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II - Idéias

Em sua Dióptrica, Descartes descreve o fenômeno da visão tendo como pressuposto o

conceito de espaço homogêneo, objeto da geometria, e recorrendo constantemente à analogia

entre a visão e o tato. Ao contrário das teorias que afirmavam serem os raios luminosos (ou

os idolae) emitidos pelos olhos ou então pelos objetos, Descartes acredita que a luz captada

pelos olhos é refletida pelos objetos. Assim como um cego, ou alguém no escuro, pode

distinguir uma grande variedade de objetos ao seu redor através da percepção de um

movimento que se transmite para o seu corpo tateando com um bastão à sua volta, a visão

tem como precondição o fato de o fundo dos olhos poderem serem afetados pelos raios

luminosos. Estes, se propagando sempre em linha reta, nos advertem da existência dos

objetos que instantaneamente os refletem.

As mesmas leis que regem o movimento de um corpo que em velocidade constante e

trajetória retilínea desvia-se ao encontrar um obstáculo são válidas para a demonstração das

leis que regem a refração e reflexão dos raios luminosos que colidem com objetos opacos ou

transparentes. As cores resultam do movimento particular que adquirem as partículas

constituintes da luz ao serem refletidas pelas superfícies dos objetos. A função do olho, o

órgão da visão, é fazer com que os raios luminosos vindos dos objetos convirjam para a

superfície do nervo óptico localizado em seu interior, onde ocorrerá uma reprodução da

imagem do objeto percebido. Isto só é possível pela interposição das lentes naturais que,

juntamente com a maior ou menor abertura da pupila, fazem com que sejam devidamente

alterados os ângulos de incidência dos raios. Já antes de Kepler acreditava-se que este

processo poderia ser reproduzido na experiência em que a imagem de um objeto é projetada

no interior de um quarto ou caixa escura, passando a luz por um pequeno orifício. Uma

característica importante desta imagem é o fato de ela adquirir a posição inversa daquela do

objeto que a originou. Os raios luminos oriundos da parte superior do objeto incidem sobre a

parte inferior do nervo óptico e vice-versa, o mesmo ocorrendo com os raios vindos da

direita e da esquerda.

O Discurso Quarto da Dióptrica - Dos Sentidos em Geral - é uma exposição suscinta de

pontos importantes da teoria cartesiana da percepção. Descartes parte da máxima segundo a

qual "c'est l'âme qui sent , et non le corps". (11) Três são as justificativas para esta

afirmação: em primeiro lugar, a alma pode deixar de perceber qualquer informação dos

órgãos dos sentidos quando é acometida por "un êxtase ou fort contemplation". (12) Depois,

a perda da percepção pode também ser causada por doenças que afetam o cérebro, ficando

intactos os órgãos dos sentidos. Enfim, pelo conhecimento de que as lesões sofridas por

alguns nervos particulares tornam insensíveis determinadas regiões do corpo, sabe-se que as

impressões dos sentidos são transmitidas da periferia até o cérebro. Isto é feito pela ação dos

espíritos animais, que são "comme un air ou un vent très subtil, qui, venant des chambres ou

concavités qui sont dans le cerveau, s'écoule par ces mêmes tuyaux dans les muscles". (13) A

percepção não se dá pela simples semelhança entre a imagem apresentada pelos sentidos e

aquilo que ela evoca. A imagem produzida pelos sentidos não é uma cópia exata do objeto

percebido. Esta imagem é uma representação e como tal basta que ela tenha em relação ao

objeto que representa pelo menos alguns elementos em comum. Assim como a gravura, que

pode com muito poucos traços representa adequadamente uma paisagem, a imagem recebida

pelo cérebro não precisa ser uma cópia exata para bem representar seu objeto. O importante é

que a imagem sensível possa dar à alma os meios necessários para que ela apreenda as

diversas qualidades dos objetos com os quais se relaciona.

