Olá, estudante!
Na lição anterior, aprendemos sobre os recursos disponíveis em uma empresa, definindo como recursos tudo aquilo que uma empresa possui para realizar as suas atividades e alcançar os objetivos propostos. Além disso, caracterizamos esses recursos e enfatizamos a importância de utilizá-los de forma sustentável.
Agora, nesta lição, aprenderemos sobre as principais estratégias utilizadas para que esses recursos sejam utilizados de forma eficiente e sustentável, ou seja, as principais estratégias de produção. Ao avançarmos na lição, mergulharemos em práticas e técnicas que capacitam profissionais do agronegócio a utilizar os recursos de forma sustentável, promovendo não apenas o sucesso econômico, mas também a preservação ambiental e o bem-estar social. Continuemos, então, nesta jornada que integra teoria e prática, essencial para o profissional técnico em agronegócio.
Estudante, como futuro técnico em agronegócio e gestor de uma empresa de Produção Animal, você já imaginou como você irá…
… gerir os recursos disponíveis dessa empresa para atingir os objetivos propostos?
… gerir os custos de produção?
… negociar com os fornecedores e consumidores?
… se ajustar às dinâmicas do mercado?
… manter a empresa competitiva?
Ou seja… Quais serão as suas principais estratégias de produção que garantirão sucesso à empresa?
Considerar as estratégias de produção na produção animal é essencial para otimizar a eficiência operacional, reduzir custos, garantir qualidade do produto, promover sustentabilidade ambiental, adaptar-se ao mercado, gerenciar riscos e promover o bem-estar animal. Essa abordagem proativa visa ao sucesso a longo prazo do negócio agrícola! E pensando na sua atuação, a importância está em considerar estratégias de produção visando maximizar a eficiência operacional, garantir a sustentabilidade do negócio e promover a competitividade no mercado.
Por isso, nós nos aprofundaremos, ainda mais, nesses aspectos para compreender como você, enquanto futuro profissional do agronegócio, poderá enfrentar e superar os desafios para alcançar o êxito em sua empreitada.
Joaquim, técnico em agronegócio, iniciou o trabalho em uma propriedade de produção de ovinos. Para iniciar o seu planejamento estratégico, realizou uma ampla pesquisa utilizando livros e artigos com base científica e, também, em mídias digitais, de forma a coletar todas as informações necessárias, de forma cautelosa, sobre essa produção. Com os dados em mãos, iniciou o seu trabalho e logo percebeu um dos gargalos da produção ovina: o foco no consumidor, visto que a carne ovina é pouco consumida no Brasil em relação a outras carnes. Portanto, a primeira coisa que veio à sua cabeça foi investir no marketing da empresa. Entretanto logo descobriu que o antigo gestor tinha gasto altas quantias em marketing e que o resultado não foi o esperado.
Após a observação dos dados, percebeu que a oferta de animais não era constante no mercado, o que dificultava o consumidor tornar o consumo de carne ovina um hábito. Ademais, erros no manejo, na nutrição e na biosseguridade comprometiam a qualidade do produto final, pois o antigo gestor, querendo poupar gastos de forma não planejada, não investia, corretamente, nesses pontos. Diante desse cenário, Joaquim concluiu que, antes de realizar investimentos significativos em marketing, era necessário aprimorar as questões internas, incluindo o equilíbrio dos gastos, investimentos estratégicos, a melhoria da qualidade do produto e a regularidade na oferta ao mercado.
Portanto, ao analisarmos o relato envolvendo Joaquim, observamos que ele está intrinsecamente relacionado ao tema do planejamento estratégico! Ao assumir a gestão da propriedade de produção de ovinos, Joaquim demonstrou uma abordagem estratégica ao iniciar seu planejamento. O relato destaca a importância do planejamento estratégico ao identificar e abordar, sistematicamente, os desafios internos antes de implementar estratégias de marketing. Isso reforça a compreensão de que uma estratégia eficaz não apenas considera o mercado externo, mas também avalia e melhora, internamente, os processos para garantir o sucesso sustentável do negócio!
Para que você compreenda melhor sobre Estratégia de Produção, iniciaremos com a frase de Oliveira (2020, p. 7): “O ambiente de negócios está cada vez mais competitivo. Cabe às organizações implementar estratégias para obter vantagens em relação umas às outras”. A partir dessa frase, podemos compreender a importância das Estratégias de Produção e s razão pela qual elas existem.
