D. João V e D. Maria Ana de Áustria

Ao longo da obra, conseguimos perceber que a relação entre o rei e a rainha se baseava na riqueza, que lhes proporcionava uma vida opulenta e luxuosa; num casamento religioso por procuração; num amor contratual, pois não existia qualquer sentimento e relacionavam-se apenas com intuito de gerar descendência, sendo evidenciado pelo facto de dormirem em quartos separados e apenas se juntarem para o ato sexual existindo um excesso de formalidades e artificialismos. Com isto tornava-se clara a autoridade e a submissão no casal, por outra palavras, uma grande distinção entre marido e mulher; infidelidade/adultério; infelicidade e frustração pessoal.

D. João V

Madre Paula de Odivelas

D. João V

D.João V, ao longo da obra, é descrito como um rei megalómano, ou seja, tinha a mania das grandezas, libertino e arrogante, usufruindo da sua posição social, do seu poder, e do seu dinheiro para satisfazer os seus desejos.

A história retratada na obra é o desenrolar da sua preocupação por não existir descendência possível, pois os únicos existentes eram bastardos. Os filhos provenientes do adultério eram sobretudo de relações que o rei mantinha com freiras. Uma das convivências retratada na obra é com a abadessa Paula, tendo como principal objetivo expor como eram tratadas as freiras e a infidelidade do rei. D.José, nascido em 1720, foi resultante desta relação, tornando-se, futuramente, inquisidor-mor. Com o nascimento deste herdeiro Paula tornou-se uma mulher bastante abastada, graças ás pensões que recebeu do amante. No desespero desta situação, D.João promete, ao clero, construir um convento para franciscanos em Mafra, isto se, viesse a ter filhos de D.Maria Ana de Áustria, comprovando que era bastante crente. A questão é que, a relação entre o rei e a rainha, designada de “sistema de macho e fêmea(Memorial do Convento.pdf, página 3),baseava-se em interações estritamente necessárias, e encontros sem sentimento e programados. "Mas nem a persistência do rei, que,(...), duas vezes por semana cumpre vigorosamente o seu dever real e conjugal."(Memorial do Convento.pdf, página 3) Após o nascimento da princesa Maria Bárbara, apesar de não ser rapaz como desejado, cumpre a sua promessa, manda erguer o que hoje conhecemos como Palácio Nacional de Mafra.

"(...),e o Crucificado deixa pender a cabeça para o ombro, coitado, talvez dorido dos tormentos, talvez para melhor poder ver Paula quando se despe, talvez ciumento de se ver roubado desta esposa, flor de claustro perfumada de incenso, carne gloriosa, mas enfim, depois eu saio e lá lhe fica, se emprenhou, o filho é meu, não vale a pena mandar anunciar outra vez, vêm aí atrás os cantores entoando motetes e hinos sacros, e isso me está fazendo nascer uma ideia, não há como os reis para as terem as ideias, senão como reinariam, virem as freiras de Odivelas cantar o Bendito ao quarto de Paula quando estivermos deitados, antes, durante e depois, ámen."

(Memorial do Convento.pdf, página 102-103)

Para além de todos os seus feitos, ele realizou ações para a arte das ciências, bolsas de estudo para estudar artes em Itália, criou a escola de escultura de Mafra, mandou erguer obras de função pública como o aqueduto das águas livres, que se insere na arquitetura, assim como o Convento de Mafra.

Aqueduto das Águas Livres

Palácio Nacional de Mafra

Quarto de D.João V no Palácio de Mafra

D. Maria Ana de Áustria

D.Maria Ana veio de Áustria apenas com o objetivo de ocupar a função de reprodutora, de modo a dar descendência legítima ao rei. "(...)D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou."(Memorial do Convento.pdf, página 3) Esta personagem simboliza a mulher que vive uma relação sem sentimentos e que é programada, tornando-se uma pessoa submissa, obediente e dependente, entrando numa depressão.

A rainha para tentar melhorar o seu estado emocional recorre ao mundo dos sonhos, fantasiando uma relação com o seu cunhado, infante D.Francisco. O facto de esta ter consciência de que os seus pensamentos são imorais, fazem com que passe a viver atormentada com este pecado. Estas ideias terminam quando o próprio, D.Francisco, lhe propõem casamento, tentando-se aproveitar da doença do rei para alcançar o poder.

D. Maria Ana de Áustria

"São meandros do inconsciente real, como aqueles outros sonhos que sempre D. Maria Ana tem, vá lá explicá-los, quando el-rei vem ao seu quarto, que é ver-se atravessando o Terreiro do Paço para o lado dos açougues, levantando a saia à frente e patinhando numa lama aguada e pegajosa que cheira ao que cheiram os homens quando descarregam, enquanto o infante D. Francisco, seu cunhado, cujo antigo quarto agora ocupa, alguma assombração lhe ficando, dança em redor dela, empoleirado em andas, como uma cegonha negra."

(Memorial do Convento.pdf, página 7)

"(...)é uma triste e enganada rainha que só de rezar não se desengana, todos os dias e todas as horas deles, ora com motivo, ora sem certeza de o ter, pelo marido leviano, pelos parentes tão longe, pela terra que não é sua, e filhos só por metade, ou ainda menos, como jura o infante D. Pedro no céu, pelo império português, pela peste que ameaça, pela guerra que acabou, por outra se começar, pelas infantas cunhadas, pelos cunhados infantes, por D. Francisco também, e a Jesus Maria José, pelas angústias da carne, pelo prazer entrevisto, se adivinhado entre pernas, pela custosa salvação, pelo inferno que a cobiça, pelo horror de ser rainha, pelo dó de ser mulher pelas duas mágoas juntas, por esta vida que vai, por essa morte que vem. "

(Memorial do Convento.pdf, página 71)

Portugal na época- contextualização

Condição da economia na época e da ação da Inquisição no país.

Baltasar Mateus e Blimunda de Jesus

Baltasar e Blimunda representam o verdadeiro amor, e aqueles que são obrigados a pagar a promessa de D.João V.