Descartes enumera, no discurso sexto, "six principales qualités que nous apercevons dans les

objets de la vue": (14) a Luz, a Cor, a Posição, a Distância, o Tamanho e a Forma. A

sensação da Luz nasce da força, da intensidade da pressão que as partículas luminosas

exercem sobre as extremidades do nervo óptico e a Cor é maneira pela qual se dá este

movimento, ou seja, depende do movimento de rotação mais ou menos rápido do qual estas

partículas são animadas. Quanto à Posição, ou seja, "le côté vers lequel est posée chaque

partie de l'objet au respect de notre corps", (15) é percebida pelos olhos da mesma forma que

as mãos, pelo tato, a percebem. Se um cego de nascença segura dois bastões de forma que

aquele que está na mão direita toque o lado esquerdo do objeto e aquele que está na mão

esquerda toque o seu lado direito, nem por isso deixa ele de ter consciência da verdadeira

posição do objeto. O que ocorre é que os nervos desta mão causam uma certa mudança em

seu cérebro que possibilita à alma de conhecer, não somente aquilo que suas mãos estão

imediatamente tocando como também todos os objetos situados na linha reta que nascem de

suas mãos e passam pela extremidade do bastão que elas seguram. (16)

Utilizando a mesma comparação da visão com o tato Descartes pretende dar conta também

do problema da inversão da imagem retiniana, ou seja, dizer por que a imagem invertida que

se forma no fundo do olho é percebida em sua posição correta e porque as duas imagens

produzidas - uma em cada olho - são percebidas como uma só: o cego pode sentir um objeto

que está à sua direita por meio de sua mão esquerda e vice-versa, e ele não julga estar

percebendo dois objetos quando toca apenas um com as duas mãos. Assim, quando nossos

olhos estão dispostos para a visão de um único lugar, vemos apenas um objeto, apesar de se

formarem duas imagens distintas, uma em cada um de nossos olhos.

Para a percepção visual da Distância, Descartes aponta três fatores. Primeiramente,

percebemos a distância pela mudança ocorrida em nosso olho que muda sua forma,

adaptando-se para a visão do que está mais próximo e para o que está mais distante. Esta

mudança no órgão visual é transmitida ao cérebro e assim, sem que dela tomemos

consciência, nossa alma toma conhecimento das várias distâncias a que estão localizados os

objetos. Novamente a analogia com o tato está presente na exposição de Descartes: "...tout de

même que, lorsque nous serrons quelque corps de notre main, nous la conformons à la

grosseur et à la figure de ce corps, et le senton par son moyen, sans qu'il soit besoin pour

cela que nous pensions à ses mouvements." (17) Em segundo lugar, percebemos a distância

por uma espécie de geometria natural nascida da relação que estabelecemos entre os dois

olhos e destes com os objetos. O cego, mesmo sem saber o comprimento dos bastões que

segura descobre, através do conhecimento da distância entre suas duas mãos e do ângulo

formado entre estas e o ponto em que os bastões se cruzam, a distância a que está localizado

o objeto percebido. Assim também, percebemos a distância pela relação, natural e

inconsciente, que estabelecemos entre os ângulos das linhas que vão de um olho até o outro e

destes até o objeto. Finalmente, diz Descartes, podemos perceber a distância pelo grau de

distinção ou de opacidade da imagem que percebemos, resultantes da maior ou menor força

com a qual a luz atinge nossos olhos.

Quanto à percepção visual do Tamanho e da Forma, para Descartes estes resultam da

combinação da percepção da Distância e da Posição. O Tamanho é percebido pela

comparação do conhecimento que temos da Distância com o tamanho das imagens que se

formam no fundo do nosso olho. A Forma resulta do conhecimento que temos da Posição das

diversas partes dos objetos e não apenas do conhecimento da imagem retiniana, pois tendo o

próprio olho uma forma, a imagem que nele se desenha não é uma cópia totalmente fiel do

objeto percebido.

Berkeley é claro ao advertir que o alvo imediato de sua Nova Teoria da Visão não é

exatamente a Dióptrica e sim a óptica geométrica posterior, de inspiração cartesiana. De

qualquer forma esta óptica, assim como as demais ciências da época, está fortemente

enraizada no modelo geométrico através do qual o espaço é explicado e "manipulado"

matematicamente. Trata-se do espaço das coordenadas cartesianas e que atingirá sua

formulação final no conceito newtoniano de espaço puro, homogêneo e infinito em todas as

direções. Para a óptica geométrica o espaço visual é a parte deste espaço puro que é projetado

pelos raios de luz no fundo do olho. A explicação da percepção visual do espaço depende,

assim, tanto da geometria quanto de uma descrição "física" do órgão da visão e de seus

mecanismos. Conhecer o fenômeno da visão é compreender como o espaço real é, por assim

dizer, introjetado ou interiorizado pelo sujeito segundo um determinado mecanismo físico e

obedecendo a certas leis geométricas.

