Deserto do Atacama

Quem nunca pensou em conhecer um deserto? E quando se fala em deserto, a primeira imagem que vem à mente é o grande deserto do Saara, com suas imensas dunas e seus milhares de kilômetros. Um sonho, devido à grande distância que nos separa do Saara. E por que não matarmos nosso desejo de estar e conhecer um deserto, em um lugar muito mais próximo e com tantos atrativos - ou mais - que o Saara? Que tal conhecer o deserto do Atacama, o mais árido do mundo, a "apenas" 3.000 km de distância? Aqui você vai conseguir todas as dicas e toda a orientação que precisa pra ir - e voltar - dessa maravilha da natureza, entre o Chile e a Argentina.

Nossa viagem saiu de São Paulo em direção ao Chile. Mas, para facilitar para você, consideraremos apenas de Foz do Iguaçu em diante. Entrando na Argentina pela cidade de Puerto Iguazu, siga pela Ruta 12. Nesse trecho, a paisagem não muda muito da brasileira. Já a estrada, que diferença! Como todo o trajeto, as estradas estão em impecável estado de conservação, sem aparentar desgaste pelo tempo de uso. Até Posadas, a paisagem não muda. De Posadas, você deve seguir em direção à Corrientes e Resistencia, duas grandes capitais de província, separadas apenas pelo rio Paraná. Nesse trecho, a paisagem modifica-se, começando a mostrar o grande Chaco. Grandes retas, terreno sempre plano até aonde a vista alcança. Em Resistencia, você deve tomar a Ruta 16 e seguir em direção a Salta, outra grande capital da província do mesmo nome. Essa estrada, como as outras, também está em perfeitas condições, com grandes retas. Tome cuidado, pois essas grandes retas causam sono com facilidade, já que o trânsito de veículos diminui bastante nessa região, e a única coisa que você faz dentro do carro é acelerar. Também nesse trecho, os postos de reabastecimento começam

a se tornar mais raros. Abasteça sempre que possível. Após Salta, a aventura começa pra valer: depois de um pequeno trecho de asfalto até Campo Quijano, começa a estrada de terra e rípio que vai atravessar a cordilheira. Siga em direção à San Antonio de Los Cobres, uma pequena cidade no meio do nada. Nesse trecho você poderá ver belas imagens de montanhas nevadas e o deserto já surgem na paisagem. Aqui também você irá passar pelo ponto mais alto de todo o caminho, aproximadamente 4.000 metros. Tome precauções, pois muita gente passar mal, tem náuseas e tonturas devido à altitude. Conosco nada aconteceu. De San Antonio de Los Cobres, siga em direção à Paso Sico, a aduana entre a Argentina e o Chile, e depois finalmente San Pedro do Atacama, nosso destino final. Nessa última etapa, você já está em pleno deserto, com montanhas ao fundo, lagunas salgadas, salares e muita areia. A estrada está em boas condições e a maior dificuldade que você pode enfrentar possa ser a falta de combustível. São quase 400 kilômetros sem posto para reabastecer - e sem ninguém para ajudar - o que obriga o viajante a levar galão de combustível reserva. Próximo ao nosso destino, você também poderá ver o Salar do Atacama, com seus mais de 300 kilômetros de extensão. Ao chegar em San Pedro, registre-se na aduana e prepare-se para curtir todos os lugares maravilhosos que o deserto o reserva.

San Pedro do Atacama, com pouco mais de 1.000 habitantes fixos, não é o lugar aonde se espera encontrar muitos pontos turísticos. Se engana quem pensa assim: San Pedro é o ponto de partida para inúmeras atrações que a natureza esculpiu junto com o deserto. Dentre as muitas opções, destacamos algumas:

Vale da Lua: como o nome já indica, o Vale da Lua lembra muito a superfície do nosso

No caminho entre Paso Sico e San Pedro do Atacama

satélite natural e também faz parte da Reserva Nacional Los Flamencos. É um pequena depressão de 500 metros de diâmetro, pertencente à cordilheira do Sal - que também forma o Vale da Morte - que se caracteriza por grandes formações, esculpidas delicadamente pelo vento por milhões de anos. O solo mostra a forte mistura entre terra e sal, formando desenhos entre o marrom e o branco. Grandes dunas de areia também fazem parte da paisagem, única, espetacular e silenciosa. Caso você goste de solidão, vá ao meio-dia, horário de pouca procura. Os horários de maior movimento são o começo da manhã e ao cair da tarde, quando as sombras das formações fazem lindos desenhos sobre o vale. E prefira fazer o passeio de bicicleta ou à cavalo. Com certeza, um dos melhores passeios!