Skinner (1969 apud LIMA NUNES et al., 2015) propôs, além da análise de mercado e da concorrência, a necessidade de analisarmos os recursos disponíveis em uma empresa e estudar estratégias de produção, pois, dessa maneira, a empresa pode planejar como ela competirá. Em outras palavras, as estratégias produtivas são desenvolvidas visando à competitividade do mercado e às exigências dos consumidores (KLIPPEL; ANTUNES JÚNIOR; PAIVA, 2005).
Mas o que são as Estratégias de Produção? Conforme Klippel, Antunes Júnior e Paiva (2005), as Estratégias de Produção são as estratégias utilizadas por uma empresa para que os seus recursos sejam utilizados da melhor forma possível. Chase et al. (2004 apud KLIPPEL; ANTUNES JUNIOR; PAIVA, 2005) ainda citam quatro pontos competitivos básicos, os quais são levados em conta na hora de estabelecer uma estratégia produtiva. Esses pontos são: os custos de produção, a qualidade do produto, a entrega e a flexibilidade. Vamos entender melhor sobre cada um deles.
Os custos de produção precisam ser, cuidadosamente, avaliados antes de tomar uma decisão, para que a empresa possa alcançar os seus objetivos e obter lucro (CARARETO et al., 2006). Conforme Carareto et al. (2006), o custo variável é o que melhor nos dá condições para a tomada de decisão, visto que a empresa possui maior capacidade de analisar e diminuir esses custos. Fusco (2007) ainda cita que pequenas produções possuem maior custo de produção em relação às grandes produções, visto que, nas grandes produções, o custo básico de produção é compartilhado por várias unidades de produção.
Em relação à produção animal, podemos citar, como exemplo, a produção de gado. De acordo com Pereira et al. (2005), no caso da criação extensiva, os custos fixos são maiores do que os custos variáveis, visto que pouco insumo e pouca mão de obra são utilizados. Entretanto sabemos que animais criados no sistema extensivo, também, apresentam menor rendimento. Dessa forma, o gestor precisará calcular, de forma cuidadosa, os custos para a intensificação do sistema, além do período de retorno do investimento.
Por fim, devemos ter em mente que, na produção animal, em geral, diminuir os custos sem um estudo prévio pode trazer graves consequências; sendo assim, isso deve ocorrer com muito cuidado. Uma redução de custos em pontos importantes, como a vacinação e biosseguridade, pode levar a perdas produtivas e ao aumento da mortalidade dos animais. Entretanto aumentar os custos sem um estudo prévio, também, pode ser desastroso, visto que o produtor pode estar “jogando dinheiro fora”.
De acordo com Fusco (2007), a qualidade se refere, principalmente, se um produto ou serviço apresenta o desempenho e a especificação desejados, de acordo com um padrão predefinido e desejado pelo mercado consumidor. O autor ainda complementa que o conceito de qualidade pode mudar de acordo com o produto/serviço oferecido, a variedade e o volume de produção. Trazendo para o contexto da produção animal, podemos citar diversos exemplos, como a qualidade da carne em relação aos aspectos sensoriais (maciez, sabor, odor), sanitários (livre de zoonoses e parasitoses) ou sustentáveis (animais criados em condições de bem-estar, pastagens de alto valor, uso racional dos recursos naturais). Outro exemplo é a qualidade do leite, visto que as empresas de laticínios comumente estipulam o preço pago para os produtores de acordo com a qualidade do produto oferecido.
Em alguns casos, o produto primário (advindo da criação animal em condições ideais) é de qualidade, mas fatores, como o abate ou a ordenha realizados de forma incorreta e até erros no transporte e beneficiamento, podem afetar o produto final. Vejamos alguns exemplos.
Exemplo 1: produtores que apresentarem um leite de melhor qualidade (adquirido especialmente devido aos cuidados com o manejo e a biosseguridade) receberão valor maior pelo seu produto.
Exemplo 2: uma granja de frangos que não realiza o manejo adequado da cama de frango pode apresentar elevado número de animais com lesões corporais, o que diminui a qualidade da carcaça.
Exemplo 3: a qualidade do couro de origem animal pode ser afetada por fatores que vão desde a genética do animal, a nutrição, a forma de criação, as instalações (por exemplo: arames farpados nas cercas que machucam o animal) e até o processo de curtimento.
A entrega pode ser contemplada dentro dos quesitos rapidez e confiabilidade. A rapidez é relativa, e seu conceito se altera conforme o produto desejado, mas pode ser definida como uma entrega dentro do prazo predefinido. Já a confiabilidade está especialmente associada ao cumprimento do prazo de entrega (FUSCO, 2007). Podemos citar alguns exemplos dentro da produção animal:
Exemplo 1: um produtor de suínos com uma granja que produz 250 animais prontos para o abate por semana não poderá fechar um contrato com um frigorífico prometendo uma leva semanal de 500 animais. Caso um produtor estipule um número x de animais para um frigorífico, ele precisará adequar a sua criação para que possa cumprir o que foi combinado.