Os procedimentos de reprodução artística visando uma cópia fiel da natureza levaram ao

desenvolvimento da perspectiva como técnica de reprodução o mais exata possível "daquilo

que o olho vê". As várias representações ou cópias do espaço "real" passaram então a servir

de metáfora ou modelo uns dos outros: a imagem visual é pensada como uma reprodução do

espaço real segundo as mesmas leis que regem a reprodução pictórica desta mesma imagem

pelos pintores. Esta crença ganha a força de uma tese a partir do momento em que Kepler

demonstra que as imagens das coisas são projetadas no fundo do olho, tal como ocorre na

câmara escura. Esquematicamente, teríamos em jogo a partir de então pelo menos três

conceitos de espaço:

1) O espaço percebido pela visão, que passa necessariamente por uma projeção das imagens

das coisas no fundo do olho segundo leis geométricas;

2) O espaço da pintura mimética, que reproduz na tela as imagens percebidas pela visão

obedecendo às regras da perspectiva;

3) Um espaço "real", suposto arquétipo dos demais.

O espaço percebido pela visão (1) é pensado como uma representação ou cópia do espaço

real, tal como a pintura (2) é uma representação do espaço visual. O espaço assim

reproduzido deve obedecer às leis geométricas tanto quanto o espaço pictórico deve obedecer

às leis da perspectiva. Estes espaços possuiriam todos uma mesma estrutura geométrica e

seriam portanto idealmente equivalentes. O que chamamos de "espaço geométrico" seria,

portanto, tanto o espaço visual quanto o espaço reproduzido na pintura, além do assim dito

"espaço real externo": todos poderiam ser analisados e reconstituídos através de um uso

adequado do instrumental matemático.

As técnicas da perspectiva visam a reprodução do espaço visual tridimensional em uma

superfície plana. Seu funcionamento baseia-se na reprodução da imagem visual que surgiria

em um plano resultante do corte, perpendicularmente ao horizonte e à direção do olhar do

sujeito, do "cone" formado pelos raios de luz que se projetam na retina. (18) Este

procedimento permite a produção de uma imagem que produz no espectador uma ilusão

bastante convincente da visão real. Porém não é nada fácil explicar, a partir da imagem

retiniana de Kepler, a imagem percebida de fato na visão. Descartes já ironizava, na

Dióptrica, a concepção ingênua da ação da mente na percepção como a de um olho que olha

para a imagem no fundo de outro olho: um terceiro olho seria necessário para ver este e

assim ad infinitum.

A explicação geométrica de inspiração cartesiana para a percepção da profundidade espacial

antecipa de alguma maneira a questão empirista e kantiana da necessidade de um mecanismo

sintetizador das sensações. Pela visão percebemos apenas cores em seus vários graus de

luminosidade. Cada ponto da retina "tocado" por um raio de luz corresponde a um ponto do

espaço que originou este raio. Como este descreve uma linha reta, os pontos luminosos são

todos igualmente percebidos como estando a uma mesma distância, assim como percebemos

as cores de tintas que são simplesmente espalhadas sobre a superfície plana de uma tela. A

tese cartesiana afirma que entre os dois olhos e o objeto percebido existe uma triangulação

geométrica que torna possível uma inferência do movimento do objeto e de sua posição no

espaço. Assim, uma "geometria natural", ou "cálculo inconsciente" estaria na base do

conhecimento de que o objeto se afasta ou se aproxima. (19) Descartes acredita que o espaço

visual pode ser explicado apenas geometricamente. Berkeley quer, na Nova Teoria da Visão,

mostrar que o espaço percebido não é apenas de natureza visual, mas que depende de uma

relação dinâmica entre os vários sentidos. Demonstrando que estas relações bastam para

explicar a percepção do espaço tridimensional, Berkeley quer provar que é possível e mesmo

saudável para a filosofia e para a ciência a renúncia à explicação geométrica e com ela aos

pressupostos dualistas que a sustentam. Berkeley realiza satisfatoriamente uma parte

