ambiental associado. Segundo Palhares (2019, p.13):
A água e o solo, recursos fundamentais para a agricultura e pecuária, estão intrinsecamente relacionados com os atuais desafios da sociedade: a insegurança alimentar, a pobreza, a adaptação e a mitigação das mudanças climáticas, a degradação e o esgotamento dos recursos naturais e a manutenção da biodiversidade.
Para exemplificar o texto anterior, imagine uma grande empresa que despeja todo o esgoto no principal rio de uma cidade. Essa empresa gerou um impacto ambiental (poluiu o rio), insegurança alimentar para os pescadores da região (poluiu a sua fonte de sustento) e afetou a biodiversidade da região ao causar a morte de diversas criaturas aquáticas. Ao final, o impacto social foi significativo, pois envolveu toda a comunidade, incluindo, nesse caso, até as futuras gerações.
Um exemplo é fornecido por Ferreira et al. (2021) em relação à Responsabilidade Social Corporativa (RSC), um recurso que possibilita o comportamento ético de uma empresa acerca dos impactos sociais, ambientais e financeiros dela. Os autores focam especialmente na questão ambiental, por meio da proteção de todos os seres vivos e o bem-estar animal, enfatizando a relação da saúde dos animais com a saúde humana. De acordo com Bertoncello e Chang Junior (2007), as empresas, também, podem utilizar a Responsabilidade Social de forma estratégica, visto que os consumidores estão cada dia mais atentos aos fatores sociais, como a sustentabilidade e o bem-estar animal.
Transpondo essa temática para a área da Produção Animal, destaca-se a preocupação com as zoonoses, que são doenças transmitidas dos animais para os seres humanos. Essas enfermidades podem ser contraídas pelos funcionários, especialmente quando não utilizam os equipamentos de proteção individual (EPI) durante o manejo dos animais. Além disso, elas podem afetar a população em geral, especialmente em criações não vacinadas e desprovidas de práticas de higiene adequadas. Em outras palavras, trata-se de um impacto social relevante, evidenciando a necessidade de práticas responsáveis na Produção Animal não apenas em termos de bem-estar animal, mas também de saúde pública.
O profissional técnico em agronegócio que atua em propriedades rurais precisa ter conhecimento sobre Recursos Econômicos e Sociais que estão disponíveis por diversas razões. Compreender os recursos econômicos, como financeiros e materiais, permite tomar decisões mais eficientes sobre investimentos, custos de produção e aquisição de equipamentos, contribuindo para a maximização dos recursos e a eficácia operacional. Além disso, esse conhecimento, também, garante a sustentabilidade financeira da propriedade rural, envolvendo a gestão de receitas, controle de despesas e avaliação da rentabilidade.
Quando pensamos nos recursos sociais, o conhecimento é fundamental para a gestão de equipes, otimizando a mão de obra disponível, promovendo um ambiente de trabalho saudável e garantindo o bem-estar dos colaboradores. Também, é essencial para a gestão responsável, considerando o impacto da propriedade rural na comunidade local, adotando práticas sustentáveis e promovendo o respeito ao meio ambiente. Isso é extremamente necessário, visto que, conforme estudamos na lição, essa consciência social é cada vez mais valorizada pelos consumidores e pela sociedade em geral.
Sendo assim, o entendimento dos recursos econômicos e sociais permitirá que você, enquanto técnico em agronegócio, alinhe a produção da propriedade rural com as demandas do mercado, adaptando-se a tendências sociais, éticas e ambientais. Além disso, contribui para o cumprimento das normas e regulamentações relacionadas à administração rural, evitando problemas legais e fortalecendo a reputação e legitimidade da propriedade.
E agora que tal aprofundar seu conhecimento acerca da utilização dos recursos de uma propriedade, além da definição desses recursos? Assim como em todas as empresas, em uma empresa rural, você, também, precisará utilizar os recursos disponíveis de forma eficiente, por isso, para que você compreenda melhor quais os recursos produtivos de uma produção, vamos ao seguinte desafio:
Escolha uma criação de sua preferência (espécie animal e produto final).
Crie um cenário fictício (por exemplo: uma fazenda) ou utilize um cenário real (por exemplo: a sua propriedade ou de um amigo).
Liste todos os recursos produtivos disponíveis para essa produção.
Liste as responsabilidades sociais dessa produção: como ela poderia impactar (positiva ou negativamente) as pessoas ao redor?
Realize uma pesquisa sobre quais seriam as maneiras mais eficientes de utilização dos recursos citados e como eles impactam a comunidade.
Apresente seu trabalho em sala de aula e discuta com o professor e com os colegas.
Bom trabalho!
ALENCAR, A. V. dos S.; AGUIAR, F. P. de. Fundamentos de economia. 2. ed. Fortaleza: UAB/IFCE, 2013.
BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável: da teoria à prática. São Paulo: Saraiva Educação SA, 2009.
BERTONCELLO, S. L. T.; CHANG JÚNIOR, J. A importância da Responsabilidade Social Corporativa como fator de diferenciação. FACOM, v. 70, n. 17, p. 76, 2007.
SILVA, E. C. G. da. et al. Estudo das teorias da administração na gestão de pequenas propriedades rurais. Caderno Profissional de Administração da UNIMEP, v. 9, n. 1, p. 239-257, 2020.
SOCIAL. In: DICIONÁRIO da Língua Portuguesa. Lisboa: Periberam Informática, 1998. Disponível em: https://dicionario.priberam.org/social. Acesso em: 20 fev. 2024.
PALHARES, J. C. P. (ed.). Produção animal e recursos hídricos: tecnologias para manejo de resíduos e uso eficiente dos insumos. Brasília: Embrapa, 2011. Disponível em: https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/handle/doc/1112245. Acesso em: 20 fev. 2024.
FERREIRA, S. G. et al. Responsabilidade social corporativa e bem-estar animal: um caminho possível? Planeta Amazônia: Revista Internacional de Direito Ambiental e Políticas Públicas, n. 13, p. 137-146, 2021.
MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à Administração. 5 ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2000.
SANTOS, S. C. dos.; MARTINIUK, V. C. Administração e agronegócio em propriedades rurais. [S. l: s. n.], 2021.