"Memorial do Convento" é uma obra de José Saramago de grande interesse geral e proporciona uma perspetiva histórica, social e individual.
Relativamente ao espaço desta obra, percebemos que estão presentes vários espaços em termos de dimensão social e psicológica.
O principal espaço presente em "Memorial do Convento" é o convento de Mafra, os grandes protagonistas do período da construção do edifício foram os trabalhadores provenientes do povo, chamados também de "grandes heróis" e que foram, de certa forma, esquecidos da História oficial. Assim, esta história é reescrita por José Saramago, na obra "Memorial do Convento", dando assim protagonismo a um herói anónimo que é o povo, que vivia em condições deploráveis.
Relativamente ao espaço físico, ou seja, ao real, onde decorre a ação, o espaço geográfico era Lisboa e Mafra, sendo considerados os locais onde as personagens principais se movimentam. Estão inseridos na cidade de Lisboa, por exemplo, o Terreiro Do Paço e o Rossio que foram dois locais que tiveram algum impacto na narrativa.
Espaço Interior
Casa dos pais de Baltasar em Mafra
Palácio real em Lisboa
Terreiro do Paço; ruas
Espaço Exterior
Desde sempre, as pessoas foram divididas em estratos e, mais tarde, em classes, tendo em conta a sua nascença, as suas posses e os seus cargos. Naquela época, não era diferente como podemos observar ao longo da obra.
Estes três momentos que são retratados ao longo da obra mostram o luxo que rodeava a nobreza e o clero, e a partir daqui o autor aproveita para fazer as suas críticas.
Estas duas procissões caracterizam a sociedade em geral, principalmente a maneira como a população se aproveita para satisfazer os seus desejos carnais.
A tourada e o autos de fé são uma caracterização de um povo ao ver estes espetáculos sanguinários, sofrimento e morte. Nestes eventos espetaculares, o povo acabava por esquecer momentaneamente todos os seus problemas.
Enquanto a ação decorre, neste espaço podemos ver as condições de trabalho desumanas a que os trabalhadores estavam sujeitos naquela altura.
Espaço Psicológico
Relativamente ao espaço psicológico, existem os pensamentos, os sonhos, o estado de espírito e as reflexões. No caso de “Memorial do Convento”, existem vários exemplos, como o sonho da rainha com o infante D. Francisco: "São meandros do inconsciente real, como aqueles outros sonhos que sempre D. Maria Ana tem, vá lá (...) levantando a saia à frente e patinhando numa lama aguada e pegajosa que cheira ao que cheiram os homens quando descarregam, enquanto o infante D. Francisco"(Memorial do Convento.pdf. capítulo I, página 9) , a imaginação, e neste caso, verificamos a peregrinação por parte de Blimunda à procura de Baltasar durante 9 anos; a memória de quando Baltasar perdeu a sua mão esquerda na guerra "Na guerra de João perdeu a mão Baltasar"(Memorial do Convento.pdf. capítulo IX, página 101) e a reflexão da infanta D. Maria Bárbara com a sua mãe durante o cortejo nupcial.
Tempo
“Memorial do Convento” é uma narrativa que acontece durante um extenso período de tempo.
Tempo histórico
O tempo histórico refere-se à época durante a qual a narrativa decorre, século XVIII, ou seja, entre 1711 e 1739. Dois anos após a chegada de D. Maria Ana a Portugal, vinda da Áustria e ano em que se realizou o Auto de fé, respetivamente.
Blimunda procura por Baltasar durante nove anos “Durante nove anos Blimunda procurou Baltasar”. (Memorial do Convento.pdf. capítulo XXIV, página 354)
A ação termina em 1739 com Baltasar condenado à fogueira no auto de fé: "Naquele extremo arde um homem a quem falta a mão esquerda" (Memorial do Convento.pdf. capítulo XXV, página 358)
Tempo do Discurso
A cronologia do narrador não está feita pela ordem certa dos acontecimentos, mas sim pela ordem em que ele os relata.
Nesta situação, a ação desenrola-se de acordo com uma ordenação cronológica marcada por horas, dias, meses e anos.
Esta obra faz poucas referências temporais exatas e a passagem do tempo é muitas vezes entendida pelo envelhecimento das personagens, visível quando Baltasar diz: “Jesus, como o tempo passou, como eu me tornei velho... Tens a barba cheia de brancas, Baltasar tens a testa carregada de rugas" (Memorial do Convento.pdf. capítulo XXIII, página 326).
O tempo da ação / da diegese demorou cerca de 28 anos, entre 1711, que foi o ano da promessa do rei e termina em 1739, com a morte de António José da Silva, escritor e dramaturgo, morto no auto de fé, sendo esta data um marco temporal na diegese.
O casamento do rei D. João V e da rainha D. Maria Ana Josefa aconteceu em 1709. Ao longo do casamento, ambos enfrentaram o problema de não conseguirem conceber filhos para a sucessão ao trono. D. Maria Bárbara nasce fruto de uma promessa e desejo do rei, com a construção de um convento caso conseguisse conceber filhos. D. Maria Bárbara é então a filha primogénita do casal real, cujo batizado se realizou no dia da Nossa Senhora do Ó. Casa aos 17 anos, em 1729, com o infante espanhol, D. Fernando. Por esse motivo, não chega a ver o convento erguido em honra do seu nascimento. "Casam-se filhos daquela com filhos desta, da banda deles vem Mariana Vitória, da banda nossa vai Maria Bárbara, os noivos são o José de cá e o Fernando de lá,"(Memorial do Convento.pdf. capítulo XXll, página 294).
D. Pedro, outro filho de D. João e de D. Maria Ana, acaba por ter uma morte precoce. "quando o infante D. Pedro chegar ao céu e souber destas diferenças, vai ter um grande desgosto. " (Memorial do Convento.pdf. capítulo X, página 97)
D. Maria Ana engravida do terceiro filho que será o futuro rei de Portugal. "Enfim, sendo tão boas as disposições de maternidade da rainha, já el-rei lhe fez outro infante, " (Memorial do Convento.pdf. capítulo X, página 97)
Inauguração do convento de Mafra com a bênção da primeira pedra às sete horas da manhã do dia 17 de novembro de 1717.
“Enfim, chegou o dia da inauguração... do Convento de Mafra, Benzeu-se a cruz no primeiro dia o dia seguinte(..) dezassete de Novembro deste ano da graça de mil setecentos e dezassete... (Memorial do Convento.pdf. capítulo Xll, página 122)