importante desta tarefa mostrando que as aporias às quais chegou a óptica geométrica

resultaram da aceitação acrítica destes pressupostos e que elas podem ser eliminadas com

uma explicação que dê a merecida importância ao papel dos outros sentidos, em especial do

tato, na percepção do espaço dito "visual". Com esta espécie de redução ao absurdo Berkeley

quer provar que:

a)Não há correspondência estrita entre o espaço percebido e o espaço reproduzido, seja na

pintura, seja no fundo do olho. (20) Quanto ao dito espaço "real", este não consiste em nada

além do que é dado na percepção, porém esta não se reduz nunca ao sentido isolado da visão

e portanto o espaço percebido é sempre "intermodal";

b)O espaço visual tal como é pensado pelos geômetras é resultado de uma projeção de suas

construções matemáticas para a realidade e não um modelo neutro a partir do qual o espaço

puro geométrico é formalizado. Em outras palavras, a geometria é simplesmente um

instrumento matemático útil que, por razões bem determinadas, ganha o caráter de expressão

de uma estrutura natural e de um espaço independente e externo ao sujeito que o percebe.

A questão fundamental com a qual Berkeley se depara na segunda parte do livro diz respeito

à necessidade de substituir o paradigma da representação - que precisa postular uma

semelhança necessária entre o arquétipo e a cópia - pelo paradigma da significação, que deve

se limitar ao reconhecimento de uma relação contingente entre idéias. Dito de outra forma,

para a óptica geométrica, os cálculos sobre linhas e ângulos pretendem mostrar como o

espaço deve necessariamente ser, pois para eles a distância, o tamanho e a posição são

produtos de inferências racionais. Para Berkeley, ao contrário, a relação entre as idéias da

visão e as idéias dos outros sentidos é sempre contingente, pois ela não é da ordem da

causalidade ou da semelhança e sim da "sugestão", "antecipação" ou "significação". Como

justificar então a regularidade das relações entre os sentidos que garantem a estabilidade do

mundo percebido? Para Berkeley a inferência causal só é possível quando a relação é

necessária. Mas uma idéia não pode ser causa de outra idéia. Uma idéia só pode ser

semelhante a outra idéia. Necessidade mesmo só existe entre a idéia e o Espírito do qual ela

depende. (21) Da regularidade das relações intermodais inferimos a existência de um Poder

que é sua causa e não a existência de uma segunda realidade que elas reproduziriam. Explicar

as propriedades espaciais como inferência e cálculo é pensar em um original externo como

causa da representação. Que esta duplicação da realidade é ilegítima e desaconselhável é

provado pela própria existência dos problemas ópticos insolúveis com o recurso apenas ao

instrumental geométrico. Se estes problemas puderem ser resolvidos e a distância, tamanho e

posição, explicados pela relação significante intermodal, então os conceito de

"representação" e de "correlato objetivo", poderão ser reunidos em um realidade única.

Na segunda parte da Nova Teoria da Visão Berkeley traz as palavras para o centro do palco,

procurando mostrar que uma análise sem preconceitos da percepção e da linguagem verbal

permite a identificação de um mesmo mecanismo significante tanto na percepção do espaço

quanto na nomeação. Com isso torna-se possível a identificação precisa de quando e como

nascem as crenças naturais que estão na origem das metafísicas dualistas. A relação de

interdependência entre estas teses dualistas sobre a percepção (as teorias da representação) e

as teorias estritamente referencialistas da linguagem (como a teoria lockeana da significação)

será vista por Berkeley como desdobramento de uma dinâmica de retroalimentação que já

caracteriza a relação mais primitiva entre o perceber um objeto particular no espaço e o

nomear este objeto; entre o processo de antecipação das idéias de um sentido pelas idéias de

um outro sentido e a atribuição de um mesmo nome a um conjunto de idéias heterogêneas.

