O Amor 

na Obra

Nesta obra, estão presentes dois tipos de amor, o amor entre a Rainha e o Rei, e o amor entre Blimunda e Baltasar.

Amor Rainha e Rei

Entre a rainha e o rei, não existia amor. A rainha era vista como o "vaso" e o "cântaro": "sendo a mulher, normalmente, vaso de receber" (cap.1 pág.3), que remete para o caráter passivo e submisso da mulher numa relação em que o homem é visto como superior em relação à mulher. 

A metáfora “O cântaro está à espera da fonte” realça a passividade da rainha e o relacionamento entre o rei e rainha com um único propósito: dar um descendente ao reino.

As relações que o rei e rainha tinham eram marcadas só para o dever real e conjugal, ou seja, sem sentimento ("duas vezes por semana cumpre vigorosamente o seu dever real e conjugal" (cap.1 pág.3), não tendo privacidade ("É D. Maria Ana quem puxa o cordão da sineta, entram de um lado os camaristas do rei, do outro as damas" (cap.1 pág.7). Depois do ato de procriação, o casal separa-se novamente.

Dormiam em aposentos separados. No palácio de Mafra, os seus quartos situavam-se nas torres, torre sul e torre norte, ligadas por um corredor de 200 metros.

Durante os dois primeiros anos do casamento, o rei e a rainha não conseguem ter filhos. Ironicamente, o narrador refere que o problema é da rainha e não do rei, sublinhando a posição de inferioridade a que a mulher era votada na sociedade da época e ainda muito na atualidade da escrita. Também é sarcasticamente lembrado que o rei já tinha feito prova de procriador com os filhos 'bastardos', acontecidos antes do casamento. 

Com a ambição de ter filhos, o rei pede ajuda a Deus. O Rei faz uma proposta ao padre, dizendo que construirá um convento se Deus conceder fertilidade à Rainha: "É verdade o que acaba de dizer-me sua eminência, que se eu prometer levantar um convento em Mafra terei filhos" (cap.1, pág5), insinuando haver um ato de chantagem e desespero por parte do rei.

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Rainha D. Maria Ana de Áustria 

Rei D. João V

Amor Blimunda e Baltasar 

A história de Blimunda e Baltasar é imaginada pelo escritor, mas com referências à realidade. Na obra, podemos ler que Blimunda ("Sete luas") tinha um dom de ver o interior das pessoas (ficção) e Baltasar ("Sete sóis"), um antigo soldado que perde uma mão, com memórias de guerra para contar (realidade).

Blimunda conhece Baltasar, porque sua mãe lho indica, telepaticamente, quando esta seguia junto dos condenados ao degredo, no auto da fé, onde todos estavam presentes.

"Blimunda, Blimunda, Blimunda, filha minha, e já me viu, e não pode falar, tem de fingir que me não conhece ou me despreza, mãe feiticeira e marrana ainda que apenas um quarto, já me viu, e ao lado dela está o padre Bartolomeu Lourenço, não fales, Blimunda, olha só, olha com esses teus olhos que tudo são capazes de ver, e aquele homem quem será, tão alto, que está perto de Blimunda e não sabe, ai não sabe não, quem é ele, donde vem, que vai ser deles poder meu, pelas roupas soldado, pelo rosto castigado, pelo pulso cortado, adeus Blimunda que não te verei mais, e Blimunda disse ao padre, Ali vai minha mãe, e depois, voltando-se para o homem alto que lhe estava perto, perguntou, Que nome é o seu, e o homem disse, naturalmente, assim reconhecendo o direito de esta mulher lhe fazer perguntas, Baltasar Mateus, também me chamam Sete-Sóis." (pág.31)

Apaixonaram-se e vão viver juntos, recusando o casamento convencional.

Acabam por casar simbolicamente, pois esta relação não obedece ao padrão que existia na sociedade na época. Não é um casamento tradicional/convencional, é um ritual, o ritual da colher, que consiste em comer a sopa com a partilha da mesma colher, mostrando assim que não é necessário uma grande cerimónia para mostrar o amor que sentem um pelo outro.

"Que nome é o seu, e apesar de o padre ter acabado primeiro de comer, esperou que Baltasar terminasse para se servir da colher dele, era como se calada estivesse respondendo a outra pergunta, Aceitas para a tua boca a colher de que se serviu a boca deste homem, fazendo seu o que era teu, agora tornando a ser teu o que foi dele, e tantas vezes que se perca o sentido do teu e do meu, e como Blimunda já tinha dito que sim antes de perguntada, Então declaro-vos casados." ( momento do casamento de Baltasar e Blimunda, pág.32)

Durante 9 anos, Blimunda procura Baltasar, quando ele desaparece num voo da passarola. Assim se mostra o grande amor que ela sente por ele, pois nunca desiste de procurá-lo.

"Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar. Conheceu todos os caminhos do pó e da lama, a branda areia, a pedra aguda, tantas vezes a geada rangente e assassina, dois nevões de que só saiu viva porque ainda não queria morrer." (pág.241)

O amor de Baltasar e Blimunda é um amor verdadeiro, comparando com o do rei e da rainha.

A ligação com os astros (Sol e Lua) com que são caracterizados, mostra ainda como se completam e se complementam um ao outro.

Diferenças entre os dois amores 

Rei e Rainha 

Baltasar e Blimunda 

Apesar de, naquela época, as mulheres serem submissas aos homens, no caso de Baltasar e Blimunda, havia igualdade e cumplicidade, como vemos na construção da passarola. Baltasar era a força e o Blimunda os olhos e o dom de ver as pessoas por dentro. Blimunda tinha duas mil “vontades” indispensáveis para o funcionamento da passarola. (páginas 79-80). 

Verifica-se assim a grande diferença entre o amor verdadeiro de Blimunda e Baltasar e o "amor" por interesse do Rei e da Rainha.