Os Lusíadas

Na leitura da obra, é possível destacar alguns excertos onde o autor, claramente, faz referência à tão prestigiosa obra que é Os Lusíadas, de Luís de Camões. São referidos dois momentos distintos, primeiramente, com o auxílio de uma comparação, é apresentado o Adamastor e, posteriormente, avançando um pouco na história, há uma referência ao Velho do Restelo.

Adamastor 

Com a passagem textual: foi como o sopro gigantesco de Adamastor, se Adamastor soprou, quando lhe dobravam o cabo dos seus e nossos trabalhos”(pág.85), verificamos, claramente, uma referência à obra de Luís de Camões, havendo uma comparação entre a tempestade que ocorreu em Mafra e o episódio do Adamastor.

 Neste capítulo, temos a presença do Adamastor, o monstro que assombra as viagens dos navegadores portugueses, aquele que destrói os navios antes de chegarem ao destino, aqui, o autor compara a tempestade que veio do mar e atingiu Mafra ao monstro que assombra os navegadores em alto mar, visto que, tal como o Adamastor, esta tempestade foi capaz, através do vento, de transformar a igreja em "terra, mastros, tábuas, vigas, barrotes, de confusão com os panos"(pág.85). De acordo com o autor, este vento é como o sopro do Adamastor, o que, de alguma forma, representa a agressividade dos ventos destruidores. 

O Velho do Restelo

A referência ao Velho do Restelo, uma das personagens de Os Lusíadas, sendo este o principal símbolo de pessimismo relativamente ao sucesso dos navegadores portugueses que partiam nas suas embarcações para os descobrimentos. Isto se evidencia no seguinte excerto: “então uma grande voz se levanta, é um labrego de tanta idade já que o não quiseram, e grita subido a um valado que é púlpito de rústicos, Ó glória de mandar, ó vã cobiça, ó rei infame, ó pátria sem justiça [...]”(pág.199).

Na obra camoniana, esta personagem surge na partida de Vasco da Gama para a Índia e põe-se a criticar os navegadores, acusando-os de unicamente procurarem riqueza, fama e glória, arriscando as suas próprias vidas.


Os Lusíadas

                 Canto V                

  

         94      

Mas um velho, de aspecto venerando,

Que ficava nas praias, entre a gente,

Postos em nós os olhos, meneando

Três vezes a cabeça, descontente,

A voz pesada um pouco alevantando,

Que nós no mar ouvimos claramente,

C'um saber só de experiências feito,

Tais palavras tirou do experto peito:


95

— "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça

Desta vaidade, a quem chamamos Fama!

Ó fraudulento gosto, que se atiça

C'uma aura popular, que honra se chama!

Que castigo tamanho e que justiça

Fazes no peito vão que muito te ama!

Que mortes, que perigos, que tormentas,