Numa região ainda pré-verbal - mas nem por isso a-significante - estão as raízes da postura

naturalmente dualista que rege a ação do homem comum. Com a linguagem das palavras

nascem primeiro o falar próprio do senso comum e depois também o discurso filosófico. O

senso comum caracteriza-se por um uso natural da linguagem que, dada sua origem como

instrumento coadjuvante da percepção e da ação, faz largo uso de distinções dualistas,

exprimindo assim uma forma de organização dicotômica da realidade já presente na própria

percepção. A linguagem filosófica tende a identificar em algumas destas dicotomias,

intuitivas e úteis para a vida, características da realidade em geral, o que dá origem ao falso

problema da justificação da comunicação entre matéria e espírito, os dois gêneros mais gerais

entre os quais acredita-se estarem repartidos todos os seres.

O dualismo filosófico nasce da crença comum segundo a qual tanto as idéias da visão quanto

as idéias do tato ou da audição exprimem qualidades pertencentes a um mesmo objeto. Este

só pode adquirir esta característica de aparente independência e anterioridade em relação à

percepção se as idéias próprias às diferentes modalidades sensíveis forem pensadas como

diferentes aspectos de uma mesma realidade substancial que de alguma forma as condensa.

Para Berkeley a percepção de objetos como unidades discretas dispostas em um espaço

tridimensional obedece a uma necessidade eminentemente prática. O que importa para a ação

é a previsão, a partir das idéias da visão ou da audição, das idéias do tato que se seguirão. A

ação mais eficaz é a mais simples e econômica, a que responde de forma optimal às

exigências do meio. É compreensível, portanto, que as várias modalidades sensíveis sejam

consideradas apenas como diferentes formas de apreensão de uma mesma realidade dada e

não como diferentes fontes de informação a partir das quais aquela pretensa realidade única e

independente será construída.

A linguagem por sua vez, que possui igualmente em sua origem uma importante função de

facilitação da ação, é guiada pela mesma busca de simplicidade e eficiência que caracteriza a

percepção. É mais prático e funcional considerar o conjunto das várias idéias sensíveis que se

apresentam unidas na experiência como um único objeto particular situado no campo de

alcance da ação, ou seja, no espaço, assim como é mais simples dizer "maçã" do que dizer

"um objeto com tal cor, tal rugosidade, tal temperatura, tal gosto, produzindo tal som", etc.

(22) Ao atribuir ao objeto um nome, a linguagem cristaliza uma unidade já prefigurada na

percepção. Mas estes dois momentos são indistinguíveis: num entrecruzamento entre

significações de idéias e significações de palavras, a percepção e a linguagem instituem

conjunta e simultâneamente tanto o possível objeto de uma ação quanto o referente particular

de um nome. (23)

O Ensaio Para Uma Nova Teoria da Visão é um texto composto de 159 seções assim

divididas: a seção 01 apresenta a obra e define seus objetivos: mostrar como vemos a

distância, a magnitude e a posição dos objetos, em primeiro lugar, e em segundo lugar

mostrar que tipo de relação existe entre as idéias próprias da visão e as idéias próprias do

tato. Estes dois objetivos mais gerais são desenvolvidos obedecendo à seguinte estrutura: das

seções 02 a 120 são desenvolvidos os três principais temas relacionados à percepção do

espaço: "distância" (01-51), "tamanho" (52-87), "posição" (88-120). O tratamento dado a

estes três problemas não é exatamente equivalente, pois como introdução ao problema da

percepção da distância Berkeley faz considerações gerais sobre a distinção entre idéias

mediatas e idéias imediatas que vão ser utilizadas ao longo de todo o texto. (24) Podemos

ainda indicar a seguintes características comuns a estas três partes: elas começam com uma

apresentação geral do problema seguido da solução oferecida pela óptica geométrica; em

seguida Berkeley apresenta sua própria solução e resolve um problema relacionado com o

tema e tido como insolúvel pelos ópticos. Assim, ao tratar da distância, Berkeley oferece

uma solução para o assim chamado problema de Barrow; ao tratar do tamanho resolve o

problema do tamanho aparente da lua e na parte destinada à posição propõe uma solução para

o problema da inversão da imagem retiniana. As seções de 121 a 159 são destinadas ao

problema da relação entre as modalidades sensíveis e constituem a segunda parte anunciada

na seção 01. Esta pode ainda ser dividida em dois grupos de seções: o primeiro, de 121 à

148, apresenta a tese da heterogeneidade propriamente dita; o segundo, de 149 à 159 discute

o estatuto da geometria, argumentando que o seu objeto são as idéias do tato e não as idéias

imediatas da visão.

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