Sermão de Santo António aos Peixes

    Existe intertextualidade com a obra Sermão de Santo António aos Peixes, de Padre António Vieira, no seguinte excerto: Da sua gaiola de madeira pregou o celebrante ao mar de gente, se fosse o mar de peixes, que formoso sermão se teria podido repetir aqui, com a sua doutrina muito clara, muito sã, mas, peixes não sendo, foi a pregação como a mereciam homens e só a ouviram os fiéis que mais ao perto estavam [...]”(pág.154). Também conseguimos ver que a figura de Padre António Vieira aparece ligada à personagem Padre Bartolomeu Gusmão. O Padre Bartolomeu admira Vieira, treinando os seus sermões que apresentará perante a corte. 

      Podemos, deste modo, concluir que esta obra de Saramago faz referências a variadas obras de distintos autores. Foram referidos três exemplos destas obras, porém, também são aludidos outros escritores, tais como: Guerra Junqueiro (Toque-toque-toque, lindo burriquito, deste não o diria o verso, que tem, o verso não, não poucas mataduras debaixo do albardão, mas caminha contente o asno a carga é leve e faz-se ligeira, onde já vai a esbelteza aérea de Blimunda, dezasseis anos passaram desde que a vimos pela primeira vez, mas- desta maturidade se fariam admiráveis mocidades, não há nada que conserve tanto a juventude como guardar um segredo.” (p. 180)); Fernão Lopes (“ e a arraia-miúda da serventia acomoda-se à ponta, cada qual com seu igual” (p. 142));  Shakespeare (“nem Romeu que, descendo, colhe o debruçado beijo de Julieta" (p. 228)). Além disto, a análise da intertextualidade da obra implicou não só a leitura do livro de Saramago, mas também a leitura de vários excertos de obras de outros autores, o que é um aspeto positivo, pois contribuiu para o nosso desenvolvimento e aprofundamento literário e capacidade de interpretação.