Vale da Morte: apesar do nome "tétrico", o Vale da Morte é mais uma formação da cordilheira do Sal, muito parecido com o vale da Lua. A principal diferença é que seus cânions são mais próximos, com passagens mais estreitas e dunas mais próximas. O nome Vale da Morte vem do fato dos povos Atacamenhos levarem as pessoas mais doentes para esperar a morte nesse local. Escavações arqueológicas encontraram muitas múmias nessa área, hoje expostas no museu de San Pedro. Esse passeio também pode ser feito de bicicleta ou à cavalo e, graças às enormes dunas, muita gente já anda descendo as dunas em pranchas de madeira, praticando o "sandboard".

El Tatio: é um grande campo geotérmico, cercado por altas montanhas, originado pelo vulcão Tatio. É umas das mais populares atrações de San Pedro. Ao amanhecer, surgem inúmeros jatos de água fervente que alcançam até 6 metros de altura, com forte odor de enxofre. Cuidado ao se aproximar, pois a água quente pode causar queimaduras de 1º grau. Leve também muitos agasalhos, gorros e luvas, pois essa maravilha da natureza só ocorre entre 6 e 8 horas da manhã, quando a temperatura no alto da montanha chega a 5 graus negativos! Saia bem cedo de San Pedro, já que são aproximadamente 90 km de distância.

Termas de Puritama: são piscinas de água naturalmente quente - aproximadamente 30 graus - localizadas no caminho para o El Tatio. Fique um bom tempo curtindo e aproveitando. Só se prepare para pagar caro: 10 dólares por pessoa.

Salar de Atacama: é uma grande camada de sal, localizada sobre um lago de água salobra. Esta crosta

Uma das dunas do Vale da Lua.
As formas que o sal toma no Salar do Atacama

de sal é o resultado da acumulação de cristais, produzidos a partir da evaporação da água subterrânea, que possui alta taxa salina. Isso tudo se deve ao fato da região do Atacama ter sido o fundo de um oceano em tempos remotos. Acidentes geológicos então levantaram essa região, isolando-a do resto do oceano. É o maior salar de todo o Chile, com mais de 15.000 km² de área. O lago subterrâneo surge no meio das camadas de sal, e junto com o Rio San Pedro, forma lagoas onde habitam aves, como flamingos e gaivotas andinas, alguns mamíferos, répteis e microorganismos. Vale lembrar que toda esta região está protegida pela Reserva Nacional Los Flamencos e é necessário pagar uma pequena taxa de visitação ao entrar.

Laguna Blanca e Laguna Verde: são duas lagoas localizadas já na Bolívia que, como o nome já indica, possuem águas brancas e verdes. Apesar de ficar na Bolívia, não se assuste: são apenas 70 km para chegar até elas. Siga pela saída que leva à Paso Jama, por um estrada asfaltada e muito íngreme. Quando encontrar indicações de saída para Bolívia,

siga por uma estrada de terra à esquerda e mais alguns kilômetros você já está nelas. Só cuidado com um detalhe: na entrada da Bolívia, identifique-se na aduana e pague uma pequena taxa para a visita. Tudo isso é bom pra garantir seu retorno, já que a Bolívia costuma exigir visto de entrada.

Vulcão Licancabur: é o grande vulcão que se vê de qualquer ponto que esteja em San Pedro do Atacama. Como se estivesse à guardar a cidade, o Licancabur oferece um belo visual. Se você for do estilo alpinista, pode contratar agências para o levarem até o pico do vulcão, com mais de 5.900 metros de altura. Esse passeio nós não fizemos, mas quem sabe numa próxima?

No retorno, por Paso Jama, um maravilhoso lago. Um verdadeiro espelho!!!