Exemplo 2: um produtor de leite que decida vender a sua produção para uma empresa de laticínios que exige um número x de litros por dia precisará adequar as suas instalações para atender à essa demanda, para que, assim, possa respeitar os prazos e o volume estipulados.
Fusco (2007) enfatiza que, devido às constantes mudanças advindas da globalização, o mercado tornou-se mais dinâmico, mudando constantemente. Cabe às empresas serem flexíveis a ponto de ajustar-se às mudanças, ou seja, uma empresa precisa ser capaz de se reinventar a cada dia para se manter no mercado! Dentro da produção animal, podemos citar diversas mudanças. Atualmente, a carne é vista por alguns como a “vilã” do meio ambiente, e o número de vegetarianos cresce a cada dia. Além disso, as questões de bem-estar na criação dos animais e a sustentabilidade da criação têm ganhado cada dia mais espaço. Portanto, os produtores que não se atentarem a essas e outras questões discutidas podem acabar “ficando para trás” em um futuro próximo.
Um exemplo é o produtor de frango de corte. A cada dia, novas normativas vêm surgindo em relação à proibição do uso de antibióticos como promotores de crescimento nas criações, sendo permitidos apenas em casos específicos. A tendência dessa proibição é mundial, como visto em outras lições anteriormente, sendo assim, cabe ao produtor lutar contra isso — um erro fatal — ou adequar a sua produção, buscando alternativas, como o uso de produtos naturais.
Conforme dito anteriormente, uma empresa deve sempre decidir o seu modo de atuação visando formas de aumentar a sua competitividade frente às empresas concorrentes (PEDROZO; KRUMMENAUER, 2007). Entretanto, por diversas vezes, isso não é fácil, especialmente ao compararmos as pequenas e médias empresas com as gigantes do mercado.
Lima (2019) se aprofunda na questão dos pequenos produtores de leite, que sofrem por não conseguir competir, de forma justa, com os grandes produtores, visto que sua mão de obra é familiar e a maneira de trabalhar é mais rústica, com menor investimento, o que, muitas vezes, leva à diminuição também da qualidade de seus produtos.
Como podemos mudar cenários como esse? Conforme Teixeira, Dantas e Barreto (2015), o planejamento estratégico possui importância crucial para que uma empresa consiga passar por períodos de dificuldade, além de visualizar as oportunidades de crescimento do negócio, ou seja, é o planejamento estratégico que mantém as pequenas e médias empresas competitivas. A implementação de novas tecnologias aliadas à gestão eficiente, um bom marketing e a capacidade de negociação podem auxiliar os pequenos produtores. Além disso, como em muitos casos esses produtores não possuem alto valor para novos investimentos, as políticas públicas e sociais entram em jogo, por meio de financiamentos para o pequeno produtor e ofertas de cursos de capacitação.
Nesse cenário, o gestor de produção inicia o seu trabalho analisando o contexto (regional, nacional e global) em que sua produção está inclusa, realiza um inventário para o conhecimento de todos os recursos disponíveis dela e define as políticas de manufatura, ou seja, como a produção e a divisão de trabalho entre os funcionários serão realizadas. O conjunto dessas ações levam ao controle da produção, ou seja, à sua gestão.
Por fim, Skinner (1969 apud LIMA; NUNES et al., 2015) adverte: é necessário controlar e reavaliar os processos de produção constantemente, para que se possa realizar mudanças quando necessário, visto que o mercado está em constante mudança.
Um link com as lições anteriores
Skinner (1969 apud LIMA; NUNES et al., 2015) enfatiza pontos importantes, vistos anteriormente em nossas lições e que são de extrema importância para uma gestão estratégica, sendo eles:
1. Análise do mercado de forma global.
2. Conhecimento de todos os recursos disponíveis.
3. Definição das políticas de manufatura.
4. Gestão da Produção.
De acordo com Castro Junior et al., (2021), com o crescimento da população mundial (que, em 2050, deve alcançar mais de 9 bilhões de pessoas), a indústria de alimentos precisará aumentar, ainda mais, a sua demanda para poder acompanhar esse crescimento. Por isso, a produção animal precisará ser cada dia maior e mais eficiente e, para isso, a tomada de decisões, também, terá que ser mais rápida e assertiva. Nesse contexto, entram as discussões acerca da tecnologia e das chamadas Produções 4.0 e 5.0. O avanço tecnológico permite que os dados zootécnicos sejam coletados automaticamente e em tempo real, por meio de tecnologias, como chips, sensores e dispositivos, levando a decisões mais assertivas por meio de algoritmos da inteligência artificial (IA) (Castro Junior et al., 2021).
