O clero e o espaço da religião no quotidiano das pessoas do século XVIII 

obra com intuito de representação do clero 

O clero desempenha na corte de D.João V um poder incrível e que excita paixões populares.

No decorrer destas referências ao clero, percebemos que todas as estratos sociais intervêm no seu desenvolvimento. 

O clero ocupa um importante papel na sociedade, sobretudo no tempo da Quaresma, novos pecados de carne acabam de ser adulterados pela penitência quaresmal como se fosse algo obsessivo. Porém, todas as doutrinas acabam por ser um pouco falsas e com ética enganosa. 

Saramago comprova-o quando o narrador diz: "vêm para aí os frades fornicar as mulheres, como é o costume deles”, sabia-se também que o rei mantinha relações com freiras e exatamente por isso também estas são alvo dos mais duros julgamentos e críticas. 

Lisboa é o espaço físico presente em que a nível social se vai descrever e denunciar as desigualdades sociais existentes. É destacada a Quaresma que nos vai mostrar uma igualdade no tempo da penitência, ou seja, ricos ou pobres cumprem de forma equivalente  esta passagem com o jejum e as mesmas atitudes religiosas.  Segundo a tradição, a Quaresma era a única época em que as mulheres ricas podiam percorrer as igrejas sozinhas e assim gozar de uma rara liberdade que lhes eram concedidas pelos seus companheiros. Então, elas aproveitam esta  oportunidade para encontrarem-se com os seus amantes, assim, por esse motivo, as ruas se enchiam de pessoas (pág16). Contudo, D.Maria Ana não podia aproveitar essas oportunidades, devido ao seu estatuto de rainha e pelo facto de estar grávida. Ela dirigia-se cedo para os seus aposentos onde se consolava, sonhando com o cunhado D. Francisco, comenta ironicamente o narrador.

Procissão da Quaresma

Auto da fé

O comportamento do povo neste tempo é caracterizado como excessivo e desadequado pelo modo como as pessoas vivem a manifestação religiosa, ademais é descrito o lado sombrio do espaço físico. A obra revela um espaço de mau odor e de uma podridão tremenda. A nível de espaço social, vai ocorrer uma crítica que vai revelar a hipocrisia religiosa que é manifestada pelos comportamentos do povo participante nesta procissão/tradição, isto é, há uma contradição pelo facto de haver violência e sensualidade, em vez de respeito pelo espírito religioso. Resultado disto é a pouca devoção e crença na Quaresma.

É a Inquisição que domina o poder supremo, comprovado em: “El-rei, sendo caso duvidoso, só fará o que o Santo Ofício lhe disser que faça”.


Era também o clero responsável pelo auto da fé que consiste numa outra cerimónia de penitências públicas que ocorriam quando o clero decidia a punição dos condenados, sendo maioritariamente em forma de tortura e sofrimento. Este ritual era muito apelativo fazendo com que vários membros do clero e muitas pessoas do povo estivessem presentes. "juntando-se no Rossio para ver justiçar a judeus e cristãos-novos,"(pág.28). D.Maria Ana não compareceu numa dessas celebração, pois estava de luto pelo seu falecido irmão, todavia e depois de o rei ter declarado luto, a cidade permanecia alegre. 

"D. Maria Ana não irá hoje ao auto-de-fé. Está de luto por seu irmão José," (pág.28) 

Esta parte da obra baseia-se muito na descrição do auto da fé e do ambiente que o rodeia, onde se come e bebe como se de uma festa se tratasse. 

Inquisição

D.Maria Ana (rainha)

É percetível que a Igreja concorda, impulsiona e possibilita todo o tipo de desigualdades e injustiças, porque coloca, acima de tudo e todos, os seus próprios interesses e predileções, escondendo as explorações que vitimizam e  arruínam os civis. Hipocritamente, teima que toda esta parte da obra descreve esta instituição religiosa como devoradora de vidas e bens, sendo considerada santa, pelo que todos nela devem constar.

Percurso do Memorial do Convento