No futuro, a tendência será as criações cada vez mais automatizadas. Os produtores precisarão, primeiramente, possuir o conceito da flexibilidade, ao aceitar a entrada de novas tecnologias em sua produção. Ademais, essas novas tecnologias poderão levar a um desenvolvimento mais sustentável e produtivo, com menor taxa de erros e falhas no processo produtivo, levando à maior qualidade do produto, à diminuição dos custos de produção e à maior confiabilidade do mercado consumidor.
Estudante, como profissional na área de Produção Animal, você precisará implementar diversas estratégias de produção de acordo com diversos fatores, como a espécie animal, os recursos disponíveis, a produção final e as demandas do mercado. Ao realizar uma pesquisa básica na internet, você encontrará estudos relacionados desde estratégias para as questões ambientais, como para as questões sanitárias, tecnológicas, entre outras, sempre visando à melhoria da produção, ao aumento da eficiência produtiva e, obviamente, aos lucros.
Agora, para que você possa reforçar esse conteúdo, e compreendê-lo em diferentes áreas dentro da Produção Animal, escolha uma espécie de produção (por exemplo: galinhas poedeiras, suínos, aves de corte, ovinos etc.). Imagine que você seja o gestor de uma produção de pequeno ou médio porte e realize uma pesquisa sobre quais estratégias de produção podem ser utilizadas nessa produção. Por exemplo: quais estratégias podem ser utilizadas para que essa produção seja mais sustentável? Quais estratégias para que a produção seja competitiva no mercado (nacional ou internacional)? Quais estratégias para melhorar a eficiência produtiva? Quais estratégias aumentarão a competitividade da produção? Produza um texto acerca do assunto e o apresente aos seus colegas em sala de aula, trocando informações e conhecimento. Bom trabalho!
CARARETO, E. S. et al. Gestão estratégica de custos: custos na tomada de decisão. Revista de Economia da UEG, v. 2, n. 2, p. 1-24, 2006.
CASTRO JUNIOR, S. L. et al. Produção Animal 4.0: conceitos, aplicações e tendências. Revista Multidisciplinar do Vale do Jequitinhonha-ReviVale, v. 1, n. 1, 2021.
FUSCO, J. P. A. Operações e gestão estratégica da produção. São Paulo: Arte & Ciência, 2007.
KLIPPEL, M.; ANTUNES JÚNIOR, J. A. Valle; PAIVA, E. L. Estratégia de produção em empresas com linhas de produtos diferenciadas: um estudo de caso em uma empresa rodoferroviária. Gestão & Produção, v. 12, p. 417-428, 2005.
LIMA, O. Produção de leite na agricultura familiar: um estudo sobre a formação de preço. Anápolis: Centro Universitário de Anápolis, 2019. Disponível em: http://repositorio.aee.edu.br/bitstream/aee/8350/1/OT%C3%81VIO%20ARTIGO%20%282%29.pdf. Acesso em: 21 fev. 2024.
LIMA NUNES, F. et al. Análise entre posicionamento estratégico, estratégia de produção clássica e estratégia de produção da Hyundai. Revista ESPACIOS, v. 36, n. 3, p. 5, 2015.
OLIVEIRA, M. A. Gestão de operações e serviços. São Paulo: Senac, 2020.
PEDROZO, E. A.; KRUMMENAUER, L. L. Dilema na estratégia de produção e operações: privilegiar o mercado interno ou externo – o caso de uma grande empresa brasileira exportadora de carne. In: CONGRESSO DO INSTITUTO FRANCO-BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS, 4. 2007, Porto Algere. Anais [...]. Porto Alegre: IFBAE, 2007. Disponível em: https://ifbae.s3.eu-west-3.amazonaws.com/file/congres/2007_B201.pdf. Acesso em: 21 fev. 2024.
PEREIRA, M. de A. et al. Sistema e custo de produção de gado de corte no Estado de Goiás. Campo Grande: Embrapa, 2005. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/326304/1/COT94.pdf. Acesso em: 21 fev. 2024.
TEIXEIRA, C. A. C.; DANTAS, G. G. T.; BARRETO, C. A. A importância do planejamento estratégico para as pequenas empresas. Revista eletrônica científica da FAESB, v. 1, n. 1, 2015.